segunda-feira, setembro 13, 2021

Protocolo


Parece fácil, mas não é. Quase quatro décadas de vida diplomática ensinaram-me a “ler” melhor estas coisas. Montar, coordenar e dirigir, durante vários dias, a cerimónia das exéquias de uma figura de Estado é um trabalho que exige extrema sensibilidade, rigor e muito bom senso. Se alguma coisa tivesse falhado, se houvesse algum incidente ou um percalço inesperado, teria sido um “aqui d’el-rei”. Como tudo se passou exemplarmente, não é “notícia”.

O modo como o Protocolo de Estado, sedeado no Ministério dos Negócios Estrangeiros, sempre se tem comportado nestas ocasiões, que só por equívoco se pode pensar serem iguais umas às outras, quanto mais não seja pelo modo diferenciado como as famílias da pessoa a homenagear legitimamente pretendem influenciar a “liturgia” dos atos, é um atestado de imenso profissionalismo.

Quero deixar aqui, publicamente, uma palavra de grande respeito e gratidão, como português, à embaixadora Clara Nunes dos Santos, chefe do Protocolo de Estado, e a toda a sua equipa.

6 comentários:

Luís Lavoura disse...

o modo diferenciado como as famílias da pessoa a homenagear legitimamente pretendem influenciar a “liturgia” dos atos

Esta frase lembra-me o seguinte. Jorge Sampaio era, tecnicamente, judeu (pois que a sua mãe era judia, uma vez que a mãe dela judia era). Suponhamos que familiares dele tinham querido enterrá-lo segundo o rito judaico (não sei se foi o caso - só sei que o enterro foi no cemitério do Alto de São João, cemitério esse que, precisamente, tem um talhão judaico). Como teria sido? Que eu saiba, no rito judaico não há caixão, somente uma pedra tumular.

Flor disse...

Impressionante! Impecável!

Maria Isabel disse...

Estou de completo acordo. Há pouco, em conversa com a minha irmã tive esse reparo. O trabalho e a elegância de toda a cerimônia. Foi mesmo bonito e a meu ver sem falhas. Achei mau, os repórteres que falam tão depressa, sem fazer pausas e atropelam as situações umas em cima das outras.
Gostava de os ver melhor preparados e que explicassem os passos e a diferença de uma cerimônia de estado de outra cerimônia normal. Há pessoas que gostam de saber essas coisas e o porquê de acontecerem.Quem é obrigatório convidar, e qual o lugar que ocupam.
Parabéns à chefe de protocolo.

AV disse...

Notei isso. Foi uma cerimónia bem coreografada e cronometrada, sem perder a mensagem humana e o sentimento. Reparei na senhora elegante que orquestrava a sessão e acompanhava as pessoas. Disse à minha mãe, que vive em Portugal, que devia ser uma pessoa do Protocolo de Estado. Afinal era a sua chefe. Bom exemplo.

AV disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
AV disse...

Concordo com Maria Isabel no que diz respeito à cobertura da televisão - segui pela RTP. Os repórteres por vezes falam a destempo e não explicam o contexto e as razões para os vários passos da cerimónia e o que simbolizam.
Não pude deixar de contrastar com a cobertura da BBC do funeral do Príncipe Filipe que, não sendo um funeral de Estado, estava carregado de momentos e detalhes fortemente simbólicos, claramente relevados e explicados pelos repórteres e comentadores. Também sabiam quando usar o silêncio.

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