O escritor cubano Leonardo Padura esteve em Portugal. Por compromissos fora de Lisboa, e com muita pena minha, não consegui ir ouvi-lo.
Há doze anos, tive em Havana uma longa e interessante conversa com Leonardo Padura, num jantar proporcionado pelo então embaixador português em Cuba, Mário Godinho de Matos. Padura é uma personalidade suave, com um sorriso amigável e tinha um modo muito sereno de olhar para a complexa realidade do seu país. Teria gostado muito de o ouvir falar sobre a Cuba dos dias de hoje, das suas dificuldades e atuais desafios.
Nessa conversa, demos conta de que ambos havíamos vivido, simultaneamente, em Luanda, na primeira metade dos anos 80. O escritor fizera parte dos "cooperantes" que Cuba enviava para apoio ao regime angolano. Nessa troca de recordações, perguntei-lhe se, como então se especulava, esses cubanos expatriados tinham fortes incentivos económicos, bem como de apoio às famílias que deixavam para trás, como compensação pela execução da sua missão. Confirmou-me que essas atividades lhes proporcionavam, de facto, algumas vantagens mas, enfatizou, nesse tempo havia em Cuba um alargado espírito de "missão internacionalista", que mobilizava muitos dos seus compatriotas. Para acrescentar, muito realisticamente, que, nos dias que então corriam, esse sentimento havia desaparecido quase por completo, pelo que era praticamente impossível recrutar técnicos cubanos para ações no exterior numa base predominantemente ideológica. As alternativas, nos dias de hoje, também não devem ser muitas...
Nessa bela noite de Havana, recordo bem que Padura nos falou num trabalho em que andava envolvido, em torno de documentação de Ramón Mercader, o homem que, no México, em 1940, assassinou Trotsky, às ordens de Stalin. Mercader viveu a parte final da sua vida em Havana, onde morreu, em 1978, tendo mais tarde sido sepultado, com honras soviéticas, em Moscovo. O livro que Padura estava então a escrever, centrado na figura de Mercader, viria a chamar-se “O homem que gostava de cães” e foi um grande êxito. Mas a obra de Padura não se ficou, desde então, por aí.
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