Nos jantares diplomáticos, há por vezes que fazer conversa “de chacha”. É que nem sempre quem nos calha ao lado é capaz de manter um diálogo interessante, capaz de sustentar uma hora de convívio ocasional. (Imagino bem que os outros digam isso de nós).
Aquele escritor, intelectual elaborado, até algo macambúzio e pouco dado ao “small talk” típico dessas ocasiões, que já havia aceitado o convite para a embaixada com alguma relutância, acabou por ter o azar de ver sentada a seu lado uma “socialite” que rapidamente veio a revelar-se do mais profundo vazio.
Depois das banalidades do costume, veio à baila a vida de cada um. A senhora lá falou da existência que levava, com as férias “estupendas” em evidência, inquirindo depois sobre o que fazia o seu vizinho de mesa:
“Sou escritor”, disse o nosso homem, em voz discreta.
“Ah! Mas que interessante! E escreve o quê?”, ouviu da voz ao lado.
“Escrevo livros”, disse o outro, sorrindo de obviedade.
“Que giro! E agora anda a escrever alguma coisa?”
“Normalmente escrevo romances, mas, desta vez, estou a escrever uma autobiografia”, adiantou o homem, surpreendido com a sua própria franqueza.
“Ah! Mas isso é fascinante! E o livro é sobre quê?”
O escritor achou este jantar afinal tão divertido que não se cansa de falar dele.
1 comentário:
Já tinha contado essa passagem, mas é sempre interessante voltar a ler.
Bom fim de semana
Maria Isabel
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