Houve um tempo em que tínhamos menos de meia dúzia de canais televisivos, pela qual pagávamos uma coisa simbólica, a qual, custeando também uma rádio pública sem publicidade e assegurando coisas como as RTP/RDP Internacional e África, era das mais baixas da Europa. Tudo bem!
Fomos então convencidos a passar para o cabo, que já não era tão barato quanto isso. Mas os “pacotes” vinham embrulhado com a net, os telefones, numa geometria variável de opções que, como é da regra destas coisas, induz um deliberado embaraço na escolha.
Mas, com os diabos!, passámos a ter “centenas” de canais disponíveis! Que bom! Só que depois, vendo bem, além de pagarmos o cabo e o tal preço simbólico dos canais tradicionais, cada vez é preciso desembolsar mais para abrir muitas dessas tais “centenas” de canais “disponíveis”, os Netflix, a SportTV e imensas coisas assim.
E os canais televisivos tradicionais, concessionários de licença pública, que originalmente víamos pagando a “taxa”, que já têm o dobro da publicidade da televisão pública, criam, eles próprios, como agora se (não) vê com a Opto, sistemas de acesso fechados. E para ver o melhor desses canais, temos de pagar mais...
4 comentários:
"custeando também uma rádio pública sem publicidade e assegurando coisas como as RTP/RDP Internacional e África" -
Ora, mesmo pagando uma taxa de audiovisual, a RTP - online - abusa da publicidade. Tanto surge uma página preta, seguida de pequenos rectângulos no canto inferior esquerdo, de publicidade, que nem sequer tem a cruzinha para poder apagar, como haver a publicidade lateral em movimento. Assim vamos andando. Parece que a RTP 1 não gosta dos espectadores "normais", que pretendem apenas ver notícias em vez de serem obrigados a uma profusão de publicidade para nos distrair do essencial. Até o Provedor do Espectador já se declarou incapaz de resolver o problema.
Qualquer dia, após tantas reclamações sem efeito sobre a publicidade abusiva, vamos desistindo da RTP.
Existe uma atividade pública remunerada muito interessante e nobre que se chama política e que serve, também, para legislar sobre estas pequenas e, aparentemente, insignificantes coisas, visto que é do interesse da polis que se trata. E a política serve também para se opor a este tipo de quadrilhas que, neste momento, são estas empresas que se dedicam a desenvolver estes canais por cabo com pacotes fantásticos de centenas de canais e internet a mil à hora. Se, por acaso, o Governo português agisse, a este nível, semelhantemente aos seus congéneres europeus, esta pouca vergonha acabava de imediato, pois estas empresas seriam obrigadas, se quisessem sobreviver, a oferecer produtos mais de acordo com as necessidades das pessoas. Infelizmente, neste ramo, reina, de uma lado, a chico-espertice e, do outro, a abulia dos clientes e dos nossos governantes.
O sistema capitalista de produção, diz Mészáros, é uma totalidade incontrolável. Sua função é buscar lucro a todo custo e, por isso, nem mesmo os capitalistas conseguem colocar freio a essa sede desenfreada.
Assim que, como no clássico filme de terror do grande Bóris Karloff, ele funciona como uma bolha assassina, expandindo-se sempre mais e engolindo tudo no caminho por onde passa, insaciável. Sua fonte de riqueza é o trabalho dos trabalhadores. Mas também o embrutecimento dos lazeres, explorados até à morte de desespero...por tanta mediocridade.
Senhor embaixador: "mutatis mutandis", e com ressalvas, claro, diria que "é a economia..."
MB
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