Desde há semanas que, em jornais e pelas redes sociais, vejo referências a um determinado livro de memórias. Não interessa o título, não interessa o autor. Hoje de manhã, numa livraria, o volume ali estava. Comprei-o. Mal o abri, constatei que a memória é daquelas que, com imensa originalidade, começa na escola primária e vai por aí adiante, numa inebriante sequência cronológica, que nos faz deparar, curiosamente, com o ano seguinte depois do anterior. A escrita revelava-se tão simplória que, num primeiro momento, lhe dei o benefício de poder querer ser mesmo assim, na busca deliberada do “telúrico” saloio, que faz um certo género. Mas não! A certa altura, a narrativa começa mesmo a tornar-se imparavelmente espessa, chata, penosa de leitura. A espaços de lucidez falhada, o autor ainda se desunha em tentar desenhar algumas flores de retórica estilística, as quais, logo na linha seguinte, cuida em enterrar num chorrilho de banalidades. Com esforço crescente mas boa vontade declinante, lá fui andando, até conseguir chegar quase a meio do volume. Mas, agora, foi demais! Parei, em definitivo, depois de ler esta pérola: “Pude constatar, com encanto, que as duas jovens, para além da sua beleza, tinham dentro de si uma não menor formosura”. Não, isto é demais! Caio em cada uma!
3 comentários:
Podia dizer o nome. Escusava de gastar dinheiro. Tenho pouco, gosto de livros e tenho de pensar bem onde o gasto.
Obrigada.
Maria Isabel
Pois é, hoje em dia sobram por aí autores cujos livros não passam de meros relatórios. Tentei alguns mas entretanto decidi que não era má ideia ler o que ficou para trás e reler outros de há muitos anos.
Será do patinhas AMORIM?
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