Li agora, numa nota do meu amigo Aristóteles Drummond nas redes sociais, que morreu, há dias, o embaixador brasileiro Marcos de Azambuja.
Marcos Castrioto de Azambuja foi um diplomata brasileiro de grande mérito e com uma graça pessoal infinita. Foi secretário-geral do Itamaraty (lugar equivalente a vice-ministro), representou o Brasil em postos tão importantes para o seu país como a Argentina, a França ou junto das instituições internacionais, em Genebra. A sua carreira passou também pelo México, por Londres e pelas Nações Unidas, em Nova Iorque.
Conhecemo-nos, pela primeira vez, em Paris, em finais de maio de 1999, ao tempo em que eu estava no governo e ele representava o Brasil em França. Coincidimos na mesma mesa, num jantar nas instalações da OCDE, por ocasião da presidência mexicana da organização. No final da refeição, os mexicanos montaram uma divertida festa, com música entre as mesas. As canções eram de um repertório latino-americano que, geracionalmente, era comum ao Marcos e a mim. Por isso, não tardou até que ambos estivéssemos a trautear e a repetir as letras.
Na nossa mesa, tinha ficado a subsecretária de Estado americana Evelyn Lieberman. Estava admiradíssima com a nossa familiaridade com os ritmos da festa e, a certa altura, voltou-se para o Marcos e para mim e inquiriu, bem a sério: "Have you had a part of your professional life connected to music?". Marcos Azambuja deu uma imensa gargalhada e eu lá tive de explicar à senhora que, em Portugal, e com toda a probabilidade também no Brasil, nos anos 50 e 60, os ritmos latino-americanos, de língua espanhola, eram muito conhecidos. E tinham-nos ficado na memória a ambos.
Por muito tempo, não voltei a encontrar o Marcos Azambuja. Numa manhã de 2007, ao tempo em que era embaixador no Brasil, viajava na ponte aérea entre S. Paulo e o Rio e veio sentar-se, precisamente ao meu lado, alguém cuja cara eu reconheci. Era Marcos Azambuja. A conversa durante a viagem foi divertidíssima, imagino que só interrompida pela relativa mas natural angústia que sempre era a aterragem na curta pista do Santos Dummont.
Há pouco mais de um ano, convidado pelo Cebri - Centro Brasileiro de Relações Internacionais e pela nossa embaixada em Brasília, fui ao Rio de Janeiro fazer um debate com o embaixador Rubens Ricupero. O então conselheiro emérito do Cebri, embaixador Marcos Azambuja, fez a nossa apresentação e veio a intervir na parte posterior do painel, como a imagem documenta. Tive então oportunidade de dar-lhe os parabéns por dois magníficos artigos que, em 2011, tinha publicado na revista brasileira "Piauí", onde retratou, numa rica escrita, algumas interessantes memórias da carreira diplomática brasileira.
O Marcos Azambuja nunca se cansava de recordar, nas conversas comigo, que era sócio honorário dos Bombeiros da Azambuja, localidade onde, segundo creio, ele afirmava que se ancorava uma das suas raízes familiares. Esta era uma das suas muitas e agradáveis memórias de Portugal, um país que ele muito apreciava.
As minhas condolências à família do embaixador Marcos Azambuja.
1 comentário:
Azambuja, localidade onde, segundo creio, ele afirmava que se ancorava uma das suas raízes familiares
E é bem provável, pois, que ele tivesse uma sua origem familiar numa família de judeus da Azambuja.
É bem sabido que boa parte dos judeus, em Portugal e alhures, tomou como apelido o nome da vila onde morava, e que boa parte dos judeus portugueses fugiu para o Brasil, onde durante algum tempo a Inquisição esteve menos ativa do que em Portugal. (Quando começou a estar, uma parte desses judeus luso-brasileiros fugiu para os EUA, onde formou a primeira comunidade judaica nesse país.)
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