terça-feira, janeiro 11, 2011

FMI (2)

Os efeitos de uma possível entrada do FMI (para sermos mais rigorosos, do "mecanismo de estabilização europeia", associado ao FMI) têm sido algo escamoteados entre nós.

Neste contexto, vale a pena anotar a perspetiva de José Manuel Correia Pinto sobre o "programa" político-económico que estará subjacente à vontade de alguns de verem as "receitas" do FMI aplicadas em Portugal:

"Qual é esse programa? A receita é conhecida. A pretexto de garantir recursos por um determinado período de tempo, aliás a juros bem elevados, o FMI arrogar-se-á o direito de exigir mais despedimentos, inclusive aqueles que agora não são possíveis, como na função pública; baixar os salários, incluindo o salário mínimo; limitar ao mínimo os apoios sociais ou mesmo eliminá-los, como será o caso do rendimento social de inserção, do subsídio de desemprego, etc.; liberalizar e embaratecer os despedimentos; acabar com o serviço nacional de saúde como serviço universal tendencialmente gratuito; onerar pesadamente o ensino, nomeadamente o superior; limitar os descontos das entidades patronais para a segurança social, estabelecendo igualmente um tecto para os descontos dos subscritores e para as próprias reformas, de modo a acabar com o princípio da solidariedade intergeracional e a abrir por esta via o caminho para a privatização da parte “rica”da segurança social; enfim, privatizar tudo que ainda houver para privatizar."

Será verdade?

28 comentários:

jj.amarante disse...

Claro que sim, pode existir alguma dúvida?

Anónimo disse...

Lido o post, só me podia lembrar disto:



É Preciso Avisar...


É preciso avisar toda a gente

dar notícia informar prevenir

que por cada flor estrangulada

há milhões de sementes a florir



É preciso avisar toda a gente

segredar a palavra e a senha

engrossando a verdade corrente

duma força que nada detenha



É preciso avisar toda a gente

que há fogo no meio da floresta

e que os mortos apontam em frente

o caminho da esperança que resta



É preciso avisar toda a gente

transmitindo este morse de dores

É preciso imperioso e urgente

mais flores mais flores mais flores



João Apolinário, Morse de Sangue


E.Dias

Anónimo disse...

Será verdade ??? com todo o respeito, mas o sr. embaixador ao fazer tal pergunta deve estar a mangar com os seus leitores.
Foi a isto que nos levaram as segundas e terceiras linhas de politicos, herdeiros do vazio criado por portugueses que se demitiram dos seus deveres republicanos.
É por isto que a direita (incluindo parte do PS) está a suplicar e vai rejubilar: será, finalmente, a liquidação do que sobrou de 'Abril' e como tal a ordem será totalmente restabelecida.
Podem, então, dormir em paz.
JCM

Gil disse...

O Dr. Correia Pinto sabe do que fala e di-lo, ao contrário de outros, que também sabem mas não o dizem.

Anónimo disse...

Claro que não poderão haver dúvidas. Mas a culpa é de quem, se isso interessa? Dos governados?
João Vieira

Blondewithaphd disse...

Pergunto-me antes: será verdade que este país não tenha emenda?

patricio branco disse...

Comentário politicamente incorrecto, mas eu não sou politico, apenas cidadão: penso se não é preferível uma cura a sério a andar a experimentar remédios sobre remédios, cada vez mais amargos, dados por médicos mediocres e desorientados. Afinal, a grecia e a irlanda já deram entrada no hospital e os boletins, espaçados, nem são alarmantes.
Que haja um exercício de humildade por parte de quem já não sabe comandar o barco, aceitando essa incapacidade e ajuda exterior.
Claro, tudo nos dá medo, pecs ou fmi, e qualquer cura vai ser dolorosa e os efeitos a médio e longo prazo incertos e sem garantias. Mas o prolongar a agonia?

CP disse...

Meu Caro Amigo
Obrigado pela citação. Hoje a direita portuguesa chora a descida da taxa de juros. Bandeira a meia-haste na S. Caetano e também na campanha de Cavaco:"É preciso não atrapalhar o Governo", diz ele.
Abraço
CP

Anónimo disse...

Li o que JM Correia Pinto escreveu com o maior interesse. Não o conhecia, nem ao seu Blogue. E gostei do que li. Mas gostei igualmente do, uma vez mais, oportuno Post que FSC aqui nos deixou, para reflectir.
Sou daqueles que pensa, já o expressei aqui (e noutros Blogues), que a vinda daquela famigerada Instituição do capital financeiro internacional é “supinamente” indesejável.
As razões? Julgo que quer as que o autor deste Blogue transcreve, quer JM Correia Pinto refere, em toda a extensão no seu Blogue, são mas do que suficientes.
É de facto lamentável que haja gente, que sabe muito bem quais as consequências, nefastas, para quem menos tem e mais iria sofrer com o “embate” do tal FMI, que defenda a vinda do dito Fundo. Mais, que anseie com a sua vinda. Para ter então as desculpas necessárias para liquidar o pouco que ainda vai restando de regalias sociais, por exemplo, para alterar substancialmente a Constituição e para apaziguar os parasitas e beneficiários desta crise.
Nesse sentido, gostei de ouvir o que quer o PM e o M.Finanças disseram. Se há outras soluções, para além do FMI, avance-se então com elas. Mesmo que injustas, em certa medida, muito pior estaríamos se fosse o FMI a “desenhar” o novo PEC, ou Orçamento.
È curioso a ausência de certos comentadores (de Direita) a associarem-se a este Post. Um Post cheio de razão! Para reflectirmos. Quem assim o entender, naturalmente, porque há quem seja indiferente ao sofrimento de quem seria vitima dos tais senhores do FMI, essa benemérita Instituição financeira. Gente conhecida. E que já vi sorrir perante as críticas a uma eventual vinda do FMI. Que esfregariam as mãos de contentes, uma vez um programa económico desse tipo nos fosse imposto. Gente que desprezo.
P.Rufino

Anónimo disse...

sobre o comentário de P Rufino: desprezo por desprezo talvez começar por desprezar quem nos conduziu à iminência da entrada do FMI? Foi a direita?
João Vieira

Cunha Ribeiro disse...

A nós, funcionários de Portugal, já nos foram ao bolso. Se o FMI fosse buscar o mesmo aos não funcionários públicos, far-se-ia justiça. Estou certo ou estou errado?

Helena Sacadura Cabral disse...

Não quero ser pessimista neste blogue, mas as declarações da minha colega Teodora Cardoso, administradora do Banco de Portugal, respondem à pergunta do nosso Embaixador.

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: o imenso respeito, pessoal e profissional, que a Dra. Teodora Cardoso me merece não me inibe de, desta vez, discordar abertamente dela. Esta é uma ocasião rara. Já raras não foram, nos últimos anos, as vezes em que as opiniões da Dra. Teodora Cardoso foram abertamente contraditadas por quem agora tanto aplaude o que ela disse. Não acha?

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Cunha Ribeiro: Está errado. O FMI não teria possibilidade de impor (ao Estado português, porque é disso que se trata) cortes nos salários privados. Mas talvez agravasse aqueles que, a si ou a mim, foram impostos.

Cunha Ribeiro disse...

Caro Embaixador,

Posso efectivamente estar errado, no contexto político em que temos vivido e vamos (sobre)vivendo.
Mas estarei, ainda, errado no plano de uma nova política que muitos desejam, e tarda a implementar?

Cunha Ribeiro disse...

Esta dicotomia entre o PRIVADO e o PÚBLICO no que toca a sadrifícios anda a dar-me cabo dos nervos... Desculpem, mas que os privados a vão defendendo, vá que não vá... Agora os públicos também a admitirem, sem uma ainda que leve controvérsia, já me tira do sério.
Não venham dizer que tem que ser assim, porque a Constituição assim , ou assado. Antes de Constituição está a ideia de JUSTIÇA e EQUIDADE.

Cunha Ribeiro disse...

E só para terminar, por agora:
Se o FMI vier e fizer pior do que o Governo, nesta questão dos cortes salariais, então que fique no seu gabinete, a tomar chá de cidreira, um um qualquer líquido da mesma cor.

Anónimo disse...

Então o FMI não é dirigido por Strauss-Kahn, o candidato da esquerda francesa com mais hipóteses de bater Sarkozy em 2012? Como é que um organização chefiada por um homem de esquerda ( que terá de unir socialistas, comunistas, centristas, radicais, estrema-esquerda, etc.) nos iria impôr uma política destas. O FMi não deve ser assim tão mau...

Luís Bonifácio disse...

O programa do FMI é muito simples e qualquer mongoloide o entende.

Quando o DEVE últrapassa o HAVER, podemos fazer duas coisas:
Primeira (A responsável) Colocar o DEVE ao mesmo nível do HAVER.
Segunda (A suicidária): Pedir emprestado ao Banco, para que o HAVER fique ao mesmo nível do DEVE.
Portugal tem desde há muitos anos optado por esta segunda via.
O FMI apenas vai obrigar Portugal a optar à força pela primeira via.

Ou seja, vai cortar na despesa de modo a criar um superávit que permita o pagamento das dívidas.
As medidas que vai tomar vão depender da profundidade que estudaram o problema português.

Podem perguntar a um ministro:
Porque é que este seu assessor recém-licenciado ganha 4 vezes mais que você? Medida: Despedir ou cortar o salário para 10% do actual.

Ou à ministra da Saúde:
Se o SNS não tem dinheiro e paga ecografias para as futuras mamãs saberem o sexo da criança? Medida: meios auxiliares de dignóstico só se houver suspeita de problemas.


Ao ministro da administração interna:
As autarquias estão sub-financiadas e você dá-se ao luxo de ter concelhos com 89 freguesias e 50 freguesias e micro-municipios com uma minúscula freguesia? medida: Liquidar 1000 freguesias e 100 concelhos.

Luís Bonifácio disse...

Continuação

Um deputado pode reformar-se aos 30 anos de idade? (Se entrou aos 18). Medida: Recebe a reforma aos 65 anos de idade com uma bonificação por ter desempenhado um cargo público (Ex. Tempo de serviço de deputado conta a dobrar).

Ao ministro das Finanças: Você não sabe como impedir o endividamento? É fácil Proiba o crédito ao consumo (Apenas financia as economias estrangeiras) e as vendas a prestações. Quem quiser um plasma que junte dinheiro e o compre a pronto.

Existem muitas medidas a tomar. Umas são dolorosas outras não.


Quanto ao José Manuel Pinto. Eu sei o que ele quer dizer com "Solidariedade Intergeracional". Isto quer dizer "Existe algures um palerma com 30 ou 40 anos que desconta directamente para a minha rica reforma por inteiro. Ele é palerma pois eu sei que quando a vez dele chegar, não vai arranjar ninguém para pagar a dele, mas isso não me preocupa o José Manuel Pinto, pois nessa altura já cá não está. E como diz o ditado "O ultimo a sair que apague as luzes do aeroporto"

Anónimo disse...

O que alguém quiz dizer, não é ir aos salários, é ir aos extras.

Ai! Ai!.

Tanto medo do FMI porquê?.

Anónimo disse...

MONUMENTO À TRETA CARO SR. CUNHA RIBEIRO!. PASSO A EXPLICAR: Portugal é o país com o índice de habitantes/funcionários públicos mais baixo, apenas cerca de 18 habitantes por funcionário público, logo seguido pelo Luxemburgo com 19. Na Europa (UE-25) existem, em média, cerca de 31 habitantes por cada funcionário público da Administração Central, na vizinha Espanha este rácio é quase o dobro do nosso (36)"JORNAL DE NEGÓCIOS - Publicado 12-12-2006".JUSTIÇA era a redução de funcionários públicos em alguns milhares, de modo a poderem trabalhar as 8 horas devidas e "aliviar a carga" colocada em cima dos contribuintes das empresas privadas. O Sr. ao acordar de manhã já cumpriu o seu objectivo diário, felizmente nem todos têm esse drama.

Eduardo Antunes

Anónimo disse...

A culpa e do Estado Social que se criou artificialmente.Ao longo dos ultimos 40 anos da "Revolucao"viveu-se artificialmente,sendo os governos socialistas os principais responsa-eis.Os primeiro-ministros engenhei-os levaram o pais para o abismo.O que ainda salva o Pais e o ouro "sala-zarista"depositado no BdP!

Cunha Ribeiro disse...

O Sr Eduardo Antunes veio tentar dizer:

- Há funcionários públicos a mais.
Por isso é que os sacrifícios têm de ser assacados a eles.

MAS, disse também que o LUXEMBURGO tem quase a mesma proporção de funcionários do Estado que Portugal!!!!!

E não tirou conclusões da COMPARAÇÃO que inocentemente acabou por fazer. Isto é: Se o Luxemburgo tem quase a mesma proporção de funcionários publicos que portugal, e mesmo assim é o país desenvolvido que é, onde o FMI nem sonha entrar... Então o problema não estará nessa afamada RATIO entre os Funcionários e os Outros...

OU SEJA, Você caro amigo não EXPLICOU... Você COMPLICOU!

Anónimo disse...

Pelo que li aqui, de um, ou outro, comentarista, ficou-me a impressão de que se tenta, talvez inadvertidamente, quero crer, fazer uma confusão tremenda entre o Estado e uma mercearia (com todo o respeito que tenho pelas mercearias do nosso país, que aliás estão em gradual via de extinção, como o tigre da Sibéria, por força dos hiper-mercados), em que o merceeiro seria o exemplo a seguir por um qualquer Ministro das Finanças.
Creio bem que as coisas não serão assim tão simples. A começar pelo facto de o orçamento do dito merceeiro ter por base bens (perecíveis), enquanto que o Estado elabora o orçamento levando em linha de conta não apenas números, mas também, ou, sobretudo, pessoas (que, de comum com os bens de mercearia, são igualmente perecíveis, ainda que possuindo um prazo de validade mais longo). Pessoas essas que têm direitos, consagrados na actual Constituição e na diversa legislação existente.
E como nisto das crises há sempre quem as paga e quem fica confortavelmente a ver os outros a paga-las, deixo aqui este divertido texto, que, julgo, de algum modo, ilustra um pouco aquilo que se irá passar, com uma hipotética vinda do FMI, ao nosso Burgo:

"Colbert et Mazarin sous LOUIS XIV
Par Marc Philip | (Publié : 15 octobre 2010)
PLUS ÇA CHANGE, PLUS C’EST PAREIL.
Extrait d’une conversation supposée entre Colbert et le Cardinal Mazarin sous LOUIS XIV (Roi de France de 1643 à 1715)
Colbert face à Mazarin
Colbert : Pour trouver de l’argent, il arrive un moment où tripoter ne suffit plus.
J’aimerais que Monsieur le Surintendant m’explique comment on s’y prend pour dépenser encore quand on est déjà endetté jusqu’au cou.
Mazarin : Quand on est un simple mortel, bien sûr, et qu’on est couvert de dettes, on va en prison.
Mais l’Etat ?
L’Etat, lui, c’est différent. On ne peut pas jeter l’Etat en prison. Alors, il continue, il creuse la dette ! Tous les Etats font ça.
Colbert : Ah oui ? Vous croyez ?
Cependant, il nous faut de l’argent. Et comment en trouver quand on a déjà créé tous les impôts imaginables ?
Mazarin : On en crée d’autres.
Colbert : Nous ne pouvons pas taxer les pauvres plus qu’ils ne le sont déjà.
Mazarin : Oui, c’est impossible.
Colbert : Alors, les riches ?
Mazarin : Les riches, non plus. Ils ne dépenseraient plus. Un riche qui dépense fait vivre des centaines de pauvres.
Colbert : Alors, comment fait-on ?
Mazarin : Colbert, tu raisonnes comme un fromage (comme un pot de chambre sous le derrière d’un malade) ! Il y a quantité de gens qui sont entre les deux, ni pauvres, ni riches.
Des Français qui travaillent, rêvant d’être riches et redoutant d’être pauvres ! C’est ceux-là que nous devons taxer, encore plus, toujours plus ! Ceux là ! Plus tu leur prends, plus ils travaillent pour compenser. C’est un réservoir inépuisable.
Extrait du Diable Rouge »."

P.Rufino

Anónimo disse...

Não compliquei meu caro Cunha Ribeiro, o Sr. é que não quer compreender. O que lhe estou a explicar é que vícios é só para quem os pode ter! Luxemburgo e Portugal não são comparáveis em nada exceptuando que têm os dois a maior comunidade de portugueses residentes. Porque não se referiu a Espanha que por acaso é mesmo aqui ao lado e à qual estamos geográfica e economicamente ligados? São reservas intelectuais que não lhe ficam bem, mas entendo, as medidas que vão chegar em breve soam-lhe a purgatório e olha para o lado com inveja, sentimento tão tipicamente presente na nossa sociedade.

Eduardo Antunes

Julia Macias-Valet disse...

Fabuloso excerto este da peça de Antoine Rault.
Obrigada P. Rufino.

PS E que nenhum encenador português venha aqui dar uma espreitadela e se lembre de a por em cena neste momento em Portugal. A situaçao é delicada e poderia provocar tumultos.

Anónimo disse...

Caro P.Rufino, gostei de ler o seu comentário da conversa entre Colbert e o Cardeal Mazarin.

Quanto a outros comentários, apenas digo que me "tira do sério" a associação entre os males da Nação e os funcionários da AP.

Em que aspectos o sector privado revela mais competência que o sector público?

Apenas para dar exemplo de alguns serviços utilizados por todos - seguradoras, operadoras de telemóveis, oficinas de automóveis... Quem nunca teve problemas com a incompetência de alguns (ou muitos) funcionários destes ramos?

Depois vem, ainda, a já muito gasta frase que "os funcionários públicos são pagos com o dinheiro dos contribuintes".

Será que estes exemplares cidadãos do sector privado se tiverem que emitir facturas o fazem de ânimo leve ou dizem a também já gasta frase "quer factura?". Declaram todos os seus rendimentos?

Afinal a culpa da situação económica do país não se deve exclusivamente aos "incompetentes" funcionários da AP, mas também aos muitos "chicos-espertos" que pairam no sector privado!

Quanto ao FMI, gostava de estar enganada, mas penso que não escapamos a uma "visitinha".

Isabel BP

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...