Precisamente há 50 anos, o ditadura portuguesa teve o seu "annus horribilis", o mais complexo de todo o percurso vivido desde o golpe militar de 28 de maio de 1926.
A expressão do descontentamento popular e o consequente revigoramento oposicionista, saídos das "eleições" presidenciais de 1958, teriam expressão, no ano seguinte, numa tentativa de golpe armado, conhecido como a "revolta da Sé", que consagrou uma intervenção mais ativa dos católicos na vida política - mobilizados também pelo exílio que o regime impôs ao bispo do Porto.
A expressão do descontentamento popular e o consequente revigoramento oposicionista, saídos das "eleições" presidenciais de 1958, teriam expressão, no ano seguinte, numa tentativa de golpe armado, conhecido como a "revolta da Sé", que consagrou uma intervenção mais ativa dos católicos na vida política - mobilizados também pelo exílio que o regime impôs ao bispo do Porto.
Em 21 de janeiro de 1961, Henrique Galvão toma de assalto o paquete mercante português "Santa Maria", em águas das Caraíbas. Grande parte do mundo acorda então, pela primeira vez, para a situação política que se vivia em Portugal. O Brasil, onde Humberto Delgado se refugiara em 1959 e os revoltosos entregam o navio, passa a ser, por alguns anos, o centro da oposição ao Estado Novo no exterior.
Dias mais tarde, em 4 de fevereiro, um conjunto de ataques armados promovidos por independentistas angolanos abala Luanda, gerando, a partir de então, uma profunda desestabilização naquela colónia africana. Em 15 de março, grupos de angolanos vindo do antigo Congo belga, desencadeiam ações armadas em áreas rurais do norte do território, com um saldo sangrento entre colonos e outra população fiel à administração portuguesa.
A guerra instala-se em Angola e, três anos mais tarde, vai estender-se a Moçambique e à Guiné, obrigando, por muitos anos, a um impressionante esforço militar português, cuja sustentação teve um custo material e humano que iria condicionar, em muito, o desenvolvimento do país, originando uma importante vaga migratória. As guerras nas colónias foram também o novo pretexto utilizado pelo regime para a manutenção do imobilismo político em Portugal.
A guerra instala-se em Angola e, três anos mais tarde, vai estender-se a Moçambique e à Guiné, obrigando, por muitos anos, a um impressionante esforço militar português, cuja sustentação teve um custo material e humano que iria condicionar, em muito, o desenvolvimento do país, originando uma importante vaga migratória. As guerras nas colónias foram também o novo pretexto utilizado pelo regime para a manutenção do imobilismo político em Portugal.
O regime, porém, revela as suas fissuras e, em 13 de abril, o general Botelho Moniz e alguns oficiais generais tentam um "pronunciamento" para afastar Salazar, que este consegue anular. De certo modo, o acontecimento consagra a penúltima oportunidade perdida pelo regime para concretizar a sua própria reforma. A seguinte seria, em 1968, a substituição de Oliveira Salazar por Marcelo Caetano.
Em julho de 1961, o forte de S. João Baptista de Ajudá, um pequeno enclave português, é tomado pelo Daomé (hoje Benim).
Numa tentativa para mostrar algum "aggiornamento", com vista a atenuar as pressões sobre a sua política colonial por parte da comunidade internacional, o governo português abole, entretanto, o "Estatuto do Indigenato", um ato de cosmética legislativa do qual não retirará quaisquer resultados.
Durante o mês de outubro, a oposição política interna movimenta-se, com vista ao ato eleitoral do mês seguinte. A censura, a repressão das sessões de informação e propaganda, bem como as dificuldades colocadas à realização de um sufrágio com um mínimo de credibilidade, levam os oposicionistas a desistirem da ida às urnas, denunciando ao mundo mais uma das regulares fraudes eleitorais montadas pelo regime.
A 10 de novembro, um comando chefiado por Hermínio da Palma Inácio desvia um avião da TAP na carreira Casablanca-Lisboa, de onde são lançados, sobre a capital portuguesa, panfletos contra a ditadura.
Na noite de 17 para 18 de Dezembro, numa operação militar que culmina anos sem uma solução negociada, a União Indiana invade os territórios que constituíam o Estado da Índia, dando por terminada a secular presença portuguesa.
Finalmente, na noite de 31 de Dezembro, um grupo armado, que tem por detrás o general Humberto Delgado, ataca o quartel de Beja. O movimento é derrotado e uma nova vaga repressiva tem lugar.
Há 50 anos, os adversários, internos e externos, do Estado Novo (e não de Portugal, como certa historiografia e alguma mitologia política saudosista pretendem) mostravam que o combate ao regime entrava numa nova fase. A "situação" - como o léxico popular qualificava o poder político de então - iria sustentar-se por mais 13 anos. A luta política contra a ditadura, no interior ou no exílio, intensificou-se e, da parte do regime, deu origem a novas vagas de repressão. O impasse histórico viria a ser resolvido pelas Forças Armadas. Os militares, que tinham imposto a ditadura em 1926 e que, na prática, a tinham sustentado desde então, decidem o seu derrube em 25 de abril de 1974, abrindo caminho para a restauração da democracia. A mesma democracia que, no dia de hoje, permite aos portugueses, em plena liberdade, escolherem o presidente da sua República.
22 comentários:
Foi assim que, usufrutuando desta nossa democracia, a minha mulher e eu tivemos o gosto de votar ainda antes do almoco.
Francisco F. Teixeira
"Plena liberdade, escolherem o presidente da sua República.
"In FSC(11/01/23)
Obviamente sujeitando-se ao Menu/ementa da casa...
Eu pessoalmente gostaria mais de indigitar...
Claro que é um dever cívico...
Pronto;;;;está bem...
Isabel Seixas
Caríssimo Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa,
Foi um prazer a leitura deste registo histórico do ano de 1961 que abalou o regime ditatorial e catapultou o ânimo oposicionista rumo à democracia. Com efeito, todos estes acontecimentos externos e internos constituem um marco de ruptura na tranquila vida do Estado Novo, que se começou a sobressaltar com as eleições Presidenciais de 1958, e representam o início da conjuntura rumo à liberdade política dos cidadãos.
Façamos uso deste poder de cidadania, que nos foi outorgado pelo revolução do 25 de Abril de 1974, cumprindo o nosso dever e o nosso direito de votar.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Caro professor Serrão: vou aproveitar a sua nota e, inspirado nela, fazer ainda uma referência no texto às eleições de 1958.
Figura (presidente da república) que na altura nada fez... ontem como hoje.
O Pais,em 1961, tinha mais massa cinzenta e nao precisava do FMI.Agora temos uma democracia corrupta e a massa cinzenta esta a vista!Sera que ainda nao leram o CM e a peticao a favor da criminalizacao do enriquecimento ilicito?Dizia um politico espanhol que so se pode falar em democracia quando os cidadaos tem mensalmente mil euros no bolso!
Ao ler este magnífico resumo dos factos instabilizadores do regime fascista,imaginava uma outra conclusão.
Se o digno Embaixador português em Paris me permite, com a devida vénia, uma opinião, com poucos rodeios, embora educada,queria dizer o seguinte:
Aprecio imenso a sua enorme cultura e estética traduzidas num poder de expressão escrita acima da média.
Também aprecio a sua abertura de espírito e franqueza comunicativa.
Mas constato que está demasiado " de acordo com o "satus quo" político deste regime. E , em minha opinião - só minha - TENHO PENA... De ver as opiniões de um grande Embaixador , apenas, aquém da..., não me sai outra palavra...Grandeza.
Antonio salazar deve ter passado esse "annus hrribilis" de 1961 muito irritado, furioso, inquieto. Tantas coisas a rebentar, desde o santa maria à india portufuesa.
E nos anos seguintes, culminando com o episódio da cadeira golpista e traiçoeira, os momentos de trégua devem ter sido poucos.
Ps. onde estará essa heroica cadeira, que merecia estar num museu!
Caro Cunha Ribeiro: tem toda a razão. Eu, de facto, revejo-me a 100% no "statu quo" político-constitucional vigente - de que faz parte, por exemplo, o modo de eleição para o chefe de Estado, que hoje tem lugar. Mas aceito, de muito bom grado, opiniões contrárias.
Caro Nuno Resende: apenas uma pequena precisão. Em 13 de abril de 1961, o então presidente da República desempenhou um importante papel na preservação de Oliveira Salazar no poder.
Caro Cunha Ribeiro eu também fiquei intrigada com o inicio deste post, dado que o ataque ao Santa Maria", o incio da revolta em Angola, etc. etc. ja têm sido tema de textos e comentarios (nos quais também participei) aqui no "duas ou três coisas". Mas gostei da forma como FSC nos levou até à eleiçao de hoje.
A diplomacia ganhou um grande embaixador mas...perdeu-se certamente um grande jornalista.
Textos como o de hoje, sobre o longo caminho que foi traçado durante meio século, seriam necessarios na imprensa em periodo pré-eleitoral para informar e motivar a populaçao a ir às urnas.
Os portugueses têm acesso HOJE a um dever civico que nao devem menosprezar.
Senhor Embaixador
Belo texto narratvo e também pessoal. Tenho algumas pequenas e salutares divergências consigo quanto ao "status quo". Nada de verdadeiramente importante num período em que governar bem não será a primeira das preocupações. Mas amo de paixão o meu País ao qual me orgulho profundamente de pertencer. Por isso, hoje, me custou tanto ir votar. É que, como diz a minha querida comentadora Isabel Seixas, o menu não era dos que eu mais gostava...
Mas comi. O problema vai ser a digestão!
Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: há uma maneira de evitar as más digestões, que é não comer aquilo que achamos que nos não vai fazer bem. Às vezes, isso implica que façamos restrições alimentares drásticas. Alguns "regimes" (dietéticos, claro) a isso obrigam.
13,9% ao meio dia (menos 7%) que em 2006. So espero que os portugueses adoptaram o horario à espanhola porque "brunch" nao foi de certeza ; )
"Não comer aquilo que achamos que nos não vai fazer bem." In FSC(2011/01/23)
Dia de eleições presidenciais...
Sr. Embaixador desde logo as minhas desculpas pela ousadia,
mas presumo que esse autocontrole só é viável e exequível em outros lugares (Para mim por exemplo inacessíveis), mas em Trás-os-montes, Chaves por exemplo:
Porco bísaro...
Enchidos artesanais; queijos frescos;folares descarados; vinhos maduros;fruta agreste;sonhos dourados...And so on
Ah! Mal menor,alimentação racional, dieta possivel com menos dispêndio de energia fisica e a psiquica?...
Continuo a desejar a dieta a gosto...
Mas compreendo o conformismo da sua mensagem...
À falta de melhor, exatamente do mal, o menor...
Perpetuemos a Democracia enquanto pudermos...
Isabel Seixas
Meu caro Francisco,
A memória alimenta-nos sentimentos, mas, principalmente, nutre-nos a inteligência, permitindo-nos, ao olhar para trás, relativizar o futuro e ousar.
1961 detonou o difícil e custoso fim da ditadura e permite-nos, 50 anos depois, estarmos a votar, no exercício básico da democracia.
Belo texto!
De que falamos quando falamos de guerra colonial?
Posted by Maria Manuela Cruzeiro under Ensaio
1 Comment
Extracto da comunicação apresentada no Congresso «Guerra colonial e descolonização», Lisboa, 15 e 16 de Abril, Organização da Assoc. 25 de Abril, IHC da Univ. Nova de Lisboa e ISCTE.
Diz-se que os povos felizes não têm história. É talvez porque nos queremos imaginar um povo feliz, que lidamos mal com a história, o que faz de nós uma sociedade distraída e de curta memória. Sobretudo para os episódios mais traumáticos, como aquele que Eduardo Lourenço chamou a ‘mais refinada e incomunicável das nossas tragédias actuais: a guerra colonial’.
O recalcamento é a resposta directa a esta incomunicabilidade, mas apresenta-se em graus e formas bem diversos, desde a pura negação da tragédia, até à dispersão do seu sentido mais fundo e real, em mil pequenos sentidos reconfiguradores dessa dura realidade.
Nesse contexto se produziu todo um complexo glossário feito de expressões oblíquas, enredadas de subtilezas, metáforas, ambiguidades, analogias, e até estranhos jogos de ironia e de sarcasmo que, impostas pela Censura no próprio decurso do conflito, persistem como precioso mas contraditório reservatório de experiências vividas e, como tal, marca identitária de sobrevivência individual e grupal. Veja-se, por exemplo, os regulares encontros de batalhões e companhias que cumprem um estranho ritual de ‘catarse em grupo’, escape para muitos silêncios, que só ‘quem lá esteve’ pode entender. O que significa que, no limite, não falamos da mesma coisa quando falamos de Guerra Colonial.
A começar pelo regime político que a impôs e que sempre se recusou a nomeá-la assim, mas antes Guerra do Ultramar. Para ele não havia guerra, mas uma revolta cruel, bárbara e ilegítima, a exigir uma resposta exemplar. Os militares, portanto, não iam para uma guerra, mas em ‘missão de soberania’, e combatiam não movimentos nacionalistas de libertação, mas bandidos desprezíveis ou terroristas.
Também no interior do universo militar surgiram hábeis e criativas operações semânticas para não chamar as coisas pelos nomes. Os mobilizados que chegavam de novo eram, por exemplo, maçaricos para Angola, os checa-checa para Moçambique e os piriquitos para a Guiné (‘piriquito é pior do que terrorista’, dizia-se em jeito de boas vindas…). Os oficiais do Estado-Maior eram oficiais de alcatifa ou ar condicionado, a metralhadora do inimigo era a costureirinha… e por aí fora… Guerra a sério, não havia, pois o significado, paradoxalmente, era deslocado do seu verdadeiro contexto, para zonas periféricas. Havia, assim, pequenas guerras: nas repartições, nas messes, nos hospitais, nas lojas e mesmo nos espaços de convívio públicos ou privados, onde o apelo à normalidade mais se fazia sentir. Aí sim, fazia-se a guerra, pequena, banalizada, e até parodiada.
(continua)
‘As próprias mulheres ficavam com a sua guerra, que era a gravidez, a amamentação, algum pequeno emprego pelas horas da fresca. Uma loja de indiano e de chinês era uma guerra. Como vai aqui a sua guerra? – já tinha o noivo perguntado a um paquistanês que vendia pilhas eléctricas, de mistura com galochas e canela.’ (Lídia Jorge, A Costa dos Murmúrios, 1988:74)
Pequenas guerras, múltiplas razões. A razão do soldado de Quadrícula (tropa fandanga ou tropa pacaça, segundo o glossário referido) não é a mesma das Tropas Especiais. A razão dos chefes militares (muitas vezes a guerra da cadeira ou do prestígio) não é a mesma dos colonos (cuja solução em muitos casos era uma operação de extermínio de todos os terroristas), nem sequer a do poder político e económico dominantes. A razão dos oficiais do Quadro não é a mesma dos Milicianos. E, de entre estes, a razão dos que, ideologicamente amorfos, iam à guerra para comprar o Mini, ou cumprir a rotineira guerra dos papéis, não era a mesma dos que iam por assumidas opções políticas de defesa da Pátria pluri-continental e da civilização ocidental (que os havia, e muitos, sobretudo na primeira fase do conflito) ou então por contrárias convicções de esquerda: lutar contra a guerra na guerra.
Hoje, verifica-se quão difícil tem sido a recuperação de um sentido de tragédia colectiva, assim desconstruído através dessas mil pequenas razões que irromperam na ausência de uma grande Razão.
Talvez resida aqui, neste défice de legitimidade política e moral da guerra, a principal causa dessa pulverização de sentidos que, no entanto, são a corrente subterrânea que alimenta as múltiplas memórias da guerra que circulam em romances, diários, ou simples escritos roubados ao silêncio de gavetas que nunca se conseguiram fechar, porque como escreveu Malaparte ‘a guerra não tem fim para aqueles que se bateram’.
A estes últimos a Internet tem servido de veículo privilegiado e a prová-lo a enorme quantidade de sites da responsabilidade de ex-combatentes para quem, independentemente das diferenças sociais, de sensibilidades ou ideologia, a experiência da guerra foi fundadora de uma segunda identidade nascida numa situação limite não somente de horror e sofrimento, mas também da mais pura solidariedade, inacessíveis aos que a não viveram.
Num desses sites, escrito por José Teixeira pode ler-se: Passaram 40 anos. Pensava eu que a Guiné fora uma etapa para esquecer e que a vida continuava. Como estava errado. A Guiné grudou-se em mim, vive comigo todos os dias e irá comigo para a cova. O meu espírito vagueia por aquelas tabancas, olha de frente aquela gente terna e meiga que me acolheu quando eu era agressor e me acolhe agora com terno carinho, sempre que vou até lá matar saudades.
Emoções, vivências, memórias contraditórias e até paradoxais, impossíveis de enquadrar na narrativa racionalizadora da história, o que faz dela, segundo Foucault, uma contra-memória.
Esses rastos e restos inscritos na memória mais fiel e íntima, como ‘corpo marcado pela história e história que devasta o corpo’ (ainda Foucault) perturbarão certamente a rigidez da narrativa histórica, pelo elemento de excesso, de ilimitado, de trágico (mesmo se negado ou mascarado) que desarruma e subverte as suas categorias e procedimentos metodológicos normais. Mas contribuirão decisivamente para instituir um elo precioso entre memória e história, abrindo uma reflexão sobre a memória trágica da guerra, que se torne por sua vez um imperativo ético-político para uma sociedade que defenda e promova o direito à memória.
Senhor Embaixador tem toda a razão. Foi na dieta que pensei todos os dias do festival gastronómico.
Mas depois achei que não indo ao mercado nesse dia, a família podia ressentir-se, dado que tinham lá a barraquinha das suas especialidades.
Por isso fui. Para não dizerem que "ostensivamente" a mãe nem os tinha visitado.
Provei um bocadinho em cada uma das suas tendas. Foi talvez o que me salvou da indigestão propriamente dita.
Mas tudo aponta que tenhamos novo festival. Oxalá me engane, porque nesse, não posso nem quero debicar.
É evidente que os pratos servidos nas tendas familiares, não sendo cozinhados por mim, estavam manifestamente abaixo daquilo que na minha casa eu preparo...
Para grande pena deles que bem gostariam de arregimentar a cozinheira!
Caríssimo Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa,
Peço desculpa pela resposta tardia, mas não consegui responder-lhe mais cedo.
Fico grato por ter achado pertinente a minha observação e sinto-me lisonjeado com a troca do meu apelido ( Ferrão por Serrão ), pois o apelido Serrão tem sido de boa memória para a Historiografia Portuguesa com Joel Serrão, Joaquim Veríssimo Serrão e Vítor Serrão.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Foi em 1961 que, incipiente tenente, assumi o comando da Secção da GNR de Guimarães (hoje Grupo Territorial) e recordo que, por ocasião de uma das várias convulsões (ou ameaça delas) que, nesse ano, assolaram o País, recebi um "rádio" cujo texto era mais ou menos o seguinte: "Carrinha branca com grupo armado. Interceptar e abater os ocupantes".
Estupefacto com o texto que acabara de receber e que um Brigadeiro assinava, chamei o comandante do posto-sede e perguntei-lhe sem lhe dar a conhecer o texto do rádio recebido, só do conhecimento do rádio-telegrafista e meu: -"Quantas carrinhas brancas temos nós aqui só em Guimarães? -"Deixe-me ver, meu tenente... da padaria de... do talho de... da fábrica de... acho que talvez umas dezasseis ou dezassete que me lembre!" - respondeu o sargento. - "Obrigado, era o que eu calculava..." - respondi. E o texto do rádio foi-se lentamente transformando em cinzas no cinzeiro do meu gabinete. Nesse tempo ainda fumava!
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