domingo, maio 23, 2021

Church’s


Ontem, na sindicância de verão às prateleiras de sapatos, deparei com uns Church’s bem antigos - se é que o conceito de antigos se pode aplicar àquela marca prestigiada de sapatos eternos.

Tenho poucos Church’s e sei, exatamente, onde comprei cada um desses pares. Nessas ocasiões, segui uma sábia asserção do precetor austríaco do rei dom Manuel, que andava sempre equipado com os mais caros produtos de vestuário e calçado, explicando: "Não sou suficientemente rico para poder comprar coisas baratas". Só levei à prática esse conselho no tocante aos Church’s.

Um dia, nos anos 90, em Londres, tive a jantar em casa uma colega e o seu pai, uma figura encantadora que, como a muitos aconteceu, recorreu aos médicos britânicos como última esperança para uma doença cancerígena que o minava. Infelizmente com razão a curto prazo, o parecer médico, logo na ocasião, não deixou espaço para nenhumas ilusões.

Ficou-me na memória afetiva, para sempre, a ironia triste, mas com admirável "panache", com que o pai dessa minha amiga, no final do jantar, me disse que, nessa tarde, decidira-se, finalmente, a fazer algo que há muito tinha pensado: comprar uns Church's. "Sabe, dizem-me que duram 20 anos. É tempo suficiente..."

3 comentários:

João Forjaz Vieira disse...

Duram mais de vinte: tenho uns, que herdei do meu pai , que uso em ocasiões especiais. Certamente tem mais de setenta anos.
João Vieira

Jaime Santos disse...

É por artigos como este, Sr. Embaixador, que depois é classificado como fazendo parte da 'malta simpatizante do PS'. Esquerdista bom que se preza, despreza os prazeres da vida e as coisas belas...

O revolucionário é austero e vive de maneira espartana, mesmo quando oriundo das classes altas, não vá contaminar-se com a ideia burguesa de que em breve estaremos todos mortos e mais vale por isso gozar a vida. Já dizia o Oscar Wilde que o problema do socialismo é que nos leva demasiados serões...

Flor disse...

Carotes!! E também os há para mulher e criança, com outros modelos, claro.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...