Tem-se vindo a falar por aí do título de "embaixador".
Embaixador designa uma função que se exerce, mas pode ser também uma categoria profissional que se atinge. Trata-se de duas realidades que nem sempre são coincidentes.
A maioria das embaixadas portuguesas são chefiadas por diplomatas que exercem essa função "com credenciais de embaixador". Na hierarquia do Ministério dos Negócios Estrangeiros, essas pessoas ascenderam à penúltima categoria da carreira, a de "ministros plenipotenciários", e, como tal, tiveram a possibilidade de vir a ser escolhidas para dirigir uma missão diplomática. São "embaixadores de Portugal em ...", são tratados por "embaixadores" e manda a tradição que, a partir de então, no seio do MNE, passem a ser designados para sempre como tal.
Esse período de exercício, que frequentemente acontece sucessivamente em mais do que um posto, permite apurar quem, de entre esses "ministros plenipotenciários", se distingue no desempenho da chefia das missões diplomáticas ou de consulados-gerais. De entre esses diplomatas, alguns - muito poucos - virão mais tarde a ser escolhidos para ascenderem ao topo da carreira, isto é, a uma categoria chamada de "embaixador".
Essa categoria, superior e máxima na hierarquia, tem um número muito limitado de vagas, representando menos de 10% da totalidade dos diplomatas da carreira diplomática portuguesa. Os diplomatas que ascendem a essa categoria têm, neste caso por direito próprio e não apenas por tradição, como nos casos anteriores, direito a usar o título permanente e vitalício de "embaixador". Antigamente, era vulgar distinguir estes diplomatas designando-os como "embaixadores de número", precisamente para sublinhar a escassez dos lugares a que tinham ascendido. Os britânicos chamam aos diplomatas que chegaram ao topo da sua carreira "full rank ambassadors" e os franceses designam-nos como "ambassadeurs de France".
Não sei se ocorreram outros casos, mas, curiosamente, houve pelo menos dois "embaixadores de número" que nunca exerceram funções de chefia de uma embaixada, em ambos os casos durante o Estado Novo. O primeiro foi o embaixador Teixeira de Sampaio, que foi secretário-geral do MNE, e o outro o embaixador Franco Nogueira, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros.