Fui oficialmente educado a detestar a Espanha. Desde os livros da escola primária, o "perigo castelhano" só me não perturbava o sono por mera inconsciência juvenil e porque, em casa, as coisas me era explicadas de outra forma. No liceu, a História do (velho) Mattoso era um apelo profundo à reconquista de Olivença e um aviso subliminar à perfídia eterna de Madrid. Com a idade, comecei a olhar para outras Espanhas, de Unamuno a Lorca. Percebi que, por ali, nem tudo começava em Primo de Rivera e acabava no primarismo de Franco. Emocionei-me com as tragédias da Guerra civil e com a sorte dos vencidos, de Guernica a Madrid, das Asturias a Barcelona. Cedo fiquei ao lado de uma das "duas Espanhas". Quando entrei para a diplomacia, encontrei ainda, pelos corredores, muitos resquícios de uma cultura anti-Espanha, instilada por décadas de doutrinação salazarenta. Só Juan Carlos de Bourbon, que, a partir de hoje, hoje deixará de ter atividade pública no quadro da família real, reconciliou Portugal, em definitivo, com a Espanha, como um todo. A Europa fez o resto. A Espanha, e com ela a península, devem muito à sabedoria de um homem que demonstrou sempre ser um bom amigo de Portugal. Em Espanha, eu teria sido "juancarlista". Embora o nome do atual rei não soe muito bem aos nossos ouvidos lusitanos, só espero que consiga seguir o bom exemplo do pai - caçadas e escapadas incluídas, porque a santidade não é deste mundo. No que nos respeita, melhor é impossível.
3 comentários:
Agora, só resta FSC explicar-nos as grandes vantagens de uma relação tão "boa" com a Espanha. Pode ser embirrância minha mas nunca vejo os amigos da Espanha explicarem-nos esse tipo de coisas...
Foram-se os bancos, foi-se a comunicação social... Que bom!
A Espanha é um país fantástico, uma democracia vibrante e moderna mas que tem uns tiques estranhos (que certamente passarão junto dos seus amigos como qualidades). Por exemplo:
- é um país onde não há nações mas há nacionalidades
- são permitidos partidos independentistas mas estes não podem aplicar os programas separatistas com os quais ganham sucessivas eleições
- políticos presos preventivamente não podem fazer campanha eleitoral mas podem ser eleitos
- políticos eleitos e presos preventivamente podem ser eleitos mas não podem tomar posse
E a lista continua...
Bate-me o coração mais forte quando penso na nossa vizinha!
O que me atrai na España é a monarquia. Viva El Rey !!!
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