quarta-feira, março 01, 2023

Sair do país?

Por que partem os jovens de Portugal? Partem porque adquiriram em Portugal qualificações especializadas que lhe permitem competir num mercado internacional de oportunidades, para locais com uma produtividade que gera salários superiores aos nossos.

No passado, praticamente só saíam do país dois tipos de trabalhadores: cidadãos altamente qualificados, com um nível de especialização excecional, ou cidadãos quase sem qualificações, facilmente adaptáveis a tarefas pouco especializadas, na indústria ou em serviços.

A atenuação das fronteiras culturais, em especial graças ao domínio do inglês e a um cosmopolitismo geracional adquirido, leva a que muito mais pessoas usufruam de um mercado potencial de emprego no estrangeiro muito maior do que aquele que lhes é oferecido em Portugal.

À democratização do ensino, potenciada nas últimas décadas, que criou uma inédita massa de licenciados, não correspondeu uma absorção a nível idêntico, em termos de emprego, por parte do parte do sistema produtivo, que é maioritariamente privado.

Aproveitar na nossa economia os cidadãos nacionais que cá tenham sido formados deve ser um desiderato a prosseguir. Mas há que convir que, se o mercado europeu é o espaço de livre ação das nossas empresas, de igual modo também é o mercado de trabalho natural dos nossos cidadãos.

11 comentários:

João Cabral disse...

Senhor embaixador, sobretudo parar com a loucura de "exportar" mão-de-obra altamente qualificada e "importar" mão-de-obra barata e desqualificada. Os resultados disso estão bem à vista.

Unknown disse...

Boa desculpa para a emigração, que tem por causa a pobreza do país, entregue há 7 anos a esse "excelente" governante chamado António Costa, em cujas mãos o país vem definhando. Lamento, mas não vejo nada para aplaudir.

Luís Lavoura disse...

Aproveitar na nossa economia os cidadãos nacionais que cá tenham sido formados deve ser um desiderato a prosseguir.

Eu seria mais geral: aproveitar na nossa economia quaiqsquer indivíduos formados, sejam eles de que nacionalidade forem, é um desiderato a prosseguir.

Exemplo: nós aproveitamos na economia do nosso futebol muitos jogadores de nacionalidade estrangeira e formados no estrangeiro.

Luís Lavoura disse...

João Cabral, não exiba esse desprezo pela mão de obra barata e desqualificada. Ela é necessária, cá e em quase todos os países do mundo. Há em Portugal (e alhures) muitas tarefas para as quais mão de obra barata e desqualificada chega e sobeja. Para lavar pratos em restaurantes. Para limpar as sanitas públicas. Para fazer entregas. Para trabalhar na agricultura. Para trabalhar em muita indústria. E, potencialmente, para muitas mais coisas ainda.

manuel campos disse...


Desculpe repetir o parágrafo todo, mas tem que ser...

"À democratização do ensino, potenciada nas últimas décadas, que criou uma inédita massa de licenciados, não correspondeu uma absorção a nível idêntico, em termos de emprego, por parte do parte do sistema produtivo, que é maioritariamente privado."

Uma massa inédita de licenciados em quê? Eu sei em quê e todos sabemos.
Respondida a questão anterior, como é que o sistema produtivo, obviamente maioritariamente privado (já agora era o que nos faltava!), podia alguma absorver um enorme número daqueles tipos de licenciaturas, que são das genéricamente designadas "Letras" ao longo dos tempos quando um sistema produtivo (seja privado ou publico, favor dar atenção a isto) precisa é das genéricamente designadas "Ciências".

Ver bem o emprego versus desemprego que uma e outra geram talvez fôsse boa ideia.

João Cabral disse...

Sabe-se que muitos portugueses vão fazer exactamente esse trabalho "desqualificado" para o estrangeiro. Não há desprezo nenhum.

marsupilami disse...

«mão de obra barata e desqualificada. Ela é necessária, cá e em quase todos os países do mundo.»

A candura é uma coisa bonita. Aqui está o programa "liberal": a mão de obra barata é necessária. Pagar mal é o programa da IL para Portugal (mais conservador que isto não há, é perpetuar uma tradição secular de subdesenvolvimento). Boas condições de vida para toda a população? Cruzes credo, claro que não. ;-)

Joaquim de Freitas disse...


A escravidão não é algo que as "democracias" modernas perseguiram muito longe. Na realidade, é algo que está mais próximo do que pensamos. Não só porque é cada vez mais comum que o trabalho assalariado seja uma escravidão em troca de dinheiro, mas também porque a pobreza e a necessidade são terrenos férteis para que o sistema sem escrúpulos que é o capitalismo se aproveite para se beneficiar à custa da vida das pessoas, dignidade e liberdade.

A competitividade dos produtos agrícolas da Andaluzia deve-se a quê? ou a quem ?

E os da Califórnia? Eu vi as filas de “latinos” “down town” Los Angeles, à espera dos capatazes para a “contratação”, à hora, ao dia, à semana…sem os quais a economia californiana não funciona !Mesmo "sem papeis"...

Mas muitos outros sectores da economia “beneficiam” da mão-de-obra “barata” dos países pobres;

Os países do Leste Europeu são, talvez, o maior exemplo de como o capitalismo transforma a população em mercadoria competitiva no mercado de trabalho, drogas ou prostituição, obrigando milhões de pessoas a fugir de seus países para sobreviver, algo que a máfia (tão abundantes no capitalismo, algumas mais "legalmente" que outras) se aproveitaram.

Existe, felizmente, também, a “competitividade” e a competência aliada ao “custo”. Empreguei técnicos portugueses na firma que dirigi, tão bem e por vezes mais bem formados em Portugal, que os franceses que competiam para as mesmas funções. Sem “favoritismo” algum da minha parte.

Em todo o caso, e da forma como funciona um mundo economicamente globalizado como o que vivemos, e que alguns defendem, as engrenagens do comércio são grandes, e enquanto uns facilitam a destruição da riqueza nacional, outros chegam como "investidores" para saquear os recursos.

Então os países ricos aproveitam-se da pobreza alheia para atrair mão de obra barata, e, a intrínseca perversão do sistema faz com que, irremediavelmente, as máfias (políticos, patrões, drogas ou prostituição) e que o sacrossanto "livre mercado", o sagrado e omnipotente direito ao enriquecimento acima de tudo, acaba por fazer a escravatura.

Luís Lavoura disse...

João Cabral

muitos portugueses vão fazer exactamente esse trabalho "desqualificado" para o estrangeiro

Certo. É assim que funciona a emigração: os portugueses emigram para Espanha, os marroquinos emigram para Portugal, os costamarfinenses emigram para Marrocos, e os burkina-fassenses emigram para a Costa do Marfim. A emigração funciona, usualmente, em cadeias assim.

E é uma coisa boa, sempre. Cada pessoa que emigra, enriquece.

Repito, ainda bem que entram pessoas desqualificadas em Portugal, pois assim permitem que portugueses desqualificados emigrem para países mais ricos, onde irão enriquecer (pelo menos, mais do que enriqueceriam cá).

Francisco disse...

Permitam-me que agradeça ao Joaquim de Freitas: disse tudo e de modo claro.

Paulo Guerra disse...

Muito bem Joaquim de Freitas,

E vamos dar nomes aos bois! Praças de jorna como as que abolimos do Alentejo no 25 de Abril e já estão outra vez de volta ao Alentejo! O que diz bem do progresso civilizacional do mundo nos últimos 40 anos! O globalismo é só o colonialismo financeiro. O novo tipo de colonialismo não mais dos países mas dos mercados financeiros. Um travesti dos nossos tempos que é o caminho mais rápido de volta ao feudalismo. A única coisa que globalizou verdadeiramente foi o capital completamente desregulado com o mercado de trabalho também completamente desregulado até no 1º mundo! A Amazon que todos nós apreciamos muito depois de destruir milhões de postos de trabalho pelo mundo inteiro só agora em pleno Século XXI foi obrigada a admitir o primeiro Sindicato?!?!? Uma conquista do Seculo XIX! E ainda acharam por bem o bónus do Post sem qualquer conflito de interesses. Que claro que apoia todas as regras do establishment. Hoje o caso Watergate tinha o mesmo destino que a ultima peça jornalística do Sy Hersh! Um direito que devia ser visto como a coisa mais normal no mundo do trabalho digno, com regras que o diferenciem claramente da selva que se vive em muitos países.

E é! Em países como, por exemplo, a Alemanha para não estarmos sempre a dizer mal da Alemanha como nos últimos tempos! Com um lugar na Administração das maiores empresas como também devia ser sempre dado o contributo evidente da massa trabalhadora para o sucesso de qualquer empresa. Mas claro que há muitas formas de escravidão laboral e outras. E infelizmente Potugal também não é o melhor país para falar de Sindicatos ou Uniões de Trabalhadores, demasiado politizadas. De política partidária! Qualquer país tem a obrigação de criar e regular condições de trabalho digno para os seus cidadãos e para todos que chegam até nós. Segundo a própria Carta das NU. Só depois há liberdade para sair! Ou emigrar à procura da fortuna. Para a esmagadora maioria só se jogar na lotaria! O que infelizmente Portugal também nunca alcançou! Ainda noutro dia vimos aqui que até no mundo da diplomacia os países não são todos iguais. Vá lá perguntar a um operário das obras se ele se importa de ir trabalhar para o ku de Judas em Africa com um trabalho digno e bem remunerado?

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