Na análise mediática dos temas internacionais, há duas formas de atuar. Uma é ficar afetivamente de um dos lados, apoiando, aberta ou veladamente, tudo o que esse lado venha a fazer. Outra é o olhar as coisas sob o prisma do Direito Internacional. Cada um é livre de escolher o que quer fazer.
6 comentários:
Eu diria que não se deve olhar para as coisas de uma forma afetiva, mas que o Direito Internacional (DI) também não pode servir de bitola para tudo.
Por exemplo, a Finlândia teve durante 50 anos um pacto com a URSS, mediante o qual a URSS deixava a Finlândia fazer o que quisesse a nível interno, desde que não hostilizasse a URSS a nível internacional. Esse pacto, que era extrâneo ao DI, que não tinha cabimento no DI, funcionou no entanto muito bem.
Ou seja, os países do ponto de vista do DI são todos muito independentes, mas na prática têm relações de vassalagem uns com os outros.
Posso escolher o lado humano?
Finalmente os US, através do seu principal proxy, começou a ultima das 7 guerras do memorando do Pentagono denunciado pelo General Wesley Clark em 2007. Depois do Iraque, Siria, Libano, Libia, Somalia e Sudão, o Irão. MOTIVO: a mesma falsa ameaça nuclear do Irão que Netanyahu repete há 30 anos no Congresso dos US. Procurem os vídeos. E para invadir o Iraque em 2003. Porque só o povo eleito pode ter armas nucleares no ME. E a participação da AIEA só mostra como todas as Organizações Internacionais são totalmente dominadas pela hegemonia ocidental. Infelizmente braços do Império como a ONU, NATO, FMI, BM, etc.
Talvez o mundo pudesse ter seguido outro rumo se FDR tem vivido mais um par de anos. O vendedor de sapatos que o substituiu era muito tenrinho para Wall Street e para o buldogue ingles. Passámos os últimos 100 anos confrontados com muitos dos problemas criados pelo Império Britanico e vamos passar os próximos a corrigir os da PAX AMERICANA mas sobretudo os do mundo unipolar. E esta é a principal razão porque, por maior paradoxo, o mundo era mais seguro antes da queda da URSS.
E sobre a ameaça nuclear em concreto do Irão, que curiosamente a Teocracia nunca autorizou como a própria CIA confirmou há poucos meses no Congresso dos US, lembrar só que a energia nuclear tem múltiplas aplicações, quase todas para o bem da humanidade. Aliás, o Irão já tinha instalações nucleares para aplicações como na medicina no tempo do Xá. Depois da CIA derrubar a jovem democracia do Irão em 1953, que conduziu invetitavelmente à Revolução e à actual Republica Religiosa. E depois da Revolução quando as autoridades do Irão pediram à Comunidade Internacional para continuar a usar o programa nuclear para produzir electricidade e tratar doenças como o cancro, por exemplo, foram autorizados num primeiro momento a comprar o combustível nuclear no mercado. Autorização que foi rapidamente removida pelos US e obrigou Teerão a enriquecer o seu próprio Uranio.
Que hoje, sem dúvida, usa como alavanca para não ser esmagado em todas as farsas negociais com os US. Como a que estava a correr para camuflar a intervenção militar que acabamos de ver. Se repararem com o mesmo MO - drones no interior do IR - que atacaram os bombardeiros nucleares russos. Coincidencia. MOTIVO: Como sempre os recursos naturais a que acresce o fato do Irão ser a única grande potência do Medio Oriente que defende verdadeiramente a Palestina – através do eixo da resistência a que nós chamamos terroristas. Mas se for precico vestimos um fatinho a um dos piores e chamamos-lhe o Rei da democracia de Damasco. Foi onde a nossa hipocrisia chegou! Em contrapartida o último sobrevivente da grande revolta do gueto de Varsovia sempre disse que GAZA era o maior campo de concentração do mundo. Pelos vistos, sem direito a revolta.
Porque o que mudou verdadeiramente no Ocidente nos últimos 30 anos devido á desregulação dos mercados financeiros foi a tomada dos estados-nação pela oligarquia financeira. No mundo existe riqueza suficiente para todos os povos conviverem pacificamente. E sem precisarem de emigrar. Bastava que todos os recursos naturais fossem devidamente comercializados em vez de roubados. Para possibilitar o desenvolvimento de todos que beneficiaria todos e não só um grupo muito pequeno. Porque somos todos iguais, todos temos famílias. Infelizmente hoje devido a 1% e já não aos estados-nação, pouco mais de 10% do mundo - o Ocidente Colectivo - acha que é dono do globo. E por mais insignificante também convinha ao Planeta que nós, como os nossos pais, tivessemos um bom casaco de inverno ou até um carro durante dez anos em vez de uma estação do ano ou o que sugere o credito bancario. E políticas públicas para combater o nosso inverno demográfico.
E com a ascensão da oligarquia financeira a ganancia só aumentou e até a população ocidental passou a viver pior. Há 40-50 anos anos os salários dos trabalhadores representavam cerca de 80% dos lucros até nas grandes multinacionais. Hoje a Amazon que não produz nada mas ganha cerca de 40% em cada transação, gasta apenas 3% dos seus lucros com os salários dos seus trabalhadores. Não é difícil imaginar como começaram a comprar foguetes espaciais e retiram todos os anos triliões da economia real para paraísos fiscais. E até os americanos precisam de 3 empregos de “merda” para obter a mesma renda de um bom emprego nos US dos anos 50-60. O que inevitavelmente elegeu Trump – o anjo da paz, como se vê.
E a Europa? A Europa afastou-se dos dois principais pilares do crescimento da economia europeia nas últimas décadas, como até Borrell admitiu. O comércio com a CH e a energia barata russa. E agora Trump aplicou-nos tarifas. Também se percebe facilmente como Bruxelas defende a Europa e sobretudo os europeus hoje. Mais estranho só talvez a forma como estados-civilização com seculos de história como a Russia ou Irão, depois de décadas sob sanções, continuam a parecer confiar nos US, mesmo quando os US estão a fornecer armas para os destruir?! Sobretudo numa Ordem Internacional que só comprende a força. E até um pacifista como eu constata facilmente que se Teerão o ano passado tem nivelado Tel Aviv, era imediatamente integrado na Comunidade Internacional. Mas veremos. Era bom que não víssemos todas as explorações de petróleo do ME a arder ou o estreito de Ormuz fechado. Porque íamos todos sofrer muito.
Quem opta pela primeira, não poderá ser sério, até porque essa parcialidade nunca é admitida, pelo contrário.
É sempre melhor adoptar o Direito Internacional. Mas, ao mesmo tempo, é difícil sentir outra coisa que não desprezo pelos governantes do Irão e de Israel.
Sem dúvida que a escolha tem de ser o Direito Internacional. E sem dúvida também que estamos hoje mais próximos de uma terceira guerra mundial do que estávamos ontem.
Lembro-me de uma frase da personagem M., num dos filmes de James Bond: "que saudades que tenho da Guerra Fria".
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