Durante três dias, tem lugar em Paris um colóquio sobre Agustina Bessa Luis, numa organizaçao da Sorbonne (Paris III) e do centro cultural Gulbenkian, com apoio do Instituto Camões.
Um alargado grupo de especialistas revisita a obra da escritora, numa perspetiva pluridisciplinar, à qual igualmente é dedicada uma exposição patente na Casa de Portugal, na Cité Universitaire de Paris.
Ontem, durante a abertura da conferência, tivemos oportunidade de ouvir uma magnífica lição do professor Arnaldo Saraiva, que nos trouxe a sua perspetiva sobre a relação de Agustina com o Porto. O orador, que conviveu profundamente com a autora, deu-nos conta de alguns dos seus traços de caráter, da sua frontalidade crítica e do modo como isso se repercute em muitos dos seus textos, neste caso no que respeita ao Porto e à idiossincrasia.
Alguém me dizia, depois da conferência, que quem conheceu Agustina ficou, com toda a certeza, com uma ou outra história dela, da sua forte personalidade e da agudeza do seu espírito. Deve ser verdade, porque não fui exceção.
Creio que em 2005, Agustina foi ao Rio de Janeiro, no âmbito da atribuição do prémio Camões. Durante um descontraído almoço, a que estavam presentes Lygia Fagundes Telles e Ruben Fonseca, tive uma animada conversa com a escritora, ao lado de quem fiquei. Recordo-me de que me falou de Manoel de Oliveira, e de curiosos episódios no âmbito do trabalho conjunto que fez com o realizador e seu velho amigo, para um determinado filme. Nessa mesma noite, ao chegar ao hotel, acompanhado pelo professor Helder Macedo, que também visitava o Brasil, cruzámo-nos com Agustina, que estava com Adriano Jordão, o nosso conselheiro cultural no Brasil. Cumprimentámo-la e o Helder comentou: "Diga-me lá, Agustina, como é que consegue esse prodígio de só ter amigos, de não ter inimigos?" Agustina deu uma gargalhada sonora e, rápida, retorquiu: "Não tenho inimigos? Mas, olhe!, quando quero, faço-os, pode crer!".
11 comentários:
Numa das minhas tertulias sofro horrores:sou o único Agustiniano.
Sofro de a saber silenciosa, quase sem energia, acamada, ao que creio.
Sem conseguir dizer e escrever. Deixou de aparecer nos espaços públicos, faz algum tempo.
Saibamos guardar dela a verve da sua "opera omnia", agora em publicação na Guimarães e as memórias que os amigos dela guardam.
Obrigado, Senhor Embaixador, por tê-la recordado deste modo.
Continuo a gostar de saber que a nossa cultura está em foco por esse lados...
Assim estivesse a língua...
Bfs
:)))
Meu caro Embaixador, anda a provocar-me montes de inveja. Logo agora, que o dever de votar me obrigou a ficar por cá - bom, um premiozito também ajudou -, Portugal e a sua intelectualidade estão na berra em Paris! Triste sina a minha.
Mais valeria ter-me abstido e ter aprendido alguma coisa mais sobre Agustina de quem sou fã acérrima e a quem pessoalmente muito devo. Se há escritora que me toque profundamente, ela é uma das primeiras. Acresce que este votito de Domingo dói-me mais que enxaqueca...
Julgo que todos têm o seu inimigo de estimação.
O meu, em criança, chamava-se "Ronco", e apenas me fazia mal, na minha imaginação ; agora tenho outro que me faz mal, e não é ficção...
Oh! Gosto tanto tanto Dela.
Isabel Seixas
Escritora e figura respeitavel mas, há sempre um senão, escritora que perde a partir de certa altura do enredo o controle dos e nos seus romances. Começam bem, magníficos, belíssimos, na linguagem, história, tema e estilo, mas cedo a escritora perde o dominio da estrutura narrativa e a confusão instala-se (para mim, leitor). Pode-se fazer uma optima antologia de passagens dos seus livros e vê-se a escrita magnífica. Mas como construtora de romances e de personagens é normalmente o caos narrativo, um desenvolver corrido que à medida que avança cada vez tem menos relação com o que foi escrito atrás.
De tantos em tantos anos, disponho me a ler agustina, fico encantado com as primeiras páginas, mas pouco a pouco as coisas enleiam-se, canso-me e a pp. tantas desisto. Já tenho feito esquemas com árvores genealógicas ou temporais, ou da acção e sítios,nomes de personagens (e alcunhas)mas não resulta. Talvez por isso, o romance de A que li (até ao fim) com mais prazer, foi um dos mais curtos, "o manto".
Por vezes tem tambem máximas belíssimas mas que analisadas são pobres. A forma é bela, o conteudo dissecado vazio.
O ultimo que tentei ler dela, a corte do norte, parei na pag 108.
No entanto, respeito essa escritora e pessoa e sem duvida que deve ser estudada.Ecritora que muitas afinidades tem com camilo ao priviligiar histórias de familias e do norte.
Por vezes, um escritor merece ser lido numa tradução estrangeira, assim fiz com alguns escritores portugueses, e a leitura pode resultar diferente. Ler eça, machado de assis, j saramago em inglês ou francês tem a sua graça e pode ser um bom exercício. Com agustina nunca experimentei ver como o tadutor lidava com ela.
Ps. uma vez li um romance de eça em inglês e verifiquei, ao comparar com a edição portuguesa, que lhe faltavam partes, parágrafos inteiros aqui e ali, no total talvez umas 15 pp não traduzidas. Decisão do tradutor? Escrevi à editora e prontamente responderam dizendo que ia sair brevemente uma nova tradução e me enviariam um exemplar, o que cumpriram algum tempo depois.
A cultura portuguesa está mesmo em alta na capital francesa!
Isabel BP
Curioso o comentário de Patricio Branco. Para mim é exactamente o contário que me assola quando a leio. Extasio-me e releio para apreciar a narrativa.
Perco-me, como acontece ao comentador, quando leio Saramago. Defeito meu decerto, porque ele foi nobelizado.
Isto só prova que os escritores não são lidos da mesma forma por toda a gente. Quem sabe se não deve ser mesmo assim?
Não será estranho que alguem agrade a toda a gente?
São factores pessoais, sem duvida, não é defeito. Saramago leio-o com facilidade, é entrar no ritmo, e acho-o mesmo divertido. Agustina perco-me no seu emaranhado e quando decido parar é porque o livro se esgotou para mim, coisa que não me acontece com o outro. Mas os dois são grandes e sabem fazer da lingua literatura.
Caro Jose Albergaria
Gosto muito de tertúlias e pratico o gosto fazendo parte de algumas. Não são apenas literárias. Uma é gastronómica e outra de vinhos e charutos. Tudo gente fina, como vê!
Mas numa das duas literárias a que pertenço, sofro por esta minha paixão agustiniana. Na outra, sofro por causa de Saramago.
Salvam-se os prazeres da boca, em que, ao menos, a minha autoridade é respeitada!
Muito estimada Helena Sacadura Cabral,
Como é pessoa que anda pelos espaços públicos, nos media, tem visibilidade (mais que merecida), tem notoriedade, tal facto permite-me "conhecê-la", saber de si e...admirá-la.
Agradeço-lhe o conforto que achou por bem oferecer-me no que ao meu "sofrimento" diz respeito em tertúlia de amizade e boa amesendação.
É uma tertúlia transversal, de geometria variável, onde falamos de tudo, até, e por vezes, de salvar o mundo.
Ocorre-me, exactamente, o mesmo que consigo: sou autoridade, inquestionável, nos comeres e ainda nos beberes.
Nos tópicos literários, sobretudo quando falámos de Agustina Bessa Luís, as coisas escangalham-se.
Mas, como dizia a "nossa" admirada Agustina, e cito: - Saramago é o nosso Nobel, mas eu escrevo melhor do que ele.
Enviar um comentário