domingo, março 22, 2020

Expresso


Ontem, neste retiro forçado, alguém me trouxe o “Expresso” a casa. Está na moda dizer mal do “Expresso”. Eu também digo, muitas vezes. Mas compro-o, sempre. Em papel, claro. Alguns não vão acreditar: desde o nº 1! Isso mesmo, leram bem, desde 6 de janeiro de 1973. Quando o aparecimento do “Expresso” mudou a imprensa em Portugal. Há 2473 semanas, sem ter falhado uma única vez. (Acho que já disse isto por aqui, mas repito-me, o que é coisa de velho - qualificação que a minha quarentena prova).

No estrangeiro, por onde andei, chegava-me por mala diplomática - a Oslo, a Luanda, a Londres, a Nova Iorque, a Viena, a Brasília. Em Paris, tinha-o reservado num quiosque perto da Étoile. Quando por Bruxelas, se o não apanhava numa loja na cidade, chegava a ir a Zavantem buscá-lo. Em Genève, numa estada longa por lá, descobri uma tabacaria que o tinha. Um dia, em Vila Real, meti-me no carro para ir à Régua comprá-lo.

O “Expresso” acompanhou-me toda a vida. Às vezes, confesso, mal o leio, dou uma vista de olhos pelos títulos e o jornal jaz durante uns dias por um canto, vou-lhe pegando de quando em vez, até que o fazem desaparecer, sem me perguntarem nada.

Se ainda gosto do “Expresso”? Já gostei muito mais, todos gostámos muito mais. Acho, aliás, que esse sentimento, no íntimo, deve atravessar alguns que por lá estão e quase todos os que de lá saíram. O “Expresso”, desde há bastantes anos, anda diferente, raramente traz “caixas”, novidades, coisas em primeira mão. Sendo um “berliner” no tamanho, às vezes parece um “tablóide” nos títulos e em alguma especulação fácil em que cada vez mais cai. É pena. Ao longo do tempo, foi perdendo alguns excelentes jornalistas, mas tem ainda por lá gente bastante competente, alguma da qual, por essa mesma razão, tinha a obrigação de conseguir fazer, todas as semanas, um jornal melhor.

Mas eu, repito, compro sempre o “Expresso”. Até para poder dizer mal dele, quando me apetece. Não faço parte da escola dos “não li e não gosto”. Eu, se às vezes não gosto do que o “Expresso” publica, é porque li. Acho que, apesar de todos os seus defeitos - muitas vezes até por causa deles! -o “Expresso” deve ser lido.

2 comentários:

Anónimo disse...

Senhor embaixador
Não tenho a certeza de que não me tenham falhado alguns números...
Mas agora, com a internet - e tratando-se de um semanário - ainda mais, tudo o que vem em papel parece já requentado, dado que no computador ou no telefone já "vimos/lemos" aquilo...
Claro, apreciamos agora mais os artigos de fundo e o jornalismo de investigação; mas nessas áreas a coisa não anda famosa, no Expresso e noutros jornais (muito pior em muitos deles, daqueles que ainda têm isso...)
Confesso que às vezes, ao sábado, apetece-me não o comprar...Mas compro. E também se arrasta aqui ppor casa, às vezes atirado fora depois de "bem mal" lido.
MB

Anónimo disse...

A revista tem sempre muito interesse.Mas todo o Expresso, continua, para mim, actualmente, o melhor jornal.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...