Entre nós, creio que os blogues entraram verdadeiramente “na moda” na viragem do século. Tratava-se de uma nova plataforma de escrita, que federava amigos e gente interessada no que os outros escreviam, estimulando o comentário e o debate. Tinha a vantagem de poder tornar-se graficamente atrativa, mesmo para os não iniciados nas artes informáticas.
Muita gente surgiu então pelos blogues: intelectuais, escritores, um mundo de pessoas anónimas. Nomes da imprensa apareceram a escrever em blogues, às vezes num registo de Dr. Jeckyll and Mr. Hyde. Outros, pouco conhecidos, viriam a criar aí a sua imagem, e a imprensa viria, posteriormente, a “apanhá-los”. Os blogues foram uma curiosa montra de talentos. A boa escrita de muitas pessoas só me foi acessível graças a eles.
Em Portugal, uma certa opinião de direita, mais radical e liberal, então menos opinativa na imprensa, encontrou o seu espaço no que então se convencionou chamar a “blogosfera”. Muitas figuras do neoconservadorismo partiram dos blogues. Alguns foram mesmo dos blogues para governos. Mas também a esquerda não desprezou a plataforma, longe disso. Verdade seja que os blogues e o seu estilo tiveram então muito a ver com os ciclos políticos e, em alguns casos, tornaram-se interessantes trincheiras da luta partidária: cáusticos, duros, até cruéis. Como os tempos impunham.
Chegou a haver bastantes blogues coletivos, com gente mais ou menos conhecida. Hoje restam poucos. Neles foi interessante observar os “desistentes”, muitas vezes cooptados para funções menos compatíveis com a continuidade naquele tipo de escrita. Ficaram os “resistentes”, algumas almas saudavelmente persistentes, empunhando com teimosia a bandeira.
E, claro, pulularam os blogues individuais, feitos para “solitários”, para quem não quer qualquer confusão com a escrita alheia ou se sente menos cómodo ao ver-se publicado ao lado de quem tem ideias em que se não revê. Conheço alguns! Muitos desses espaços individuais de escrita foram entretanto fenecendo: escrever para si próprio é escassamente estimulante...
Falando apenas de Portugal, acho legítimo concluir que chegou a haver por cá blogues de grande qualidade, alguns tendo dado mesmo origem a livros. E, para ser justo, ainda há por aí blogues bem interessantes, embora não muitos.
Há, porém, uma realidade, que é preciso assumir sem reticências: os blogues passaram de moda. Já ninguém fala nos blogues. E tempos houve em que os próprios jornais, recordam-se?, os citavam. Há uns anos, começava o meu dia pela consulta do que vinha publicado nos meus blogues favoritos. Hoje, passam-se dias em que não visito nenhum blogue, revendo alguns, e muito poucos, quase por atacado, aos fins de semana.
O mundo dos blogues mudou, entretanto, de natureza. Chama-se hoje blogue àquilo que mais não é do que uma montra de produtos comerciais, em lugar de ser uma montra de escrita. Se falarmos da palavra “bloguista” em certos meios, vêm logo à baila as divulgadoras de roupa ou acessórios, promovedoras de conselhos maternais, receitas culinárias e coisas assim. Mulheres, na maioria dos casos. Foi esta a evolução da blogosfera.
Termino fazendo notar que resistem alguns blogues do passado - uns bons, outros maus, outros péssimos. A maioria dos que ficaram são apenas fonte de opinião, outros são puras tribunas de “fake news”, outros ainda são espaços de insídia e “vendetta”. Há blogues serenos, da mesma forma que há blogues excitados. Há blogues bem escritos, como há blogues escritos com os pés. Há por aqui de tudo, como na farmácia...
5 comentários:
"O Meu PIPI" foi um dos melhores Blogues de sempre. Sobretudo desses tempos. E dali resultaram 2 livros, que são verdadeiras antologias de um humor muito especial. Grande Blogue aquele e que excelentes livros!
Cá os tenho por casa e os releio ocasionalmente. Para soltar umas boas e saudáveis gargalhas!
O Blogue ainda se pode consultar, mas acabou. Deixou de ser alimentado com os costumeiros e divertidos Post. Seja. Siga a vida! Ficam memórias de boa disposição proporcionada por aqueles atrevidos e muito bem escritos textos.
Caro senhor embaixador,
Esqueceu-se de um ponto de vista acerca do mundo da blogosfera, quer a actual quer a antiga desde antes do senhor embaixador blogomanifestar-se.
Como diz, há bloques bem e mal escritos e há de tudo como nas farmácias mas serão, ao longo do tempo os bem sempre bem escritos e os maus sempre maus? Um livro que vende milhões como um blog que é visto por milhões manter-se-á sempre um bom livro como um bom blogue?
Terão esses escritos "bons" o pensamento certo ou errado quando mesmo embebidos e disfarçados de boa literatura?
Entendo o blog como o espaço onde cada um expõe o seu pensamento e quantos bons blogues nasceram velhos e ultrapassados, sem pensamento nem crítica fundamentada?
O Moita de Deus, sim esse do roubo da bandeira e substituição pela bandeira monárquica na CML, que perguntava se os postes de carregamento de carros eléctricos na era Sócrates serviam para carregar telemóveis ou isqueiros tinha que espécie de pensamento?
Hoje em dia continua o Moita a opinar nas TVs o mesmo pensamento que debitava no "bom" blog colectivo que o enviou directamente para o gabinete do ministro coitadinho Santos Pereira.
Um blog pode contar a história de um povoado, de uma aldeia ou pequena vila e bem ou mal escrito será sempre um arquivo à didosição dos vindouros, não?
O ponto de vista do senhor embaixador é, retintamente, o de senhor embaixador que acha mais importante que tudo escrever bem histórias de embaixadores.
jose neves
adequado oumuitas vezes, come outros mbons até deram
Mas ainda são muitos os blogs deliciosos, com qualidade. Continuo deliciado pela blogosfera, muito mais do que por Facebook e Twitter - e costumo ir a estas redes ler coisas, mais mas do que boas. Talvez por causa deste condimento de ser resistência, continuo a valorizar muito a blogosfera.
Por favor
Não deixe de escrever
Maria Isabel
Felizmente, ainda existem blogs que valem a pena ler :).
Beijinhos
Blog: Life of Cherry
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