sábado, maio 08, 2021

PPUE 2021




Lá para as dez e tal da noite de um dia do primeiro semestre de 2000, durante a segunda presidência portuguesa da União Europeia, em que tínhamos passado o dia dentro do edifício Justus Lipsius, em Bruxelas, desde as oito e tal da manhã, em sucessivas reuniões de trabalho, de janelas fechadas, respirando ar “artificial”, imensamente cansado, voltei-me para Jaime Gama, no carro de regresso ao hotel, e comentei: “O dia hoje correu muito bem!“. 

Gama respondeu-me com uma pergunta e uma resposta: ”Sabe por que correu bem? Porque já andamos por aqui há muito tempo! Olhe à volta daquela mesa: com as sucessivas mudanças de governos, nós somos dos mais antigos. Conhecemo-los a todos, desde o pessoal do secretariado do Conselho até à gente da Comissão, sabem bem quem somos e como somos. Torna tudo mais fácil!”.

Era bem verdade! Pensei nisto, há pouco, ao olhar a ”coreografia” da presidência portuguesa da União Europeia, no Palácio de Cristal, no Porto. 

A nossa equipa “política” está mais do que rodada: António Costa, que já foi vice-presidente do Parlamento Europeu, é dos mais “seniores” de entre os primeiros-ministros, o que é muito importante para quem vem de um país da nossa dimensão.

O MNE Santos Silva leva mais de um mandato no cargo, depois de ter sido ministro, creio, de quatro outras pastas. 

A secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, acumula a sua experiência política nacional com o cargo anterior de embaixadora da União Europeia em vários países.

Na frente diplomática, dispomos de uma equipa rodada e verdadeiramente “de luxo”. Em Bruxelas, os embaixadores Nuno Brito e Pedro Lourtie. Em Lisboa, os seus colegas Rui Vinhas e Madalena Fischer. Tudo gente do melhor que o MNE tem “produzido“. Todos com anos de experiência, o que lhes confere uma grande autoridade como interlocutores negociais.

A presidência portuguesa de 2021 está a correr bastante melhor do que eu tinha julgado poder ser possível, atendendo ao constrangente circunstancialismo criado pela pandemia. Com a qualidade da equipa que colocou no terreno, em condições normais de trabalho, estou em crer que os resultados seriam ainda mais relevantes do que têm sido.

Portugal confirmou, uma vez mais, aquilo que a Europa há muito já sabe: sob a liderança portuguesa, as presidências semestrais são conduzidas com forte sentido de responsabilidade e são sempre muito bem sucedidas. 

Em todos os quatro momentos em que, nos últimos 35 anos, isso sucedeu, em ciclos políticos nem sempre idênticos, constatou-se igualmente que o facto de Portugal dispor de equipas políticas e diplomáticas rodadas para o exercício dos cargos acabou por ser um fator determinante para esses sucessos.

4 comentários:

Fernando Martins disse...

Ao dizer como diz, até parece bom. ...é pena que outro resultado da experiência dos principais atores citados advenha de terem sido atores, uns menores outros já com relevo, no consulado de José Sócrates - com o que daí advém.

albertino ferreira disse...

Portugal deve fechar a Presidência da UE com profissionalismo, competência e visibilidade; por isso devemos felicitar o Governo; nem tudo correu mal em tempos de pandemia como auguravam os arautos do costume.

Tony disse...

Caro Albertino Ferreira. Lapidar!. Inteiramente de acordo.

Francisco Seixas da Costa disse...

Faltou ao Fernando Oliveira Martins lembrar que a penúltima presidência portuguesa da UE foi superiormente dirigida por José Sócrates, que liderou um trabalho excecional. É preciso saber separar as coisas! Cada coisa no seu tempo.

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Com a queda do governo Barnier, o cenário político francês ficará mais complexo. O parlamento está "balcanizado" e falta muito tem...