quarta-feira, maio 29, 2024

Zelensky e a vontade portuguesa

Zelensky esteve seis horas em Portugal. Foi recebido com inédita atenção institucional e, de tudo quanto ouviu dos seus interlocutores, pôde levar uma certeza: Portugal é, no seio dos Estados europeus, um dos que se afirmam politicamente mais empenhados no apoio ao seu país. Nesse aspeto, Montenegro e Marcelo estiveram impecáveis, na forma e na substância. Para esta última, teria feito falta um pacote financeiro mais forte. Mas a vida é o que é e cada um dá o que pode - e Portugal avançou com um envelope simpático, à sua medida. Em síntese: face ao compromisso político assumido desde o início desta guerra, Portugal foi coerente, com a mudança de governo a não afetar minimamente a posição do país. Pode dizer-se que, por parte deste governo, Zelensky tem vindo a poder contar com uma atitude talvez mesmo um pouco mais aberta no tocante ao apoio à adesão à União Europeia e à NATO. António Costa tinha sempre usado uma linguagem mais cautelosa. Luís Montenegro deixou cair as cautelas. Verdade seja que pouco passará por nós, se e quando essas decisões vierem a ser tomadas. Mas Zelensky ficou a saber que, em qualquer circunstância, Lisboa não fará parte do problema, no que depender de quem atualmente fala pelo nosso país. Valeu a pena a Zelensky ter vindo a Lisboa? Valeu, num tempo em que todos os apoios não são demais para a cada vez mais difícil aposta nacional que titula. Valeu a pena toda a coreografia de apoio político que governo e presidente desenvolveram, embora com um eco mediático que chegou a roçar algum ridículo pelo exagero? Politicamente, Portugal aproveitou para sublinhar bem a sua inequívoca postura - repito, coerente com a opção política tomada, e sem falhas, desde o primeiro momento. Além disso, na perspetiva dos interesses dos nossos atores institucionais, sim, com certeza, porque é sempre interessante para líderes políticos colarem-se a causas que sabem ser populares - e o apoio à Ucrânia, manifestamente, é, nos dias de hoje, uma causa popular e uma indiscutível tendência maioritária em Portugal. Ficaram todos muito bem na fotografia. 

terça-feira, maio 28, 2024

Zelensky

Sente-se uma despropositada excitação em torno da deslocação de Zelensky a Portugal. A visita tem uma importância apenas relativa. Insere-se no périplo ritual do líder ucraniano aos países que têm apoiado a sua luta. E o que vai ser assinado será mais simbólico do que relevante para essa mesma luta.

A paz interrompida


Entrevista hoje concedida ao “Diário Insular”, de Angra do Heroísmo, cidade onde amanhã vou proferir uma conferência sobre “Portugal e a paz interrompida" .


O mundo parece desassossegado em níveis muito elevados. É o costume ou estaremos perante tempos particularmente perigosos? 

Não é o costume. No caso da invasão da Ucrânia, estamos perante uma rotura grave no sistema internacional. Um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, órgão decisivo para a credibilidade de uma organização que se assume como a plataforma reguladora da paz internacional, abandonou o terreno do diálogo e optou pela guerra, afrontando o Direito Internacional. Não é a primeira vez que isso acontece – e nem sempre foi a Rússia a fazê-lo, relembro. Contudo, o modo muito particular como o desafio colocado por esta ação russa se projeta no equilíbrio estratégico global não tem comparação com qualquer caso anterior. Até por que, no momento atual, constatamos estar-se perante uma óbvia guerra de cariz expansionista. Basta ver o modo como a generalidade dos países europeus se sentiram face a esta ameaça para se constatar os riscos novos que esta crise trouxe ao mundo. Já o caso da Palestina é uma recorrência, embora com uma inédita brutalidade bilateral, num conflito que é tão antigo quanto antiga é a ausência de vontade política internacional para impor uma solução política sustentável na região.


A Rússia anda a invadir a Ucrânia há muitos anos, mas parece que o Ocidente só acordou em Fevereiro de 2022 e mesmo assim revelando alguma incapacidade - ou falta de vontade - para um apoio decisivo. Ainda será possível a Ucrânia acreditar no Ocidente em geral e em particular nos EUA e na NATO? 

O mundo ocidental, no termo da Guerra Fria, não terá percebido que a derrota da URSS nunca foi completamente digerida em Moscovo. A verdadeira Rússia não eram Gorbachev ou Ieltsin, a quem, do lado de cá, se achava alguma graça. Isso era assim porque essa era a Rússia que parecia estar a fazer “hara-kiri”, enterrando o passado comunista e mergulhando num liberalismo furioso, que encantou muita gente ocidental, que aliás disso bastante usufruiu. A Rússia que se propôs resgatar a humilhação sofrida depois da queda do muro de Berlim tinha outro nome: Putin. O crescente desequilíbrio da Ucrânia para o lado ocidental, com um deslizar para os braços da NATO, não era aceite por quem estava determinado em refazer, revendo-as por todos os meios possíveis, as novas fronteiras de segurança e de influência que a dura realidade dos factos, posterior à implosão da URSS, lhe havia imposto. Moscovo não quis aceitar uma regra: que perde uma guerra tem sofrer efeitos disso. E a URSS foi a grande derrotada da Guerra Fria. A Ucrânia acabou por ser a vítima colateral deste processo, porque o poder prevalecente em Kiev arriscou levar até ao fim o seu sonho de desafiar a geografia e contou que, deste lado, a iriam ajudá-la a isso. O mundo ocidental fez pouco? Fez aquilo que os seus progressivos consensos lhe permitiram fazer. É muito mais difícil reagir às coisas em democracia do que num estado autocrático, mobilizado pelo despeito e por um movimento, quase religioso, de regeneração nacional, como sucede na Rússia. No nosso mundo, a vontade política, com expressão na força que projeta, passa por um processo de convicção das opiniões públicas, que demora o seu tempo. Além do mais, temos de gerir a diversidade dos vários poderes e as suas diferenciadas sensibilidades geopolíticas. Basta olhar para o processo decisório na União Europeia para entender isto. Por isso, acho que não nos devemos auto-flagelar. 


"Espaço vital", uma designação de má memória, já foi utilizado para definir o que estará por detrás das movimentações russas. Há historiadores e analistas que já falam abertamente um clima pré-guerra generalizada, bebendo o exemplo do que se passou na Europa antes da II Guerra Mundial. Qual a sua visão? 

Não creio que a Rússia esteja interessada numa guerra global. E, do lado de cá, acho que os Estados Unidos também não desejam isso. Até porque, goste-se ou não, esta não é uma guerra vital para Washington, a menos que nesse sentido vital se incorpore o orgulho que ficaria ferido por um recuo na Ucrânia. Mas a América já passou por muitas humilhações e nem por isso deixou de aprender e ir em frente: o Vietnam, o Iraque, o Afeganistão foram guerras que correram muito mal aos EUA. E o mundo não deixou de observar isso. Para os EUA, o verdadeiro desafio – estratégico, em todos os sentidos – chama-se China. A agressividade de Putin na Ucrânia, não terá sido de todo inesperada, atendendo ao que já se tinha passado na Geórgia e no posterior “meter ao bolso” da Crimeia. Contudo, imagino que o desafio terá sido maior do que Washington esperava. E julgo que a ideia americana é a de que esta é, no fundo, uma guerra que a Europa deveria conseguir tratar. Mas reconheço que falar de “ideia americana” é um conceito um pouco vago, é esquecer que, no dia 5 de novembro, podemos ter outra América, um filme de terror de que já vimos o “trailer”.


Estarão criadas as condições para um conflito que oponha democracias a regimes totalitários, tendo como pano de fundo, por exemplo, uma disputa pela alteração e pela liderança da ordem mundial ainda vigente? 

Julgo que ninguém cairá na asneira de arriscar um conflito nuclear para tentar impor a democracia no mundo. Até porque, no Direito Internacional – e isto é uma realidade, mesmo que desagradável de ouvir - as democracias não têm um estatuto e uma dignidade institucional superior às autocracias. Basta olhar para a composição da ONU. Dividir o mundo entre “bons” e “maus” deu-nos décadas de Guerra Fria. E, no fim, isso não resultou num “mundo de bons”. E convém lembrar que, nesse tempo, os “bons” acomodaram muitas vezes o seu interesse em cumplicidade com sinistras ditaduras, com “maus” que davam jeito. O mundo ideal, com todos em paz, liberdade e pombas brancas a voarem, não existe nem existirá. A solução para uma paz possível é sempre alargar e conseguir a convivência entre regimes de sinal diferente. As Nações Unidas eram isso mesmo. O ótimo é sempre inimigo do bom. 


O conflito na Terra Santa parece eterno e reacende-se sempre com grande crueldade. O conflito em curso será "mais um" ou, pelo contrário, poderá ser enquadrado num movimento mais vasto que envolva uma disputa estratégica por parte de grandes potências globais, com apetência para tal ou meramente regionais? 

Não parece haver sinais de que estejamos perante um conflito com um forte potencial de alastramento. O mundo, aliás, parece viver confortável com o papel relevante que os EUA ali desempenham, o que muito limita esse risco. Para a América, para além de ser uma questão de política interna, Israel é um “asset” geopolítico. Trata-se de uma espécie de “enclave” ocidental que, no fim do dia, Washington utilizou, mais ou menos discretamente, para intervir, sem demasiadas “boots on the ground”, numa região que é vital, quer para a América quer para o mundo ocidental, a vários títulos - do campo energético ao logístico, passando pelo controlo do terrorismo islamista. O que se passou nos últimos meses, contudo, acarretou efeitos no relacionamento israelo-americano que pode vir a alterar alguns dos pressupostos tradicionais que ali vigoravam. 


Parece que a paz entre os homens não é possível... Podemos arrolar conflitos desde os caçadores-recolectores até ao dia de hoje. Como vê um diplomata um mundo (um ser humano...) tão violente e em permanência? 

Um diplomata é sempre um “possibilista”, isto é, é alguém que olha a realidade internacional sob uma perspetiva um tanto fatalista, tentando descortinar o que, no fim de contas, é possível fazer para tornar as coisas melhores. Os conflitos, ao que a experiência nos ensina, fazem parte eterna da vida dos homens e dos Estados, dado que os interesses raramente se acomodam em definitivo. Assim, para a minha profissão, fazer “pontes”, sugerir compromissos e tentar a todo o custo evitar ou suspender conflitos, ou mantê-los com baixa intensidade, é a regra eterna do nosso jogo. Muitas vezes somos mal compreendidos, acham-nos demasiado propensos a posições realistas. Ora nós não fomos votados por ninguém, não temos legitimidade democrática direta. Somos simplesmente uma profissão que ajuda quem tem a legitimidade que lhe foi dada pelo sufrágio a encontrar soluções para que todos possamos sobreviver, na paz que for viável.

Falar claro

Em países onde há eleições basicamente livres, é enganador personalizar a culpa nos líderes: não é Trump quem leva a América a agir de uma certa forma. É a América que escolhe Trump para assim proceder. É a Israel e não a Netanyahu que o mundo deve pedir contas.

segunda-feira, maio 27, 2024

Ainda sem anticiclone

 

Há quartos de hotel com pior vista, não há?

Viajar na TAP com as cores antigas


A fronteira moral

O que se passa em Gaza, com campos de refugiados bombardeados e mais algumas dezenas de civis mortos, começa a estabelecer uma fronteira moral pelo mundo: entre quem não aceita isto e quem, contra toda a evidência, não se escandaliza e acaba sempre por ficar do lado de Israel.

CPLP para quê?


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"Ainda não chegámos à Madeira!"

Um dia, o Partido Socialista vai ter de refletir seriamente sobre as razões pela quais, há quase 50 anos, tem sempre um resultado no máximo sofrível na vida política da Madeira. O PS também já devia ter aprendido que insistir num erro não é o caminho para o sucesso. 

domingo, maio 26, 2024

É só isto

Repito o que digo desde o início. Israel não combate o Hamas, combate o povo palestino. Para Israel, um cidadão palestino tem, claramente, uma dignidade, como ser humano, inferior à de um cidadão israelita. E alguns que se vão indignar com este post pensam exatamente isso mesmo.

Às três da tarde


Sou do tempo do futebol às três da tarde, sempre e só aos domingos. À noite, apenas os jogos internacionais dos clubes, porque até os das seleções (seleção A, seleção B e seleção militar) respeitavam o ritual dominical. Esta modernice de ter jogos a toda a hora e em dias diversos não existia. 

Os relatos na rádio cobriam apenas os dois jogos mais importantes, com saltos na emissão: "Alô, Nuno! Passo às Antas!", dizia Artur Agostinho para Nuno Brás. E lá chegava, alambicada de vez em quando, a "evolução do marcador" nos outros "prélios".

Nos relatos, ia-se sabendo da sorte do "esférico", que os "backs" (béques, dizia-se) tentavam travar, se o "liner" não tivesse marcado "off side" (ainda digo assim...), antes de chegar ao "keeper". 

Querem recordar como começava a "Tarde Desportiva" da Emissora Nacional? Cliquem aqui.

Era um país arrumadinho, era, mas muito chato, convenhamos.

Do Irão a Israel


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A beleza de Lamarr


Esta senhora, se fosse viva, teria 110 anos. Chamava-se Hedy Lamarr, era austríaca, atriz e, a meu ver, tinha uma beleza única e quase intemporal. Posso dizer isto? Ao fazê-lo, não estarei a ser sexista, a sublinhar meras e discutíveis dimensões estéticas, a praticar um ato de discriminação face a todas as mulheres que não têm estes traços?

Manchester


Quando, nos anos 90, fui viver para Londres, o futebol britânico, que sempre foi dos melhores do mundo, entusiasmou-me. Não ganhava o dinheiro suficiente para ir ver muitos jogos, mas, apesar disso, tive o ensejo de estar várias vezes dentro de alguns daqueles estádios apinhados, com cânticos permanentes, multidões ululantes, às vezes quase ameaçadoras para quem ia para ali sozinho, sem cachecol nem óbvia preferência. 

Eu era um moderado fã do Arsenal, apreciava também o Tottenham e não gostava do Chelsea, sei lá bem porquê, cujo estádio, aliás, era bem próximo de minha casa. Tive o privilégio de assistir a duas "Cup Final" no velho estádio de Wembley e acompanhei jogos do Benfica, do Porto e do Sporting contra adversários britânicos, em provas europeias. Quatro anos e tal de Londres deram-me muito bom futebol, além de outras alegrias.

Lembrei-me disto ontem, ao ver a emocionante final da Taça, entre o Manchester City e o Manchester United. Contra a corrente dos dias, o United ganhou ao City, que tem tido muitos dos seus últimos anos cobertos de glória, interna e internacional, sob a batuta de Josep Guardiola. As coisas não eram assim naquele meu tempo britânico. Por essa altura, o City era o "parente pobre" da cidade de Manchester, uma espécie de Atletico de Madrid face ao Real, ou do Español face ao Barça. O Manchester United, com uma história gloriosa, e até com uma tragédia pelo meio, era então o clube mais importante, com forte projeção internacional. Nos últimos anos, contudo, o United tem andado "debaixo de água". Ontem, na final da Taça, renasceu por uma vez das cinzas (em 2023/24 ficou em 8° na Premier League) e bateu o rival City por 2-1, assegurando assim um lugar nas competições europeias.

O bom futebol, para quem dele gosta - e eu gosto -, é um imenso prazer.

Reino Unido. As eleições serão em julho.


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Ucrânia. As últimas da guerra


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sábado, maio 25, 2024

Vidas

Os sonhos são tramados. A maioria não recordamos, poucos ficam. Há dias, no confuso contexto de um sonho, cruzei-me com um amigo que já morreu há vários anos. Ele estava concentrado a fazer qualquer coisa e eu abordei-o. Sabia que ele tinha andado doente, tinha consciência e culpa de que não acompanhava como devia o seu estado de saúde, pelo que recordo ter hesitado na forma de o abordar: "Tens andado melhor?", perguntei, a medo. Estaria aborrecido comigo? Não fixei a resposta que me deu, mas apenas anotei que saí da conversa aliviado. É um pouco egoísta pensar assim, mas estar em paz com os mortos é essencial para a nossa vida.

Paulo Lourenço


Tinha 52 anos e a perspetiva de uma bela carreira diplomática, de muitos mais anos, à sua frente. Paulo Lourenço, embaixador de Portugal em Cabo Verde, morreu agora, de forma súbita. 

Os meus sinceros sentimentos à sua família.

House of Windsor

A linguagem e a "coreografia" da casa real britânica, em torno da saúde da mulher do príncipe herdeiro, não prenunciam nada de bom.

Logo se verá


20% menos do que os Trabalhistas é o resultado que as sondagens atribuem aos Conservadores, a caminho das próximas eleições legislativas britânicas, em 4 de julho. Aqui fica o quadro, para compararmos depois com o resultado efetivo. 

A lebre

Há algo que o mundo aprendeu: quando o Reino Unido anuncia a possibilidade de dar um novo passo em termos de ajuda a Kiev, sem que atitude idêntica tenha ainda sido anunciada pelos EUA, isso significa que, cedo ou tarde, Washington fará o mesmo. O RU é apenas uma "lebre" dos EUA.

Fascistas à linha

Os conservadores europeus vão ser proximamente sujeitos a um belo teste: se serão ou não capazes de resistir à sedução de uma aliança com a extrema-direita "apresentável". Quando se começa a pescar fascistas à linha, só porque dão jeito para certas políticas, é o oportunismo a prevalecer sobra a decência. Se assim procederem, adotarão o mais miserável princípio rooseveltiano: "He is a son of a bitch, but he is our son of a bitch".

Aveiro!

A Universidade de Aveiro atribuiu um doutoramento "honoris causa" a Sérgio Godinho. Grande, grande é a universidade que decide tomar uma decisão destas ! Sérgio Godinho projeta-se em várias gerações portuguesas, com liberdade, alegria, sensibilidade e cultura. Viva a Universidade de Aveiro!

Qual é a pressa?

Meses depois do parágrafo ("qual é a pressa?"), António Costa foi ouvido. Confirmando as expetativas, saiu do DIAP ("ainda", acrescenta, hábil, uma folha digital) sem qualquer medida de coação. "Mas isso agora não interessa nada" (como diz alguém). O importante está feito, não é?

sexta-feira, maio 24, 2024

A mancha poupada

Se houve um efeito colateral positivo na convocação antecipada de eleições legislativas no Reino Unido foi o arquivar definitivo da celerada ideia de "exportar" para o Ruanda os candidatos a asilo. Pelo menos, os britânicos ficarão sem essa mancha moral no currículo do país. 

Putin (2)

Viktor Yanukovych, o presidente ucraniano forçado a abandonar país depois de Maiden, em 2014, juntou-se hoje a Putin em Minsk. Será que Putin pretender explorar o argumento do termo formal do mandato presidencial de Zelensky? E irá alegar a "legitimidade" residual de Yanukovych? Seria bizarro, mas, naquele mundo, tudo pode acontecer.

Putin

Segundo várias fontes do Kremlin, ouvidas pela Reuters, Putin poderia estar aberto a um cessar-fogo na Ucrânia, com "congelamento" da atuais linhas de frente. A ver vamos.

A Ucrânia...


... e os riscos que a Rússia e o ocidente fazem correr. 

Ver aqui.

Açores

 


quinta-feira, maio 23, 2024

Já não há


Quem havia de dizer que Nikki Haley surgiria a dizer que vai votar Trump! Há meses, Haley personificava, para uma certa América, a dignidade do combate a Trump. A sua linha de rotura não ia ao extremo de Liz Cheney, mas a notável persistência em campanha, forçando Trump a um dispendioso prolongamento das primárias, mostrava que havia um "outro" Partido Republicano. Decente, caramba!

Havia? Já não há.

quarta-feira, maio 22, 2024

Ubiquidade afetiva


Marcello Duarte Mathias é um diplomata português, reformado. Politicamente, é um homem assumidamente conservador, tendo Franco Nogueira como uma das suas grandes referências. Era diplomata na embaixada de Portugal no Brasil, ao tempo do 25 de Abril. Integra uma família que tem diplomatas em várias gerações, a começar no seu pai, ministro dos Negócios Estrangeiros de Salazar. Tem vasta obra publicada e é, reconhecidamente, uma das melhores "penas" oriundas do Palácio das Necessidades. 

Amândio Silva, que nos deixou há três anos, vivia exilado no Brasil, ao tempo do 25 de Abril. Havia sido combatente na luta contra a ditadura, tendo estado envolvido na Revolta da Sé e feito parte da LUAR, sendo um dos operacionais do sequestro político do voo da TAP entre Casablanca-Lisboa, em 1961. Nos anos 80, foi conselheiro social na embaixada de Portugal em Brasília. Até ao fim dos seus dias, em 2021, esteve envolvido numa multiplicidade de iniciativas para a promoção das relações luso-brasileiras. 

Não sei se Marcello Mathias alguma vez se cruzou com Amândio Silva. Conhecendo-os a ambos, de uma coisa estou em absoluto seguro: em termos políticos, não podiam ser duas pessoas mais diferentes. 

Marcello Mathias lançou hoje, em Cascais, mais um volume de seu diário, que foi apresentado por José Pena do Amaral. As memórias de Amândio Silva foram hoje apresentadas em Lisboa, por Manuel Pedroso Marques. Os lançamentos ocorreram quase à mesma hora. Tinha-me comprometido a ir ao lançamento do livro do Marcello, quando soube da publicação do livro do Amândio, pelo que, naturalmente, me vi obrigado a faltar ao lançamento deste último. 

Em toda esta história, noto que sou amigo do Marcello, que fui amigo do Amândio e que se dá ainda o caso dos apresentadores de ambos os livros serem também bons amigos meus. 

Constatei hoje, uma vez mais, uma insuperável limitação: não consigo atingir a ubiquidade física, isto é, estar em dois lugares ao mesmo tempo. Mas registo, com gosto, que tenho andado por esta vida com uma orgulhosa ubiquidade afetiva.


Portugal e a Palestina


Ver e ouvir aqui

Congratulations

Antes que as coisas se estraguem mais, o primeiro-ministro britânico convocou eleições gerais para 4 de julho. 

Podem começar a enviar desde já parabéns a Sir Keir Rodney Starmer KCB, 10 Downing Street SW1A 2AA, London, United Kingdom.

A coreografia do governo

Posso perceber que este governo queira afirmar bem a sua diferença face ao anterior. O que me parece mais misterioso é que não opte por fazê-lo adotando uma capa dialogante, não confrontacional, sem arrogância, correspondendo à escassez da maioria que tem na Assembleia da República.

Se assim procedesse, dando um ar, verdadeiro ou falso, de estar aberto ao compromisso, julgo que teria uma muito maior possibilidade de, um dia, poder vir a argumentar de que, não obstante toda a sua boa vontade, não consegue governar, por obstrução sistemática por parte da oposição.

O país reconheceria então que o governo se tinha esforçado, mas que a falta de uma sólida maioria parlamentar o tinha impedido de fazer melhor. E isso sublinharia melhor o contraste entre a sua postura e o comportamento "negativo" da oposição. Deste modo, se viesse a ocorrer uma crise institucional, com impacto da funcionalidade do executivo, com necessidade de recurso a eleições, o governo poderia vir a surgir como uma "vítima" aos olhos do país, com a "recompensa" que isso lhe poderia render em termos de votos numa eleição.

Por que razão o governo não se comporta de forma diferente?

Coloquei esta questão, há dias, a uma figura histórica do PSD, por quem tenho grande respeito. A sua resposta foi, no mínimo, desconcertante. Concordando comigo em que uma atitude dialogante poderia ser mais vantajosa, disse-me ser sua opinião que o PSD dos dias de hoje, naquilo que é relevante em termos de decisão política, quase não dispõe de personalidades de outro género do que as que foram aculturadas num clima de agressividade verbal, de quebra de pontes políticas, de "trincheiras" mediáticas e parlamentares. O "jejum" de poder nos últimos oito anos terá agravado esta postura, pelo que, ao lado de Luís Montenegro, há hoje um grupo de assanhados e intraváveis "jeunes loups", muitos com alguma qualidade política, mas todos marcador por essa inescapável atitude "guerrilheira". O PSD do passado, na perspetiva dessa figura, já quase não existe e, em especial, não tem influência na condução do partido. Mesmo o atual governo parece ter sido escolhido para fazer uma política assim, mantendo esta atitude como doutrina.

Será mesmo assim?

terça-feira, maio 21, 2024

AGAVI


Sabem o que é a Agavi? É a Associação para a Promoção da Gastronomia, Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade, uma associação empresarial sem fins lucrativos, com sede no Porto. Sou membro fundador e integro o Conselho Superior da Agavi desde 2010.

Ontem, no quadro da iniciativa da Agavi "Ideias à Prova", falei por lá de Portugal e do estado do mundo, para umas dezenas de associados. Mais sobre a Agavi aqui.

Deixo o menu do jantar. A inveja é um sentimento pouco nobre, sabiam?

segunda-feira, maio 20, 2024

Gaudin


Um dia de 2010, quando era embaixador em França, fui alertado para o facto de uma empresa portuguesa de construção civil, sedeada em Braga e que operava em Marselha, se queixar de estar a ser objeto de uma persistente perseguição por parte da inspeção do trabalho municipal. As obras que executava eram também municipais.

Constantes visitas dos inspetores aos locais de trabalho e várias multas indiciavam, na perspetiva da empresa, que estava a ser vítima de uma espécie de "bullying", desincentivador da continuidade das suas operações. Conhecido que era o ambiente algo "mafioso" que existia nos meios sindicais de Marselha, tudo era possível. Não podia excluir-se que sl guns dos competidores franceses da empresa no pudessem estar por detrás desta operação intimidatória. A AICEP tinha recebido a queixa e pedia-me para intervir. 

Que fazer? Há algo que aprendi do exercício da diplomacia: nunca devemos tomar por verdadeira uma qualquer queixa só pelo facto do queixoso ser português. Algumas vezes caí nessa asneira e arrependi-me Mas, naturalmente, estando uma empresa nacional na origem de uma reclamação, o embaixador tinha a estrita obrigação de averiguar e atuar, até ao limite do possível e do razoável.

Sabia que uma discriminação como aquela que era denunciada seria sempre muito difícil de provar. A menos que tivesse havido acusações depois infirmadas pela justiça, era complicado arguir que se tratava de uma deliberada perseguição. Mas não custava tentar. Olho sempre para este tipo de situações como para os "cartões amarelos" que alguns árbitros de futebol mostram, com vista a atemorizar as equipas que pretendem pressionar.

Dramatizar politicamente o problema, para apelar ao reconhecimento oficial de uma possível discriminação, era a única solução que via como possível. Através da nossa Cônsul-Geral em Marselha, pedi que fosse marcada um reunião minha, com caráter de urgência, com o poderoso presidente da câmara municipal de Marselha, Jean-Claude Gaudin.

Gaudin era uma figura bastante conhecida na política francesa. Havia sido o frustrado mas histórico competidor do socialista Gaston Deferre na liderança política da cidade. Tendo chegado a vice-presidente do Senado, chefiou interinamente o partido gaullista, UMP, no período de transição entre Alain Juppé e Nicolas Sarkozy. Viria finalmente a presidir ao município de Marselha por um longo tempo, entre 1995 e 2020. 

Não posso esconder que, muito mais do que algumas vedetas com projeção internacional, tive sempre grande curiosidade em conhecer este tipo de figuras intermédias da política, em especial aqueles que acabaram por ficar na soleira da glória.

Chegado a Marselha, comecei por ter uma primeira reunião com a nossa cônsul-Geral e com a empresa portuguesa, com vista a apurar queixas desta. Fiz depois uma visita às obras. Finalmente, fui recebido por Gaudin.

O gabinete de Gaudin, recordo, era imenso. A varanda sobre a cidade, sobre o magnífico Vieux Port, de que guardo algures uma fotografia com ele, era imponente. Tudo aquilo ressoava a poder.

A série televisiva "Marseille", que está na Netflix, com Gérard Depardieu como protagonista, lembra fisicamente Gaudin e, na amoralidade representada na personagem, recorda o ambicioso político Bernard Tapie, que chegou a proprietário do "Olimpique de Marseille".

Velha raposa, mas pessoalmente muito agradável, Gaudin ouviu-me com uma delicada atenção. Perguntou-me, naturalmente, se acaso eu tinha algumas provas concretas no tocante a ameaças sobre a empresa portuguesa. Disse-lhe o óbvio: que não, que apenas tinha relatos e a listagem de insistentes inspeções sucessivas. E acrescentei que sabia que isso não constituía prova, mas apelava a um seu juízo de equidade. Gaudin não reagiu. Ao seu lado, notei que assessores se agitavam, talvez temerosos de que ele viesse a atender às minhas razões.

Como não guardo papéis, a esta distância temporal, não faço ideia de como o assunto se resolveu. Terá a empresa de Braga tido vencimento na sua causa? Só posso esperar que sim. Por mim, fiz o que pude.

Acabo de saber que Jean-Claude Gaudin morreu hoje, com 84 anos. Cada vez mais, as histórias que por aqui conto, estão recheadas de gente que já se foi. Que chatice!

Ponto

A ver se nos entendemos. O presidente da AR, pelo regimento, não pode impedir um deputado de dizer dislates. Mas, pela ética e pela decência, se for um democrata (e tenho Aguiar Branco por um democrata), deve sempre intervir e denunciar quem ataca os valores da República. Ponto.

domingo, maio 19, 2024

Luxos

Hoje, o Alfa Pendular em direção ao Porto parou no apeadeiro de Vila Nova de Anços. Há dias, foi a aurora boreal. Ontem foi o meteorito. Qualquer dia oferecem-nos lua cheia! Este governo estraga-nos com mimos! Não será demais? Vejam lá as contas públicas...

Vida nova

Para que se não diga que não comemoro a vitória do (meu) Sporting no campeonato, mudei, por algum tempo, a cor do título. Alguns dirão: só isso? Exatamente. Eu sou de júbilos sóbrios.

A máscara


Fiquei sem muitas palavras. Um amigo, daqueles que me conhecem "de gingeira", disse-me, há pouco, com uma crueldade nada compatível com o que se esperaria de uma chamada telefónica, para saber da vida, num fim de semana: "Passas o tempo a falar dos livros, mas a verdade - confessa lá! - é que o teu grande vício são os écrans, de vídeo ou da internet!" E não é que ele tem toda a razão, embora eu não lha reconheça?! 

Tudologia

Hoje, lembrei-me de um amigo, frequentemente convidado para falar em público de "tudo e mais um par de botas", que um dia me disse, com ironia: "Com a idade que tenho, já falo de quase tudo, exceto de algumas ciências exatas". Não o convidaram "sobre o meteorito", espero!

Nota da noite


Quando miúdo, lembro-me de o meu pai se irritar quando, no início dos oficiosos noticiários da Emissora Nacional, surgia a "Nota do Dia". "Lá vem o recado do Botas! O que é que ele quer hoje?", exclamava, referindo-se a Salazar. 

A Nota era como que um editorial, creio que com pouco mais de um minuto, escrito por um plumitivo qualificado, lido com a voz solene e grave adequada à emissora do regime. Eram textos num português gongórico, laudatórios para o poder e implacáveis na denúncia dos inimigos da "situação" - como então se designava o ambiente político que tutelava o país. Recordo-me, em especial, das virulentas diatribes contra os "terroristas" que então ameaçavam "as nossas possessões ultramarinas".

Homem que sempre senti do "reviralho", saudável vício de toda a minha família oriunda de Viana do Castelo, o que me influenciou para a vida, as manifestações de desagrado político por parte do meu pai, funcionário público sem outros meios de fortuna para sustentar a família, ficavam-se, naturalmente, pelo ambiente doméstico e por conversas tidas num grupo de amigos mais próximos, com o qual, ao final da tarde, quando o tempo de Vila Real ajudava, dava umas voltas à Avenida Carvalho Araújo.

Era assim o país que então "vivia habitualmente", como Salazar dizia que o país gostava de viver, até ao 25 de Abril, uma das datas de maior felicidade na vida do meu pai. 

Por que diabo me terei lembrado agora das "Notas do Dia" da Emissora Nacional? 

(Em tempo: Já foi azar! A escrever isto, perdi o meteorito de Castro Daire!)

Na mãe das democracias

Quem se escandaliza pelo facto de se exigir ao presidente da Assembleia da República que evite linguagem ofensiva, talvez devesse visitar a Câmara dos Comuns britânica, onde, sob ordens do "speaker", o "serjeant-at-arms" pode expulsar deputados que usem palavras impróprias.

sábado, maio 18, 2024

O poder da China

O "red carpet treatment" dado a Putin por Xi Jiping, depois da visita que fez à Sérvia e Hungria, parece ser um sinal claro, e definitivo, para os EUA. Na mesma lógica, a China não irá à cimeira na Suiça. Putin rejubila, claro. 

Justi$$a

Acho delicioso o eufemismo sindical dos oficiais de justiça perante a oferta salarial: pedem ao governo para "robustecer a proposta" em termos financeiros. Raramente pedir "mais massa" foi expresso de forma tão elegante.

A direita e a liberdade

Alguns vieram a jogo dizer que Aguiar Branco defendeu a liberdade e que essa é uma atitude própria da sua área política. Só podem estar a brincar. A ideia de que é a direita que, predominantemente, pratica a liberdade tem apenas um pequeno mas imenso senão: a História.

Leiam

Foi divulgado pelo "Die Welt" e pelo "Le Figaro" o acordo de paz que esteve prestes a ser assinado entre a Ucrânia e a Rússia, em março de 2022, com intermediação da Turquia. Nada está igual. Muita gente morreu entretanto, muito ódio se gerou. Importa, contudo, ler o texto.

A ameaça russa


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Sánchez ou a vitória de um refém


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Os EUA, Israel e o futuro de Gaza


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sexta-feira, maio 17, 2024

Embaixadores - a função e o título

Tem-se vindo a falar por aí do título de "embaixador". 

Embaixador designa uma função que se exerce, mas pode ser também uma categoria profissional que se atinge. Trata-se de duas realidades que nem sempre são coincidentes.

A maioria das embaixadas portuguesas são chefiadas por diplomatas que exercem essa função "com credenciais de embaixador". Na hierarquia do Ministério dos Negócios Estrangeiros, essas pessoas ascenderam à penúltima categoria da carreira, a de "ministros plenipotenciários", e, como tal, tiveram a possibilidade de vir a ser escolhidas para dirigir uma missão diplomática. São "embaixadores de Portugal em ...", são tratados por "embaixadores" e manda a tradição que, a partir de então, no seio do MNE, passem a ser designados para sempre como tal.

Esse período de exercício, que frequentemente acontece sucessivamente em mais do que um posto, permite apurar quem, de entre esses "ministros plenipotenciários", se distingue no desempenho da chefia das missões diplomáticas ou de consulados-gerais. De entre esses diplomatas, alguns - muito poucos - virão mais tarde a ser escolhidos para ascenderem ao topo da carreira, isto é, a uma categoria chamada de "embaixador". 

Essa categoria, superior e máxima na hierarquia, tem um número muito limitado de vagas, representando menos de 10% da totalidade dos diplomatas da carreira diplomática portuguesa. Os diplomatas que ascendem a essa categoria têm, neste caso por direito próprio e não apenas por tradição, como nos casos anteriores, direito a usar o título permanente e vitalício de "embaixador". Antigamente, era vulgar distinguir estes diplomatas designando-os como "embaixadores de número", precisamente para sublinhar a escassez dos lugares a que tinham ascendido. Os britânicos chamam aos diplomatas que chegaram ao topo da sua carreira "full rank ambassadors" e os franceses designam-nos como "ambassadeurs de France".

Não sei se ocorreram outros casos, mas, curiosamente, houve pelo menos dois "embaixadores de número" que nunca exerceram funções de chefia de uma embaixada, em ambos os casos durante o Estado Novo. O primeiro foi o embaixador Teixeira de Sampaio, que foi secretário-geral do MNE, e o outro o embaixador Franco Nogueira, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros.

Bom senso e bom gosto

Aguiar Branco faria bem se se retratasse muito rapidamente, em face do que disse sobre as tomadas de posição racistas. Ele não pode pensar isso e, seguramente, foi uma afirmação precipitada. Se a mantiver, colar-se-lhe-á à pele para o resto da vida.

Botão errado


Foi ontem à tarde, na Fundação José Saramago. A homenagem ao Nuno Júdice era no 4° andar. Distraidamente, carreguei no botão do 3° andar. Ia a sair ali, quando fui avisado do erro. Travei a tempo! Nesse andar é a livraria da Fundação e, conhecendo-me, não passava sem comprar algum livro. Não julguem que estou a brincar! Não estou. Tenho uma compulsão doentia para a compra de livros, quando eles me aparecem pela frente. Estive na Hungria em meados de abril e, claro, fui visitar uma livraria que conhecia em Budapeste. Comprei lá um guia da Holanda, país onde fui por uns dias no fim do mesmo mês. Na Haia, abasteci-me numa livraria em saldos, na rua principal da cidade. Há dias, na Universidade Católica, onde ia moderar uma palestra, enganei-me e entrei pelo piso de baixo. O que eu fui fazer! À esquerda, existe uma ótima livraria e, claro, não saí de lá sem três livros. Há anos que me sinto embaraçado (ia escrever envergonhado, mas já perdi a vergonha) quando chego a casa e os sacos que trago na mão são olhados com ar crítico por quem acha que viver com 132 livros no quarto de dormir (contei-os hoje) é talvez um exagero. Além, claro, de alguns milhares em outras estantes pela casa, fora os incontáveis que estão em Vila Real e os muitos que a biblioteca municipal da cidade já guarda no Fundo Bibliográfico com o meu nome. Este fim de semana vou ao Porto e, à ida e à volta, vou encontrar nas estações de caminhos de ferro umas tentadoras lojas, com fundos de edição ao preço da chuva. Já estou a imaginar o que vai suceder... Daqui a dias, vou palestrar aos Açores: qual é a melhor livraria de Angra do Heroísmo? Logo de seguida, vou a França. Vai ser um "desastre"! A propósito: quando é que abre a Feira do Livro? 

(A imagem é só para ilustrar o texto, não é da minha casa, juro!)

quinta-feira, maio 16, 2024

É só saúde!

É fantástica a súbita "onda de saúde" que se espalhou pelo país. Em poucos meses, não são mostradas filas nas urgências dos hospitais e os telejornais já não abrem com as tragédias no SNS. Se calhar, até as listas de espera para operações diminuiram! Tudo sem crise nem vergonha!

Russos

A porta-voz do governo russo pronunciou-se sobre as relações do seu país com Portugal: estão no mais baixo nível de sempre. A menos que Portugal tenha feito algo (muito improvável) de especificamente anti-russo, quero crer que essa deverá ser a resposta "standard" relativa aos aliados da Ucrânia. Ou estarei enganado e haverá algo que desconheço?  

O futuro da diplomacia


A convite de Jaime Quesado, que dirige a iniciativa "Sharing Knowledge", tive ontem o gosto de fazer uma palestra, no Palácio Galveias, em Lisboa, sob o tema "O futuro da diplomacia". 

Falei dos desafios técnicos da diplomacia contemporânea mas, essencialmente, do quadro de tensões internacionais que serve de moldura à atual ação diplomática. 

O debate que se seguiu, por mais de uma hora, numa sala que se encheu, foi muito animado e participado.

O meu sincero agradecimento ao Jaime Quesado por esta ocasião e pelo seu já longo empenhamento no utilíssimo "Sharing Knowledge".

quarta-feira, maio 15, 2024

Não nos desiludam!

Já há abaixo-assinados contra a decisão sobre o novo aeroporto? E providências cautelares? Então e as objeções ambientais, de invejas locais, de natureza financeira e toda a lista de problemas que os cultores do imobilismo vinham a acumular há décadas? Não nos desiludam!

Mostrar o periscópio

Pressentindo que o país, nas próximas eleições presidenciais, pode preferir um estilo mais sóbrio, o senhor almirante começa a alambicar declarações patrióticas, ao jeito jingoísta dos dias. É tudo tão óbvio!

Notícias do comércio livre

Com a aproximação das eleições, Biden "faz peito" e reforça o protecionismo americano face à China. Verdade seja que, historicamente, os democratas foram quase sempre mais restritivos em matéria de comércio externo, por virtude de neles os sindicatos terem uma maior influência.

A pax chinesa

Putin diz que apoia o plano de paz apresentado pela China, em 2023, para o conflito com a Ucrânia. O texto chinês, se bem recordo, era um monte de ambíguas obviedades, algumas incompatíveis entre si. Dito isto, é bom ver Pequim (não, não escrevo Beijing) de regresso ao tema.

Reforma


Mais 50 pessoas (clique na imagem), de origens bem diferenciadas, assinaram o manifesto para a reforma da Justiça. 

Sabemos que isto vai irritar alguma gente, o que é ótimo.

Ah! Por favor, não comentem sem antes lerem o texto.

Falando de acordos


Ontem, na CNN Portugal, a propósito dos instrumentos jurídicos que, seguramente, estariam a ser preparados para a deslocação - afinal, ainda não será desta! - de Zelensky a Portugal, ouvi-me dizer algo como isto: "Nestas ocasiões, tem sempre de ser assinada qualquer coisa.."

E lembrei-me de uma cena passada, algures na segunda metade do ano de 1976.

Estávamos numa reunião entre delegações presididas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Medeiros Ferreira, e pelo primeiro-ministro e ministro da Cooperação de S. Tomé e Príncipe, Miguel Trovoada, na Sala dos Embaixadores do palácio das Necessidades. 

A discussão tinha uma longa agenda, nesses tempos de resolução de algum contencioso residual da transição pós-colonial e do início dos primeiros modelos de cooperação. Os trabalhos prolongar-se-iam pelo dia seguinte, culminando com uma conferência de imprensa.

Medeiros Ferreira, que, por qualquer misteriosa razão, tinha a seu lado António Sousa Gomes, ministro do Plano e Coordenação Económica (do que eu agora me lembro!), voltou-se para trás, para o adjunto do diretor-geral dos Negócios Económicos (era assim que, à época, se designavam, no MNE, os subdiretores-gerais), Paulo Ennes, e perguntou:

- Não há nada para assinar?

A assinatura de um acordo, ou de um outro instrumento jurídico bilateral, ajuda sempre a "compor" uma visita oficial, produzindo, no imaginário público, resultados mais concretos. Durante muitos anos, quando não havia nada para assinar, era vulgar rubricar-se um "acordo de supressão de vistos em passaportes diplomáticos". Hoje, como esses acordos têm consequências mais sérias, é comum o recurso a "protocolos de cooperação", entre instituições da mais variada natureza. Alguns úteis, outros inócuos.

Paulo Ennes olhou para mim, que tinha o pelouro, passando-me implicitamente "a bola".

- Não, senhor ministro, não vai haver nada para assinar, respondi. 

No ano anterior, após a independência de S. Tomé e Príncipe, tinha sido firmada uma montanha de acordos e protolocos entre os dois países. Estava praticamente tudo concluído. Vi Medeiros ficar com cara de caso. 

Subitamente, lembrei-me:

- Bom, há um texto que está em estudo no ministério da Saúde. É um protocolo de cooperação que permite prolongar, para a época depois da independência, a possibilidade dos funcionários públicos de S. Tomé terem acesso ao antigo hospital do Ultramar, bem como outras facilidades. Mas não sei em que pé está essa apreciação...

Pouco tempo antes, eu tinha sido mandado pelo governo a S. Tomé e Príncipe, durante uma semana, numa rara missão de serviço para ser executada por um "adido de embaixada" com menos de seis meses de casa, e recebera pessoalmente esse pedido do ministro da Saúde santomense, Carlos Graça.

Medeiros Ferreira ficou interessado.

- Veja isso já com o gabinete do ministro da Saúde! Era bom termos algo para assinar amanhã, disse, voltando-se para a frente, prosseguindo a reunião.

Paulo Ennes, excelente amigo e magnífico diplomata, olhou-me e sorriu, como que a dizer: "Já que 'abriu a porta', agora amanhe-se...". E eu fiquei com a "batata quente". 

Arranquei para o meu local de trabalho e falei para o Ministério da Saúde. O meu interlocutor foi um adjunto do ministro, de seu nome Paulo Mendo, o qual, anos mais tarde, viria a ser ministro da pasta.

Por um milagre, daqueles que acontecem uma vez na nossa vida burocrática, o assunto já estava desbloqueado, com parecer positivo. No meu carro, fui pessoalmente ao Ministério da Saúde buscar o texto e conferi-o, minutos depois, com alguém da embaixada santomense, que, sem problemas, anuiu a tudo, tanto mais que o protocolo só tinha efeitos unilaterais a seu favor.

Regressei às Necessidade e mandei dactilografar o acordo, um texto curto, de duas páginas. Disse à senhora (as dactilógrafas eram, nesse tempo, todas mulheres) para fazer dois exemplares: um para nós, que abria com "A República Portuguesa e a República Democrática de S. Tomé e Príncipe..." e outro para S. Tomé, em que a ordem dos países era trocada. 

Para quem não saiba, a regra é que, num acordo, cada país fique com a cópia que começa com o seu nome. O mesmo se passa no lugar das assinaturas, na última página, onde, na nossa cópia, a assinatura do nosso responsável se situa do lado esquerdo. Normalmente, cada país tem o seu próprio papel e capas para os acordos, bem como as suas próprias fitas coloridas, que entrançam as folhas, além de usar um sinete próprio, para firmar o lacre. Liturgias da diplomacia universal...

No dia seguinte, na tarde da cerimónia da assinatura, que antecedia a conferência de imprensa, tudo correu impecavelmente. Ainda tenho uma fotografia dessa cena publicada no "Diário de Notícias", comigo num inenarrável e inadequado blazer cinza, de cara grave, com um cabelo bastante comprido, largo bigode tipo mexicano e gravata com um nó imenso. A notícia do jornal fala de um "importante instrumento jurídico" assinado nesse dia. O pior foi, no entanto, o dia que estava para vir..

Nessa manhã, fui acordado bem cedo, em casa, pelo meu interlocutor da embaixada santomense, quase em pânico. É que, na cópia santomense, o nome do seu país não estava apenas trocado no início do texto: em vários pontos do articulado, onde, por exemplo, na cópia portuguesa, se lia que "Portugal compromete-se a facilitar o acesso às suas unidades hospitalares aos funcionários públicos de S. Tomé e Príncipe", surgia "S. Tomé e Príncipe compromete-se a facilitar o acesso às suas unidades hospitalares aos funcionários públicos de Portugal"... As "responsabilidades" para S. Tomé passavam a ser imensas!

O que é que acontecera? A dactilógrafa havia feito uma leitura "extensiva" da instrução que eu lhe dera para a troca dos nomes dos países, decidindo mudá-los ao longo de todo o texto do acordo. A culpa do que acontecera era, claro, totalmente minha, que, com a precipitação, não tinha tido o cuidado de fazer a verificação cuidada dos dois exemplares do acordo.

Levei algum tempo a acalmar o meu colega santomense, explicando-lhe que, mesmo depois de assinado pelo seu primeiro-ministro, o texto só seria válido após publicado e, naturalmente, isso nunca aconteceria antes de estarem feitas as devidas correções. E, logo nessa tarde, fez-se um novo exemplar, que se pediu, já não sei bem com que argumentário, que o nosso ministro assinasse. E tudo se resolveu, claro. 

Por muito tempo, guardei esse extraordinário exemplar, subscrito por Miguel Trovoada e Medeiros Ferreira, onde S. Tomé se "comprometia", por exemplo, a "facilitar o envio para Portugal de medicamentos" e outros modelos similares, mas impraticáveis, de cooperação recíproca!

Passados muitos anos, numa noite na nossa comum tertúlia na Mesa Dois do "Procópio", contei a história ao José Medeiros Ferreira - o qual, recorde-se, nos deixou faz agora uma década. Ainda tenho no ouvido a sua imensa gargalhada!

Retratos


O rei britânico tem um novo retrato. Terá demorado quatro anos a executar. Eu gosto. Quem fará o retrato oficial do presidente Marcelo Rebelo de Sousa?

Que rico spam!

Passei agora pelo "spam" do meu email. Nem imaginam o dinheiro que tenho para receber! Milhares e milhares de euros e dólares. Só boas notícias! O mundo é tão generoso!

Extraordinário!

Acho extraordinário - não estou a exagerar, acho mesmo extraordinário! - que o ministro das Finanças não tenha falado à comunicação social no final da reunião do Eurogrupo. Passa-se alguma coisa que o país não saiba?

terça-feira, maio 14, 2024

É a vida?


O PS não tem pena de não ter sido um seu governo a anunciar o novo aeroporto (não conta, claro, o "anúncio" feito por Pedro Nuno Santos!)? O PS deixou toda a "papa" feita e o PSD, sem mexer uma palha, fica com a glória da decisão. Neste caso, o PS só se pode queixar do PS.

Muito bem!

Acho muito bem que o primeiro-ministro português tenha decidido fazer hoje, às 20 horas, uma comunicação ao país, com vista a reagir, com a firmeza que a decência exige, ao inaceitável ato racista e xenófobo de que foi vítima uma criança nepalesa. 

Muito bem, Luís Montenegro! Que as mãos não lhe doam!

A matemática das bolachas


Quase todas as madrugadas, pé-ante-pé, para não suscitar críticas caseiras, deslizo até à cozinha em busca de um sustento complementar, porque isto de se viver muito já dentro da noite tem, podem crer, bastante que se lhe diga. E as bolachas são a minha perdição. Descobri umas excelentes, no domingo, na mercearia do Miguel, ali em frente à embaixada de França. Há pouco mais de uma hora, encerrado o expediente familiar, fui discretamente à cozinha buscar meia dúzia dessas bolachas. Foram exatamente seis, lembro-me bem. Sentei-me no sofá a ler e a verdade é que, poucos minutos tinham passado e as seis bolachas já tinham desaparecido. Imaginei então o que teria ouvido se acaso tivesse sido apanhado, nessa pecaminosa deglutição doce, por quem me acompanha os dias, mas, às vezes, me perde por algum tempo na solidão silenciosa das noites domésticas: "Devias comer menos bolachas! Fazem-te mal". A palavra "menos", confesso, calou-me fundo. E tive um rebate de consciência. Era verdade! Estava a comer demasiadas bolachas. Seis! Era um exagero glutão. Não podia ser! De facto, tinha de começar a reduzir o número de bolachas. Levantei-me do sofá, fui de novo à cozinha e trouxe quatro bolachas. Começava bem: passava de seis a quatro bolachas. Estou aqui a escrever isto e as quatro bolachas, entretanto, também já marcharam e dou comigo a pensar: ainda volto à cozinha e trago só duas bolachas. É que assim passo a metade da última vez! Cada vez menos bolachas! Esse é o caminho! Good guy!

Tutorial europeu (2)

Gostava de lembrar duas coisas, a propósito de uma menção feita ao alargamento da União Europeia ao Kosovo (alguém falou hoje nisso, embora o Kosovo não seja sequer candidato): o Kosovo não é reconhecido como Estado por todos os países da União Europeia e não é membro da ONU.

segunda-feira, maio 13, 2024

Tutorial europeu

Há por aí quem não saiba que uma eventual escolha de António Costa para presidente do Conselho Europeu, se acaso viesse a ter lugar, seria feita por voto maioritário no seio do próprio Conselho. E que o Parlamento Europeu não tem rigorosamente nada a ver com essa designação.

Basta olhar


A expressão "uma imagem vale mais do que mil palavras" é bem adequada para ilustrar esta fotografia do encontro de hoje entre o presidente da Sérvia e o MNE ucraniano. Basta esta imagem, que ambos quiseram que fosse tal como ela é, para percebermos o estado atual das relações entre os dois países. 

A fórmula de Garrincha

Foi no Mundial de 1958. Garrinha estava a ser instruído pelo treinador Feola sobre o modo de ultrapassar a defesa russa. Feola dava sucessivas dicas a Garrincha sobre como atrair e derrotar, sucessivamente, os jogadores russos, até conseguir chegar à linha de fundo e centrar para a cabeça de Vává. O dispositivo era descrito de forma tão precisa, com decorrências tão automáticas no colapso da defesa então soviética, que Garrincha, a certo ponto, não se terá contido e perguntou: "E já combinaram com os russos?"

A frase ficou até hoje e é utilizada regularmente, no dia-a-dia brasileiro, para significar uma situação difícil em que apenas por ingenuidade se pode crer num resultado favorável, por ser essa a nossa vontade, como se o adversário não existisse.

O ocidente, mais cedo ou mais tarde, vai ter de refletir na frase de Garrincha.

"It"s the economy..."

"It"s the economy, stupid!", foi a expressão cunhada por James Carville, na campanha de Clinton em 1992, para identificar o eterno motor do voto na América. 

Na Rússia, o voto é um detalhe, mas ver um político da área económica ir chefiar a Defesa parece provar a atualidade da frase. E leva a pensar que chegou a hora da economia a esta sua guerra. 

sábado, maio 11, 2024

Uma nota para os tristes


Há vários anos que, quando penso (e penso muitas vezes) ir comer ao restaurante "Salsa & Coentros", não longe da Avenida do Brasil, em Lisboa, digo para mim mesmo: vai ser difícil conseguir uma reserva! A relação qualidade/preço é ali extraordinária e a casa está sempre "à pinha", como antes se dizia. É compreensível que assim aconteça, dado o mérito excecional da comida, serviço e preço, como reconhecem todos (repito, todos!) os meus amigos e conhecidos que gostam de comer bem.

Mas é da lei da vida: nem toda a gente pode ser feliz. E infelizes e tristes, pelo menos e pela certa, são os especialistas "selecionadores" do "Time Out" e do "Boa Cama, Boa Mesa", essas "páginas amarelas" da faca-e-garfo, que nunca devem ter conseguido obter reserva para lá poderem ir. É que só assim se justifica que, nas largas dezenas de restaurantes inventariados na sua seleção de mesas lisboetas para este ano, o "Salsa & Coentros", reconhecidamente um dos grandes restaurantes do nosso país, nunca figure. 

Só posso desejar que continuem a tentar, até que um dia venham a ter a sorte de conseguirem sentar-se por lá! Até ver, deixem as vagas (e, em especial as empadas) para nós! Ficam com o telefone, para irem tentando: 218 410 990. Não, não dou o telemóvel do Duarte! Era só o que faltava...

A Ucrânia, claro, falando também da Rússia, da China e da Europa, esta com eleições à porta


Ver aqui.

sexta-feira, maio 10, 2024

Portugal bem

Portugal votou a favor da admissão da Palestina como membro pleno da ONU, numa resolução na Assembleia Geral da organização. A resolução tem um sentido político, mas não tem um efeito vinculativo, porque só o Conselho de Segurança tem essa competência. 

Dentre os membros da União Europeia, abstiveram-se Áustria, Bulgária, Croatia, Finlândia, Alemanha, Itália, Letónia, Lituânia, Holanda, Roménia, Suécia. Votaram contra Rep. Checa e Hungria. 

Foi você que pediu uma política externa europeia?

Só para lembrar

Pertencer à CPLP não obriga um país a seguir a linha política da NATO ou da UE, da qual só Portugal é membro. Relembro ainda que sete dos oito membros da CPLP são países do Sul, em regra menos alinhados com os EUA e em geral propensos a terem boas relações com a China e Rússia.

Carlos Fernando Mathias


Em janeiro de 2005, poucos dias depois de ter assumido funções como embaixador no Brasil, fui informado de que estava na embaixada e tinha manifestado interesse em falar comigo um magistrado brasileiro, o desembargador Carlos Fernando Mathias. 

Como ele não tinha audiência marcada e os meus dias estavam muito preenchidos, perguntei a que título ele queria ver-me. Creio que foi a Daisy, uma das minhas secretárias, que me esclareceu, com um sorriso: "Como grande amigo de Portugal que ele é". Estou ainda a ver a figura pequena e ligeiramente avantajada do visitante a entrar no meu gabinete. Trazia os braços abertos, para um primeiro abraço que me deu, como se me conhecesse de toda a vida.

O Carlos, com a sua mulher Maria Luísa, constituiam um dos mais simpáticos casais de Brasília. O sorriso, naquelas duas caras, era uma imagem de marca permanente. Cedo ficámos bons amigos. Ambos eram visita frequente da nossa residência e recordo sempre a grande festa anual que organizavam no jardim da sua casa, naquele que era um ponto alto da vida social de Brasília, coberto pela reportagem televisiva do Gilberto Amaral - que, com a coluna da Jane Godoy, determinavam então quem era "gente" na sociedade brasiliense. Essa era também uma ocasião que eu aproveitava para visitar a imensa coleção de placas "Cuidado com o cão", em várias línguas, que o Carlos se entretinha a colecionar. Uma delas foi oferecida por mim, creio que trazida de Bangkok.

O meu amigo Carlos Mathias, com uma vida muito ativa no mundo judiciário e universitário, tinha uma caraterística raríssima para quem se movia na complexa sociedade de Brasília: nunca lhe ouvi dizer uma palavra desagradável sobre ninguém. O Carlos era um homem positivo, congregador, apreciado por todos, sempre com uma imensa disponibilidade para os amigos e conhecidos. Ah! E era, de facto, como o vim a provar, um grande amigo de Portugal. Por aqui o voltei a encontrar um par de vezes, com a alegria, a bonomia e a abertura pessoal de sempre.

Do Brasil, dizem-me agora que o Carlos morreu, aos 85 anos. Sabia-o doente há uns tempos e que já tinha atravessado períodos bem difíceis. À Maria Luísa e restante família deixo um forte abraço de pesar e de muita e sincera saudade.

O novo embaixador americano...

... em Portugal, segundo o Inteligência Artificial.