Israel nasce, como país, em 1948 e, no ano seguinte, ingressa nas Nações Unidas (contrariamente a Portugal que, por veto da URSS, apenas seria admitido na ONU em 1955).
Ainda nesse ano, o governo israelita anuncia a Portugal, numa carta do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, o seu ingresso na comunidade internacional, com vista a promover o respetivo reconhecimento por Lisboa. O silêncio português foi a resposta.
Não resulta muito clara a razão deste posicionamento português, não parecendo decorrer, como alguns aventam, de uma atitude anti-semita do regime salarazista. Muito menos de um seguidismo com a atitude de Madrid. Tudo parece indicar que Portugal temia provocar uma reação de hostilidade por parte dos países árabes, num momento em que a Índia se tornava independente e começavam a aparecer nuvens de preocupação em torno do futuro das possessões portuguesas naquele espaço. Colocar todo o mundo árabe contra si, agravando o isolamento internacional do país, parecia, assim, estar na base da atitude reticente de Lisboa face a Tel-Aviv. O facto de Portugal ter então reforçado a sua presença diplomática em várias capitais árabes parece, em pleno, confirmar esta teoria.
Em 1953, perante uma insistência israelita, o MNE português opta, de novo, por não reconhecer Israel, argumentando que, se o fizesse, estaria a tomar posição num momento de forte tensão israelo-árabe. Num gesto timorato de dimensão limitada, Portugal faz entretanto chegar a Israel, em 1954, a indicação de que veria com bons olhos a abertura de uma representação consular em Lisboa e, embora não encarasse, por ora, o estabelecimento de uma sua representação similiar em Israel, pedia autorização para tal, no futuro.
Com esta atitude, Portugal assumia que isso funcionaria como um reconhecimento implícito do Estado judaico. Por isso, a posição portuguesa, transmitida à Embaixada que procedera ao contacto, deixa claro que a autorização da abertura do consulado "far-se-á sem ser precedida ou seguida de qualquer forma de reconhecimento expresso, que nas circunstâncias actuais não seria conveniente". Era o mais longe que Lisboa estava então disposta a ir.
O mundo árabe, entretanto, mostrou evoluir para uma atitude favorável à autodeterminação dos povos coloniais, contrariando as "esperanças" que a ditadura portuguesa nele havia colocado, nomeadamente numa potencial contradição com os novos regimes da "África negra". Em 1959, no quadro de algumas relações económicas entretanto já existentes, Portugal e Israel subscrevem um "acordo comercial e de pagamentos".
No ano anterior, havia sido dada, depois de muito tempo de espera, a acreditação para o primeiro cônsul israelita. O despacho justificativo de Salazar é exemplar de realpolitik: "Os países árabes não mudarão de posição quanto a nós seja qual fôr a decisão que tomarmos. Israel votará a favor". As "contas" na batalha das Nações Unidas, com sucessivas condenações de Portugal, estavam a ser, desde 1955, a grande preocupação portuguesa.
Israel tem, entretanto, uma surpreendente evolução de posição face à política colonial portuguesa, menos por um desagrado com as reticências persistentes de Lisboa e, muito mais, determinada por uma tentativa de "cavalgar" politicamente algumas independências africanas, ao que parece num acordo implícito com Washington.
Com o início das guerras coloniais nas possessões africanas de Portugal, essa posição vai-se agravando. Em 1967, Lisboa protestou informalmente pela atribuição por Tel-Aviv de bolsas de estudos a líderes independentistas das colónias portuguesas e chamou a atenção para o facto de armas israelitas terem aparecido em posse da Frelimo. Nesse contacto, Portugal invocou mesmo a proteção dada a judeus durante a 2ª guerra mundial, como forma de melhor denunciar a "ingratidão" de Israel. Afinal, as ações de Aristides Sousa Mendes iriam acabar por ter alguma utilidade, para o tardio argumentário salazarista...
Esta atitude negativa de Israel face à política colonial portuguesa enfureceu Lisboa, que passou a abster-se, nas Nações Unidas, na votação de questões israelo-árabes, talvez na ingénua esperança de atenuar a hostilidade deste últimos. Com a utilização da base das Lages, pelos EUA, para abastecimento de Israel, durante a guerra do Yon Kypur, em 1973, Portugal acabou por suscitar a aberta indignação de todo o mundo árabe, que decretou um embargo petrolífero ao nosso país. Atitude, aliás, injusta. Portugal não fez isso para ajudar Israel: fora submetido a um humilhante diktat americano, a que não conseguira furtar-se.
E, um dia, sucedeu o 25 de Abril.
(Segue)
5 comentários:
Na minha opnião, Israel proclamou a sua independencia de forma absolutamente unilateral e ilegal em Junho de 1948, totalmente à revelia da Resolução 181 da ONU de Novembro de 1947, com a solução de dois Estados.
E foi imediatamente invadido pelos países da Liga Arabe no sentido de porem termo ao abuso. Que infelizmente só aumentou até hoje. No fim do conflito em 1949, porventura para o sanar, Israel foi admitido na ONU. Um premio para a Nakba.
E o Grande Israel que Netanyahu apresentou na AGNU, pouco tempo antes do 7 de Outubro é uma alucinação extremista típica. Como todas as mentiras sobre o 7 de Outubro, claramente permitido por Israel e onde na verdade as IDF são responsáveis pela muitas das vítimas mortais devido à desumana directiva “Hannibal”. Israel usou todas as suas armas mais pesadas contra o seu próprio povo. Como misseis e foguetes de helis, tanques e artilharia. Está tudo bem documentado.
p.s. Eu devo dizer que nada de pessoal me move contra Israel, como é óbvio. Mas contra o estado de apartheid nomeadamente depois do assassinato de Yitzhak Rabin. E sobretudo contra o genocídio actual. Mas o mundo também acabou com o Holocausto e o apartheid na Africa do Sul. Hoje Israel é dominado por um bando de fanáticos políticos e religiosos. E apoiado pelo Ocidente Colectivo. Israel devia ser desnuclearizado e a paz e o seu povo devem retornar à Palestina.
A decisão de se criar o Estado de Israel foi um erro político de com consequências (na altura, aparentemente, pouco visíveis, ou imaginadas) devastadoras para aquela região do Médio Oriente. Israel foi, quase sempre, um factor de desestabilização da região, desestabilização essa que foi sempre em crescendo, com Israel, já sem máscara, a revelar a sua (intrínseca) natureza agressiva, a sua dita superioridade semita (assente numa religiosidade fanática) perante quer sobretudo o povo palestiniano, mas mesmo para com os restantes países daquela região. Os israelitas, ou judeus, se recuarmos ao período que antecedeu a criação do Estrado de Israel, já actuavam com recurso a actos e práticas terroristas (há vários livros sobre esta matéria, limitar-me-ei a recordar um que em tempos aqui mencionei, “A Line in the Sand, de James Barr”) , de que o atentado ao hotel Rei David, em 1946, onde pereceram quase 100 pessoas ali hospedadas e a trabalhar é apenas um dos vários actos de terrorismo praticado então pelas “forças de libertação” israelitas. E se olharmos para um passado mais longínquo, lá vemos o recurso a actos criminosos e terroristas, numa visão actual desses acontecimentos, com vista à prossecução dos seus objectivos. O seu fanatismo e intolerância político-religiosa faz parte da matriz judaica/israelita. E o semitismo é, indiscutivelmente, uma atitude, ou comportamento, racista. Todavia, após o fim da II Guerra Mundial e a subsequente criação do Estado de Israel (o que implicou a expulsão de mais de 700 mil palestinianos das suas terras milenares para um outro espaço no que veio a ser, ou constituir, o chamado “Território da Palestina”, que não teve direito ao estatuto de Estado, como sucedeu com Israel com o apoio dos EUA. Por ocasião das negociações que levariam à criação do Estado de Israel, a população judaica que vivia no então espaço ou território palestiniano ocupava apenas cerca de 5% desse território, enquanto os palestinianos viviam espalhados pelos restantes 95% desse território. Com a criação de Israel, este ficou com 55% do território, enquanto aos palestinianos lhes foi concedido os restantes 45% e sem, como se sabe, o estatuto de Estado), aquela região foi, progressivamente, conhecendo momentos de “erupção” mais, ou menos, violenta, quase sempre mais violenta, com Israel a praticar, em várias ocasiões, crimes de guerra, até ao culminar da situação actual, de genocídio a céu aberto. O que se irá passar a seguir, a ver vamos. Que este acto irresponsável por parte de Israel de atacar o Irão pode dar origem a uma situação politicamente volátil, com consequências desastrosas (políco-militares) para a região e quem sabe se para além da região em si, julgo que é evidente. Resta saber como tudo isto vai acabar. Temo, porém, que o duo Netanyahu e Trump são “ingredientes” para um agravamento do conflito agora iniciado. Para o PM israelita, esse terrorista de extrema-direita, é uma situação que lhe convém no plano da política externa, pois desvia as atenções da barbárie que o seu exército comete em Gaza.
Entretanto, as reacções desta Europa sem rumo são confrangedoras, perante tudo o que ali, naquela região, se passa. Quer agora para com o conflito armado entre Israel/Irão, quer para com Gaza.
a) P. Rufino
As Nações Unidas já nesse tempo eram uma grande fantochada, à moda de hoje!
"E, um dia, aconteceu a 25 de Abril." E um embaixador americano muito activo...
Eles foram vitimas de Aushwitz, Treblinka, Dachau, e tantos outros... infernos da morte. Mas criaram desertos de ruinas e sofrimento para os seus congéneres.
A Degradação Moral da Maioria da Sociedade Israelita
Orit KAMIR
Eis um relato interno da degradação moral da maioria da sociedade israelita devido às políticas do seu governo.
Por Professor Orit Kamir – 15 de Maio de 2025 – Fonte: Haaretz em hebraico
Nunca vi tanta maldade; tantas pessoas ansiosas por expressar a sua maldade; competindo entre si para demonstrar a sua falta de empatia. Não pensava que as pessoas fossem capazes de ser tão más. De sentir tanta alegria com a dor dos outros. De se alegrar quando as pessoas sofrem, passam fome, perdem tudo o que têm e morrem. É por isso que nunca tive tanto medo.
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