Acabo de ler que morreu Frederick Forsyth, com 86 anos. Deve haver poucos escritores (Eça de Queirós é um desses poucos) de quem eu possa dizer, com total certeza, que li toda a sua obra. Forsyth era um deles.
Um dia de setembro de 1979, em Viena, à conversa em casa do meu amigo António Pinto Rodrigues, que já se foi há muito da vida, confessava-lhe que, até então, praticamente não tinha lido obras de ficção em língua inglesa. À época, tinha bastantes livros em inglês de outra natureza, da história a memórias e ensaios diversos, passando pelos inevitáveis "current issues", mas eram-me pesadas as incursões que tinha feito pela ficção anglo-saxónica, preferindo as traduções portuguesas dessas obras. Educado com o francês como primeira língua estrangeira, a adaptação ao inglês tinha sido um percurso voluntarista que, até então, ainda esbarrava nas obras de ficção.
O António era casado com uma americana, a Dee. Brincámos com o facto de ser mais fácil progredir no conhecimento da língua estrangeira da pessoa com quem se vive. Não era essa a minha conjuntura familiar. Foi então que ele me deu uma "chave" para iniciar a resolução do problema que eu tinha: "Começa a ler o Forsyth no original! Foi por ele que eu iniciei a leitura de ficção em inglês. Os temas são interessantes - e eu sei que para ti também são -, a linguagem não é complicada, o ritmo da escrita prende-nos e, mesmo que nos falhem algumas palavras, devemos ir em frente na leitura. Sobretudo, não pares nunca para ir ao dicionário: segue em frente! Acabarás por tirar as coisas pelo contexto." Foi um excelente conselho!
Já tinha lido, em versões portuguesas, alguns "clássicos" de Frederick Forsyth. Decidi relê-los. Fui assim ginasticando o meu inglês através desse género de ficção. Passei depois aos "thrillers" de outro tipo e de outros autores - e, desde então, nunca mais parei. Não consigo nem tenho a pretensão de alguma vez ir conseguir ler no original todos os livros de ficção em língua inglesa que me apeteça. No caso de alguns autores, continuarei a preferir as traduções portuguesas (e até francesas). Mas, nos dias de hoje, ler em língua inglesa, embora com grau diferente de dificuldade, é para mim quase tão natural como ler português, francês ou espanhol - sendo esse o definitivo limite do meu mundo linguístico.
No dia da sua morte, deixo este meu agradecimento a Frederick Forsyth - e ao meu saudoso amigo António Pinto Rodrigues, com um beijo à Dee e à minha afilhada Marla.
1 comentário:
Li unicamente “O chacal”, que versa sobre um assassinato do presidente francês Charles de Gaulle. A narrativa foi adaptada ao cinema diversas vezes e traduzida para múltiplos idiomas.
Nas suas memórias, publicadas em 2015, ele revelou que trabalhou temporariamente para o serviço secreto britânico. Relatou que ingressou na República Democrática Alemã como turista numa ocasião, com o propósito de ir buscar os documentos que, segundo Forsyth, recebeu num WC de um museu em Dresden. Em troca das suas actividades de espionagem, Forsyth afirmou ter recebido apoio na pesquisa das suas obras literárias.
Já agora, li toda a obra literária do “deus da literatura portuguesa” na minha opinião: Eça de Queiroz.
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