Acaba de saber-se que o "BBC World Service" vai deixar de transmitir os seus programas em português para África, no âmbito de uma profunda reforma motivada por cortes orçamentais. Creio que muitas pessoas desconhecem que o "BBC World Service" era suportado por verbas do "Foreign Office", o MNE britânico, que agora decidiu deixar de financiá-lo. Não é claro, por ora, se isso não afetará, em absoluto, o uso da língua portuguesa nos serviços da BBC.
O "serviço português" da BBC tem uma história importante, desde a sua criação, em 1939. Lembro-me de o meu pai contar como, durante a 2ª Guerra mundial, a voz, em "ondas curtas", de Fernando Pessa trazia aos democratas portugueses as notícias dos Aliados, quebrando o bloqueio informativo imposto pela censura salazarista. Mais tarde, no estertor da ditadura, recordo-me de, eu próprio, ouvir com regularidade a BBC, em português, com novidades da nossa política doméstica que o marcelismo procurava ocultar. Para além de Pessa, outros nomes que viriam a ser bem conhecidos na rádio portuguesa passaram pelo prestigiante "serviço português" da BBC. Lembro-me - e cito de cor - de Francisco Mata, Joaquim Letria, António Cartaxo, Hernâni Santos, Gilberto Ferraz, António Borga, Luís Amorim de Sousa, José Júdice, Fernando de Sousa, João Paulo Dinis e José Rodrigues dos Santos.
Interessa registar, como nota histórica, o papel desempenhado pelo "serviço português" da BBC como via de informação dos guerrilheiros de Timor-Leste, lembrado no seu blogue por essa figura incontornável nos "media" portugueses em Londres, que é o meu amigo Gilberto Ferraz.
Confesso que sinto com alguma tristeza este fim do "serviço português", deixando aqui um abraço ao Manuel Santana, que o dirigiu por bons anos. Tenho esperança que este exemplo negativo não venha a frutificar em terras francesas, onde o serviço em língua portuguesa da Radio France Internationale também já sofreu lamentáveis cortes e limitações.
Em tempo: o "Jornal de Notícias" faz referência a este assunto com esta "pérola": "Mas para Teresa Lima, responsável pela secção portuguesa na BBC, onde está há 12 anos, a notícia não é totalmente inesperada. "O serviço já teve para ser cortado várias vezes", explicou, em declarações à agência Lusa.". Já "teve"? Será "sotaque" de Lisboa? Ou mau ouvido? E ninguém "edita" isto no jornal?
Em tempo: o "Jornal de Notícias" faz referência a este assunto com esta "pérola": "Mas para Teresa Lima, responsável pela secção portuguesa na BBC, onde está há 12 anos, a notícia não é totalmente inesperada. "O serviço já teve para ser cortado várias vezes", explicou, em declarações à agência Lusa.". Já "teve"? Será "sotaque" de Lisboa? Ou mau ouvido? E ninguém "edita" isto no jornal?