Passou bem mais de uma semana. E, desde então, as palavras do presidente da República, ditas perante legisladores americanos, foram glosadas até à exaustão.
Para o que aqui me importa, Marcelo Rebelo de Sousa disse na altura que, muito provavelmente, o país iria assistir a uma crise na direita, mas que ele, um presidente oriundo dessa mesma direita, funcionaria como um fator equilibrador.
O presidente não “dá ponto sem nó”. Depois ter ter sido tão estranhado o seu silêncio na chamada crise dos professores, mesmo com a ameaça de demissão de António Costa, ele decidiu colmatar esse seu pontual défice de presença pública e veio a terreno, um tanto inopinadamente, comentar, no fundo, os efeitos que, a prazo, o resultado das eleições europeias poderiam vir a ter.
O presidente deixou claro a sua perspetiva de que, salvo um imprevisto, as próximas eleições legislativas acentuarão o declínio dos dois partidos da direita. Implícito ficou que, nessa possível conjuntura, poderia ocorrer uma instabilidade nas respetivas lideranças, em especial se ficarem com grupos parlamentares reduzidos e, por isso, impotentes.
Nesse contexto, da perspetiva de uma governação forte titulada pela esquerda, com uma orfandade nos setores tradicionalmente votantes à direita, ele, Marcelo Rebelo de Sousa - repito, oriundo dessa direita - surgiria, sob autoridade constitucional, como um fator compensador do regime, um contraponto, não deixando que uma parte do país o sentisse “acaparado” pela outra, na expressão nacional dos poderes. No fundo, Marcelo Rebelo de Sousa quis, muito simplesmente, dizer que, por esse motivo, sente um imperativo em se recandidatar.
Podemos perguntar-nos se é natural um presidente exprimir-se publicamente desta forma, ao jeito de comentador, sabendo que a sua palavra pesa bastante e pode impactar sobre a própria realidade. Não é, mas Marcelo pressente que tem o dever (político, não institucional) de atenuar a inquietude que atravessa o campo conservador que maioritariamente o elegeu, atalhando o desespero que aí pressente existir. É claro que isso pode levar à questão de saber se um presidente “de todos os portugueses” deve sugerir-se como especial representante de alguns. Não deve, mas Marcelo faz uma interpretação muito peculiar do seu papel presidencial e deve achar que esta eventual subversão de papéis públicos pode acabar por ser um fator de “acalmação” no país.
Na política, como na História, nada se repete. Porém, vale a pena lembrar como Mário Soares acabou por funcionar como contraponto, para a esquerda, nos “anos de chumbo” que esta passou sob a governação de Cavaco Silva. No final, recorde-se, Soares saiu incensado em glória e na memória coletiva da esquerda, com muita direita aos seus pés. Estou em crer que um cenário simétrico não desagradaria a Marcelo de Sousa
Para o que aqui me importa, Marcelo Rebelo de Sousa disse na altura que, muito provavelmente, o país iria assistir a uma crise na direita, mas que ele, um presidente oriundo dessa mesma direita, funcionaria como um fator equilibrador.
O presidente não “dá ponto sem nó”. Depois ter ter sido tão estranhado o seu silêncio na chamada crise dos professores, mesmo com a ameaça de demissão de António Costa, ele decidiu colmatar esse seu pontual défice de presença pública e veio a terreno, um tanto inopinadamente, comentar, no fundo, os efeitos que, a prazo, o resultado das eleições europeias poderiam vir a ter.
O presidente deixou claro a sua perspetiva de que, salvo um imprevisto, as próximas eleições legislativas acentuarão o declínio dos dois partidos da direita. Implícito ficou que, nessa possível conjuntura, poderia ocorrer uma instabilidade nas respetivas lideranças, em especial se ficarem com grupos parlamentares reduzidos e, por isso, impotentes.
Nesse contexto, da perspetiva de uma governação forte titulada pela esquerda, com uma orfandade nos setores tradicionalmente votantes à direita, ele, Marcelo Rebelo de Sousa - repito, oriundo dessa direita - surgiria, sob autoridade constitucional, como um fator compensador do regime, um contraponto, não deixando que uma parte do país o sentisse “acaparado” pela outra, na expressão nacional dos poderes. No fundo, Marcelo Rebelo de Sousa quis, muito simplesmente, dizer que, por esse motivo, sente um imperativo em se recandidatar.
Podemos perguntar-nos se é natural um presidente exprimir-se publicamente desta forma, ao jeito de comentador, sabendo que a sua palavra pesa bastante e pode impactar sobre a própria realidade. Não é, mas Marcelo pressente que tem o dever (político, não institucional) de atenuar a inquietude que atravessa o campo conservador que maioritariamente o elegeu, atalhando o desespero que aí pressente existir. É claro que isso pode levar à questão de saber se um presidente “de todos os portugueses” deve sugerir-se como especial representante de alguns. Não deve, mas Marcelo faz uma interpretação muito peculiar do seu papel presidencial e deve achar que esta eventual subversão de papéis públicos pode acabar por ser um fator de “acalmação” no país.
Na política, como na História, nada se repete. Porém, vale a pena lembrar como Mário Soares acabou por funcionar como contraponto, para a esquerda, nos “anos de chumbo” que esta passou sob a governação de Cavaco Silva. No final, recorde-se, Soares saiu incensado em glória e na memória coletiva da esquerda, com muita direita aos seus pés. Estou em crer que um cenário simétrico não desagradaria a Marcelo de Sousa