quinta-feira, janeiro 13, 2011

Nós e a Europa

A convite de uma tertúlia que mensalmente ouve um palestrante durante o almoço, dei ontem, em Lisboa, a minha perspetiva sobre o estado da Europa, o seu papel no mundo e o lugar de Portugal nesse cenário.

O grupo convidante era constituído, na sua maioria, por figuras conhecidas do nosso meio empresarial, entre os quais alguns antigos responsáveis por pastas governamentais. Era um ambiente saudável e dialogante, onde se cruzavam linhas ideológicas diversas - um ambiente que tenho pena, enquanto cidadão, que não se reproduza ao nível da sociedade política portuguesa, nos tempos de dificuldade que são os nossos.

Durante a discussão que se seguiu às minhas palavras, senti uma generalizada perplexidade quanto ao futuro do projeto europeu, sobre a capacidade de sobrevivência do euro e mesmo algumas dúvidas sobre a nossa possível política de alianças, nesse contexto. Verdade seja que o caráter algo interrogativo da minha intervenção também não foi de molde a proporcionar muitas pistas animadoras. Deixei, contudo, muito claro que entendo que a Europa continua a ser o nosso destino prioritário e inevitável, não obstante também considerar que a situação atual justifica um maior esforço de diversificação de laços e de interesses, no quadro da nossa política externa. Exatamente como está a ser feito.

7 comentários:

José Martins disse...

Senhor Embaixador,
Portugal na União Europeia e com inserção na moeda euro trouxe-me à mente aquela história da formiga e da cigarra cantadeira onde se cantou muito por cá e não se trabalhou para a arca do celeiro.
Saudações de Banguecoque
José Martins

patricio branco disse...

nunca tinha pensado na fábula da cigarra e da formiga aplicada a Portugal na União Europeia mas tem graça o comentário de José Martins e dá que pensar!

Anónimo disse...

Cada vez mais penso o que seria da Europa sem União Europeia e o que seria de Portugal fora da União Europeia.

De uma coisa tenho a certeza, em nada me agrada o rumo que Portugal tomou. Não me refiro ao momento de hoje - aos contextos de crise e influências da economia europeia e mundial que, inevitavelmente, afectam Portugal. Refiro-me à mentalidade novo-rica que se criou nos anos "dourados" pós-adesão, ao facilitismo, ao comodismo, à proliferação de universidades sem a mínima qualidade, aos amigos do cimento e do betão, aos chicos-espertos que ficaram ricos à custa de subsídios europeus mal atribuídos e mal avaliados, à política da construção de estradas para dar trabalho a construtoras, à vida acima das possibilidades, etc etc

A nossa adesão fez-nos bem? A curto prazo talvez mas as próximas gerações vão mesmo beneficiar pelo facto de termos aderido à UE?

Sinceramente não sei a resposta e cada vez tenho mais dúvidas.

Guilherme Sanches disse...

Na matinal rotina de cada dia que começa, é obrigatória a leitura do post diário, e é também interessante acompanhar ao longo do tempo o tema que vai evoluindo, sendo completado e/ou distorcido com os comentários que lhe vão sendo acrescentados.

Confesso que frequentemente me sinto um pouco outsider neste ambiente aristo-diplomático de sabidos seguidores, com os quais vou silenciosamente jogando um jogo do adivinha, tentando descortinar quem é quem, nos quês e nos porquês dos comentários, pura curiosidade sem querer fazer juízos sobre quem escreve pelas relações profissionais, familiares ou de amizade que mantém com o autor, de quem concorda ou discorda por razões de própria opinião, ou de quem apenas usa a notoriedade deste blog angariando visibilidade para as coisas que escreve e mais ou menos a despropósito aqui vai publicando.

Como bom e atento leitor que me prezo de ser, vou retendo opiniões diversas, umas que vão fazendo eco no Sábado que sai à quinta, outras que aqui ficam depositadas ad posteritatem para memória futura. Ou revisão presente.

Há dias, a propósito do post "Banco é Caixa", os comentários descentraram-se do tema e dispararam (ia escrevendo disparataram) em sentidos que quase o desvirtuaram. No rol dos comentáristas, P. Rufino, habitual comentador com interessantes intervenções, passou em meu entender além da chinela, indo buscar comparações de dinheiros e reformas a áreas que revelou desconhecer por completo e que originaram um grande espalhanço. É com plena discordância mas com todo o respeito que o afirmo.

É vox populi que quem quer que tenha cargos públicos de notoriedade, cargos ditos "pagos por nós", não se livra da ligeireza dos comentários mínimos do género de que "está em Bruxelas, no Parlamento, na Câmara, em Nova York ou onde quer que seja a encher-se de massa".

Mesmo sem conhecimento de valores, acredito que não seja verdade assim. Ponto final. Aceito que quem se sente atingido defenda a inverdade que possa ser essa difamação. Ponto final. Agora escrever o que P. Rufino escreveu, partindo para argumentos de comparações absurdas é que a meu ver é uma ingénua forma de revelar que nunca viu a cor dos olhos do patrão, que provavelmente nunca criou um emprego, nunca pagou um salário e nunca assinou uma livrança.

Um "qualquer"(???) gestor privado vai, por muitos menos anos(???), com uma muito maior fatia (???) e uma muito mais confortável “almofada” (???), diz no seu comentário
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Eu pouco mais saberei do que escrever o nome e o apelido, comparado com os conhecimentos de tanta gente que aqui se expressa. Mas acabo de receber o fecho de contas de 2010 da empresa - privada, portuguesa com 30 anos - na qual tenho responsabilidades diretas pela manutenção de 250 postos de trabalho, constatando o que fomos construindo ao longo do ano - um aumento de faturação de 33,4% (aumento, leu bem) em relação a 2009. Em tempo de crise, dá jeito dizer. Tudo em Libras. Esterlinas, para que não haja ambiguidades.

Imaginem que tenha o direito de me sentir como o José Mourinho, um "orgulhoso português", mas porque essa empresa não se chama TAP, EDP, PT ou BPN, e apesar dos quarenta e tantos anos de trabalho e de descontos, nada do que o Sr P. Rufino escreveu e acima reproduzo, faz qualquer sentido. Nenhum.

E porque tanto se lamentou no comentário ao post que acima referi, com a certeza de que é um bom entendedor, peço licença para lhe dedicar um "copy/paste" fresquinho de hoje, da autoria do nosso ilustre Embaixador FSC :

"O grupo convidante era constituído, na sua maioria, por figuras conhecidas do nosso meio empresarial, entre os quais alguns antigos responsáveis por pastas governamentais".

Um abraço.

José Martins disse...

Senhor Embaixador,
Respondo (sem intenção de galhardete) ao senhor anónimo: Claro que a adesão de Portugal à União Europeia fez-nos bem para que sirva de lição às gerações futuras.
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Os pobres quando lhe oferecem alguma abundância a pobreza que levavam não lhes dá o sentido da poupança ou de investimento.
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Eu tomo, por exemplo, que no princípio que entrei ao serviço da diplomacia (eventual/escriturário) existia a poupança em tudo desde o papel às comunicações.
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Há uns largos anos, um embaixador fazia contas ao beneficio que desejava levar a cabo na chancelaria e receava que a Secretaria de Estado o atendesse com verba que pensava solicitar.
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Porém nessa altura, um diplomata, em comissão de serviço por seis meses diz-lhe: senhor embaixador não tem conhecimento do PIDAC? Não sabia existência do PIDAC... Pedido, extra, da verba do funcionamento seguiu para as Necessidade e atendido.
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Por uma meia dúzia de anos o dinheiro chovia na missão e deixava-me perplexo de tanta abundância e obras necessárias ou inventadas prosseguiam até, depois, não haver dinheiro para ninguém.
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Ocorre-me à mente, porque já era um rapazinho de quando rebentou a II Guerra Mundial, na minha aldeia surgiu a febre do minério cassiterite (um minério, granulado preto e diferente do volfrâmio) e houveram pobres de Jó que nas suas courelas apareceu o minério e da noite para o dia, surgiram ricos.
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Os ourives de feira (antigamente os ourives nos meios rurais eram ambulanes e montados em bicicletas com uma caixa de lata no suporte traseiro) fizeram negócio em barda, com ouro para decorar suas mulheres, filhas e relógios de bolso ou de pulso para os filhos.
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Ele o pai como cabeça de casal, dois de bolso do colete pendurados com com corrente de ouro. Um chegou a ter 4, dois nos bolsos do colete e dois no pulso.
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Surgiram, então, os oportunistas que lhe venderam outras decorações para a casa e grafonolas de dar à manivela para fazer tocar discos de 78 rotações.
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A guerra terminou, a exploração do minério foi à vida, as courelas desventradas e areadas sem solo para produzir comida.
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Pobres que foram e depois ricos voltaram, novamente à pobreza. Dizia o meu falecido pai que o dinheiro do minério era de maldição e nunca uma terra de nossa casa foi violada em procura do cassiterite. Preferiu continuar a viver com as ovelhas e da pastorícia.
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Portugal que não era por aí um pobre de pedir, mas chegou-lhe, depois a chuva de dinheiro da União Europeia e, embora algum tenha seguido para o lugar certo outro para o errado.
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O pobre que nasceu pobre não tem cabeça ou vocação para o administrar, devidamente e pensar no futuro,
Saudações de Banguecoque
José Martins

Anónimo disse...

Meu Caro Anónimo,
Respeito a sua opinião, mas olhe que está redondamente enganado e sabe muito bem que o está. Conheço vários, repito, vários exemplos, de familiares, a amigos, que depois de terem estado a trabalhar uns tantos anos: em Bancos, Empresas estrangeiras e nacionais, falo de grandes empresas, ou com considerável dimensão financeira, foram para casa aos 55, mais coisa, menos coisa, com viatura própria, “almofada” financeira e uma excelente reforma, trabalhando para tal, garanto-lhe, muito menos anos do que os tais 40 de um Embaixador, que, como refiro, leva para casa uma reforma indigna para quem teve as responsabilidades que teve. Garanto-lhe, sei do que falo. Todos aqueles, durante uma larga parte da sua vida profissional, já em posições de destaque nessas empresas, receberam igualmente os tais prémios de produtividade, coisa que outros, que referi, não têm. Por sinal, hoje mesmo, num almoço de trabalho, abordámos esta questão, com dois gestores de empresas privadas. E mais uma vez ouvi argumentos que me dão razão. A começar pelo carro, topo de gama, que me transportou, a que têm direito e não contesto, apenas constato. E comparo. Compreendo os outros seus argumentos, até porque meu pai foi industrial, empregou muita gente e abordava essas questões, que refere, connosco. Portanto, meu caro, embora aceite e respeite o seu ponto de vista, discordo dele, por o achar, face ao que digo, por experiência pessoal, deslocado.
Cordialidade e, já agora, Bom Ano!
P.Rufino

Guilherme Sanches disse...

Caro P. Rufino (com a permissão do "dono da bola"), sem pretender alargar este saudável exercício de retórica, e menos ainda sem querer acentuar de hostilidade uma sequer palavra, eu reconheço que estava enganado, como diz.

Não sobre aquilo que pensava e escrevi, mas sobre a previsão da resposta que teve o trabalho e amabilidade de dar, e permita-me que ecoe as suas próprias palavras.

No primeiro comentário diz - "...um qualquer gestor privado..." , enquanto em resposta à minha reação escreve - " ...Bancos, Empresas estrangeiras e nacionais, falo de grandes empresas, ou com considerável dimensão financeira...".

No primeiro caso, somos milhares neste país português, vivemos razoavelmente com o que nos sobra depois de pagarmos todos os impostos a que nos obrigam, e quando chegamos à idade que a Lei determina, temos uma reforma de acordo com as contribuições que fizemos.

O que há de irregular, criticável ou invejável nisso?

Meu caro, leio todos os seus comentários, creio que conheço qb a sua boa escrita, e sei que não se trata de um lapsus liguae ou de uma mera questão de semântica - é intencionalmente diferente o que anteriormente escreveu daquilo com que agora argumenta e com a qual concordo. Mas já concordava antes, se teve o trabalho de ler a transcrição que fiz do texto do Senhor Embaixador autor deste blog.

Provavelmente nem sequer leu, ou não me trataria por anónimo. Ou o que escreveu não era para mim e eu estou aqui a fazer triste figura... Também pode ser.

Sabe, no quintal da vizinha, aqui mesmo paredes meias com o meu, chove muito mais do que no meu, e não é por questões meteorológicas - é que o quintal dela é muito maior do que o meu. E depois, também produz muito mais do que o meu. Mas ela merece. É tudo fruto (fruta, legumes, hortaliças...) do seu enorme trabalho.

Cumprimentos. Respeitosos, pode crer.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...