A pergunta surpreendeu-me: "sente-se um embaixador diminuído?". Tinha a ver com o papel dos diplomatas portugueses pelo mundo, em face da situação de crise que atravessamos. Foi-me colocada pelo jornalista Henrique Garcia, durante uma breve entrevista que dei no noticiário da TVI24, na noite de dia 12.
A minha resposta foi clara: como diplomata português, esperando poder refletir a atitude profissional de muitos dos meus colegas, sinto-me perfeitamente capaz para representar os interesses do país no quadro da presente crise. Naturalmente que tenho consciência de que a imagem que Portugal projeta, nos dias que correm, não é a que seria desejável, mas os profissionais da diplomacia não existem para assumir externamente os interesses do país apenas em momentos de glória. Pelo contrário, é nestes tempos, bem mais difíceis e exigentes, que nos é pedida frieza de espírito e capacidade de explicação sobre os esforços que estamos dispostos a fazer, enquanto país, com vista a reverter a situação que atravessamos. Recordei, aliás, que, nos meus tempos como diplomata, esta é a terceira vez que tenho o FMI "em casa" e, nem por isso, das outras duas, o país "fechou".
Alguns esquecem, mas eu achei por bem lembrá-lo, que há não muitas décadas, alguns daqueles que são hoje ricos países europeus, atravessaram situações de penúria que obrigaram a fortes ajudas internacionais, em virtude de crises muito graves, que envolveram fome, pobreza e grandes carências. Os tempos mudaram, e, se bem que o que nos deve importar seja o presente, acho decisivo que o saibamos sempre relativizar. É que o Portugal de abril de 2011, por muito que a sua imagem possa estar a sofrer, é exatamente o mesmo país que o mundo, há escassos meses, escolheu para membro do Conselho de Segurança da ONU, com uma votação quase histórica. A nossa imagem, de lá para cá, é, basicamente, a mesma. Portugal é um velho país que o mundo se habituou a respeitar, independentemente dos cifrões dos défices. Por isso, façamos o nosso trabalho e não nos deixemos deprimir por alguns artigos de imprensa porque, como dizia François Mitterrand, não há nada mais velho que o jornal de ontem.
11 comentários:
adorei ler, mas estamos um país fragilizado, os grandes da Europa não nos querem ajudar, mas lá está esqueçam se que já passaram por estas dificuldade, ou bem piores, e só se levantaram com a ajuda dos EUA.Tem história curta, e parece que a memória também.
Essa deverá ser a posição, neste momento, de qualquer pessoa que tenha responsabilidades políticas.
E também a daqueles a quem dói ver o país mal tratado pelos outros, mas que continuam a ter orgulho de serem portugueses.
Por falar em artigos de imprensa (ou na comunicação dita social indígena, em geral), convém, de facto, não dar demasiado crédito aos profissionais portugueses - à esmagadora maioria deles, pelo menos.
A notória satisfação com que pintam de cores carregadas as atuais circunstâncias da nossa vida coletiva e referem a má imagem internacional do país que, com tanto zelo, ajudaram a criar, só tem paralelo na falta de conhecimentos, de rigor e de preparação de que dão tão abundantes provas.
Ainda ontem, no “Público” – jornal que é um impressionante repositório dessa fauna – uma plumitiva que dissertava, em termos que pretendiam deixar transparecer estarmos em presença de uma perita na questão, se referia ao FMI como “a organização americana”.
Estultices destas abundam pela chamada comunicação social portuguesa e são bem a amostra do seu rigor e cuidado.
Mas resta-nos o consolo de poder ler, provenientes doutras paragens, coisas que escapam ao "pensamento único" que formata essas pobres cabeças.
Veja-se, por exemplo, o artigo hoje publicado no International Herald Tribune (que NÃO é o Público lá da terra dele) da autoria de Robert M. Fishman e intitulado “Portugal’s unnecessary bailout”.
Aqui:
http://www.nytimes.com/2011/04/13/opinion/13fishman.html?scp=1&sq=Robert%20M.%20Fishman&st=cse
Obrigada Sr. Embaixador! Por razões profissionais do meu marido há um ano que vivo no Canadá e depois de o ler só uma coisa se me apraz dizer: nós Portugueses não somos diferentes dos outros, para o bem e para o mal! Precisamos sim de melhorar a nossa autoestima para podermos enfrentar dias menos bons em prol de um futuro melhor! Oxalá muitos pudessem ler o que escreveu, obrigada pelas suas palavras de ânimo.
Façamos o nosso trabalho. In FSC.
Além de que o que não mata fortalece.
Isabel seixas
vida e trabalho continuam, embaixador nos bons ou menos bons tempos.
Subscrevo os comentários visíveis, especialmente os de Helena Sacadura Cabral e de Dalma. Portugal esta muito bem representado em França -como sempre esteve nos países e nas organizações internacionais por onde passou- na sua pessoa, Senhor Embaixador.
PS: vou ler o artigo do "IHT" a que Gil se refere.
Uma vez mais Senhor Embaixador um aplauso.
E a minha concordancia com os comentários sobre a comunicação social.
Chega a ser sufocante e um verdadeiro assalto a nossa sanidade a maior parte do que se ouve e lê.
Ldia Jorge afirmava há algumas semanas estarmos perante "uma quinquilharia do pensamento"
EGR
OH Senhor Embaixador!Ouvi-o enlevada e, como sempre,tolhidinha de admiração, pela forma como VExa defendeu a classe, peça subtileza com que Vexa deu a tacada necessária na Grosse Germania, explicando a adesão ao marco, a elegancia com que explicou a politica interna des gaulois sem qualquer interferência nos assuntos internos desse país...
Remarquable!!!
Uma Embaixadora colega,
bien à Vous
Senhor Embaixador,
.
Vamos ser realistas. Não tenho ponta de dúvida que o Senhor Embaixador Seixas da Costa enquanto servir a diplomacia portuguesa no exterior que vai cumprir, como sempre, eficazmente a sua missão de servir Portugal.
.
Porém não se encontra confortável, no seu posto, como há 12 anos.
.
Nem eu tão-pouco me sinto à vontade perante gente de outros países que me rodeiam.
.
O que tem saído na imprensa internacional não mata mas amolece a nossa alma.
.
Saudações de Banguecoque
José Martins
Caríssimo Embaixador Francisco Seixas da Costa,
Esse seu sentido de responsabilidade e de relativização é fruto da prudência e de leituras mais profundas que ultrapassam o tempo curto das "agências de rating". A História de Portugal prova-nos que o país já enfrentou desafios bem mais difíceis, em várias épocas, e conseguiu superá-los.
Além disso, a petição pública que foi levada à Procuradoria Geral da República, que já tive oportunidade de subscrever, por três economistas portugueses solicita uma investigação da legitimidade Ética e Jurídica das notações que atribuem ao Estado Português e da absurda oscilação nas notações atribuídas quando se soube da crise política portuguesa. A dignidade da Democracia não se compagina com estas prepotências destas agências de "rating", todopoderosas, que se querem imiscuir, por obscuros interesses, na vida política dos países democráticos.
O Presidente da República Portuguesa disse que era incompreensível, pois os jogos especulativos não têm o Direito de se intrometerem na soberania das populações e estes devem ser investigados e julgados de acordo com os critérios Éticos e Jurídicos do Direito Internacional.
No meu último "post" intitulado "A CRISE FINANCEIRA PORTUGUESA DA DÍVIDA SOBERANA - AS CRISES HISTÓRICAS NACIONAIS (1891-2011) E A CONJUNTURA GEOESTRATÉGICA MUNDIAL – BREVES CONSIDERAÇÕES" cito este artigo pela perspectiva prudente e aprofundada por estas análises estruturais que nos permitem ver esta realidade através de pressupostos diacrónicos e sincrónicos.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Enviar um comentário