quarta-feira, dezembro 14, 2022

Quando a Guerra Fria parecia ter acabado


A Guerra Fria, que durante décadas opôs os ocidentais, sob a liderança dos Estados Unidos, à União Soviética, atravessou, a certo passo, um período de alguma distensão, conduzindo à laboriosa negociação de um “modus vivendi” que tentou reduzir os riscos existenciais e estabelecer alguns canais de regular comunicação.

Foi no quadro da chamada CSCE (Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa) que se procurou desenvolver várias “dimensões” de um diálogo entre o Leste e o Oeste, na tentativa de diluir antagonismos e fixar os pontos comuns possíveis entre aqueles dois mundos bem diferentes. Com o fim da União Soviética, a CSCE viria a institucionalizar-se na criação da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa).

A partir de 1994, a OSCE passou a ser a plataforma multilateral onde se tentou, e por muito tempo conseguiu, garantir uma linguagem comum sobre as questões de segurança no espaço euroatlântico e da antiga União Soviética. Mais de meia centena de Estados sentam-se, ainda hoje, à mesa dessa estrutura sedeada em Viena.

Em cada ano, a OSCE é presidida por um país diferente, que conduz a organização durante 12 meses. Há precisamente duas décadas, durante o ano de 2002, Portugal assumiu essa presidência. No final desse exercício, as conclusões propostas pela presidência portuguesa, que, como era de regra, passaram a ser uma “bússola” para o futuro imediato da organização, foram aprovadas por consenso pelos então 55 Estados membros.

Perguntar-se-á: mas, na OSCE, até então, as conclusões não costumavam ser aprovadas por unanimidade? É verdade, mas também é verdade que, a cada ano, esse exercício de harmonização de perspetivas estava a revelar-se mais difícil, pelo que será interessante destacar que acabou por ser com a presidência portuguesa que isso aconteceu pela última vez. 

Desde então, desde há 20 anos, o consenso desapareceu na OSCE. Nunca mais foi possível ter conclusões que contassem com o acordo de todos os Estados. Há dias, na Polónia, mesmo com a ausência forçada da Rússia (cuja delegação oficial foi impedida de participar na reunião final deste ano), a organização esteve muito longe de chegar a qualquer consenso.

Serve isto para dizer que quem conhece o mundo da OSCE sabe que a organização reserva ainda uma memória muito positiva desse trabalho da diplomacia portuguesa, concluído na reunião do Porto, em dezembro de 2002.

Caídos na rede

Foi a pandemia, foram os incêndios, foi o lugar do novo aeroporto ou a linha avançada da seleção. São sempre os mesmos, por aqui, pela redes sociais, sempre zangados, indignados, de adjetivo na tecla e no comentário. Por estas horas, nem imaginam o que eles sabem sobre alterações climáticas, sobre o que se “devia fazer” e não foi feito! É uma malta! 

Português de lá

O português que se fala no Brasil tem uma criatividade única. Chamar “revogaço” a um conjunto forte de medidas revogatórias de decisões anteriormente tomadas é uma extraordinária “trouvaille” semântica.

Na cidade de Niemeyer

O que me impressionou mais no ambiente de confusão (os brasileiros usam “baderna”) que se instalou nas ruas de Brasília é a cobardia das forças de segurança, o medo ou a relutância em impor a ordem democrática.

… e, depois, há Messi!

Percebo que alguns possam não gostar da equipa da Argentina. Mas não entendo que, quem goste um mínimo de futebol, não reconheça o génio, na atualidade incomparável, de Messi. A jogada e a assistência no terceiro golo contra a Croácia são extraordinárias.

terça-feira, dezembro 13, 2022

O dia


Não sei de estado da arte em outros lados mas, por aqui, a coisa começa a compor-se e ainda acaba num belo dia de sol a pôr-se…

Agenda muito doméstica

Dia “às pinguinhas”: reunião, 11:00, Marquês (“pode ser 5ª?”); almoço, 13:30, Campo de Ourique (“é melhor adiar, não achas?”); reunião, 17:30, Baixa (“temos de encontrar outro dia”); jantar de empresa, 20:30, à beira-rio (“cancelado”, diz a SMS). E o zoom das 16:00? Manter-se-á?

segunda-feira, dezembro 12, 2022

12.12.12


Faz hoje 10 anos, dia por dia. Eu era embaixador em Paris e preparava-me para "fechar" a minha carreira diplomática, no final do mês de janeiro de 2013, chegado à idade limite para prestar serviço no estrangeiro. 

Tinham decorrido quase 38 anos, desde que entrara para as Necessidades. Como antes já tinha sido funcionário público por quatro anos, decidi pedir a aposentação, a ter efeitos imediatamente após o meu regresso a Lisboa. Não recorri ao estatuto da "jubilação", que me faria andar pelos corredores do MNE até à idade em que seria obrigado a ir compulsivamente para casa, embora isso fosse financeiramente um pouco mais vantajoso. Queria ficar completamente livre, para poder fazer o que me apetecesse.

A minha reforma ia ser bastante baixa (embora muitos teimem em não acreditar, um diplomata tem sempre uma reforma baixa, porque não lhe é permitido descontar sobre o que ganha quando está colocado no estrangeiro). Tinha, contudo, assegurado já a possibilidade de dar aulas numa universidade privada (não podia lecionar nas universidades públicas, porque isso é incompatível com ser-se pensionista do Estado). Ia ser um apenas um modesto “part-time” que me ajudaria a arredondar os meses.

Porém, nesse dia 12 de dezembro de 2012, todos os meus planos de vida se alteraram.

Com intervalo de algumas horas, recebi três telefonemas de Lisboa. Vinham de três pessoas de áreas muito diferentes, que apenas tinham em comum a circunstância de todos terem lido na imprensa que eu me ia aposentar. Uma não me conhecia pessoalmente, com outra tinha tido apenas um breve contacto, da terceira era amigo. Cada um à sua maneira, os três disseram-me que gostavam de poder vir a contar com a minha colaboração, para aconselhamento estratégico, no âmbito das entidades que dirigiam - duas empresas e uma fundação. Todas essas entidades tinham uma ação internacional relevante. Em nenhuma delas iria ser um trabalho "from nine to five", mas sim reuniões e tarefas pontuais: análises de conjuntura, avaliação de riscos políticos em mercados, estudos prospetivos, com algumas viagens internacionais pelo meio. Eram propostas muito sedutoras, em todos os sentidos.

Apreciei muito os convites, o terem-se lembrado de mim. E aceitei-os. Sentia-me particularmente à vontade para o fazer, porquanto essas entidades estavam a convidar alguém que, no plano político, era público e notório nada ter a ver, em termos de proximidade, com o governo que, no nosso país, chegara ao poder, pouco mais de um ano antes. Aliás, muito pouco, no trabalho que eu iria fazer, tinha a ver com as atividades dessas mesmas entidades em Portugal.

Tinha conhecido muitos colegas diplomatas - noruegueses, britânicos, espanhóis, franceses, brasileiros, etc. - que, após se terem terminado o seu serviço público, tinham ingressado, com naturalidade, no setor privado, para iniciarem uma nova carreira, que pudesse aproveitar a sua experiência de décadas. Em Portugal, contudo, salvo uma meia dúzia (se tanto!) de casos, de que tenho o privilégio de fazer parte, não havia nem há essa prática de reaproveitamento profissional dos diplomatas. É pena. Acho que o setor empresarial português perde bastante com isso, embora eu seja suspeito ao dizê-lo. Por essa ausência de oportunidades, brilhantes colegas meus, acabados de sair de postos e de experiências valiosíssimas, passaram, de um dia para o outro, de uma atividade intensa para o passeio quotidiano do seu cão. No meu caso, eu nem sequer tinha cão.

Nos dias de hoje, continuo ligado, em pleno, a duas das entidades que me contactaram, faz hoje uma década. Com a terceira, concluí, há meses, nove anos consecutivos de agradável colaboração. Quem me está a ler compreenderá agora melhor a razão pela qual a data de 12.12.12 me diz bastante.

E o resto?

Faria muito bem à legitimidade do Parlamento Europeu se procurasse estar atento à ação de alguns deputados que ali funcionam como regulares “porta-vozes” e “influencers” em favor de certos regimes estrangeiros, mesmo que a paga, neste caso, possa não ser material mas apenas em “satisfação” pela cumplicidade política.

O Qatar a ver-se grego

A confirmarem-se, são bastante graves as acusações de corrupção que impendem sobre a deputada europeia grega e o grupo que o Qatar terá financiado para tentar edulcorar a sua imagem europeia. 

Teremos de concluir que Doha, com este episódio a somar-se a todas as controvérsias que antecederam o Mundial, não parece estar a ter um período de “relações públicas” muito brilhante.

Conversas em família

- É um escândalo, de facto! O dinheiro que esta deputada europeia grega recebeu do Qatar! Devia andar de Rolls-Royce!

- Mas quem é que quer andar de Rolls-Royce? Já pensaste o que deve ser estacionar um Rolls-Royce?

Rimo-nos os dois e, nesse instante, vi um lugar para deixar o Smart.

Bolas


Lídia Paralta Gomes, uma jornalista do "Expresso" cujo nome li hoje pela primeira vez, escreveu há pouco, em modo sinédoque, este "filme" do Euro que ganhámos: "Moutinho ganha a bola, dá para William Carvalho, este, com aquela leveza que ainda hoje traz no pé, passa para Ricardo Quaresma que devolve de primeira para João Moutinho. O médio vê Éder, entrega a bola ao avançado, que ganha posição a Koscielny e remata."

Gosto destes ritmos de balanço para a glória e, por isso, e para quem tiver idade para isso, trago aqui esta bela "peça" que, há meses, o Manuel Magalhães e Silva me recordou, bem de outros tempos, talvez do Nuno Brás: "Corre Hernâni, levanta a cabeça, procura a quem dar, amortece na coxa, arma o tiro, aponta, executa e ... golo".

O "falar" do futebol é uma arte de antologia. Conseguir dizer que um jogador "chutou com o pé que tinha mais à mão" ou que, como um dia disse o clássico Alves dos Santos, "lá vai o jovem Simões, agilidade na cabeça, inteligência nos pés" são tiradas que confortam a nossa alma de eternos adeptos da "modalidade".

Há "coisas" mais bonitas do que o futebol? Há e eu já fui apresentado a algumas. Mas a arte da bola é magnífica, desculpem lá!

domingo, dezembro 11, 2022

Um senhor do tempo


O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas editou a obra de homenagem “Adriano Moreira - Para Além da Espuma do Tempo”.

Trata-se de um conjunto de textos que analisam a passagem por diversos palcos de intervenção de uma figura marcante da pedagogia e do pensamento estratégico do nosso país, que há pouco nos deixou.

Ao olhar o título desta obra, veio-me à ideia que o conceito do tempo esteve bastante presente na bibliografia de Adriano Moreira. Senão vejamos: “Notas do tempo perdido “, “O tempo dos outros”, “A espuma do tempo. Memórias do tempo de vésperas”, “Nunca é tarde para o homem”, “Futuro com memória”, “A nossa época”, “Este é o tempo!”.

É compreensível, para quem iria viver um século, esta atenção ao tempo.

À Alves Redol


Cá por casa, há uma secção de camisas chamada, desde há muito, “à Alves Redol”. Têm quadrados largos, cores diversas, algumas berrantes, a lembrar as camisas que o escritor vestia em fotografias, idênticas às dos pescadores e presumivelmente dos gaibéus, por mim compradas em momentos de completa insconsciência estética, deslize neo-realista ou, simplesmente, saldos a que não soube resistir. Nos dias de hoje, quase só as uso quando tenho a certeza de que não vou sair de casa, porque algumas são mesmo inapresentáveis. 

Há tempos, tocou à campaínha um amigo, antigo exilado em França, e, vendo-me com aqueles quadriculados largos sobre o corpo, exclamou: “É pá! A tua camisa faz-me lembrar Paris!” Paris? Porquê? Ele explicou: “Não te lembras da eterna montra da Casa de Portugal, na rue Scribe, no tempo do fascismo? Tinha sempre uma guitarra, um xaile de fadista, umas redes e um pescador com barrete e uma camisa como a tua. Isso ainda se vende?”. 

Embatuquei. Vou fazer a sugestão à Catarina Portas, para incluir as camisas de pescador - podia chamar-lhes “à Tenreiro” - no catálogo de “A Vida Portuguesa”.

Os verdadeiros artistas

Gostaria de lembrar que, se Ronaldo não deixa de ser um génio do futebol, tenha ele as birras e atitudes que tiver, o mesmo se aplica à classe técnica de Messi, apesar da sua detestável falta de desportivismo. A qualidade de um “artista da bola” supera tudo.

A jogar

A brincar, a brincar, o Qatar lá conseguiu que o futebol embrulhasse em relativo esquecimento os Direitos Humanos e as acusações que impendem sobre país. Isto não significa, contudo, que, no saldo deste Mundial, a sua imagem não passe a ter uma nódoa no imaginário mundial.

Quem gostarias que ganhasse o Mundial?

Perguntaram-me isto. A pessoa ficou espantada quando lhe respondi, muito sinceramente, que não sabia. Gostaria que Portugal ganhasse, claro, porque os cidadãos do meu país teriam ficado satisfeitos - e o bem-estar das pessoas que nasceram para cá do Caia é uma das medidas simplórias do meu patriotismo. Porém, afastado que foi Portugal (e o Brasil, ”my second and last best”), é-me indiferente, em absoluto, quem vai levar a taça. (Fiquei muito chocado com a falta de desportivismo da Argentina. Mas o facto de ter por lá o melhor jogador do mundo ainda em prova empata-me o sentimento). Nunca percebi por que diabo, sempre que há um jogo de futebol, temos de escolher um lado pelo qual “torcer”? Durante o Inglaterra-França, dois países onde vivi e fui feliz, onde tenho amigos e a cujas culturas (e livrarias!) estou muito ligado, não me senti minimamente a favor de um ou de outro. Ou melhor, tive pena que o Kane falhasse o penalti, mas apenas porque tal me permitiria ter mais meia hora de bom futebol. Mas confesso que me estou completamente ”a borrifar” para quem vá ganhar o Mundial. Gostaria é que as quatro partidas que faltam, e que verei com atenção (falhei alguns jogos, mas poucos), resultassem em jogos animados, com muitos golos e com excelente futebol. Só isso! A sério! 

p.s. - tenho a certeza, quase absoluta, que cada comentário a este post trará um país que o seu autor privilegia. É que não conheço muita gente que reaja como eu. E durmo lindamente assim, acreditem.

sábado, dezembro 10, 2022

Marrocos


Era uma mulher muito bonita. Chamava-se Christine Keeler. Morreu há cinco anos.

A história que vou contar - e que dedico à Célia Rocha e ao Frederico Alcantara De Melo, leitores desta página e testemunhas inconscientes do episódio - passou-se nos anos 70 do século passado.

Naqueles tempos, as chamadas “comissões mistas”, as visitas técnico-políticas de membros dos governos aos seus homólogos de outros países, para assinar ou cumprir acordos, demoravam vários dias, entrecortados de trabalho e de algum lazer. Bons tempos esses!

Estávamos em Marrocos, no início da minha carreira, e eu fazia parte de uma dessas delegações, chefiada por um político jovial e mundano, saído de uma área técnica que não vem para o caso referir.

Acabado o jantar oficial do primeiro dia, em Rabat, o nosso governante chama-me à parte e coloca-me uma questão: “Você é muito mais novo que eu, mas já ouviu falar do caso Profumo?”.

Eu conhecia bastante bem a história do ministro da Defesa britânico, John Profumo, que, uns bons anos antes, havia caído em desgraça, com grande escândalo público, por, em Londres, partilhar uma bela amante com o adido militar soviético.

Estranhei um pouco que a curiosidade prosseguisse, numa linha inquisitiva: “E lembra-se do nome dela?”. Com algum gozo, mostrei a minha familiaridade com a intriga política londrina e disse-lhe que ela se chamava Christine Keeler. Ele ficou satisfeito.

Mas o que eu não sabia, e ele logo me revelou com um sorriso cúmplice, é que, segundo informações seguras de que dispunha, Christine Keeler vivia então em Marrrocos, mais precisamente em Casablanca, onde dirigia nada mais nada menos que uma próspera “casa de meninas”.

Chegado a este ponto, o nosso político – que, diga-se de passagem, não foi muito longe na sua carreira governativa – lança-me o desafio: “Meu caro, você é um homem do mundo, lá dos Estrangeiros e agora vai ter de mostrar o que vale. Tem como missão arranjar maneira de, numa destas noites, eu dar um salto lá à “casa” da Keeler. Fale com o protocolo marroquino, eles estão habituados a estas coisas. E você, se quiser, até pode vir comigo. Tome bem nota: será um encontro com a História!”.

Caí das nuvens, confesso. Fiz-lhe ver que, andando nós com batedores, com uma delegação relativamente numerosa e enredados em compromissos oficiais vários, era um pouco delicado e difícil montar uma escapada lúdica daquele porte, para uma cidade a quase uma centena de quilómetros da capital. Mas o nosso político insistia e, praticamente, só não ameaçou queixar-se de mim em Lisboa porque, apesar de tudo, este tipo de tarefas não fazia parte, pelo menos obrigatória, da “job description” dos nossos diplomatas.

A minha discreta e pouco empenhada missão junto do protocolo marroquino não teve, porém, aquilo que se possa qualificar como um acolhimento entusiasmado. No entanto, para atenuar os fulgores do nosso político, lá se conseguiu para ele um programa alternativo, através de uma espécie de “room service” feminino, que a viúva de um antigo chefe da polícia de Rabat tinha à época instalado para clientes VIP, no hotel onde nos alojávamos. Do mal o menos e o homem lá se acalmou.

John Profumo morreu já há alguns anos, bem depois no nosso episódico governante. Christine Keeler, que morreu com 75 anos (na bela foto que reproduzo tinha 19), acabou por ganhar renovada fama, em 1989, com o filme “Scandal“, onde era relatada a sua aventura política de alcova. Não verifiquei, na autobiografia que publicou, os relatos das suas posteriores noites de Casablanca. Mesmo que o tivesse feito, e graças à minha lamentável imperícia diplomática, eles não poderiam incluir qualquer nota sobre a visita de um fogoso político português, nos idos da década de 70. A menos que outros por lá tivessem andado! Quem sabe?...

Hoje é dia para trazer esta memória de Marrocos. 

Glória

À volta do Telefunken lá de casa, em Vila Real, na transição dos anos 50 para 60 do século que teima em não me passar, o meu avô, o meu pai e eu, com as senhoras da família um pouco mais distantes, mas atentas, ouvíamos, com patriótica ansiedade, os relatos dos Portugal-Espanha ou Portugal-Itália que ditavam, nesse ano, o campeão europeu em hóquei em patins, modalidade onde, por uma vez, “éramos” (plural majestático da glória que estava mais à mão) bons. Perdíamos, ganhávamos, e, por uns dias, aquilo era um verdadeiro oxigénio moral. Depois, vinham os dias normais.

Amanhã, serão esses dias. Toda a vida me tenho interrogado sobre esta inevitabilidade de nos dedicarmos nervosamente ao absurdo das equipas, das cores, das pátrias. Mas tudo indica, seja lá por que for, que a vida é mesmo assim.

Aprender

De uma vez por todas, é preciso compreender que ter posse de bola não significa necessariamente controlar o jogo.

Brasil (2)

Há a regra não escrita, de mínimo bom senso, de que um ministro indigitado, mas que ainda não tomou posse, se deve abster de comentários públicos sobre as temáticas do seu futuro cargo. No Brasil, alguns titulares indicados por Lula estão já a “mandar bitaites”. Mau começo.

Brasil (1)

Há qualquer coisa no ar que me diz que os próximos vinte dias, no Brasil, podem não ser fáceis.

Santos da casa

Fernando Santos não é, na tática futebolística, o mais corajoso treinador do mundo - e isto é um óbvio “understatement”. Mas, na vida, como hoje o demonstra, é um homem com muita coragem e forte personalidade. Se se enganar, acabará hoje o seu contrato. Se acertar, logo se verá!

Senhor dos Passos

Sem clarificar nunca o seu “end game”, Pedro Passos Coelho adota a santanal atitude de “andar por aí” a falar. Assume um registo sebastiânico que reduz o espaço aos protagonistas de turno na direita. Vou dizer isto de forma elegante: Passos Coelho nem “atua” nem sai de cima…

Vizinhos

É num dia como o de hoje que nos devemos lembrar de que a distância entre Lisboa e Rabat é mais curta do que aquela que separa as capitais portuguesa e espanhola.

Guerras

A eventualidade de Alcácer Quibir e do rei Sebastião virem à baila por aqui, no dia de hoje, é elevadíssima.

Isto é miserável!

 


sexta-feira, dezembro 09, 2022

É a bola!


O Brasil foi eliminado pela Croácia. O futebol é isto. Achei o Brasil melhor, criativo e com um jogo muito mais interessante, uma equipa que, este ano, parecia ter a “estrela” para ser campeã do mundo. A Croácia foi teimosa, resistente, com a genialidade de Modrić a puxar pelo conjunto. No início da segunda parte, os croatas pareciam já não poderem “com uma gata pelo rabo” mas, com um guarda-redes excecional, conseguiram segurar o jogo. Nos penaltis, tudo é sempre possível! Um grande abraço de pesar aos meus muitos amigos brasileiros, que imagino desolados, neste momento. É a vida! É a bola!

O escrete do Planalto

Bons nomes anunciados por Lula para o futuro governo. José Múcio na Defesa é um “safe pair of hands”, Mauro Vieira no Itamaraty é um nome sólido, embora um pouco factotum de Celso Amorim. Haddad é um político de mão cheia e pode surpreender na Fazenda.

Eutanásia

Tenho muitas dúvidas sobre a questão da eutanásia. Mas já ouvi muitos bons argumentos a favor, por parte de gente por cuja opinião tenho muito respeito.

Spectator

“NHS waiting lists have reached a new record high of 7.2 million in England, figures released today revealed. Rishi Sunak last night attended a taskforce on trying to cut the backlog, which is expected to grow further.”

No sapato…

A maior prova de falta de imaginação, neste Natal, é oferecer livros sobre a Rússia, a Ucrânia e respetivas figuras.

Chama-se a isto presciência…

 


Se trabalhassem…

Os três episódios que a Netflix divulgou sobre a saga dos príncipes britânicos desavindos são uma obra-prima de promoção da senhora e de vitimização do casal. Parece serem uma almofada sentimental para a “pancada” na família real que virá nos próximos episódios. Se trabalhassem…

Feito ao bife!


Passei ontem por lá, pelo Café de São Bento, na hora noturna pós-espetáculos em que mais gosto de ir. Tinha lido que houve mudança de gerência e que iria haver alterações. Por ora, que eu desse conta, são poucas: algum pessoal novo mas simpático, aumento sensível de alguns preços e fim das meias garrafas de vinho (truque desagradável para promover o cada vez mais rentável vinho ao copo). O bife continua muito bom e essa é a medida clássica de uma casa onde, contudo, quase sempre nos esquecemos de que existem outros pratos. Por exemplo, o “strudel” de bacalhau estava excelente. O serviço continua com grande simpatia e profissionalismo, o que foi sempre uma marca da casa. Que as futuras mudanças não levem o Café de S. Bento a perder-se e a perder a afetividade de quem dele gosta, como é, de há muito, o meu caso, é tudo o que desejo.

Pois!

Ontem, um reputado médico e professor universitário português, que está longe de ter a menor simpatia por este governo, dizia-me: “Não consigo entender como é que a nossa comunicação social não esclarece que a situação que se vive nos serviços de urgência, por toda a Europa, não é muito diferente daquela que se passa em Portugal. Os serviços públicos de saúde, em França ou no Reino Unido, estão hoje numa situação pior do que aquela que se vive no nosso país e as operações em atraso atingem números extraordinários, muitos piores do que os nossos. E, no entanto, o tema, por lá, não costuma abrir os telejornais”.

quinta-feira, dezembro 08, 2022

País de marinheiros

 


человек года


Alguém já verificou quem será ”o homem do ano” para a Pravda ou para o Izvestia? Ou para o Sebastopol Times? Faço uma aposta…

O sal e a vida


Não estou a exagerar, garanto! Desde há décadas, de cada vez que, num restaurante, sou tentado a colocar um pouco mais de sal na comida, vem-me à ideia a figura, sorridente e de “papillon”, do professor Fernando Pádua, que, através da televisão, educou gerações de portugueses a serem parcos na utilização do cloreto de sódio, como forma de prevenir a hipertensão.

Fernando Pádua morreu hoje. O meu agradecimento pessoal pela sua lição de vida.

Eduardo


Um insuperável conflito de calendário impediu-me de estar presente na homenagem que ontem foi prestada a Eduardo Ferro Rodrigues, na Assembleia da República. Tenho muita pena de ter sido forçado a essa ausência e ele sabe isso. Teria gostado de poder dar-lhe um abraço, não apenas de forte amizade mas, igualmente, de sincero agradecimento pelo seu permanente exemplo cívico, pela impoluta figura de Estado que sempre foi, que muito honrou a democracia e a nossa geração. Fica aqui esse abraço, caro Eduardo.

quarta-feira, dezembro 07, 2022

“A Arte da Guerra”


A guerra e o petróleo, novo governo em Israel e os equilíbrios parlamentares nos EUA - três temas que, com o jornalista António Freitas de Sousa, desenvolvo em “A Arte da Guerra”, o podcast semanal sobre política internacional do “Jornal Económico”. 

Pode ver clicando aqui.

Falando de Cristiano Ronaldo


Cristiano Ronaldo é, a uma distância incomparável, o maior jogador português de todos os tempos. Com todo o respeito e imensa simpatia que me merece a figura do grande Eusébio, estamos a falar de “outro campeonato”. 

Cristiano Ronaldo tem disputado com Lionel Messi o título do melhor jogador do futebol contemporâneo. Eu, confesso, sempre hesito em escolher entre eles.

Cristiano Ronaldo está, a meu ver, entre os dez maiores jogadores de futebol de todos os tempos, num grupo onde, para mim, estão Messi, Maradona, Beckenbauer, Pelé, Platini, Cruijff, Di Stefano, George Best e Puskas - e talvez pudessem estar Eusébio, Bobby Charlton, Van Basten, Muller, Romário, Zidane, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e uma meia dúzia de outros mais.

Cristiano Ronaldo levou e leva o nome de Portugal pelo mundo, num sentido positivo, granjeador de um apreço e simpatia que se refletem na imagem do nosso país. Temos de agradecer-lhe por isto. Os portugueses que andam por fora sabem bem do que estou a falar.

Cristiano Ronaldo demonstrou, desde muito cedo, uma vontade de auto-superação que o tornou altamente respeitado e um exemplo mundial de profissionalismo. Além disso, não obstante alguns deslizes de comportamento, Cristiano Ronaldo soube, por muito tempo, conduzir a sua vida pessoal com um apreciável equilíbrio, o que o tornou merecedor de grande admiração. Não deve ser fácil gerir um estatuto - profissional, mediático e sócio-económico - como aquele que hoje é o seu. 

Cristiano Ronaldo tem, nos últimos tempos, dado passos e assumido atitudes que não apenas contrastam com o perfil a que nos tinha habituado como o fazem entrar, por vezes, num inesperado registo de “prima dona”. E porque esse comportamento surge, precisamente, naquele que começa a ser o óbvio início do ocaso da sua carreira, fica a sensação, talvez injusta, de que ele não está a saber lidar bem com essa fase, trágica mas inevitável, do seu tempo profissional.

Porém, Cristiano Ronaldo, por tudo aquilo que foi, pelas alegrias que deu a quem, como eu, sempre apreciou imenso o seu percurso, é merecedor da nossa eterna admiração. E merece mais: merece que esse seu passado seja protegido e preservado de tudo quanto, de menos bom, o seu presente ou futuro possam vir a trazer.

Ventozelo


No dia 14 de dezembro, com o jornal “Público”, é editado um caderno das “Conversas em Ventozelo”, coordenado pelo professor Luís Valente de Oliveira, sobre os 20 anos do Douro Património Mundial, um trabalho a que tive o gosto de prestar a minha modesta colaboração.

Évora, capital europeia da Cultura 2027

 


Excelente escolha! 

terça-feira, dezembro 06, 2022

Pois é assim!

Ronaldo no banco. Tinha de ser. E se perdermos? Se perdermos? Perdemos.

Perejil

Quem conhece a relação entre Marrocos e a Espanha percebe bem o significado do resultado de hoje entre as duas seleções.

Pode ser isto

Bela síntese do “Financial Times”, na sequência do artigo de Olaf Scholz, primeiro-ministro alemão, na “Foreign Affairs”: “Germany is a case study of a western state that made a “strategic bet” on globalisation and interdependence — and was now suffering the consequences.. It outsourced its security to the US, its export-led growth to China, and its energy needs to Russia.”

Notícias de Kiev

Por simpatia ou mero realismo, dificilmente qualquer órgão de informação irá escolher uma “personalidade do ano“ que não seja Volodymyr Zelenskyy.

Só talvez a “Pravda” e o “Izvestia” se inclinem para um conhecido senhor do Kremlin. Ah! E “A Bola” para Mbappé, claro.

segunda-feira, dezembro 05, 2022

Que ferro!


Foram sete, contei-os bem, os livros que me apetecia comprar e não comprei, na passagem, depois do almoço, nas livrarias Bertrand, FNAC e Férin. Porquê? Nem consigo tempo para ler as resmas que tenho em atraso cá por casa, quanto mais juntar-lhes novos parceiros. “Que ferro!”, diria o Eça.

domingo, dezembro 04, 2022

Trump

Trump tenta, a todo o custo, regressar às notícias. Depois de um lançamento de recandidatura que caiu em saco roto, não despertando entusiasmo nas hostes republicanas, fez agora uma proposta para anular as eleições de 2020 e suspender a Constituição. E disse isto sem rir!

Vergonha

Se acaso não ficar evidente uma reação forte por parte das autoridades, o escândalo das condições de vida dos trabalhadores estrangeiros no Alentejo pode vir a ter um efeito reputacional negativo sobre o nosso país idêntico àquele que, no passado, ocorreu com o trabalho infantil.

Sobe e desce

Olhando a onda de críticas a Marcelo, cada vez mais me convenço de que o sentimento português pende para a ciclotimia: cansaço com as figuras seráficas, subsequente escolha de “porreiraços” e, depois, regresso ao primeiro modelo. Afinal, a democracia também é isto.

Irão


A realidade parece estar a ter muito peso. Há sinais de que as autoridades iranianas se preparam para desmantelar a “polícia dos costumes”, destinada a regular as práticas comportamentais em sociedade que possam infringir as regras corânicas. A ver vamos!

Jill Jolliffe


Acabo de ler a notícia da morte de Jill Jolliffe, aos 77 anos. Nela se diz que os seus últimos anos foram passados em Melbourne, num estado de crescente demência.

Conheci Jill Jolliffe nos anos 80, quando ela viveu em Portugal. (Escolhi, na net, uma fotografia com a imagem que dela recordo). Criámos uma boa relação, estabelecida já não sei através de quem. (Terá sido o Benjamim Formigo?) Almoçámos algumas vezes. Recordo que, invariavelmente, nos encontrávamos à porta do Palácio Foz, onde ela frequentava o ponto de apoio ali existente para os jornalistas estrangeiros e íamos comer para tascas na Baixa, que ela conhecia como ninguém.

Jill era uma jornalista australiana fortemente dedicada à causa timorense, num tempo em que o tema não mobilizava muitos setores portugueses. Era uma mulher com um sorriso suave, por detrás do qual se notava uma forte convicção. Tinha “uma história eterna com Timor”, como um dia me disse. Tinha andado por lá, testemunhou momentos dramáticos, escreveu sobre isso e dedicava-se abertamente àquela causa. Nas conversas comigo, procurava sempre sondar do estado de espírito da nossa diplomacia face à ocupação indonésia de Timor-Leste e ao apoio possível à guerrilha. Como eu, nas Necessidades, não tratava minimamente do tema, sabendo muito pouco sobre o modo como ele era abordado politicamente, nunca lhe dei nenhuma ajuda. Até um dia.

Um dia, Jill Jolliffe pediu-me um favor: se eu podia encaminhar uma carta de Xanana Gusmão para o primeiro-ministro de então, Cavaco Silva. A carta, que vinha aberta, era um pedido de material, de diversa natureza (recordo que incluia material de comunicações), de que a guerrilha necessitava. Fiz o que me pediu e obtive um contacto para ela poder fazer um “follow-up” do assunto. Nunca cheguei a saber se a carta teve uma resposta, positiva ou não. 

Várias vezes, nos últimos anos, me tinha perguntado sobre o que seria feito de Jill Jolliffe. Tal como em outras ocasiões já me aconteceu, acabo por saber da vida de alguém na altura em que recebo a notícia da sua morte.

sábado, dezembro 03, 2022

Taberna do Adro


Ainda antes de sair do bulício ruidoso e multitudinário do Alentejo, para regressar à calmaria desértica da paisagem urbana olissiponense, decidi passar por Vila Fernando. A aldeia, que já teve no seu centro uma instituição correcional para jovens, bem memorada na arquitetura ali construída, sofre hoje de um claro declínio demográfico. Não terá mais de 300 habitantes. 

O saldo populacional, contudo, aumenta um pouco às horas de almoço e jantar, por via dos utentes da “Taberna do Adro” (que fecha às quartas, desde já aviso). Pela mão hábil da Dona Maria José Sousa uma cara hoje muito popular para quem gosta de aprender culinária pela televisão, com o marido no “backstage” e o filho e o neto a oficiarem às poucas mesas, ali se apresenta uma cozinha alentejana tradicional, sem arrebiques nem efes-e-erres, a preços pré-guerra, num ambiente agradável e acolhedor. Miguel Esteves Cardoso fez-lhe adequada menção no “Fugas” e a nossa Academia Portuguesa de Gastronomia consagrou, há pouco, a genuina divulgação mediática da cozinha alentejana que a Senhora faz (40 programas, gravados em Madrid, já há uns tempos, contou-me).

Há alguns anos, tinham sido os alertas gastronómicos dos meus amigos Fortunato da Câmara e Fernando Melo que, respetivamente no “Expresso” e no “Diário de Notícias”, me tinham obrigado a anotar este endereço, onde a vida, contudo, ainda me não tinha trazido.

A experiência desta refeição trouxe-me agora à memória, gustativa e não só, outros tempos da primeira morada do Chana do Bernardino, na Aldeia da Serra, da época originária do Chico, em São Manços, ou dos alvores do Manuel Azinheirinha, no Escoural. Da lista, que não é longa, o que se saúda, ficaram por experimentar o pastelão de espargos, que a casa recomenda, a tomatada de galinha, o cachaço de porco preto e os pezinhos, e algumas sobremesas. E nem digo o que se comeu.

Onde fica Vila Fernando? Não fica longe de Elvas, não fica longe de Estremoz e não fica longe da A6. Como diz o “Michelin”, para aquilo que se recomenda, “vaut le détour”. Fá-lo-ei mais vezes. Deixo a capa da lista, debruada a pano. Fechada, para abrir o apetite de quem lê.

Estremoz, ora bem!

 


sexta-feira, dezembro 02, 2022

Azulejos



Joe Berardo é uma figura muito polémica, “to say the least”. Mas Berardo não é chamado a esta conversa (e agradeço que o não seja). Porque não é dele que quero falar agora.

O que hoje quero dizer é apenas que o museu do azulejo que leva o seu nome, no centro de Estremoz, merece uma visita e justifica mesmo uma deslocação à cidade.

Trata-se da exposição de dezenas de milhares de azulejos, de muitas e bem diversas origens e períodos, divididos por cerca de 40 salas, num edifício muito bem recuperado, com espaços onde as peças “respiram” bem. 

Fosse eu estremocense (assim se chama a quem nasce em Estremoz) e estaria muito satisfeito com este excelente ativo cultural da cidade.

Alentejo, pois

 


Alentejo, claro

 


quinta-feira, dezembro 01, 2022

“A Arte da Guerra”


Depois de uma semana de pausa, regressou “A Arte da Guerra”, o podcast com o jornalista António Freitas de Sousa para o “Jornal Económico”. Nesta edição, falamos da China e das reações públicas à política de ”covid zero”, das polémicas em torno do Qatar e da possível incursão militar turca na Síria. Para ver clicando aqui.

Outros tempos



Em outros tempos, hoje era sábado. Aos sábados, tinha saído o “Expresso” (que ainda não tinha saco e que agora sai às sextas). Porque era fim de semana (hoje não é), eu vestia calças de veludo cotelê e (às tantas!) camisola de losangos, que sempre tive por traje “oficial” do cliente das Pousadas. A sala da Pousada (esta é em Estremoz, mas podia ser qualquer outra) era assim. Há, no entanto, uma pequena e despicienda diferença: por esses tempos, eu andava na casa dos 30 ou dos 40 anos.

A diplomacia e a independência


A propósito dia que hoje se comemora, é bom que se saiba que está prestes a sair o livro “A Diplomacia e a Independência de Portugal”, com um conjunto de palestras em que tive o gosto de colaborar.

A glorious day!

 


“Andas no Larau?”



Um amigo, depois de ler por aqui algumas notas sobre uma passagem minha por Évora, telefonou-me ontem, à hora de jantar. Apanhou-me num restaurante em Estremoz, com imenso barulho. Fiquei com a impressão que disse: “Andas no Larau?”.

Fiquei intrigado. Eu estava, de facto, a jantar no restaurante Larau, mas como diabo sabia ele isso?

Na verdade, esse meu amigo tinha dito uma coisa mais prosaica: “Andas no laréu?”. (“Andar no laréu”, para quem não saiba, é andar na “boa-vai-ela”, andar na boa vida, sem nada fazer). Eu é que tinha percebido mal.

O Larau é a mais recente novidade gastronómica de Estremoz. Um restaurante muito agradável e criativo. Uma bela surpresa, que me tinha sido soprada por mais de uma fonte. (Já agora: Larau é o nome que se dá ao pano de sarapilheira utilizado na apanha da azeitona).

Há anos, Estremoz já tinha sido brindado com o surgimento do excelente restaurante que é a “Mercearia do Gadanha”. Depois, num “split” matrimonial deste, surgiu o “Alecrim”, onde se come também bastante bem. Sempre tive isso como uma “compensação” pelo facto de por ali ter desaparecido o saudoso “São Rosas”.

É que, em Estremoz, há muito que também vão os tempos áureos do “Águias de Ouro” e só resta mesmo a memória da típica “Adega do Isaías”, tão típica que cheguei a ali ver ratos entre os tonéis. (Dizem-me que o nome reabriu sob a batuta de Zé Varunca; lá terei de ir um dia!) Com o restaurante da Pousada fechado, sobrava, ao lado, a “Cadeia Quinhentista”, a que sempre resisti a ir, sei lá bem porquê. Fui lá hoje e comi muito bem! Fica a faltar-me a recomendada contemporaneidade da mesa do “Howard's Folly”. Numa outra vez será.

Agora, “ando no laréu…” Já não se pode vir “trabalhar” ao Alentejo sem suscitar comentários dos amigos! Tal está a moenga, hem!

quarta-feira, novembro 30, 2022

Fim de tarde em Estremoz

 

12


Não cabem mais de 12 de pessoas em cada uma das salas de qualquer destes dois restaurantes de Évora, que não podem ser mais diferentes um do outro.

Ontem, fui jantar, pela primeira vez, ao “Tua Madre”, uma ousada aposta contemporânea, um “mix” difícil de definir, onde o Alentejo se cruza com influências italianas. Uma oferta surpreendente e criativa, que aconselho. Ambiente solto, propostas líquidas desconhecidas, muito boa onda.

Hoje, optei por ir almoçar a um clássico, à “Tasquinha do Oliveira”, uma casa onde regresso sempre que posso, há mais de 20 anos. Um exemplo de rigor, constância e sempre excelente qualidade. Por lá se exibe o diploma do prémio anual de cozinha tradicional portuguesa que a nossa Academia Portuguesa de Gastronomia, com grande justiça, lhe atribuiu.



(Em tempo: uma nota sobre a oferta gastronómica em Évora: Évora é um paraíso da restauração. Depois de Lisboa e do Porto, é, sem a menor dúvida, a cidade portuguesa com melhor oferta. Além dos dois restaurantes referidos - “Tua Madre” e “Tasquinha do Oliveira” - há muito mais, desde logo o clássico "Fialho”, uma “catedral” em declínio, desde há anos. No “Moinho do Cu Torto” come-se bem, no “Guião” também, o “Luar de Janeiro” é um lugar seguro e o “Dom Joaquim” garantiu, em poucos anos, um lugar próprio. Creio que foi o “Origens” que abriu lugar à modernidade culinária na cidade, que está também na “Enoteca” e que me dizem existir, com qualidade, no “Cavalariça” (de que só conheço o original na Comporta, de que gosto). Fui também, um dia, ao atípico “Momentos” e ao “Quarta-Feira”, que não desiludiu. Não conheço o novo “Santo Humberto” (o antigo era um local estimável), mas lá terei de ir um dia. Achei o “Degust’Ar” bom, mas pouco criativo. Falta-me ir à “Bruxa” e ao “Botequim da Mouraria”, mas o fígado não dá para tudo, não é?)

A política externa



Estive hoje em Évora a falar sobre a política externa portuguesa. Num mano-a-mano com Filipe Domingues, notei algumas linhas de evolução - constantes e mudanças - da nossa ação externa, os pontos fortes e as fragilidades de um país que tem conseguido aproveitar as oportunidades para a sua afirmação internacional, partindo das vertentes tradicionais, ditadas pelas determinantes da geopolítica, até chegar a iniciativas que alguma ousadia por vezes converteu em êxitos. Uma audiência atenta e participativa fez-nos ganhar a manhã. Um abraço grato aos nossos anfitriões, os alunos de Relações Internacionais da Universidade de Évora.

Jorge Martins



Se puderem, não percam a excelente exposição de Jorge Martins, na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora.

terça-feira, novembro 29, 2022

“Colina”


No domingo, com amigos, fomos almoçar à “Colina”, numa transversal oblíqua à Duque de Ávila, junto à 5 de Outubro. Há mais de duas décadas que não visitava aquele que é, com toda a certeza (mas estou aberto a ser corrigido), aos fins de semana, um dos últimos clássicos restaurantes lisboetas frequentado por famílias burguesas. 

Não me estou a referir às tascas, com toalhas de papel, travessas metálicas e uma barulheira imensa, que cumprem hoje esse papel, como alternativa popularucha, adequada ao poder da bolsa. Falo de restaurantes serenos, com guardanapos de pano, serviço personalizado à antiga (“O seu esparregado, dona Matilde”), algumas madeiras no cenário e total ausência de pressão para se abandonar a mesa (“Ó senhor Vítor! Por favor, traga-me outro café e uma bagaceira da casa”, dizíamos, quando o nosso fígado era outro). 

No género, ali perto, por muitos anos, existiu o “Funil”, que agora se modernizou e perdeu o propósito. Também havia “O Polícia”, hoje uma sombra do que foi, e a “Adega da Tia Matilde”, que, pela minha última e infeliz experiência, há meses, devia ter ido com o cliente Eusébio para o Panteão. Da mesma natureza, na avenida de Paris, esteve, por muito tempo, o “Isaura”, para onde se entrava por uma escada em caracol, que nos levava a uma cave com estantes, onde existia uma bela “biblioteca” de vinhos. O “Pote”, na João XXI ainda hoje cumpre um pouco essa função. Num registo mais simples, e ainda nas Avenidas que um dia foram novas, tenho grandes memórias da “Imperial do Campo Pequeno”, de que fui vizinho e freguês assíduo.

Quase todos os bairros de Lisboa tiveram restaurantes do género. Aos fins de semana, era vulgar ver avós, pais e filhos, de famílias com algumas posses, em almoçaradas. Até na Baixa, o “Paris” cumpria essa função.

A “Colina” ali estava, igual à que sempre a conheci. Na clientela deste domingo descortinei vários nomes que estiveram na berra nos anos 90, a que a idade trouxe um corfortável anonimato, mas também ali cruzei um poderoso ministro deste governo (como este é um governo sem muitos ministros poderosos, é fácil lá chegar), à espera do seu “take away”.

Como é que se comeu? Bem, embora sem deslumbre. A oferta é a clássica para este tipo de casas, pratos sólidos, sem surpresas nem arrebiques. Com a casa cheia, o serviço teve o ritmo certo, tudo a sair a um custo razoável. Foi bom regressar à “Colina”! 

(“Não fales muito na “Colina”, nas redes sociais!”, alertou-me uma amiga. “Se vai lá muita gente, ficamos sem mesas!”. Arrisco).

Os desafios da China


Na terça-feira, dia 6 de dezembro, pelas 15.00 horas, irei falar sobre “Os Desafios da China”, a convite da Sociedade de Geografia de Lisboa (Rua das Portas de Santo Antão, 100).

A sessão pode ser atendida presencialmente ou por zoom, neste caso através do link


(ID da reunião: 833 1178 2490 - Senha de acesso: 785573).

As civilizações têm uma medida

 


A minha tertúlia verde


Ontem, estive em mais um almoço daquilo que qualifico como a minha “tertúlia verde”. Por ser ecológica? Nem por isso, embora o grupo seja, sem dúvida, bem “sustentável”, atento o facto de já durar há quase cinco décadas. Por ser do Sporting? Não, embora por lá haja leões, águias e outras espécies da natureza. É verde porque foi de farda verde, na tropa, que todos nos conhecemos, e também porque estão lá representados todos os “ramos” - do Exército à Força Aérea e à Marinha, com almirantes e generais pelo meio, ora bem! Ah! E todos ali somos “abrilistas” ferrenhos. Mas isso, aos olhos de alguns “novembristas”, só nos tornaria mais “vermelhos”, não é?

O dono da bola

Ver a nossa federação preocupada com a atribuição de um golo a um ou a outro futebolista é o cúmulo do ridículo, e, ao mesmo tempo, uma irresponsabilidade, por estar a potenciar uma questão, num grupo em que a coesão deveria ser o sentimento essencial a preservar. Que triste!

segunda-feira, novembro 28, 2022

Têvês


Nas Amoreiras. “É o embaixador Seixas da Costa, não é?“ Disse que sim. ”Muitas vezes não concordo com o que diz, lá na televisão”. Sorri: “Fico grato por, mesmo assim, me ouvir. Mas, diga-me uma coisa: se não aprecia o que eu digo, por que é que não muda de canal?“ “Porque há lá umas senhoras com quem estou sempre de acordo”. “Eu aviso-as, pode ficar descansada”. E saí para comprar castanhas.

A Rondónia, a estátua e a memória


Há dias, no restaurante “Solar dos Duques”, um empregado brasileiro disse-me que era da Rondónia (em português do Brasil, da Rondônia). Vir desses confins para Portugal é obra!

Nem lhe perguntei se ouvira falar no Forte do Príncipe da Beira, uma fabulosa construção que os portugueses por lá deixaram, construída no final século XVIII, na fronteira da Rondónia com a Bolívia, num sítio remoto, onde só consegui chegar com a ajuda da Força Aérea brasileira. O nome do Estado homenageia o marechal Rondon, que, em 1911, descobriu o forte, o qual, por muito tempo, havia estado coberto pela forte vegetação amazónica.

Este encontro lembrou-me a minha ida a Porto Velho, capital da Rondónia, há 14 anos. Decidi incluir naquela visita, que depois prolonguei para o Acre, um jantar com as pessoas que, por ali, tinham ligações a Portugal, luso-brasileiros descendentes de portugueses, orgulhosos cidadãos do Brasil, ainda ligados às memórias da “terrinha” (como por lá se diz que os portugueses dizem) dos seus pais.

Quis então saber se não haveria, a viver na Rondónia, nenhum português, nascido em Portugal. Havia um, fui informado. E disseram-me que esse cidadão, com os seus frágeis 93 anos, que lhe não lhe iriam permitir ficar para jantar, tinha manifestado à família interesse em conhecer “o seu embaixador”.

O senhor estava emocionado. E eu, que sou de emoções fáceis, também estava. E o encontro tornou-se ainda mais comovente quando constatei que ele nascera … em Vila Real! Esse meu conterrâneo chegara ao Brasil em 1925, com 20 anos - e nunca mais tinha voltado a Portugal. Não era oriundo exatamente na cidade de Vila Real, nascera numa aldeia próxima, mas lembrava-se bem de ali ter apanhado o comboio, com bilhete só de ida, que o havia de conduzir ao Brasil, como destino final de vida.

Na breve conversa, curioso, perguntei-lhe sobre aquilo de que ainda se lembrava, nas suas idas a Vila Real. De muito pouco, disse-me: apenas “do rio lá no fundo”, das muitas igrejas e do “campo”, um grande terreiro, no meio da cidade. “Deve ser o Campo do Tabolado, hoje a avenida Carvalho Araújo. Recorda-se ainda da grande estátua que existe a meio da avenida?” Não se recordava.

Fiquei com o episódio na cabeça, por uns anos. E a ele associei sempre a minha íntima estranheza pelo facto do meu conterrâneo não identificar aquilo que é um marco identificativo da nossa cidade comum. Até que, um dia, o mistério desfez-se: a estátua a Carvalho Araújo, o heróico marinheiro da Grande Guerra, só foi inaugurada em 1931 e o nosso homem passara pela cidade, onde nunca regressou, em 1925. Imagino que o cavalheiro, que, se fosse vivo, teria hoje uns impossíveis 117 anos, se terá questionado sobre a fiabilidade da sua memória. Ou não.

O que um encontro com um rondoniense, num restaurante de Campo de Ourique, me trouxe à memória! Mas, pensando bem, vir da Rondónia para Lisboa, nos dias de hoje, não é nada comparado com ter mudado de vida, há mais de um século, indo de Vila Real para aquelas remotas paragens.

domingo, novembro 27, 2022

Uma aventura em Queluz de Baixo


Estávamos em outubro de 2021. À saída do seu gabinete, ao qual eu tinha conseguido chegar com alguma ajuda, levado através do dédalo que sempre achei ser o complexo da TVI, disse a Nuno Santos, quando o vi, delicadamente, disposto a levar-me de volta à entrada: "Não se preocupe! Sei o caminho de volta".
 
No primeiro cruzamento de corredores, constatei que a minha confiança era excessiva. Perdi-me! Andei por ali e, de repente, ainda hoje estou para saber como, dei comigo no meio da redação. Uma pessoa que me conhecia, perguntou: "Está à procura de alguém?". Engrolei uma justificação qualquer e lá consegui chegar àquilo a que sempre chamei intimamente o "quadrado", única referência geográfica da casa de onde eu saberia aceder à porta principal.
 
É que a diferença entre as instalações da "velha" TVI e as da CNN, ali prestes a nascer, no mesmo local de Queluz de Baixo, era já imensa. Só com o tempo eu iria ter verdadeira consciência disso.
 
Na TVI 24, durante precisamente um ano, eu tinha colaborado no "Observare", um programa semanal sobre questões relações internacionais. Dentro da mesma temática, o que o Nuno Santos me propôs nesse dia seria fazer comentário, com maior regularidade, na nova CNN. Essa aventura, graças à sua confiança, dura até hoje, as mais das vezes em estúdio, na sede ou no Porto, outras por Skype, de vários locais, do país ou do estrangeiro.

Não tenho a menor dúvida de que foi o modelo CNN Portugal, nascido entre nós a partir da TVI, que suscitou a onda de interesse sobre as relações internacionais que hoje marca os noticiários de outros canais. E não se diga que isso se ficou a dever apenas à guerra na Ucrânia, não obstante o indiscutível efeito potenciador que teve! Muitas outras guerras tinha havido, nas últimas décadas, e, nem por isso, alguma vez se verificou este intenso surto de tratamento televisivo do que se passa no resto do mundo. Basta ver a diferença na abordagem da vida política brasileira que a CNN Portugal conseguiu introduzir e que acabou por "infetar" todas as nossas televisões. Foi a inédita abundância de diretos e de correspondentes e enviados ao estrangeiro, aos locais onde as coisas que importam ocorrem, as imagens e as reportagens de grande qualidade que a marca CNN propicia ao canal, o rigor do trabalho feito em estúdio e uma equipa permanentemente empenhada e entusiasmada - tudo isso é a razão do inegável sucesso desta aposta, a qual, por muito que alguns se recusem a reconhecer, representa um tempo novo na televisão em Portugal.

Por estes dias, tenho um grande prazer em fazer parte da família CNN Portugal. Um ano passado sobre a sua ida para o ar, o canal constitui um imenso êxito. Ao Nuno Santos e a toda a equipa da CNN Portugal, onde diariamente crio novos amigos, num ambiente criativo e entusiasta, deixo um forte abraço de parabéns.

sábado, novembro 26, 2022

Lados

Confesso que nem sempre consigo levar a cabo, com êxito, um exercício íntimo que, desde há muitos anos, tento apurar. Trata-se de evitar, quando vejo jogos de futebol na televisão, tomar partido por qualquer das equipas.

Dou conta de que estou a ter sucesso na consecução da minha atitude quando, ao ver marcar um golo numa baliza, dou por mim a desejar que haja outro na outra baliza, para tornar a partida mais equilibrada, logo, mais competitiva.

É claro que é muito mais fácil fazer isso num Shrewsbury - Barnsley, da liga inglesa, do que num campeonato do mundo entre países, sobre os quais frequentemente temos tentações afetivas.

Vem isto a propósito deste México - Argentina. Tanto me faz que ganhe um ou outro. O mesmo senti com o jogo anterior, o França - Dinamarca, ou o EUA - Inglaterra.

Sinto que estou a refinar nesta minha cultura de "isentão" militante.

A última morte de Fernando Gomes


Era uma figura muito simpática de outro tempo do nosso futebol. Jogador típico de área, com uma elegância "oportunista" (no bom sentido), da sua cabeça saíram golos magníficos, "voando entre os centrais", embora não fosse a ele que Carlos Tê dedicou o poema cantado por Veloso. Francisco José Viegas tinha-o "assassinado" (também no bom sentido ficcional) no "Morte no Estádio", mas Fernando Gomes só hoje morreu, depois de longa doença, enfrentada com muita coragem. Um grande nome do futebol português que merece ser lembrado pela nossa seleção.

sexta-feira, novembro 25, 2022

Três vintes

O 25 de novembro de 1975 foi o dia em que a Revolução chegou ao seu inevitável termo, garantindo a Constituição de 1976, que consagrou a Democracia. Mas é preciso separar muito bem as águas: é que o 25 de novembro também é o “25 de abril” de quantos ainda apreciam o 28 de maio.

quinta-feira, novembro 24, 2022

Zelos

Na Guiné Equatorial, sob o olhar morno da “nossa” CPLP, o partido do presidente vitalício “ganhou” com 99% dos votos, depois de uma campanha eleitoral vergonhosa. Mas o Qatar é que está “a dar” e a mobilizar o nosso zelo.

Monopólio

O Qatar e a Qantas são, a nível mundial, as suas mais agressivas afrontas ao monopólio que a letra U há muito obteve junto de todos os Q que por aí andam.

Ai seleção, seleção!

Com a vitória me enGanas… 

António da Cunha Telles


O cinema português contemporâneo teria uma outra história se este Senhor não tivesse tido a ambição, a coragem, a iniciativa e bom-gosto que teve. António da Cunha Telles, que agora desapareceu, foi uma grande figura da cultura portuguesa.

quarta-feira, novembro 23, 2022

Atlântico


Sexta travessia aérea do Atlântico, duas por mês, desde setembro. O meu velho pai, para as viagens (de automóvel) que então via como longas, costumava dizer: “Com a idade, as viagens saem mais do pelo!”. Como eu hoje o compreendo!

Tarde do dia de Consoada