quarta-feira, março 01, 2023

Saudades do Carteiro

Ontem, na reunião periódica na empresa, onde, nos últimos sete anos, o fui encontrando, não o vi. Estava doente, disseram. Por detrás do olhar de quem o disse, pareceu-me descortinar alguma coisa mais.

Era um homem aproximadamente da minha idade. Especialista na área técnica em que, desde há muito, colaborava com a empresa, foi essencial para me ajudar a entrar nas funções que ali passei a desempenhar. 

Caloroso, bem disposto e com um permanente sorriso, retribuí-lhe um dia a simpatia convidando-o para um almoço, que acabou por ser muito divertido, num restaurante que ele próprio me revelou, "O Carteiro". Descobrimos então, nesta aldeia que é Lisboa, episódios que tínhamos partilhado e alguns amigos comuns.

Ficámos íntimos? Longe disso! Tratávamo-nos pelo nome próprio, trocávamos mensagens, em especial durante a pandemia, que acabou por atingi-lo. Falávamos, às vezes, pelo telefone. Uma vez, ligou-me de Moçambique, outras do Alentejo, onde gostava de sossegar a vida. Sempre positivo.

Ontem, ao final da manhã, saí daquela reunião com um mau pressentimento. Mas, disse cá para mim, eu é que sou um incurável cismático - como o meu pai designava aqueles que ficam a remoer tudo na negativa. 

À noite, chegou-me a notícia. O Carlos Bernardes tinha morrido. Hoje, estive no velório, o funeral será amanhã.

É assim a vida, é assim a morte.

3 comentários:

Luís Lavoura disse...

"cismática" com C

Francisco Seixas da Costa disse...

Luís Lavoura. Obrigado pelo "cismático".

Flor disse...

Que descanse em Paz.

O futuro