domingo, maio 26, 2024

Às três da tarde


Sou do tempo do futebol às três da tarde, sempre e só aos domingos. À noite, apenas os jogos internacionais dos clubes, porque até os das seleções (seleção A, seleção B e seleção militar) respeitavam o ritual dominical. Esta modernice de ter jogos a toda a hora e em dias diversos não existia. 

Os relatos na rádio cobriam apenas os dois jogos mais importantes, com saltos na emissão: "Alô, Nuno! Passo às Antas!", dizia Artur Agostinho para Nuno Brás. E lá chegava, alambicada de vez em quando, a "evolução do marcador" nos outros "prélios".

Nos relatos, ia-se sabendo da sorte do "esférico", que os "backs" (béques, dizia-se) tentavam travar, se o "liner" não tivesse marcado "off side" (ainda digo assim...), antes de chegar ao "keeper". 

Querem recordar como começava a "Tarde Desportiva" da Emissora Nacional? Cliquem aqui.

Era um país arrumadinho, era, mas muito chato, convenhamos.

11 comentários:

manuel campos disse...


Também tive várias bolas iguaizinhas a esta, era assim que ficavam as magníficas bolas de cauchu ao fim de uma dúzia de jogos nos terrenos baldios.

O Artur Agostinho era amigo do meu Pai, em certos sítios do país pegava-se com as autoridades e de vez em quando era preso, algo que o divertia dado que era uma espécie de "intocável" por esses tempos.

O país era chato mas não me lembro que os outros países (pelo menos os latinos) fossem muito diferentes, basta ver o cinema da época.


Carlos Antunes disse...

Já antes tinha feito este comentário num outro seu post.
Mas agora que voltou à memória dos relatos na Emissora Nacional, não posso deixar de voltar a recordar esta pérola da autoria do inesquecível Nuno Brás na introdução a um relato de um Guimarães-Benfica, no antigo campo da Amorosa:
«Directamente do velhinho Campo da Amorosa e à sombra do vetusto Castelo de Guimarães, multidão enorme para assistir a este Guimarães-Benfica. O quarto elemento da teoria de Einstein apresenta-se hoje de muito bom aspecto, estando assim garantidas todas as condições para a disputa de uma grande partida. Sob a direcção de (???) as equipas alinham (???) … ».
Só o inolvidável Nuno Brás se lembraria de comparar o estado do tempo (temperatura) com o tempo (dimensão temporal de Einstein)!!!
Mesmo no tempo do país arrumadinho, o "falar do futebolês” já era uma arte de antologia.

J Carvalho disse...

Era um país tão arrumadinho e tão chato que nem liberdade tinha. Eu também ia ao futebol, às 16h00 de Verão e às 15h00 no inverno. Tudo no dia santo de guarda.

João Cabral disse...

O senhor embaixador delirava com os estrangeirismos.

João Cabral disse...

Ainda sou do tempo dos trincos, bandeirinhas, guarda-redes, etc.

Flor disse...

Eu também ia pela mão do meu pai ver o Atlético na Tapadinha.

manuel campos disse...


Ali atrás onde está "cinema da época" refiro-me ao que retratava os hábitos de vida rotineiros dos denominados proletariado e baixa e média burguesias.

É que eram esses para quem a ida a um campo de futebol (não havia estádios que se vissem) ao domingo à tarde era a maior aspiração depois de uma semana de trabalho.

Não havendo iluminação nos campos de futebol e havendo ainda muita gente para quem o sábado era um dia de trabalho como os outros, pois ainda não estava o país todo encafuado nas áreas metropolitanas das grandes metrópoles a trabalhar no sector terciário, restava o domingo às três da tarde.

Sem 200 canais para fazer zapping para que é que serviam os domingos?

manuel campos disse...


No "The Guardian": Thousands of Parisians take part in free picnic on the Champs-Élysées.

Pergunta: onde é que já vimos isto?
Resposta: por toda a parte!

Unknown disse...

Por acaso o "meu país" não era tão chato, não tinha nada a ver com a metrópole.

Anónimo disse...

Luisa Santos disse...
E eu lembro -me de passar em Évora, pelas ruas ermas, e ouvir, estridente, pelas janelas ou portas abertas, o relato a quebrar a domingueira monotonia das tardes amorfas, tristes, sem esperança nem sonho, apenas quebradas pelo rasgo da telefonia, tal grito possível na tristeza da planície! País chato e triste, sobretudo.

Luís Lavoura disse...

Sou do tempo do futebol [...] sempre e só aos domingos.

Na Alemanha, por motivos religiosos, o futebol era sempre e só aos sábados.
Não deixa de me surpreender que, num país tão católico quanto Portugal, se tenha sempre achado por bem que os jogadores de futebol trabalhem ao domingo.

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