Acabo de ler a notícia da morte de Jill Jolliffe, aos 77 anos. Nela se diz que os seus últimos anos foram passados em Melbourne, num estado de crescente demência.
Conheci Jill Jolliffe nos anos 80, quando ela viveu em Portugal. (Escolhi, na net, uma fotografia com a imagem que dela recordo). Criámos uma boa relação, estabelecida já não sei através de quem. (Terá sido o Benjamim Formigo?) Almoçámos algumas vezes. Recordo que, invariavelmente, nos encontrávamos à porta do Palácio Foz, onde ela frequentava o ponto de apoio ali existente para os jornalistas estrangeiros e íamos comer para tascas na Baixa, que ela conhecia como ninguém.
Jill era uma jornalista australiana fortemente dedicada à causa timorense, num tempo em que o tema não mobilizava muitos setores portugueses. Era uma mulher com um sorriso suave, por detrás do qual se notava uma forte convicção. Tinha “uma história eterna com Timor”, como um dia me disse. Tinha andado por lá, testemunhou momentos dramáticos, escreveu sobre isso e dedicava-se abertamente àquela causa. Nas conversas comigo, procurava sempre sondar do estado de espírito da nossa diplomacia face à ocupação indonésia de Timor-Leste e ao apoio possível à guerrilha. Como eu, nas Necessidades, não tratava minimamente do tema, sabendo muito pouco sobre o modo como ele era abordado politicamente, nunca lhe dei nenhuma ajuda. Até um dia.
Um dia, Jill Jolliffe pediu-me um favor: se eu podia encaminhar uma carta de Xanana Gusmão para o primeiro-ministro de então, Cavaco Silva. A carta, que vinha aberta, era um pedido de material, de diversa natureza (recordo que incluia material de comunicações), de que a guerrilha necessitava. Fiz o que me pediu e obtive um contacto para ela poder fazer um “follow-up” do assunto. Nunca cheguei a saber se a carta teve uma resposta, positiva ou não.
Várias vezes, nos últimos anos, me tinha perguntado sobre o que seria feito de Jill Jolliffe. Tal como em outras ocasiões já me aconteceu, acabo por saber da vida de alguém na altura em que recebo a notícia da sua morte.
3 comentários:
Nunca vou esquecer que os dois primeiros estados a reconhecer a ocupação indonesia de Timor, foram a Australia e o Vaticano!
hum
Terá sido muito provavelmente o Benjamim Formigo, ele estava em todas.
Dei-lhe os parabéns pela última vez ao "Ben" em 10 de Fevereiro de 2019.
Eu andava por essa altura a incentivá-lo a publicar um livro com crónicas, publicadas em Portugal ou em Angola, era uma maneira de estar ocupado com algo que o afastasse de outras preocupações.
Ele raramente vinha a Lisboa e eu tinha pouca disponibilidade para saír de Lisboa, ainda hoje lamento não ter arranjado essa disponibilidade até ao 17 de Julho seguinte.
Faz-me falta aquele lado rezingão e inconformista dele.
Um homem bom (às vezes bom demais) que tinha como lema de vida "I did it my way!".
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