quinta-feira, março 28, 2024

Obrigado, António


O dia em que é anunciado um novo governo é a data certa para dizer, alto e bom som, que entendo ter sido um privilégio ter como primeiro-ministro de Portugal, desde 2015, uma figura com a capacidade política, o perfil de estadista e a integridade humana de António Costa.

Notícias da aldeia

Nas aldeias, os cartazes das festas de verão, em honra do santo padroeiro, costumam apodrecer de velhos, chegando até à primavera. O país parece uma imensa aldeia: os cartazes eleitorais, por incúria, descaso e falta de vontade aí continuarão a poluir a paisagem. É a nossa sina.

Chapeau!

O governo que aí vem marcou um ponto a seu favor. Não se soube os nomes "às pinguinhas".

Só para lembrar

Porque estas coisas têm de ser ditas, irritem quem irritarem, quero destacar a serenidade construtiva demonstrada por Pedro Nuno Santos e pelo Partido Socialista, em face de uma balbúrdia parlamentar em que não tiveram a menor responsabilidade.

Deve ser coincidência...

É minha impressão ou a (bem recente) agressividade de alguma comunicação social contra o Chega só surgiu de forma mais evidente a partir do momento em que que o partido de Ventura entrou em aberto conflito com o PSD? Pode ser coincidência, para quem acredite nela...

quarta-feira, março 27, 2024

A tragédia da imprensa


O "Público" de hoje terá fechado a sua primeira página por volta da hora de jantar de ontem. Por essa altura, o novo presidente da Assembleia da República ainda não tinha sido escolhido. Houve assim cuidado com o título. "Falta de acordo (...) atrasa eleição do presidente". 

Pura verdade, mas que dava para tudo. Se, entretanto, a Assembleia da República já tivesse escolhido um nome, esta manhã o jornal, embora não referindo a pessoa, não estaria a mentir: na véspera, como o título dizia, tinha havido um atraso nessa mesma escolha. Como, na realidade, ninguém foi escolhido, o jornal continua a ter "razão", de manhãzinha até, pelo menos, as 12 horas de quarta-feira. O atraso continuava... como o "Público" bem dizia!

Deve ser cada vez mais aliciante (ou desafiante, na linguagem modernaça dos negócios) fazer os títulos da atualidade dos jornais sincrónicos, em papel ou em PDF, cada vez mais esmagados pela diacronia dos sites, das rádios e das televisões, com débito informativo constante. 

Na imprensa, havia o velho dito de que um jornal de véspera já só serve para embrulhar peixe. Hoje, nem isso é verdade: a ASAE não deixa.

Comprar tempo

Com o Chega, não pode haver equívocos, subtilezas, jogos discretos de bastidores. O inimigo principal do Chega é o PSD. O Chega quer acabar com o PSD. Montenegro terá aprendido ontem que, com um potencial carrasco, todo o negócio é uma inútil compra de tempo. 

Mercado de futuros

Aguiar Branco e Francisco Assis eram nomes fortes para presidente da Assembleia da República. Se ambos saírem de cena, o PSD e o PS podem acabar, com alguma "marchandage" à mistura, por acordar num nome (previsivelmente do PSD) de compromisso. Mas dificilmente será alguém à altura do clima parlamentar que aí vem.

Ventura

André Ventura é, simultaneamente, a força e a fraqueza do Chega. A força porque, indiscutivelmente, é um ator talentoso e, até ver, tem na mão 50 deputados. A fraqueza porque a palavra e a fiabilidade são essenciais para a manobra parlamentar. E Ventura já mostrou não ter ambas.

terça-feira, março 26, 2024

Habituem-se!

Andamos anos a assistir a votos e desvotos nos parlamentos inglês, francês, americano ou espanhol - e achamos sempre que é "a democracia a funcionar". Quando se trata da Assembleia da República, para a nossa comunicação social, é logo o "impasse" e o "bloqueio". Habituem-se! 

A nossa vitória


Hoje, tomará posse de um dos lugares de vice-presidente da Assembleia da República alguém que, pela certa, gostaria que ela ainda se chamasse Assembleia Nacional. Mas já não se chama assim e essa é a nossa vitória, não a dele.

Bolsonaro

Está a apertar-se o cerco em torno de Bolsonaro. A acontecer a sua prisão, mesmo que juridicamente bem fundamentada, o Brasil irá mudar de patamar, em termos político-institucionais. Serão "águas nunca dantes navegadas", como dizia o poeta. 

Heranças

O PSD queixava-se do "a culpa é do Passos"? Veremos se agora escapa a usar o argumento da "pesada herança" de António Costa. 

Chega!

A esquerda parece ainda não ter percebido que continuar a falar incessantemente sobre o Chega, vilificando-o e denegrindo os seus dirigentes, acaba por funcionar como uma óbvia promoção da extrema-direita. O Chega gosta que se fale dele, mesmo que mal. 

Comentário

Em matéria de comentário internacional nas televisões, já se percebeu que às pessoas não interessa ouvir quem os faça pensar, confrontando os seus preconceitos. Os comentadores "bons" são os que confortam as suas ideias feitas. Quem sair desse registo está "a soldo" de alguém. 

segunda-feira, março 25, 2024

Momento semântico

No termo da entrevista, esta tarde, na CNN Portugal, com o Pedro Bello Moraes, fiquei com uma sensação estranha. Aqueles seis minutos e tal de conversa, sobre a situação na Rússia, tinham corrido com toda a normalidade, mas, naquilo que eu tinha dito, havia algo que me soava mal. E não sabia o que era.

Fui rever a entrevista e lá estava a razão da estranheza: eu usara, por duas vezes, a palavra "concomunar". Algum problema? Nenhum, exceto que esse vocábulo não existe. Para quem tivesse estado distraído, e dado o contexto da frase, o erro pode ter passado despercebido. Quem estivesse mais atento, contudo, deve ter-se perguntado: onde diabo foi ele desencantar aquela palavra?

O que eu queria significar é que a Rússia, perante o atentado em Moscovo, dava mostras de pretender juntar, como se de uma agressão comum contra si se tratasse, a Ucrânia, tendo esta todo o ocidente por detrás, e os radicais islâmicos. A ideia é que, por uma qualquer forma, havia um conluio (combinação de um ou dois para prejudicar um terceiro), que ambas as partes estavam mancomunadas (em acordo para um ato repreensível). E terá sido do "conluio" com o "mancomunar" que me saiu o "concomunar". 

Até nem desgosto da palavra, só que ela não existe. Não existe? Ora essa! Passou a existir, graças ao meu momento de criatividade semântica. Fica o neologismo e sintam-se à vontade para o utilizar.

Da persistência

Hoje, numa expedição "arqueológica" aos primórdios deste blogue, passei pelos primeiros posts aqui publicados. E vi que, logo nas primeiras semanas de existência deste espaço, tinha agradecido a outros blogues que então saudaram o surgimento do "Duas ou Três Coisas". 

Listei esses 52 blogues e tive a curiosidade de ir verificar quantos, dentre eles, ainda publicam com regularidade. 

Constatei que apenas cinco: "Causa Nossa" (que começou como blogue coletivo e hoje é apenas alimentado por Vital Moreira), "Delito de Opinião" (blogue coletivo, sob a batuta teimosa de Pedro Correia), "Estado Sentido" (blogue coletivo), "Fio de Prumo" (de Helena Sacadura Cabral) e "Memória Virtual" (que entretanto mudou radicalmente de natureza, passando a um registo desportivo). 

Deixo a minha sincera saudação para todos eles, pela sua persistência. Salvo o blogue coletivo "Delito de Opinião", noto, não sem algum orgulho, que nenhum manteve a regularidade diária com que aqui venho desde 2 de fevereiro de 2009.

Dizer que os blogues já tiveram melhores dias (ou noites, porque, no meu caso, quase sempre aqui escrevo à noite) é uma obviedade. O seu auge, em Portugal, parece ter sido a primeira década deste século. Muita gente migrou entretanto para o Facebook, depois para o Twitter (agora X), mais tarde para o Instagram. O Mastodon não parece promissor. A gente mais nova (e outra a fingir que o é) anda pelo TikTok e pelo Tinder.

Apesar de tudo, vivam os blogues! 

Pedro Sánchez e as duas Espanhas


Ver aqui.

Os EUA, mais de 30 mil mortos depois


Ver aqui.

A vitória de Putin (antes do atentado)


Ver aqui.

Uma placa de trânsito...


... trabalhada pelo tempo

Miradouro de S. Pedro de Lobrigos

 


domingo, março 24, 2024

Quinta da Gaivosa

Pollini


Jorge Sampaio ficou deliciado com a possibilidade de ir ouvir o pianista Maurizio Pollini, ao Carnegie Hall, nesse dia de junho de 2001, hipótese que eu lhe sugerira. O problema é que, para o presidente da República poder chegar a tempo de apanhar o avião de regresso a Lisboa, no aeroporto Kennedy, tinha de sair uns minutos mais cedo do que o final do concerto. "Não conseguimos mesmo ficar até ao fim?". Não, assegurou-lhe o embaixador junto da ONU, que na circunstância era eu, que fora o seu anfitrião em três intensos dias na "capital do mundo". E assim foi. Ainda estou a ver Sampaio, de pé, prestes a sair, encostado à parede lateral da sala, a esgotar toda a música que o horário apertado lhe permitiu.

Quatro meses depois, com a cidade na ressaca dos atentados do 11 de setembro, Maurizio Pollini regressou a Nova Iorque. Algo frustrado por não ter terminado o concerto anterior, decidi ir ouvi-lo de novo, nesses tempos convulsos pelos quais a cidade e a América passava. Nesse mesmo dia ou na véspera, os EUA tinham feito o primeiro ataque ao Al-Qaeda, no Afeganistão. O espetáculo, por um qualquer alarme de segurança, começou com meia hora de atraso. Tenho a recordação de que saí desse segundo concerto de Pollini com um bem-estar e serenidade que há muito não sentia.

Maurizio Pollini morreu ontem.

sábado, março 23, 2024

Na Gomes


"Sai uma dose de bola de carne e um fino!"

... e depois há os factos

O atentado de Moscovo, como é da regra destas coisas, leva a que quem já tem as ideias feitas, à luz dos seus desejos e ideologia, corra a adaptar os factos a elas. Isto é tão válido para as acusações à Ucrânia como para as imputações aos serviços secretos russos. É a vida!

"... pero que las hay!"


Fevereiro de 2005. Brasília. Eu tinha chegado, semanas antes, como novo embaixador de Portugal. O conselheiro social da embaixada, Joaquim do Rosário, tinha-nos convidado para jantar, em sua casa, com alguns membros mais representativos da comunidade portuguesa local. 

Feitas as apresentações e as primeiras conversas, passou-se à mesa. Naquela em que fiquei estava sentado um engenheiro que trabalhava, há já muitos anos, em Brasília, na área científica. Perguntei-lhe onde tinha concluído o curso de Engenharia. No Porto, onde tinha nascido, disse-me. Para aligeirar a conversa, contei que, também eu, tinha iniciado o curso de Engenharia Eletrotécnica na universidade do Porto. Sem grande sucesso: tinha feito apenas duas cadeiras. Rimo-nos da coincidência. E passámos adiante.

A conversa lá andou e, aí pela sobremesa, o engenheiro, a propósito de eu ter referido que era de Vila Real, disse-me que, no seu primeiro ano do curso, tinha tido como colega um tipo de Vila Real, com quem chegara a estudar no café Bela Cruz, à chegada ao Castelo do Queijo. Já não se lembrava do nome dele. Tem graça, comentei, por esse tempo eu costumava ir namorar aos fins de semana para o Bela Cruz, com a minha mulher, que ali estava também na mesa, e, curiosamente, eu também por lá tinha estudado com um amigo, cujo nome me tinha passado, que sabia que morava ali perto, na Foz. "Eu morava na Foz", referiu o engenheiro.

Afinámos datas: ambos tínhamos entrado no mesmo ano, para a mesma faculdade. Os nossos professores? Os mesmos: Vasco Teixeira, Arala Chaves, etc. Num instante, por outros pormenores cruzados, concluímos: ele era o meu amigo da Foz, eu era o amigo de Vila Real com quem ele chegara a estudar. Ele estudara um pouco mais do que eu, bem entendido! Exatamente 40 anos depois, tinhamo-nos reencontrado, nessa noite de Brasilia. E, desde essa hora, reatámos uma magnífica amizade, até hoje.

Há dias, na data das eleições, numa aparição no Facebook, lá o descortinei, civicamente ativo, barba branca à maneira, com o sorriso bom de sempre, na mesa de voto de Brasília, ao lado de outros amigos. Mas toma atenção, Manel, tens de fazer uma dietazita! Um imenso e transatlântico abraço para ti.

quinta-feira, março 21, 2024

Foi assim


Outubro de 1999. Na emigração, a arte de José Lello tinha conseguido dar ao PS três deputados, com o PSD a ficar com um, invertendo o que era habitual. Porém, nas contas finais das eleições legislativas, os socialistas só tinham obtido 115 deputados, com outros tantos para toda a oposição somada. Era o empate. A almejada maioria absoluta esfumava-se. Para o primeiro-ministro António Guterres, continuaria a ser necessário recorrer a complicadas negociações para aprovar as leis no parlamento. Como seria o caso de um orçamento, que necessitou do famoso arranjo do "queijo limiano".

Nas hostes socialistas, o ambiente era de alguma desilusão. Depois de uma década de "cavaquismo", em que a esquerda penara a bom penar, refugiada em Macau e em algumas autarquias, já a escassa vitória de Guterres, em minoria, em 1995, se bem que muito saborosa, tinha obrigado a recolher as ambições de moldar algumas políticas públicas ao programa do PS. Esse esforço de contenção de despesas, para conseguir atingir as metas para a entrada no euro, tinha desagradado a muita gente do PS. O resultado da eleição de 1999 ameaçava agora prolongar o "aperto do cinto".

Naquela noite de 1999, o João Paulo Bessa, um arquiteto (ele gosta de "arquitecto", com "c") que vive para o rugby e para as coisas desportivas em geral, entrou, façanhudo, no "Procópio". 

Na "mesa dois", o Nuno Brederode dos Santos filosofava cenários, em frente ao whisky. Recém-reconduzido como secretário de Estado, eu ia alimentando, em voz alta, a narrativa oficial de que, infelizmente, haveria que evitar aumentar o défice, controlando, por essa via, a forte dívida pública. Havia, por isso, a necessidade de continuar a limitar despesas, em algumas áreas, mesmo que incumprindo, aqui ou ali, com algumas promessas eleitorais.

Foi então que a voz do João Paulo, sentado num daqueles bancos aveludados a vermelho, recostado no varandim de madeira, de costas para o bar, explodiu, julgo que desta forma: "Porra, pá! Estivémos dez anos a sofrer as políticas 'dos gajos', sem nada poder fazer. Em 95, lá saiu o Cavaco mas vocês disseram logo: 'Ah! Pois é! Mas não se pode fazer nem isto nem aquilo'. E nós, durante estes quatro anos, a ver o tempo a passar e as coisas a não se fazerem. Agora, o PS continua a governar, mas volta a não ter maioria e, mais uma vez, o teu governo vem dizer que continua a não se poder fazer o que foi prometido. Eh, pá! Explica lá quando é se pode fazer alguma coisa! Primeiro era o Cavaco com as políticas do "Pê-pê-dê", agora é o Guterres com os cuidados para o euro. Porra, pá! Mas, afinal, quando é que se cumpre o programa do PS?" 

Não sei o que respondi ao João Paulo Bessa, comigo feito "situacionista", eu que até nem era do partido, nessa noite de 1999. A minha memória não cobre as conclusões desse debate, tido num lugar onde, como alguns diziam, alguns aculturavam "a via alcoólica para o socialismo". Só sei que, na noite de ontem, na mesma "mesa dois", já com o Nuno ali só em saudade, recordei ao João Paulo aquele episódio. E rimos todos um pouco, embora, para os ocupantes da "dois", o tempo esteja, por estes dias e noites, mais para sorrisos amarelos.

Estranho?

Sou só eu que acho normal que o Presidente da República indigite Luís Montenegro a tempo de ele poder estar presente, usufruindo já dessa qualidade, na reunião do Partido Popular Europeu, que, tal como o homólogo grupo socialista, reune sempre antes dos Conselhos Europeus?

quarta-feira, março 20, 2024

O desastre, visto da Suíça

Foi há já uns bons anos. Lembro-me como se fosse hoje. Noé Monteiro, correspondente da RTP na Suíça, entrevistava um casal de portugueses ali residentes. O tema eram as preferências na programação da própria estação. A certa altura, o jornalista perguntou à filha do casal, uma criança que, recordo, teria menos de 10 anos: "E tu, o que é que gostas mais de ver na televisão?". A miúda não hesitou: "Os desastres". 

Ao ver o resultado da votação dos nossos emigrantes na extrema-direita, na Suíça, lembrei-me que, se calhar, essa (hoje) senhora pode ter votado por lá e deve agora apreciar o desastre a que ajudou por cá.

Augusto Santos Silva


A contraciclo da grunhice dominante nas redes sociais, quero, no dia de hoje, deixar um abraço de reconhecimento a um grande servidor público chamado Augusto Santos Silva, presidente cessante do parlamento, onde sempre defendeu, com coragem e frontalidade, a ordem e a dignidade da nossa República.

terça-feira, março 19, 2024

"Duas ou três coisas..."


Guilherme Oliveira Martins publica, na edição de hoje do "Diário de Notícias", o seguinte artigo, com o título de "Duas ou três coisas..."

"Francisco Seixas da Costa ao escrever Antes Que Me Esqueça – A Diplomacia e a Vida dá-nos um bom conjunto de quadros. Como salienta Jaime Gama, a seleção de textos agora vinda a lume com a chancela da D. Quixote, reflete a pluralidade quase heteronímica do autor, demarcando-se do mero anotador de acontecimentos ou telegramas, sabendo “isolar situações, caracterizar contextos, referenciar protagonistas e situar temas, questões e desafios”. Num tempo dado à superficialidade, encontramos, em cada texto, a preocupação de entender a complexidade do mundo e do género humano – lembrando a História e as mil peripécias que ela nos reserva. O discernimento para nos darmos conta do mundo perigoso que nos cerca obriga a não ficarmos pela superfície que nada esclarece e apenas alimenta a indiferença. De facto, “os seus retratos atestam verve criativa suficiente para deixar antever a alma do escritor que neles se disfarça”. Ao lermos o livro, encontramos uma laboriosa escolha de temas e problemas, que enriquecem aquilo a que estão habituados os leitores dos blogues que o autor anima. E falo no plural, porque não esqueço o finíssimo gourmet que o Francisco é, além de um arguto contador de histórias no seu imperdível blogue Duas ou Três Coisas, que recorda o célebre título do filme de Godard de 1967, protagonizado por Marina Vlady. Não se trata de um livro de memórias. É antes o produto de uma escrita solta, com episódios relatados com humor e ironia, e uma adequada dose de caricatura, evitando a crueldade fácil, incompatível com a experiência de um diplomata rodado e como conhecimento de causa. Daí a cautela em não identificar nomes e pessoas, que em nada reduz o interesse da leitura. Devo dizer que, sendo um fiel leitor da sua escrita, dei por muito bem empregado o que usufrui na leitura deste belo livro.

E lembro o episódio impagável do Senhor Ferreira da Residência do Primeiro-Ministro, antigo funcionário, de simpatia inexcedível, no auge do período revolucionário, a deixar entrar sem qualquer identificação ou diligência de segurança o jovem diplomata, que, espantado, pôde chegar junto dos membros do Governo para a entrega de um documento que era oficial, mas que poderia não o ser. E a justificação do procedimento teve-a com uma simplicidade e candura desarmantes: havia tanta gente, ministros, secretários de Estado, chefes de gabinete, secretários e secretários de secretários, ajudantes vários, que não havia qualquer possibilidade de distinguir, até porque todos eram muito parecidos uns com os outros… Noutra ocasião, ficamos com um sorriso ternurento perante o episódio ocorrido no Gabinete Português de Leitura do Rio, numa cerimónia da máxima solenidade, o Presidente Lula embevecido pela arquitetura imponente e pelas estantes recheadas com quase meio milhão de livros, com luminosidade única, deu-se a acenar levemente para alguém que devia estar num dos varandins superiores. Tratou-se, no entanto, apenas de saudar um grupo de empregadas com bata de trabalho que se haviam colocado lá no alto para verem o seu Presidente. 

Num 1º de abril, o Embaixador em Paris não resistiu a lançar em ambiente adequado uma mentira piedosa, verdadeiro poisson d’avril. Cansado de ouvir histórias sobre as famosas concierges portuguesas, usou da melhor circunspeção para dizer: “Há um segredo que vos quero contar, embora peça a maior discrição. Como devem imaginar, a existência de uma imensidão de concierges portuguesas em muitas casas de Paris não passou despercebida aos nossos serviços secretos. Naturalmente, eles não podiam deixar de aproveitar o potencial que representava a existência de um grupo de cidadãs nacionais colocadas em lugares tão vitais para a obtenção de informações”. A ideia era imaginosa e não pôde deixar de causar preocupação nos circunstantes, que certamente passaram a ver com outros olhos aquelas pacatas senhoras, que deveriam ter de ser vistas com mais cuidado… "

Os bezerros


Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional francesa, foi presidente do respetivo Grupo de Amizade com o nosso país. A sua disponibilidade para tudo quanto fosse do interesse português era permanente e algumas vezes abusei dela para superar alguns obtáculos. Ficámos bastante amigos e muitas vezes almoçámos em Paris. Morreu em 2019, com 77 anos.

Pierre era "maire" de Sotteville-lès-Rouen, uma localidade da Normandia, perto de Rouen. Um dia, convidou-me a visitar essa terra a que se dedicava, nas horas que o parlamento lhe deixava livres. A cumulação de mandatos parlamentares e autárquicos era uma regra antiga na política francesa. 

Ao final da visita à sede do município, Pierre tinha organizado uma receção em minha honra, para a qual convidou as "forças vivas" da localidade e, naturalmente, alguns portugueses ligados ao movimento associativo da nossa comunidade.

Nos anos que vivi em França fiz um esforço para me deslocar às localidades onde havia mais portugueses, visitando as respetivas estruturas associativas. Fiz dezenas dessas visitas e, digo-o com sinceridade, ganhei um imenso respeito pela determinação dessas pessoas de se projetarem na sociedade francesa, afirmando sempre a sua identidade portuguesa.

Durante a receção oferecida por Pierre Bourguignon, aproximou-se de mim um dirigente de uma associação portuguesa de uma localidade próxima de Rouen, informando-me de que, dentro de semanas, essa instituição iria comemorar uma data importante, pelo que me convidava para estar presente numa festa que iam realizar. 

Fiquei de confirmar a minha disponibilidade, a qual, no entanto, acabaria por durar muito pouco. Terminou no preciso instante em que esse nosso compatriota me disse: "E pode estar descansado, senhor embaixador, que não encontrará por lá bezerros". Não percebi o que ele queria dizer com isso, mas ele logo esclareceu: "Bezerros, árabes, maomés, essa gente..." A minha cara deve ter traído o desagrado com que ouvi esse qualificativo de desprezo. Fui rápido a libertar-me do meu interlocutor, do seu convite e do seu preconceito. 

Há quem não saiba que, em alguns setores da nossa comunidade em França, como imagino que possa acontecer em outros países, existe uma atitude de profunda rejeição das comunidades árabes e muçulmanas. Recordo-me de, um dia, ter sido pedida a minha intervenção pelo "maire" de Bayonne, Jean Grenet, curiosamente casado com uma portuguesa, para tentar travar a hostilidade crescente entre uma associação portuguesa e uma estrutura similar da comunidade muçulmana, existente na vizinhança. E vale a pena lembrar que o movimento político em torno da família Le Pen comporta, no seu seio, muitos portugueses residentes em França. Ao que me dizem, esses nossos compatriotas usam esse ódio ou desprezo pelos muçulmanos como uma espécie de demonstração de que são "tão bons franceses como os melhores franceses". Se os franceses que detestam os árabes são os melhores franceses, vou ali e já venho.

Por que escrevo isto hoje? Porque acabo de constatar o bom resultado obtido por um partido da extrema-direita portuguesa, nas eleições legislativas, junto de algumas comunidades portuguesas emigradas. É irónico constatar que uma formação política que tem uma agenda racista, xenófoba e discriminatória, em que uma rejeição primária da imigração assume um lugar bem proeminente, acaba por agradar a quem, por muitos esforços que faça, não deixa de ser visto nas terras onde vive como continuando a ser um estrangeiro.

segunda-feira, março 18, 2024

Ainda Caminha


Foi um par de horas de conversa, na tarde de sábado, na Biblioteca Municipal de Caminha, tendo como anfitriã a vereadora da Educação, dra. Liliana de Sousa Ribeiro. Numa ação integrada num conjunto de iniciativas similares, com convidados muito diversos, sempre à volta de um livro, o pretexto, desta vez, foi o meu "Antes que me esqueça". Porém, rapidamente "acabámos" na Ucrânia, nas angústias da NATO, na América de Trump (e, por ora, de Biden), com a Rússia do "candidato" Putin à mistura e a Europa de muitos pelo meio. Perguntas da assistência, em dia de sala cheia, completaram o ciclo de interrogações colocadas pelo professor António Fontaínhas Fernandes, antigo reitor da UTAD, que hoje ajuda a estimular a Cultura caminhense, num esforço benévolo em que se junta a muita gente, como o meu amigo Manuel Sobrinho Simões, que por ali também tive o gosto de encontrar, com o seu eterno sorriso. Gostei da experiência.

Saudade das laranjas



O Nuno estava a meio da escrita de um poema, no computador, quando dele me despedi. Foi há dias. Senti-me estranho quando me saiu um "Força!", uma expressão pateta. Mas eu já não sabia o que havia de lhe dizer. Sabia que não faltava muito tempo para ele morrer, para agora pôr as coisas muito claras.

Nesse dia, há uma semana, ele tinha querido um almoço. Organizado pelos seus maiores amigos, a Didas e o Luís. E quis ter-nos por lá, bem como a Mena e o Eduardo. Falou muito pouco, mas o Nuno falava sempre muito pouco. Sorria, visivelmente contente com a festa armada à sua volta.

A Manuela escondia-se por detrás das palavras, como sempre e cada vez mais fazia. Era uma óbvia fuga em frente, como nós e ela bem sabíamos. Às vezes, ao longo dos últimos meses, perguntava-me como conseguia aquele prodígio de seguir em frente, vendo o seu mundo - a vida com o Nuno - a desmoronar-se, dia após dia.

Tinha-me comovido muito ver o Nuno, em novembro, na Gulbenkian, no lançamento do meu livro. Quando o observei, de muletas, com imensa dificuldade, a descer a escadaria, fiquei siderado. Ele tinha insistido em ir, disse-me a Manuela. De propósito, não o referi nas palavras que, no final, dirigi às pessoas que por ali estavam, para que isso não pudesse sublinhar a sua crescente fragilidade física, fruto da doença infernal que o ia invadindo.

Quando é que conheci o Nuno Júdice, de quem nunca fui um amigo íntimo mas com quem tinha um excelente entendimento, muitas vezes silencioso, desde há muitos anos? Terá sido por 1968 ou 1969, na Granfina, onde ambos íamos parando, ao final da tarde ou depois do jantar. O Nuno vivia perto, eu chegava dos Olivais no 21. Com outros migrantes universitários, recém caídos na capital, tecíamos por ali as redes que acabariam por desenhar o nosso futuro.

Um dia de 1971, eu e o Nuno, à frente de um pequeno grupo de "agitadores" associativos, invadimos uma aula do Eduardo Prado Coelho (que ele iria substituir, anos mais tarde, como Conselheiro Cultural na nossa embaixada em Paris, onde eu depois seria embaixador), na Faculdade de Letras. Abrimos a porta, interrompemos a lição e pedimos solidariedade para com estudantes que tinham sido presos pela polícia política. Eu arenguei às massas, já não sei com que resultado, perante alguma disfarçada irritação do Eduardo. Sem surpresas, ao meu lado, o Nuno mantinha o seu sorriso esfíngico de sempre. Muito nos ríamos, anos mais tarde, a lembrar o momento!

Nestes retalhos soltos de memórias com o Nuno, ficam ainda as laranjas. As melhores laranjas do mundo, doces como nenhumas outras, que o Nuno tinha numa propriedade no Algarve, à beira do Alvor, e que fomos colher num fim de tarde de fortes incêndios, no verão de 2021. As conversas e as laranjas desse fim de semana ficam-nos para sempre. Agora bem amargas.

Um beijo imenso na nossa parte, Manuela. Agora é a ti que digo: força!

domingo, março 17, 2024

Nuno Júdice (1949-2024)


Poema 

Em um novo poema sobre a morte, sem me ter ainda convencido
de que, embora morto, algo permanecia no meu ser que partici-
pava da Vida e do movimento inumerável dos objectos batidos
pelo vento, afirmei que a Poesia me acompanhava.
Como se a Poesia fosse algo que eu nomeasse fisicamente… que tocasse…
E ao constatar uma impossibilidade objectiva, fiz uma experiên-
cia que a confirmou definitivamente: li tudo o que tinha escrito.
Foi como se não tivesse lido nada. Sem me dar conta sequer
de um estilo, de uma gramática, da própria língua… Foi
como se não soubesse ler.
Ao apresentar a narrativa exacta do que aconteceu, descubro
que também aqui não tenho nenhum objectivo, nenhum
pretexto, nenhum facto que justifique o poema. Mas ele
existe apesar disso. E é por isso mesmo que, sem arte
poética e sem argumentos, o apresento e mantenho.

(1972)

sábado, março 16, 2024

"Potências"

Queixamo-nos com razão dos americanos e do seu paternalismo sobre a Europa mas, em termos de conflitos existenciais, eles sempre foram e continuam a ser, no ocidente, os adultos na sala. A bravata e o jingoísmo das "potências" que só existem "by default" chega a ser patético.

Caminha


Caminha é uma bela cidade e, além disso, nos dias que correm, poucas terras deve haver por aí onde, numa tabacaria, cerca das oito da noite, seja possível comprar o "The Spectator" ou o "L'Obs".

Geral


Percebo sem dificuldade e sou plenamente solidário com a ideia que esteve subjacente a esta greve. Mas confesso alimentar as maiores das dúvidas sobre se ela "comoverá" alguém.

"Eleições"

É estranha a iliteracia política que atravessa a nossa comunicação social: apresenta-se a "eleição" presidencial russa como se aquilo fosse um genuíno escrutínio, com liberdade de apresentação e promoção de candidaturas. Só falta levarem a sério as percentagens que aparecerem!

O que é isto?


Isto não tem a menor graça e roça a irresponsabilidade. Disclaimer: sou socialista.

Passaram-se?

Pode compreender-se a tentação de usar os fundos russos congelados para beneficiar a Ucrânia. Mas será que os países ocidentais já pensaram bem naquilo em que se estão a meter? Quem é que, do "outro lado", confiará no futuro nos bancos "de cá"?

Eu e o Chega

A comunicação social portuguesa continua vidrada no Chega. Eu, se fosse do Chega, andaria satisfeitíssimo. Mas também é verdade: se se desse o caso de eu ser do Chega, nunca passaria o menor cartão a mim mesmo.

Brasíu

Sugeriria que dessem uma olhada ao cruzamento das declarações dos chefes militares brasileiros sobre o ambiente nas hostes bolsonaristas, na transição de presidentes em 2022/2023. O golpe esteve bem próximo.

sexta-feira, março 15, 2024

Que lata!

É extraordinário o tropismo colonial dos EUA no Médio Oriente: Blinken manda "bitaites" sobre as escolhas de pessoal da Autoridade Palestina, Biden dá "palpites" sobre a necessidade de novas eleições em Israel. "Mind your own business" é uma expressão anglo-saxónica, não é?

Limites

O PSD tem um grande desafio à sua frente: tentar esvaziar o balão do Chega e trazer de volta, para a direita democrática, muitos dos votos que a extrema-direita captou. O PS não deve atrapalhar esta "manobra", mas não se lhe peça um "harakiri" político.

quinta-feira, março 14, 2024

Falar de um livro


Uma sala cheia, com direito a um belo buffet, foi o que nos foi oferecido, ao princípio da tarde de hoje, na sede da Associação dos Familiares dos Diplomatas Portugueses. Em discussão esteve o meu livro "Antes que me esqueça", de cuja 3ª edição ali assinei vários exemplares, para presentes e para alguns ausentes em posto no estrangeiro. Por ali havia amigas, amigos e conhecidos, bem como jovens diplomatas que tiveram curiosidade de ouvir as experiências e as opiniões de um colega de outros tempos da diplomacia portuguesa. Foi um excelente momento, numa reunião muito participada e bem disposta. Muito obrigado à AFDP e, em especial, à Manuela Caramujo, organizadora e coordenadora da sessão.

quarta-feira, março 13, 2024

Pong

A obsessão anti-chinesa faz com que os Estados Unidos se disponham a proibir o TikTok. Um destes dias, lá vai o Ping-Pong à vida... 

"E então o...?!

Fiquei hoje a saber que o conceito de "whataboutism" que, em Portugal, se pode traduzir por "Ai é?! E então o...?, em Espanha se consagra na expressão "Y tú más!".

Gaza

Os governos parece terem que "acordado" para a tragédia de Gaza, mas apenas quando perceberam que o estado de graça de Israel começava a diluir-se, devem um pedido de desculpas pelos muitos milhares de civis palestinos mortos, perante o seu miserável silêncio ou os tíbios conselhos de "contenção" a Tel-Aviv.

Guerra é guerra

Embora alguns achem que não, é óbvio que é legítimo haver diferentes posições sobre a guerra na Ucrânia. O que me parece bizarro é alguém considerar que, tendo tropas russas no território que o direito internacional reconhece como seu, a Ucrânia não possa atacar território russo. 

No "Le Monde"

 


As velhas duas Espanhas

A quantos anotam as clivagens partidárias e o radicalismo na política portuguesa eu recomendaria que atravessassem (mesmo que virtualmente) o Caia e fossem observar a violência dos confrontos em Espanha. As "duas Espanhas" teimam em não desaparecer e isso não é nada bom. 

O muro da vergonha

A cobarde agressão "mural" a Tiago Moreira de Sá nas paredes da Universidade Nova de Lisboa revela que, meio século depois do 25 de Abril, o espírito de tolerância democrática ainda não consegue prevalecer no seio da sociedade portuguesa. 

Macronices

Macron está a assumir um perigoso protagonismo "guerreiro" na questão ucraniana, dando-se ares de líder de uma Europa que não lhe deu mandato para tal. É um jogo ridículo, por óbvias razões de política interna, que pode ter graves consequências para a segurança do continente. 

terça-feira, março 12, 2024

Palestra e debate


A Sociedade de Geografia de Lisboa é um belíssimo e histórico espaço no centro de Lisboa, infelizmente não tão conhecido como deveria. É sempre com muito agrado que por lá vou, de quando em quando, abordar alguns temas de natureza internacional.

A convite da sua secção militar, falei lá, na tarde de hoje, sobre o tema "Prospetivas da segurança global (2025-2040) - Tendências e cenários de evolução". 

Foram quase duas horas, incluindo a intervenção e um animado debate, com presença informática à distância para algumas dezenas de pessoas, para além daquelas que ali simpaticamente se deslocaram para me ouvir. 

Sem esforço, fui polémico aqui ou ali, contrariando algum "politicamente correto" e, por essa via, discordando de alguns dos presentes. A graça deste tipo de exercícios é isso mesmo, até porque ser "redondo" e consensual não faz muito o meu género. 

Um livro


segunda-feira, março 11, 2024

Meia dúzia e tal de "takeaways"

1. E então ninguém diz nada sobre o lindo serviço das empresas de sondagens que, dia após dia, deram aquelas diferenças esmagadoras entre a AD e o PS?

2. Posso dizer uma coisa impopular? Se o Chega é constitucionalmente um partido legal, tem o pleno direito democrático a querer ser governo, em aliança ou acordo com outros. Com quem? Com quem não tiver um pingo de vergonha ou de decência.

3. Como serão os sorrisos, na manhã de hoje, nos corredores da PGR?

4. As televisões que, dia após dia, se comprazem em instilar a ideia de que "está tudo mal!", "este país é um caos!", "isto é só corrupção!", "os índices económicos e sociais positivos são apenas fogo de vista" foram os grandes vencedores desta eleição: aí está o resultado do Chega.

5. Querem uma razão para ficar preocupados? Observem o extraordinário recuo dos votos somados do PSD e do PS.

6. Coragem, coragem, era um qualquer canal de televisão (até pode ser o Panda) entrevistar agora Gonçalo da Câmara Pereira. Por exemplo, no "Isto é gozar..." Agora já não prejudicará o voto na AD, não é?

7. Não há sintoma mais revelador (estou a falar a sério, acreditem!) da integração de uma comunidade estrangeira do que ver um cidadão brasileiro, negro, eleito nas listas de um partido com pulsões racistas e discurso xenófobo? Mas isto não é contraditório? Nada mais português.

8. Ainda tenho alguma esperança em que, no outono, não surja uma voz, através do hebdomadário de Laveiras, a apelar a que os socialistas deixem passar o orçamento. Já só faltava essa!

9. Agora é que se vai provar como era fácil ter soluções para o SNS, para os polícias, para os professores, etc... Sem passarem o ónus para o passado, porque, com certeza, não vão querer dizer, como afirmavam que os socialistas diziam, que "a culpa é do Passos"...

Afinal, só soube hoje...

Na noite de ontem, estive a rever o "West Side Story", passei depois a ouvir Mahler na Mezzo e acabei a noite a ler os emocionantes episódios da queda da Pide, no novo livro da Irene Pimentel. E fui-me deitar.

Hoje, depois de acordar, soube o resultado eleitoral: sem stress e sem angústias. 

O país tem sempre aquilo que merece. Às vezes, ficamos tristes com a sua decisão. Mas foi para isto, para ter um futuro imediato comandado pelo voto, que fizemos o 25 de Abril. E tenho sempre o imenso prazer de saber que este meu plural não é majestático.

domingo, março 10, 2024

Cada um é como é


Este não é o meu dia do voto. Já votei há uma semana. Estou fora de Lisboa. Numa prática que uma vez mais assumo, e por uma deliberada opção de sossego, a partir do meio da tarde deste domingo, desligo televisões, rádio, computadores e telemóveis. Por algumas horas, só leio, ouço música e vou jantar, em total sossego e isolamento "cívico". Lá pelas 11 da noite, irei ver em que param as modas. Nada de sondagens, de bitaites, de fait-divers e coisas assim. Casa um é como é, não é?

sábado, março 09, 2024

À conversa


Em Lisboa, há poucas livrarias que eu não conheça. Mas nunca tinha entrado na Livraria Martins, na avenida Guerra Junqueiro. Um espaço agradável, moderno, com boa seleção, que, na manhã de hoje, organizou um belo debate, sob o chapéu temático da liberdade, onde se falou, em especial, de livre circulação e da língua portuguesa nesse contexto. 

Sob a moderação de Leonídio Paulo Ferreira, Simone Duarte e eu falámos desse mundo das pessoas que transitam entre espaços e culturas, perante um auditório cheio, atento e interventivo. Porque as conversas são como as cerejas, foi uma discussão algo "arbórea", como o meu pai costumava designar os momentos em que se começa a falar de uma coisa e dela se parte para outra, a qual, por sua vez, se ramifica por caminhos diversos. Gostei muito do exercício.

sexta-feira, março 08, 2024

Memórias da minha quinta


Foi na passada quinta-feira. Um recém-chegado embaixador estrangeiro em Lisboa quis ouvir-me sobre a política doméstica. Bem cedo, por mais de uma hora, pequenalmoçámos com calma, na conversa. Saí dali para fazer o podcast em vídeo "A Arte da Guerra", mais de meia hora de conversa sobre temas internacionais, com o jornalista António Freitas de Sousa, um exercício semanal para o site do "Jornal Económico", que agora entrou no seu quarto ano de edição. Passei depois a um divertido almoço de amigos no Pátio Bagatela: conversa solta, sem agenda, num grupo de onde já se foram o José Carlos Serras Gago, o António Dias, o António Silva e o José Manuel Galvão Teles. Parti dali para um mano-a-mano com três outros antigos Secretários de Estado dos Assuntos Europeus, no Instituto Universitário Militar, onde revisitámos as quatro presidências portuguesas das instituições comunitárias, no lançamento de um livro em que colaborámos. Depois, foi tempo de ir prestar homenagem, na gare marítima de Alcântara, ao António-Pedro Vasconcelos, que agora se nos foi desta vida. A partir das vinte, na Gulbenkian, durante duas horas, deliciei-me com 1ª de Mahler, entre outras peças. Com a chuva pesada, foi difícil chegar a tempo à CNN, lá para Queluz, para meia hora de debate animado sobre a Ucrânia. Acabei arriscando: encontrei estacionamento para conseguir ainda ir cear um bife ao Snob. Não há muitos dias assim ocupados, mas ainda há alguns.

Notícias da Palestina


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É muito triste...


... o silêncio da Amnistia Internacional! 

Uma campanha alegre?


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Do lado certo da chuva

 


A guerra da Rússia na Ucrânia


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quinta-feira, março 07, 2024

Discutir a Europa

 


Céus!


Chove que deus a dá! Aquilo lá em cima troveja de tal maneira que quase parece estar em período eleitoral! 

No império dos sentados


Tancredi, príncipe de Falconieri, dizia no "Il Gattopardo": "Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude". No "Procópio", parece ser assim.

quarta-feira, março 06, 2024

Trump vs. Biden. Ponto

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Segurança global

 


APV


Há uns anos, o António Pedro de Vasconcelos realizou o filme "Parque Mayer". Convidou-me duas vezes para exibições particulares do filme mas, por coisas da vida, nunca pude ir. Telefonou-me, zangado. O APV tinha uma forma muito amigável de se zangar. Tempos depois, o filme passou na televisão. No final, ao ler a ficha técnica, vi que ele próprio tinha participado. Surgia, segundo essa ficha, a representar o papel de "ministro". Voltei atrás, revi as imagens e procurei um ministro no filme. Nada. Eram 11 horas da noite. Telefonei-lhe: "Olha lá! Onde é que entra o "ministro", que tu supostamente representas?". O APV deu uma gargalhada, lá do outro lado do nosso bairro: "Vai ver melhor. Há uma cena em que há um tipo de chapéu a sair de uma 'casa de meninas'. Não se percebe mesmo que era um ministro, discreto, depois de uma noitada?"

Acabo de saber que o APV morreu. Da última vez que falámos foi sobre uma outra morte, a de um seu filho, que o deixou de rastos. Antes, tenho dele um email, outra vez furioso, ao ter sido alertado de que eu seguia o Acordo Ortográfico. E, algures por esse tempo, vi-o remobilizado contra a ideia de reprivatização da TAP. O António-Pedro era um homem de causas, intenso, empenhado, com um sentido cívico muito apurado. Ele foi a cara, além disso, de um certo e quase único cinema português, contemporâneo sem ser chato, que gostava de ter público sem necessitar de fazer concessões. Nunca fomos muito próximos, para além de sermos quase vizinhos, mas tínhamos uma excelente e sempre divertida relação, que se reforçava nos reencontros. Guardo gratas recordações do APV, delas destacando uma noitada de discussão em Paris, com o Kiko Castro Neves, e duas jantaradas no Nobre, com gente bem diversa, em conversas animadas. O António-Pedro de Vasconcelos que conheci era um homem grande e era um grande homem. Sinto bastante a sua morte. O meu pesar à família.

terça-feira, março 05, 2024

Coisas com graça



"Ó Evaristo! Tens cá disto?" Para a minha geração, esta frase provocava um sorriso automático: era a célebre provocação feita por Vasco Santana a António Silva, no "Pátio das Cantigas". Se hoje a repetirmos a alguém das novas gerações, essa pessoa ficará a olhar para nós com grande e natural perplexidade. 

O humor viaja mal pelo tempo: os mais jovens ainda recordarão o efeito humorístico extraordinário do "Eu é mais bolos!", dito pelo Herman José? 

Lembrei-me disto hoje, à chegada a um hotel, em Évora. Acabava de fazer o "check-in" e dei comigo a pensar em perguntar ao empregado: ainda há escafandristas em Évora? Não perguntei. O rapaz iria ficar espantado. Aliás, quantos cidadãos desta belíssima terra se recordarão do "sketch" de Raul Solnado, na História da Minha Vida", em que ele contava que, quando nasceu, ele e a mãe escreveram uma carta ao pai, "que trabalhava como escafandrista em Évora e já não vinha a casa há dois anos"? Nesta fase da historieta, a assistência absorvia a graça e desatava às gargalhadas. E o Solnado completava: "Mas a minha mãe foi a Évora". E, perante as novas gargalhadas, dizia: "Estão desculpados!".

E, por falar em Évora, e por falar em graça, quero dizer-lhes que teve imensa graça ir ontem jantar ao "Luar de Janeiro", um clássico com mais de meio século, agora com novas instalações (só conhecia as antigas). Fica esta nota bem positiva sobre uma casa situada na cidade portuguesa que, depois de Lisboa e Porto, concentra o melhor conjunto de restaurantes. Desafio que provem o contrário!

segunda-feira, março 04, 2024

Alentejo


É pena a água da piscina estar tão fria. Se assim não fosse, seria um final de tarde espetacular. Em alternativa, sai um gin tónico.

domingo, março 03, 2024

Pode ser Vidago...


Esta não vai ser uma boa noite para ir comprar Água das Pedras às "bombas" da A1... 

Confissão de um sportinguista atípico

Ao ver a abada do Porto ao Benfica é que eu concluo que sou um sportinguista atípico. Uma derrota copiosa do Benfica não me "excita" por aí além. Não sou anti-benfiquista nem anti-portista nem anti-Cascalheira! Isso seria dar-lhes demasiada importância. Eu sou é pelo Sporting! 

"Pairing"

No parlamento britânico, havia (não sei se ainda há) uma prática segundo a qual dois deputados - um do lado do governo, outro da oposição - combinavam ausentar-se simultaneamente em determinadas votações. A sua dupla ausência não afetava o equilíbrio final do voto. Ambos podiam assim regressar mais cedo às suas "constituencies", às vezes adiantando o termo da semana parlamentar. Tinham naturalmente de ser pessoas de bem, rigorosamente cumpridoras da sua palavra. Alguns membros da "House of Commons" tinham esses duetos combinados, durante anos. Não é, contudo, de surpreender que esta fosse uma prática fortemente desaconselhada pelas direções partidárias, que deveria irritar os "whips", os controladores partidários dos votos.

Lembrei-me disto hoje, ao chegar ao local do voto antecipado em Lisboa. Na escadaria do edifício da Faculdade de Direito, deparámo-nos com um casal de pessoas muito amigas, que já tinha votado, num sentido que sabíamos inequívoco, em absoluto contrastante com o nosso. E eles também sabiam bem qual iria ser o sentido do nosso voto. Aliás, nem se falou de política. Mas não, não vou ousar, no futuro, propor-lhes um "pairing" eleitoral.

A notar

O país anotará a expressão da rejeição, por parte de todas forças políticas, face ao ato praticado por um energúmeno, em Guimarães, contra a caravana do PS. E, naturalmente, não espera menos do que aquilo que foi dito aquando do episódio da tinta na cabeça de Luís Montenegro. 

Leão perplexo


Já percebi que estamos a jogar bem. Já me dei conta de que, para os meus consócios, este ano é que é! Tudo isso é muito bonito, mas continuo a não sentir uma forte confiança e uma autoridade indiscutível em campo por parte no (meu) Sporting. É, sou assim, que há-de fazer-se?

O meu obrigado


Hoje, após ter votado por antecipação, disse aos membros da mesa de voto: "Muito obrigado pelo vosso trabalho". Recebi de volta sorrisos de agrado. O meu gesto foi muito sincero. A democracia deve àquelas pessoas um reconhecimento pela sua desinteressada dedicação cívica. 

Hora de reflexão...


... no "Clube dos Jornalistas", antes do voto antecipado

A errática agenda internacional de Lula


Ver aqui.

Genial

Devo dizer que, há uns anos, quando vi publicado este título, passou-me um ligeiro frio pela espinha. O jornalista que o construiu deve ter ...