quarta-feira, setembro 22, 2021

“A Arte da Guerra”


Na edição desta semana de “A Arte da Guerra”, falo com o jornalista António Freitas de Sousa sobre o novo acordo estratégico entre os EUA, o Reino Unido e a Austrália, as eleições legislativas na Rússia e a aparente tendência para o regresso ao poder da social-democracia em países nórdicos. Pode ver aqui: https://lnkd.in/gXfKM5Xm

8 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Os americanofilos do blogue devem sentir-se, neste momento, muito mal. Porque o Senhor Embaixador, mesmo com pinças, vai beliscando o Império.
Como resido em França, a minha opinião podia ser interpretada como do “macronismo” puro! Mas não sou “macronista”. Mas esta cruzada anglo-saxónica contra a França, vai produzir alguns mais que previsto!

Desta vez, Londres quebrou os laços com a UE. Então voltamos às velhas alianças anglo-saxónicas.
Para piorar as coisas, este “volte-face” vergonhoso foi simbolicamente anunciado no 240º aniversário de uma vitória naval francesa sobre a Marinha Real Britânica em Chesapeake, a batalha da qual a independência dos EUA foi alcançada. "A traiçoeira Albion" deve ter apreciado!

Quanto aos americanos, Senhor Embaixador, finalmente agiram como sempre. Só, agora, acrescentaram a histeria anti-chinesa de que os Estados Unidos e os meios de comunicação social são os promotores diários que legitima a AUKUS e os seus iniciadores.

Este clima nauseabundo refere-se às manifestações hipócritas e às palavras de “bonimenteurs” políticos da direita e da esquerda em busca desesperada de eleitores que fingem estar indignados por verem a França ridicularizada internacionalmente, mas que se recusam a retirar as consequências e a assumir as suas responsabilidades, sejam elas a NATO, a União Europeia e, em particular, esta violência contra a China que compete com o irracional.

A AUKUS considera a China um inimigo ao ponto de escolher a guerra. Até agora, a China permitiu que os navios passassem por áreas marítimas disputadas.

O declínio norte-americano é uma realidade, a emergência irresistível da China é um facto. A crise sistémica que está a atingir os EUA, que levou à polarização, à violência extrema e ao enfraquecimento de toda a sociedade norte-americana.

Quanto à NATO e ao exército dos EUA, as suas desilusões militares após 20 anos de guerra contra um povo de nómadas e pastores têm algo de irónico, senão o sofrimento que foi imposto a um povo inteiro.

E é esta situação que os americanos tentam de esconder com o AUKUS. Mas podem fazer o que quiserem: De facto, 30 anos depois de proclamar "o fim da história", o mundo está a mudar rapidamente e os EUA estão a ver a sua liderança abertamente desafiada e, por vezes, ainda mais, como acaba de ser verificado no Afeganistão. A credibilidade da "nação indispensável" é permanentemente afectada, incluindo com os seus aliados. Como é que isto não pode ser tido em conta na análise do estado do mundo?

Esta estratégia, levanta riscos claros para a paz mundial, contribuirá ao relançamento e a expansão da corrida às armas nucleares.

Basta ler o que escrevem os Chineses no China Daily: "Washington forma um novo gang para impor a lei da rua sem regras"! O diário, considera não sem razão que "a administração Biden está a seguir os passos de Donald Trump.

jose matos disse...

Bela foto!

Jaime Santos disse...

Joaquim de Freitas, eu sou americanófilo e aprecio as análises do Sr. Embaixador. Só quem vê o mundo a preto e branco é que se poderá sentir beliscado por críticas válidas ao lado que apoia.

O que provavelmente explica a sua knee-jerk reaction sempre que se fala destas coisas...

E o comportamento da China na área, com a progressiva militarização de ilhéus ou os voos sobre Taiwan também não é exatamente tranquilizador. Quem não quer ser visto como lobo, não lhe veste a pele.

O anúncio do Aukus nos termos em que ocorreu, humilhando a França (Biden já parece ter reconhecido o erro), foi um tiro no pé, porque não se promovem alianças eficazes alienando aliados...

Mas as razões que levaram a Austrália a optar pela tecnologia americana são bem conhecidas... Ela é de facto superior à francesa, mesmo a nuclear, que obriga à substituição das barras de combustível ao longo da vida útil do submarino... A americana não...

Claro, o Guardian noticiava que a Austrália obterá os primeiros submarinos lá para 2040 (os franceses deveriam começar a chegar em 2034), pelo que me parece que os chineses não têm grande coisa a temer.

Pequim deve é ter esfregado as mãos perante toda esta confusão, o que explica a forma relativamente contida como respondeu. Devem ter citado entre si uma qualquer versão, devida a Lao Tsé ou Confúcio, do dito atribuído a Napoleão 'nunca interrompas um inimigo que está a cometer um erro'...

Joaquim de Freitas disse...

Jaime Santos, eu não sou americanófilo e aprecio algumas análises do Senhor Embaixador.

O mundo americano, e não só, é largamente negro e não posso vê-lo doutra cor, quando abandona os exércitos aliados amigos, os soldados afegãos e o povo afegão, aos talibã; fugindo apressado do inferno que criou. Repetindo o que já fez algures.

A traição a princípios fundamentais entre aliados não se pode ver doutra cor. Apoiar os seus autores é partilhar dos seus valores. E eu não os partilho.

A trafulhice dos submarinos conheço-a bem. Fui vítima na minha acção comercial noutros tempos, no Irão, da mesma falta de ética. Alguns milhões de euros perdidos numa encomenda para a Peugeot -Irão, e milhares de horas de trabalho para a minha firma, só porque a transacção devia passar por um banco francês, ameaçado de perder o direito de trabalhar nos EUA, se participasse no negocio. O embargo, a arma de predilecção dos americanos quando se vêm ameaçados de perder negócios. E eu perdi-o.

O embargo é a arma que serve para estrangular a economia dos países dirigidos por regimes que desagradam ao Império. Na esperança que os povos se revoltem pela fome, para operar o “regime change”. Foi o tratamento que prometeu o embaixador americano a Mário Soares se a Revolução enveredasse por caminhos inaceitáveis para o Império. O destino de Allende.

A vigarice dos submarinos, o Senhor Jaime Santos “arranja” o negócio à sua maneira. Eu não sei tanto como o Senhor.

Se a mudança para a propulsão nuclear fosse a única razão para a Austrália mudar de cavalo, poderia ter ficado com o projecto original do Barracuda Francês, que o tem a vantagem de usar urânio pouco enriquecido disponível comercialmente. A Austrália não dependeria da França para novos abastecimentos de combustível.

Os navios britânicos e norte-americanos utilizam reactores nucleares com urânio altamente enriquecido (HEU 60%). Como a Austrália decidiu agora comprar estes barcos, ficará para sempre dependente destes fornecedores.

Os defensores da não proliferação e a AIEA revoltar-se-ão contra este acordo. Qual a supervisão que a UA terá? Quem terá acesso?

Os submarinos movidos a energia nuclear também são vistos como armas ofensivas, não como armas defensivas razoáveis. Há mais países neste mapa do que apenas na China. O facto de a Austrália, que tem uma população de apenas 25 milhões de habitantes, estar a comprar submarinos de ataque movidos a energia nuclear não será bem recebido pelo seu vizinho do norte, a Indonésia, que é dez vezes mais populosa. Outros países vizinhos, como a Nova Zelândia, rejeitam qualquer utilização de combustível nuclear e não permitirão que navios ou barcos que o utilizam entrem nos seus portos.

Joaquim de Freitas disse...

A única razão pela qual a Austrália se voltou politicamente e militarmente contra a China é a chantagem dos Estados Unidos. Há dois anos, o politólogo norte-americano John Mearsheimer veio à Austrália explicar aos australianos como funciona.

"Certo, têm uma escolha: podem andar com a China, que é o vosso maior cliente, em vez de trabalhar com os Estados Unidos. Se escolherem a China, têm de entender que serao nosso inimigo. Decidem então tornar-se inimigo dos Estados Unidos. Porque, mais uma vez, estamos a falar de uma intensa competição de segurança.

Ou estão connosco ou contra nós”. "E se fizerem trocas comerciais significativas com a China, e forem amigos da China, estão a minar os Estados Unidos nesta competição de segurança. Alimentam a besta, do nosso ponto de vista. E isso não nos vai fazer felizes. E quando não estamos felizes, não devemos subestimar o quão mau podemos ser. Basta perguntar a Fidel Castro.”

A Austrália não se alinha com os Estados Unidos para se proteger da China. A Austrália alinha-se com os Estados Unidos para se proteger dos Estados Unidos.

Biden pode ter esquecido o nome do primeiro-ministro australiano. Mas Scott Morrison lembra-se para quem deve trabalhar. Em 1975, os Estados Unidos e o Reino Unido lançaram um golpe de Estado contra o Primeiro-Ministro australiano Gough Whitlam, que movia o seu país para a independência. Poucas pessoas nos Estados Unidos se lembram-se disto, mas os políticos australianos lembram-se. Desde então, o seu país sempre fez o que lhe foi dito para fazer.

É o que explica toda esta história.

Ri bastante ao ler esta sua frase: E o comportamento da China na região, com a militarização progressiva dos ilhéus ou voos sobre Taiwan também não é propriamente tranquilizador. Se não queres ser visto como um lobo, não usas a pele.

Taiwan, o gigantesco porta-aviões americano no Mar da China, não lhe diz nada? Apesar dos seus 14.000 quilómetros de costa, a China entra em confronto, desde que sai para o mar, com o exército americano. Além das bases de várias dezenas de milhares de homens no Japão e na Coreia do Sul, há algumas centenas de soldados espalhados entre Singapura, Tailândia, Paquistão, e Filipinas. Senhor Jaime Santos : Conhece OKINAWA ?

Joaquim de Freitas disse...

A única razão pela qual a Austrália se voltou politicamente e militarmente contra a China é a chantagem dos Estados Unidos. Há dois anos, o politólogo norte-americano John Mearsheimer veio à Austrália explicar aos australianos como funciona.

"Certo, tem uma escolha: pode andar com a China, que é o vosso maior cliente, em vez de trabalhar com os Estados Unidos. Se escolherem a China, têmde entender que serás nosso inimigo. Decidem então tornar-se inimigo dos Estados Unidos. Porque, mais uma vez, estamos a falar de uma intensa competição de segurança.

Ou estão connosco ou contra nós”. "E se fizermos trocas comerciais significativas com a China, e formos amigos da China, estão a minar os Estados Unidos nesta competição de segurança. Alimentam a besta, do nosso ponto de vista. E isso não nos vai fazer felizes. E quando não estamos felizes, não devemos subestimar o quão mau podemos ser. Basta perguntar a Fidel Castro.”

A Austrália não se alinha com os Estados Unidos para se proteger da China. A Austrália alinha-se com os Estados Unidos para se proteger dos Estados Unidos.

Biden pode ter esquecido o nome do primeiro-ministro australiano. Mas Scott Morrison lembra-se para quem deve trabalhar. Em 1975, os Estados Unidos e o Reino Unido lançaram um golpe de Estado contra o Primeiro-Ministro australiano Gough Whitlam, que movia o seu país para a independência. Poucas pessoas nos Estados Unidos se lembram-se disto, mas os políticos australianos lembram-se. Desde então, o seu país sempre fez o que lhe foi dito para fazer.

É o que explica toda esta história.

Ri bastante ao ler esta sua frase: E o comportamento da China na região, com a militarização progressiva dos ilhéus ou voos sobre Taiwan também não é propriamente tranquilizador. Se não queres ser visto como um lobo, não usas a pele.

Taiwan, o gigantesco porta-aviões americano no Mar da China, não lhe diz nada? Apesar dos seus 14.000 quilómetros de costa, a China entra em confronto, desde que sai para o mar, com o exército americano. Além das bases de várias dezenas de milhares de homens no Japão e na Coreia do Sul, há algumas centenas de soldados espalhados entre Singapura, Tailândia, Paquistão, e Filipinas. Senhor Jaime Santos : Conhece OKINAWA ?

Joaquim de Freitas disse...

Jaime Santos, eu não sou americanófilo e aprecio algumas análises do Senhor Embaixador.

O mundo americano, e não só, é largamente negro e não posso vê-lo doutra cor, quando abandona os exércitos aliados amigos, os soldados afegãos e o povo afegão, aos talibã; fugindo apressado do inferno que criou. Repetindo o que já fez algures.

A traição a princípios fundamentais entre aliados não se pode ver doutra cor. Apoiar os seus autores é partilhar dos seus valores. E eu não os partilho.

A trafulhice dos submarinos conheço-a bem. Fui vítima na minha acção comercial noutros tempos, no Irão, da mesma falta de ética. Alguns milhões de euros perdidos numa encomenda para a Peugeot -Irão, e milhares de horas de trabalho para a minha firma, só porque a transacção devia passar por um banco francês, ameaçado de perder o direito de trabalhar nos EUA, se participasse no negocio. O embargo, a arma de predilecção dos americanos quando se vêm ameaçados de perder negócios. E eu perdi-o.

O embargo é a arma que serve para estrangular a economia dos países dirigidos por regimes que desagradam ao Império. Na esperança que os povos se revoltem pela fome, para operar o “regime change”. Foi o tratamento que prometeu o embaixador americano a Mário Soares se a Revolução enveredasse por caminhos inaceitáveis para o Império. O destino de Allende.

A vigarice dos submarinos, o Senhor Jaime Santos “arranja” o negócio à sua maneira. Eu não sei tanto como o Senhor.

Se a mudança para a propulsão nuclear fosse a única razão para a Austrália mudar de cavalo, poderia ter ficado com o projecto original do Barracuda Francês, que o tem a vantagem de usar urânio pouco enriquecido disponível comercialmente. A Austrália não dependeria da França para novos abastecimentos de combustível.

Os navios britânicos e norte-americanos utilizam reactores nucleares com urânio altamente enriquecido (HEU 60%). Como a Austrália decidiu agora comprar estes barcos, ficará para sempre dependente destes fornecedores.

Os defensores da não proliferação e a AIEA revoltar-se-ão contra este acordo. Qual a supervisão que a UA terá? Quem terá acesso?

Os submarinos movidos a energia nuclear também são vistos como armas ofensivas, não como armas defensivas razoáveis. Há mais países neste mapa do que apenas na China. O facto de a Austrália, que tem uma população de apenas 25 milhões de habitantes, estar a comprar submarinos de ataque movidos a energia nuclear não será bem recebido pelo seu vizinho do norte, a Indonésia, que é dez vezes mais populosa. Outros países vizinhos, como a Nova Zelândia, rejeitam qualquer utilização de combustível nuclear e não permitirão que navios ou barcos que o utilizam entrem nos seus portos.

Joaquim de Freitas disse...

A única razão pela qual a Austrália se voltou politicamente e militarmente contra a China é a chantagem dos Estados Unidos. Há dois anos, o politólogo norte-americano John Mearsheimer veio à Austrália explicar aos australianos como funciona.

"Certo, tem uma escolha: pode andar com a China, que é o vosso maior cliente, em vez de trabalhar com os Estados Unidos. Se escolherem a China, têmde entender que serás nosso inimigo. Decidem então tornar-se inimigo dos Estados Unidos. Porque, mais uma vez, estamos a falar de uma intensa competição de segurança.

Ou estão connosco ou contra nós”. "E se fizermos trocas comerciais significativas com a China, e formos amigos da China, estão a minar os Estados Unidos nesta competição de segurança. Alimentam a besta, do nosso ponto de vista. E isso não nos vai fazer felizes. E quando não estamos felizes, não devemos subestimar o quão mau podemos ser. Basta perguntar a Fidel Castro.”

A Austrália não se alinha com os Estados Unidos para se proteger da China. A Austrália alinha-se com os Estados Unidos para se proteger dos Estados Unidos.

Biden pode ter esquecido o nome do primeiro-ministro australiano. Mas Scott Morrison lembra-se para quem deve trabalhar. Em 1975, os Estados Unidos e o Reino Unido lançaram um golpe de Estado contra o Primeiro-Ministro australiano Gough Whitlam, que movia o seu país para a independência. Poucas pessoas nos Estados Unidos se lembram-se disto, mas os políticos australianos lembram-se. Desde então, o seu país sempre fez o que lhe foi dito para fazer.

É o que explica toda esta história.

Ri bastante ao ler esta sua frase: E o comportamento da China na região, com a militarização progressiva dos ilhéus ou voos sobre Taiwan também não é propriamente tranquilizador. Se não queres ser visto como um lobo, não usas a pele.

Taiwan, o gigantesco porta-aviões americano no Mar da China, não lhe diz nada? Apesar dos seus 14.000 quilómetros de costa, a China entra em confronto, desde que sai para o mar, com o exército americano. Além das bases de várias dezenas de milhares de homens no Japão e na Coreia do Sul, há algumas centenas de soldados espalhados entre Singapura, Tailândia, Paquistão, e Filipinas, Senhor Jaime Santos : Conhece OKINAWA ?

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