terça-feira, fevereiro 04, 2020

Um CDS novo a cheirar a velho


Acaba de se demitir da direção do CDS uma figura que, além de abertos elogios a Salazar e à Pide, tinha escrito esta ”pérola” sobre o 25 de abril: “Era preciso uma Revolução? O país crescia mais de 6 pontos percentuais por ano, a guerra do Ultramar estava ganha, havia emprego e estabilidade, Portugal era reconhecido internacionalmente, tudo estava calmo!”.

A mesma criatura chamou também a Aristides Sousa Mendes “agiota de judeus”, ecoando a raiva que a ditadura tinha ao diplomata que, contrariando as ordens de Salazar, decidiu salvar a vida a milhares de refugiados que procuravam fugir da França, sob o terror alemão.

Longe de mim negar a quem quer que seja o direito a ter aquelas ideias. Foi para isso que se fez o 25 de abril... aliás, contra a vontade dessa mesma gente! Mas um partido que se afirma democrático não pode ter, na sua direção de topo, uma figura daquele jaez. Ou, se a mantém, autoqualifica-se por simbiose.

Ora o CDS, o “novo” CDS, procurou até ao fim proteger politicamente aquele seu dirigente, claramente com o “olho” no eleitorado que pensa da mesma forma que aquela figura. Fica a suspeita, bem fundamentada, de que pretende concorrer no mesmo “mercado” político do Chega.

Com este incidente, o “novo” CDS ficou muito mal na fotografia. Se, ao ser confrontada com o conjunto de afirmações do tal cavalheiro, a direção (ia a escrever “centrista”, mas tive receio de que considerassem isso um insulto!) o tivesse logo posto com dono, teria dado um sinal de aberto repúdio face àquele tipo de posições. Pelo contrário, ao ser apenas “empurrada” pelo escândalo público instalado, procurando mesmo confortar a retirada da figura, deu a ideia de que, afinal, podia viver bem com ela na direção - não fora a circunstância do assunto ter tido a amplitude que teve.

Fica assim provado que o “jeunisme”, em si mesmo, não é uma qualidade, mas apenas uma deriva de sectarismo etário. E quando a isso se soma uma visível misoginia, disfarçada de opção por uma melhor “adequação” às funções, tudo fica ainda pior.

3 comentários:

Anónimo disse...

E, assim, o "novo" CDS caminha para uma votação futura de uns cerca de 1,5%, to say the least!
O IL ainda o irá ultrapassar, para já nem falar do Chega que o esmagará. Dois, três deputados eleitos, com sorte. A Extrema-Direita concentrará votos no Chega, dispensando o "miúdo" do CDS, o tal "Francisco..." O PSD agradecerá e depois se verá. E, `Esquerda, a rapariga Joacine fará o seu caminho, auto-destruíndo-se e levando consigo o Livre. A ver vamos como iremos ficar, "nos entretantos". É de crer igualmente um enfraquecimento do PCP/CDU.
Mas, isto tudo são cenários a prazo. E, como tal, muita coisa pode mudar. Desde o PS a encolher, ao BE a ficar na mesma, ao PSD não crescer, ao PAN a dar um pequeno salto e depois fica o quê?

Anónimo disse...

Entrevejo neste post a habitual censura das posições que ponham em causa a legitimidade da "revolução". Por aqui se vê que a nossa democracia ainda não está completa. O dito dirigente pôs, por acaso, em causa as regras do jogo democrático? O 25 de Abril é por acaso um "tabu", que não possa ser discutido?

Jaime Santos disse...

O 25 de Abril garante a todos a liberdade de pensamento e de opinião e pode naturalmente ser discutido. O que não garante é uma espécie de iniumpatibilidade a quem se presta a dizer disparates do soez dos de Abel Matos Santos. Quem fala o que quer, ouve o que não quer e depois demite-se e vai com as trouxas...

Não, Salazar não era um grande estadista, foi o biltre fascista que mandou assassinar o Presidente eleito pelos Portugueses, General Humberto Delgado. Não, a PIDE não era um exemplo de competência, era um antro de sádicos boçais. E não, Aristides de Sousa Mendes, não era um qualquer vendido, foi sim um homem que sacrificou a sua posição pessoal para salvar muitos inocentes, e cuja memória é seguramente venerada pelos descendentes dos que salvou. Um herói, em suma, algo que os anónimos dos confins da internet não conseguirão negar por mais que tentem...

Parabéns, concidadãos !