segunda-feira, março 23, 2020

Ai, Europa!

O Eurogrupo flexibilizou as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). (Para quem não saiba, o PEC são as regras de “comportamento” para quem quer estar no euro). A linguagem (confiram) foi ligeiramente menos aberta do que a da Comissão Europeia, pela voz da sua presidente, como se previa. Aí pesou, seguramente, o rigor da Europa do norte. Mas, pelo lado do Eurogrupo, está feito, por agora, o que era indispensável.

Da parte do Banco Central Europeu já havia sido anunciado o reforço do “quantitative easing”, isto é, a aquisição “voluntarista” de dívida aos bancos dos Estados, o que, sendo indispensável, também não deixa os “rigoristas” muito cómodos. E está longe de ser suficiente para suportar a situação que se vive.

Resta agora a cobertura da dívida suplementar que tem de ser feita, por virtude das consequências da atual crise. Se não houver uma mutualização dessa nova dívida (e há que ter consciência que não existe ainda um instrumento institucional para a gerir, nem é claro como, a haver um acordo, as ratificações nacionais se farão - em muitos países têm de passar pelos parlamentos), o uso individualizado da ”liberdade” ora obtida cairá, de imediato, sobre cada dívida soberana de “per si”. Lembremo-nos que foi esse o resultado do acordo Merkel-Sarkozy em outubro de 2010, em Deauville.

Ora isso acabará por ser trágico para os Estados que têm mais dívida, como é o nosso caso. Se não houver para isso uma rápida resposta europeia - ou o seu anúncio, com forte solenidade - os mercados, que não são nem europeístas nem solidários, “saltarão” sobre as dívidas soberanas mais expostas, fazendo subir as suas taxas de juros, alargando os “spreads” entre elas, que estavam a encurtar nos últimos anos.

A Europa tem de apressar-se e, nela, quem tem mais pressa somos nós, felizmente acompanhados pela Itália, cujo peso no contexto da economia europeia pode ser um fator importante para convencer os países que estão menos desconfortáveis e, por essa razão, tendem ainda a ser menos solidários e mais reticentes face à “criação” de dívida europeia, os tais Eurobonds. Não há muito tempo,

3 comentários:

Anónimo disse...

Quando tudo passa pela "Europa", não admira que haja tantos que se queiram livrar dela...

Luís Lavoura disse...

Como Muenchau diz no post anterior, a solução não é a dívida, a solução é a criação de dinheiro.

Não são somente os Estados que estão endividados; as empresas também não estão em condições de pedir emprétimos.

jj.amarante disse...

No pós-guerra do 1918 e da Pneumómica não havia Europa nenhuma para nos atrapalhar e depois o país encontrou dificuldades tão grandes que caímos no Estado Novo até 1974!

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