sexta-feira, março 01, 2024

 


Assim, é difícil...

Alguém quer tramar Luís Montenegro: primeiro trouxeram Cavaco, depois veio Passos, agora chega Barroso. Coitado do homem! Ele bem tenta dar a ideia de que quer um tempo novo, mas assim é difícil!

A grande sondagem

Com o aproximar do dia das eleições, como é de regra, os dois principais partidos vão chegar em "empate técnico" nas sondagens, que caberá aos eleitores desfazer. Há, contudo, uma área onde isso não acontece: nos comentadores televisivos. Aí há "maioria absoluta" para a direita. 

As estrelas


"Então não dizes nada sobre as estrelas Michelin que foram atribuídas a restaurantes em Portugal?" O telefonema apanhou-me na noite de ontem, no regresso de um comentário televisivo sobre a guerra. Era um amigo, habituado a ver por aqui notas sobre experiências restaurativas, que estranhou que eu ignorasse a cerimónia que teve lugar no Algarve, na qual o famoso Guia Michelin, agora com uma edição dedicada exclusivamente a Portugal, atribuiu "estrelas" a restaurantes portugueses.

Não soube bem o que dizer-lhe. Apenas sabia o que tinha lido e as informações de amigos que haviam estado naquela festa, para a qual eu, simpaticamente, também tinha sido convidado, mas a que a vida não permitiu que estivesse presente.

Do que ouvi, terá havido alguma frustração pelo facto de, uma vez mais, a nenhum restaurante português terem sido atribuídas as "três estrelas", consagração de entrada no olimpo internacional da gastronomia. Quem sabe destas coisas diz-me que há restaurantes portugueses já dignos dessa classificação.

Houve entretanto novas entradas, várias justas confirmações e muito escassas saídas - das listas das "duas estrelas" e de "uma estrela". E o guia terá anotado e passado a recomendar algumas novas mesas portuguesas, fora do mundo das "estrelas".

Qual é a minha opinião sobre tudo isto?

Com a maior sinceridade, acho excelente que o Guia esteja a reconhecer o extraordinário trabalho dos profissionais portugueses, que têm feito um esforço para captar, com a sua oferta gastronómica de excelência, um turismo de maior qualidade. Portugal está já nas rotas da grande restauração e isso é uma excelente notícia.

Não me peçam, contudo, para opiniar sobre as escolhas feitas pelo Guia, sobre a justiça ou injustiça relativa da seleção feita pelos seus inspetores. Infelizmente, desconheço muitos dos restaurantes "estrelados", embora tenha informações sobre muitos deles, aliás quase sempre muito positivas, como positivas foram, em geral, as minhas experiências naqueles que tive o ensejo de experimentar. 

Contudo, confesso, o preço praticado na maioria dessas casas - por razões que são facilmente compreensíveis, ligadas à qualidade excecional dos produtos, ao grande investimento feito, aos salários praticados, ao serviço qualificado e a outros componentes que têm de se refletir no saldo final da conta - continuam a limitar a regularidade das minhas visitas. Ora, em matérias de restaurantes, eu só me pronuncio sobre aquilo de que tenho experiência pessoal direta. E, na realidade, o mundo da alta cozinha, do "fine dining", não faz parte do meu dia a dia, e só muito raramente das minhas noites.

quinta-feira, fevereiro 29, 2024

Lembrar

Sabiam que, no velho Estado Novo, quem tivesse sido condenado por crimes políticos podia não ser solto no final da pena? A polícia podia recomendar "medidas de segurança", atenta a perigosidade do preso, sem limite de renovação. Qual era a diferença disto face a prisão perpétua?

Os das perceções

A "perceção de insegurança" é um instrumento populista que equivale a essa falcatrua regularmente explorada por demagogos que é a "perceção de corrupção". A única medida justa, num como no outro caso, são as estatísticas das condenações. Mas isso não dá jeito nem títulos!

quarta-feira, fevereiro 28, 2024

Olha a NATO!


A sério! Por uns instantes, achei que estava a ver mal. Mas não estava. Naquela esquina que sai do largo do Rato para a rua de S. Bento, a meio da tarde de hoje, um fulano, a quem não vi a cara nem reparei se ia em grupo, empunhava uma imensa bandeira da NATO! Eu ia a conduzir e o precário verde na estreita faixa que nos leva às Amoreiras logo se abriu, pelo que não consegui ver mais. A pessoa que ia ao meu lado mostrou-se algo cética: "Tens a certeza que era uma bandeira da NATO?". Tenho visto muitas coisas bizarras pelas ruas de Lisboa, mas uma bandeira da NATO drapejando (creio ser a primeira vez que, na vida, tenho oportunidade de utilizar esta palavra) ao vento é mesmo uma "première".

O coração racista da Europa


André Carvalho Ramos é um nome e uma cara conhecida da CNN Portugal e da TVI. Com equilíbrio, rigor e grande profissionalismo, conduz horas de emissões informativas e titula reportagens em zonas do mundo onde acontecem as notícias. No estúdio da CNN P, ao longo de mais de dois anos, tenho "contracenado" com ele em diálogos sobre variados temas da atualidade internacional.

"A Última Fronteira" é um livro acabado de publicar por André Carvalho Ramos, constituído por histórias que recolheu no terreno das suas reportagens e viagens, ao longo dos últimos oito anos. 

É um livro sobre refugiados e migrantes que nos revela que a Europa reserva, a quem a procura em busca de soluções de vida, uma atenção diferenciada em função da origem étnica dessas mesmas pessoas. Este livro é um manifesto escandalizado perante aquilo que é uma verdadeira discriminação. Para simplificar, depois de ler este livro, arrisco poder afirmar: a Europa pratica um objetivo racismo nas suas políticas de acolhimento. É importante que isto se saiba. André Carvalho Ramos fez bem em denunciá-lo.

Escapa-me o nome...

Há uma figura proeminente dentre os candidatos a estas eleições que, de cada vez que a sua cara aparece numa imagem, provoca em mim a lembrança de que, um destes dias, tenho de mudar de carro. 

Na baixa

A facilitação das baixas médicas, por declaração do próprio, é uma medida demagógica e infeliz. Vejam-se os números. Nos empregos, quem ficar a fazer o trabalho dos que usam fraudulentamente a medida deve sentir-se injustiçado e, no limite, será tentado a fazer o mesmo.

Ah! Pois é!

Como sportinguista, aguardo com ansiedade uma reação do meu clube, que denuncie a torpe e subliminar insinuação subjacente ao uso de tinta verde na agressão a um político. Pergunto-me se, afinal, por detrás daquela lata de tinta, não poderão estar outras cores. Investigue-se!

O trapézio voador

Daqui até dia 10 de março ainda é uma eternidade. Todos os dias surge um evento disruptor: são os "ratés" feitos tiros contra o Chega, é Passos Coelho sobre a imigração, é o renascer da proibição do aborto, é a tinta sobre Montenegro. Amanhã o que será? Há mais circo do que pão.

La France !

Macron "fez peito" e disse que não é de excluir o envio de tropas para a Ucrânia. Dado que a França, com todo o seu poderio, é apenas o 8° ou 9° dador militar bilateral à Ucrânia, talvez fosse de começar por enviar material antes de pensar mandar tropas.

A casca da banana

Na política da Madeira, já chegámos à Madeira.

Ativista

"Ativista" é o novo nome para qualificar um delinquente cuja ação, delituosa ou criminosa, isto é, sempre cometida à margem da lei, tem uma natureza pública que vai com o "ar do tempo". Ah! E, às vezes, até conhecemos pais!

As novas chapadas

Uma leve Marinha Grande dá sempre jeito numa campanha eleitoral.

Hélder


Hélder Macedo é uma grande figura da cultura portuguesa. Fixou-se em Londres há seis décadas e aí construiu uma notável carreira académica, base para a obra literária de vulto que ali também desenvolveu.

O escritor reuniu agora em livro, numa bela edição da Caminho, um conjunto de crónicas que, ao longo de anos, publicou no JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias. "Pretextos" chama-se o livro.

Congregados pela professora Margarida Calafate Ribeiro, um grupo de amigos e fiéis leitores de Hélder Macedo, nos quais me incluo, esteve ontem no Palácio Galveias a testemunhar o lançamento desta obra. E, no meu caso, tal como no de três outros amigos do Hélder, a ler para a audiência extratos destas suas crónicas.

Pazes

O Bartoon de hoje, no Público, interroga-se, com razão, sobre se a presença de Passos Coelho no comício do PSD (AD é um pseudónimo) será a melhor maneira de Montenegro poder ter êxito no seu objetivo de "fazer as pazes" com os pensionistas. 

terça-feira, fevereiro 27, 2024

Macron va-t-en guerre!


Se estiver interessado, pode ver aqui a minha opinião sobre aquilo que Emmanuel Macron disse sobre a necessidade de não excluir um eventual envolvimento de tropas europeias no conflito na Ucrânia.

segunda-feira, fevereiro 26, 2024

Mistério

Há para mim um mistério na campanha do PS: por que não recorda as mais marcantes intervenções do então líder parlamentar do PSD, ao tempo do governo de coligação PSD / CDS / Troika, quando defendia algumas das mais agressivas medidas dessa famigerada governação? Só para lembrar!

Passos

É de presumir que o surgimento de Passos Coelho na campanha haja sido o resultado de uma decisão de custo/benefício: entre fazer renascer a figura que personalizou a austeridade e recuperar o líder sebastiânico da direita, o PSD achou que podia arriscar. Logo veremos se fez bem.

domingo, fevereiro 25, 2024

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

A minha sorte


Gosto muito de capicuas. Dizem que as capicuas dão sorte. Ontem, tive a sorte de um amigo me oferecer uma nota de "vinte", com um número que é uma capicua. A anteceder um almoço geracional de alheiras, no Clube Militar Naval, com um grupo de "implicados no 25 de Abril", o Zé Melo trouxe-me um exemplar do livro que lancei há menos de três meses, para eu fazer uma dedicatória. No final, disse-me para ir ao fim do livro: tinha lá uma coisa para mim. Era a tal nota de "vinte". Ele sabia que eu gostava de capicuas. As capicuas dão mesmo sorte? Sei lá! Eu sei é que tenho a sorte de ter amigos como o Zé Melo. Essa é que é a minha sorte!

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

Segurança


Teve hoje lugar no Grémio Literário, o lançamento do novo livro de Nelson Lourenço, "Sociedade Global e Segurança - Modernidade, Complexidade e Incerteza".

Coube-me fazer uma apresentação do livro, com um texto que pode ser lido aqui.

Ele há cada coisa!


Aprendi hoje que o "The New York Times", quando surgiu, em 1851, tinha um ponto final no título. 71 anos depois, foi decidido eliminar o ponto. E, pelas contas do jornal, pouparam com isso, a partir de então, cerca de US$ 5.500 dólares anuais em tinta. 

O que é que isto interessa? Nada, mas a vida é feita de pequenos nadas, como diria o Sérgio Godinho.

(Quando escrevi inicialmente este texto, tinha colocado 1871 em lugar do ano certo, que é 1851. Cheguei a ter a tentação de manter o erro, para permitir que viessem logo a jogo os cultores da picuinhice nas redes sociais, também conhecidos pelos "catrogas", sei lá bem porquê).

terça-feira, fevereiro 20, 2024

Gaza, a América e o resto


Ouvir aqui.

"A Arte da Guerra"


Entrou agora no seu quarto ano de emissão o "podcast" com imagem que, no "site" do "Jornal Económico", o jornalista António Freitas de Sousa e eu fazemos semanalmente, com a duração cerca de 30 minutos. 

O programa, que já vai no seu número 150, é dedicado a três temas da atualidade internacional e divide-se em outros tantos blocos, de cerca de 10 minutos cada. O António Freitas de Sousa, que está no Porto, coloca questões a que eu respondo, quase sempre de Lisboa. Temos sempre tido um ótimo "feedback", por parte de ouvintes atentos e fiéis ao que comentamos.

Nas últimas semanas, tinha optado por não divulgar nas redes sociais o "link" para o acesso ao programa. Recebi várias queixas... Assim, "back to square one"!

A senhora dona

Que diabo de mania deu na imprensa económica para estar sempre a falar da "dona da" quando querem referir-se a uma empresa que é detentora maioritária de outra! Vou sempre ao engano: acho que se trata de uma senhora rica...

Segurança

Nelson Lourenço é professor catedrático e especialista em temas de segurança. Desde há anos que com ele colaboro no GRES - Grupo de Reflexão Estratégica sobre Segurança, estrutura de que foi a "alma mater" e que, entre várias outras atividades, deu origem, em 2018, a um livro coletivo em que tive o gosto de participar.

Nesta quarta-feira, dia 21, no Grémio Literário, vou ter o prazer de intervir na apresentação da sua última obra, "Sociedade Global e Segurança - Modernidade, Complexidade e Incerteza".

No dia 11 de março

Não vi o confronto televisivo na noite de ontem. Acabei assim por não assistir a nenhum debate eleitoral. Leio que Pedro Nuno Santos bateu claramente Montenegro. Espero bem que isso tenha as devidas consequências. Quero acordar bem disposto no dia 11 de março.

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Holocausto

O Holocausto, nome por que passou a ser designado o genocídio praticado há cerca de 80 anos por um governo de extrema-direita alemã, que vitimou milhões de judeus alemães e de países ocupados, foi um crime praticado pela Alemanha e por alemães. A comunidade internacional, que solidariamente tem partilhado emocionalmente, ao longo de décadas, um persistente sentimento de horror por aquela barbárie, não pode, contudo, partilhar a menor responsabilidade por aquele massacre. Repito: o Holocausto foi e continua a ser exclusivamente um problema da memória alemã. Qualquer tentativa para fazer esquecer isto é uma falsificação da História. Quando se fala de Israel, não podemos de deixar de ter isto sempre presente.

Curiosidade

Depois da declaração inequívoca do governo de Israel, recusando liminarmente a solução dos dois Estados, estou curioso em perceber se a União Europeia, como um todo e por parte de cada país, mantem a sua determinação, sem mas nem meio mas, na obtençâo desse objetivo.

domingo, fevereiro 18, 2024

Baixa


Em 1912, Afonso Costa, na Baixa, não passava uma tarde sem dar uma saltada ao Kungfu Ramen. 

Música neles



Os debates

O que é que pode ser considerada uma vitória num debate televisivo eleitoral? Dado o objetivo do exercício, parece-me óbvio que, de entre os dois políticos, sai vitorioso aquele que, com a sua prestação, possa ter grangeado mais apoios do que os que tinha no início do debate. 

"Portugal e o futuro"


No dia 15 de fevereiro de 2024, apresentei no El Corte Inglés o livro "O general que começou o 25 de Abril dois meses antes dos capitães", de João Céu e Silva. 

Quem quiser ler o texto dessa apresentação pode fazê-lo aqui.

sábado, fevereiro 17, 2024

O grande teste

Um teste caricatural, mas que nunca falha, sobre se um determinado regime é democrático, é quem quer que seja ter o direito a se manifestar pacificamente, a propósito do que muito bem lhe apetecer, dizendo ou berrando tudo o que quiser, em frente à sede do poder político do país, sem correr o menor risco de ser preso ou incomodado.

Em Moscovo, pode-se?

Sá Nogueira (1961)



sexta-feira, fevereiro 16, 2024

Votar Chega

Quem for votar Chega sabe que irá votar num partido de extrema-direita. E, diga-se desde já, está no seu pleno direito. Votar na extrema-direita - mesmo que racista, xenófoba e demagogicamente populista, como é o Chega - é um direito que assiste aos cidadãos que fazem parte integrante da democracia em que vivemos. Algumas das pessoas que vão votar Chega não se consideram a si próprias de extrema-direita. Mas essas pessoas não podem querer fazer passar os outros por parvos: elas sabem muito bem que irão votar num partido de extrema-direita. Ponto.

Rússia

Putin é responsável pela morte de Navalny, mesmo que possa não ter ordenado a sua liquidação. A pena absurda que cumpria, pela tentativa de um mero exercício de direitos democráticos, conduziu-o a condições excecionais de prisão, lugar em que estas coisas se tornam possíveis.

É uma ilusão (ocidental) pensar que a morte de Navalny vai reforçar a oposição interna a Putin. Navalny era contra a invasão da Ucrânia, o que o colocava em conflito com uma opinião pública onde a guerra é (ainda) bastante popular, porque Putin a "vende" como existencial.

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

É o dizes...

Não vejo debates televisivos, mas gostava imenso de ler por aqui pessoas cuja "lateralização" ideológica é conhecida surpreenderem-nos, assumindo que o seu candidato esteve mal e que, embora isso não lhes tivesse agradado, o adversário esteve melhor. Alguém? 

Ter um "flair"

Foi há cerca de 15 anos, em Paris. 

Uma colaboradora minha disse-me ter sido aproximada por um jovem francês, de origem portuguesa, que lhe vinha sugerir que a nossa embaixada pudesse dar o apoio institucional a uma estrutura ainda a ser criada, destinada a promover iniciativas luso-francesas em diversos domínios. Já não recordo pormenores do projeto, que, à partida, oferecia perspetivas interessantes. 

Acompanhado da minha colaboradora, tive um almoço com esse jovem, creio que na casa dos 30 anos. Era de terceira geração e, ao que recordo, já não falava português. Estava profundamente ligado ao então RPR, o partido de Nicolas Sarkozy. Era inteligente e muito bem falante. Transpirava ambição. Ao longo da conversa, que decorreu num ambiente simpático, ia deixando "cair" nomes de personalidades francesas importantes, de quem se dizia íntimo, manifestamente para se credibilizar. 

A certo passo, aproveitando aquele momento que os franceses designam por "entre la poire et le fromage", perguntei-lhe o que me parecia essencial: como pretendia financiar a ideia. Pareceu-me ter ficado surpreendido: estava à espera de que essa fosse a nossa "parte" na concretização do seu projeto. E foi claro: contava com apoios oficiais portugueses e com a nossa influência junto de empresas, portuguesas ou luso-francesas, para levantar os fundos necessários ao seu projeto. Ele faria "o resto". Perguntei-lhe se, pela parte dele, e dados os elevados conhecimentos que tinha, também tencionava procurar mobilizar financiamentos, nomeadamente oficiais. Deixou claro que não tinha minimamente essa intenção. Concluí que, na sua família de ascendência portuguesa, nunca ninguém lhe tinha contado a história da "sopa da pedra". 

Fiquei com um mau pressentimento daquela conversa. O meu "flair" dizia-me para não ir por ali. E não fui. O assunto não andou para a frente. 

Passaram dois anos. Vi o nome do jovem luso-descendente envolvido num famoso escândalo de faturas falsas, ligado a campanhas políticas, que tinha como principal acusado o próprio presidente Nicolas Sarkozy. 

Hoje, saiu a sentença, ainda sujeita a recurso: Sarkozy é condenado a prisão efetiva e o nosso (então) jovem a 18 meses de pena suspensa. 

Lembrei-me daquele almoço na bela esplanada do "La Gare", em Paris. Restaurante que, ao que me dizem, já não tem esse nome. Tudo muda, não é?

"Perfilados de medo..."

Se a coragem fosse uma qualidade dos portugueses, o escândalo que se passa em certas áreas da justiça já teria levado a uma mais do que legítima pressão democrática para que quem tem responsabilidades constitucionais adotasse, de uma vez por todas, uma atitude firme. Mas não é.

Ato de convicção

 


Tentar, tentei

Fiz um esforço: tentar ver, pelo menos, um debate. Achei que o Mortágua-Ventura podia ser interessante. Aguentei quatro minutos. Passei ao Mezzo. 

segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Os 25

Estão a aquecer os motores para a operação de diabolização do 25 de Abril que, quem detesta a data, vai desencadear, nos meses que aí vêm. O 25 de Novembro é, naturalmente, a "bala de prata" da operação, mas o 11 de Março, as FP-25 e as "maldades" do PREC estarão também no palco.

Formas

Não sei se Pedro Nuno Ssntos se apercebeu já da importância de estar a ser tratado, na comunicação e redes sociais, com subliminar familiaridade, por "Pedro Nuno". Se não se apercebeu da importância disso, pergunte ao Alberto João.

sábado, fevereiro 10, 2024

Rui Vilar


Comprei esta tarde, e acabei há pouco de ler, as "Memórias de dois regimes", uma entrevista de mais de 400 páginas, através da qual Rui Vilar nos descreve o seu trajeto pessoal e político. Com questões colocadas por António Araújo, Pedro Magalhães e Maria Inácia Rezola, que se nota terem feito um rigoroso "trabalho de casa", o livro constitui um interessante fresco do tempo de transição de um Estado Novo já em evidente declínio para dentro de um período revolucionário no qual Rui Vilar, com pouco mais de 30 anos, acabou por ser cooptado, quiçá inesperadamente, para lugares governativos de forte responsabilidade política e institucional. Para quem, como eu, acompanhou de perto esses tempos, se bem que situado em quadrantes à época nem sempre coincidentes com os do entrevistado, é muito curioso poder ser hoje "voyeur" retrospetivo das tensões existentes dentro do conselhos de ministros, das peculiaridades do caótico processo decisório da época, anotando de caminho a perspetiva de Rui Vilar, enquanto destacado observador-participante, sobre a dialética político-militar naquela volátil conjuntura. Para além disso, o livro traz-nos apontamentos curiosos sobre o nosso panorama bancário e económico-financeiro no período pré e pós - 25 de Abril, sobre a génese e natureza da Sedes, bem como comentários interrogativos em torno da atitude de algumas conhecidas personalidades, na diacronia dos dias convulsos da Revolução. O saldo deste exercício é o retrato de um social- democrata sereno, sem angústias ideológicas, de um tecnocrata com preocupações sociais, sempre teimosamente moderado no exercício de um obsessivo bom senso, que visivelmente não se deixou empolgar pelo sentido festivo da Revolução, no seio de um Estado em acelerada reconstrução, que acabou por servir com forte sentido cívico e democrático, marcado por alguma disfarçada mas legítima ambição. Deixo ao Rui e aos três condutores deste exercício de História oral um abraço de felicitações por este valioso contributo, bem oportuno neste ano de lembrar Abril.

P(N)S

Pedro Nuno Santos deve continuar a afirmar a sua indisponibilidade para resolver os problemas de governabilidade que surgem na direita portuguesa. Era só o que faltava que coubesse à esquerda ajudar a pôr ordem numa casa alheia em convulsão!

Para a credibilidade do sistema político, perante os seus eleitores, o pior que poderia acontecer era estes poderem começar a pensar que PS ou PSD eram rótulos e caras diferentes para uma mesma "receita" de políticas. O populismo anti-sistema ficaria encantado se isso acontecesse.

sexta-feira, fevereiro 09, 2024

Idade

Enquanto a juventude excessiva é um "defeito" que se cura com o tempo, é mais do que óbvio - e só não vê quem não quer ou a quem não der jeito ver - que a idade excessiva é um problema sem cura. É claro que é desagradável dizer ou ouvir dizer que Joe Biden está velho. Parece mesmo cruel e ofensivo, e releva de "idadismo", estar a atirar isto à cara do senhor. Mas quando alguém dirige o maior poder mundial e, com impressionante regularidade, mostra um comportamento físico errático e comete clamorosos lapsos, como confundir Macron com Mitterrand ou Scholz com Khol, é óbvio que isso legitima interrogações sobre a sua capacidade, não apenas para continuar a exercer o cargo mas, no caso vertente, de o poder renovar em bom estado físico e psíquico para os próximos quatro anos. Aí, surge de imediato o "whataboutism": mas, então, Trump não tem uma idade que se aproxima da de Biden? É verdade mas, ao dizer-se que Biden está velho e perigosamente decadente, isso não significa estar-se a optar por Trump. Os realistas clamarão logo: mas, se perdermos Biden, é Trump quem nos surge na soleira do poder em Washington! Então, pergunto eu, a opção é apenas entre ter um Biden caquético e "frail", a cair da tripeça, e, do outro lado do espelho, um Trump, quase tão idoso como ele e com ideias perigosas e mostras claras de insanidade política? Se assim tiver de ser, como parece que assim vai ser, só posso desejar a melhor sorte aos americanos e, de caminho, aos que deles dependem, isto é, a todos nós, pelo mundo. É que nem por ser uma inevitabilidade deixa de ser um facto irrecusável que Biden está perigosamente velho, fisicamente (pelo menos) decadente e, na minha opinião (que vale o que vale, até porque a minha idade já não anda muito longe da desses cavalheiros), obviamente sem a capacidade para ser, por muito tempo, um presidente minimamente eficaz dos EUA. Neste ponto desta discussão, aqui há uns tempos, surgiria uma voz sossegante a dizer: espera aí! nos EUA, há um, agora uma, vice-presidente. Ele ou ela podem sempre substituir o presidente. Eu pergunto: então por que é que, neste caso, ninguém fala nisso? Porque, mesmo que isso só seja dito a boca pequena, ninguém confia hoje minimamente nas capacidades de Kamala Harris para ocupar a Casa Branca. Poucos o dizem alto. Porquê? Pelo politicamente correto: porque é uma mulher e porque é de cor. Deixemo-nos de rodeios: é exclusivamente por isto que esta verdade não emerge. Kamala Harris concretizou o sonho "teórico" das feministas. Durante anos, estas diziam que, para haver uma igualdade entre homens e mulheres no acesso a lugares de topo, era preciso que houvesse mulheres incompetentes a chegarem a esses lugares. Porquê? Porque os lugares de topo, como é uma evidência, já estão cheios de homens incompetentes! Ora bem! Com Kamala Harris em vice-presidente, esse "sonho" foi cumprido. Já há uma mulher incompetente num lugar de topo. Mas, espera aí!, estás a dizer assim, com todas as letras, que a senhora é incompetente? Estou, claro. Se ela não fosse incompetente, e vista como tal, por que diabo de razão estariam as hostes democráticas tão empanicadas com a possibilidade de, no caso de Biden ter de se afastar, a senhora vir assumir a função presidencial? O mundo está perigoso, é o que é. Bom fim de semana.

O Q


Sou de um tempo sereno em que um Q nunca era visto desacompanhado de um U, que o amparava sonante para outra vogal. Um dia, do outro lado do mundo, aterrou a Qantas. Pronto, era a exceção! Pois isso! Logo veio o Qatar. Agora, até os sacos de aspirador! Isto já não é o que era! 

Putin

Lá estive, por mais de duas horas, a ouvir a entrevista de Tucker Carlson a Putin. Sou um masoquista. A meio, confesso, adormeci por uns minutos. Voltei um pouco atrás e ouvi até ao fim. O que achei? Sem trazer nada de substancialmente novo, acho que é uma peça necessária. E confirmei que Carlson é um primário.

Ah! Pois é!

Agora que o novo presidente argentino avança com uma proposta legislativa para proibir o aborto no país, é uma bela ocasião para os liberais da paróquia reiterarem o seu habitual aplauso às medidas de Milei.

Folguedo

Quando os portugueses decidiram prescindir dos trajes - que eram bem "cobertos" - dos seus históricos Carnavais, poupando no tecido, como se faz no outro lado do Atlântico, deveriam ter-se lembrado que o clima da Sapucaí é diferente do de Torres ou de Ovar.

quinta-feira, fevereiro 08, 2024

Ficar do outro lado

... e então é assim: há aquela altura da (nossa) vida em que damos conta que o tipo que, desde há anos, em todas as reuniões, se costuma sentar do lado contrário ao nosso, está a falar num tom cada vez mais baixo e menos percetível. E não é que, por coincidência, se dá também o caso de ser progressivamente difícil ouvir o que diz um outro fulano, que se senta a seu lado? É nesta altura que nos vem à ideia a velha anedota da mãe e do passo trocado do soldado.

Uma pergunta

Às pessoas que, em Portugal, se mostram tão preocupadas com os abusos aos Direitos Humanos em várias partes do mundo apetece-me perguntar por que não se dispõem a lançar uma campanha pelo estrito cumprimento dos prazos das prisões preventivas e das diversas fases dos processos judiciais, aqui na terrinha.

Deus, pátria, família e o senhor doutor Salazar

 


"Cheira bem, cheira a Lisboa!"

Bolsonaro

Uma operação policial foi hoje desencadeada contra Jair Bolsonaro, inculpando-o nos atos sediciosos ocorridos no início do ano passado. É de desejar que uma ação que tem por alvo um antigo presidente da República esteja a ser levada a cabo com base em sólidas provas, para que não venha futuramente a deixar margem a quaisquer dúvidas de que possa ter tido na sua origem uma qualquer "vendetta", cavalgando a mudança do ciclo político. Por um legítimo e quiçá compreensível preconceito, podemos ser tentados a pensar que Bolsonaro não merece o benefício da dúvida. Mas a democracia tem regras. É essa, aliás, a sua imensa superioridade.

Excitações


 
Há pouco, numa conversa telefónica com um colega de profissão, falávamos de um livro recente de Gérard Araud, um diplomata francês que ocupou postos da maior relevância e que, nos últimos anos, tem vindo a colocar por escrito o fruto dessa sua longa experiência. Ambos havíamos conhecido e trabalhado com Araud e o meu colega comentou que lhe havia chegado que, nos meios da diplomacia francesa, houve quem estranhasse que, nesse livro memorialista, Araud só citasse, por uma única vez e ao de leve, o nome de Alain Dejammet, figura no entanto tutelar da sua carreira profissional. Isso estaria a ser visto por alguns como uma desconsideração para com a figura do prestigiado embaixador Dejammet. Com o que as pessoas se entretêm...

Não fui verificar se assim era, porque, no caos que hoje é a minha biblioteca, esse é um dos dois livros de Araud que não faço ideia onde para, embora tenha por única certeza que ainda não concluí a sua leitura. Mas, nisto, Araud está muito bem acompanhado, nas estantes e pilhas de livros cá por casa.

A que propósito vem isto? É que, há semanas, numa conversa com outro amigo, que não é diplomata mas que vive curioso com a vida dessa carreira que gostaria de ter tido, ele fez-me notar que, no livro que publiquei em novembro passado, eu me tinha "esquecido" de citar vários colegas e colaboradores, pessoas que ele sabia serem meus bons amigos. 

Nunca me tinha passado pela cabeça tal coisa! É que, ao contrário de Araud, que escreveu um livro de raíz, eu limitei-me a coletar textos já publicados no meu blogue, ao longo dos anos. São essas histórias, e só essas, que o livro encaderna. Não era possível estar a inventar episódios só para acomodar a simpatia, "a martelo", de uma referência. Mas, pensando melhor, posso imaginar que algumas pessoas possam ter partilhado idêntica estranheza.

quarta-feira, fevereiro 07, 2024

Do banco


Luís Montenegro quer ser substituído por Nuno Melo em próximos debates televisivos. Os seus oponentes não deveriam recusar a possibilidade de debater com outros integrantes da AD. Mas têm o direito de exigir ter, como interlocutor, Gonçalo da Câmara Pereira.

Uma questão

Certos canais de televisão colocam no ar comentadores de politica interna exclusivamente oriundos do mesmo lado do espetro político. Percebe-se que tal possa dar jeito à agenda política que pretendem favorecer, mas será que, jornalisticamente, isso não os envergonha?

terça-feira, fevereiro 06, 2024

Como eu vejo as coisas


Os debates, numa eleição com algumas caras novas na linha da frente, podem vir a ter alguma importância. Mas só alguma. Pressente-se que a esmagadora maioria dos eleitores já sabe bem em que "lado" vai votar. Alguns, da brigada azeda e biliosa tentada pelo "é preciso dar cabo disto tudo!", ainda estarão algo hesitantes entre o Chega ou o reforço do seu PSD de sempre, o único que sabem que pode oferecer-lhes o governo. Do outro lado do espetro, há quem hesite em renovar o voto no PS. Uns porque se sentem tentados a dar uma oportunidade ao Livre ou à nova liderança do Bloco. Outros, de um setor mais dado à prudência, é gente que ainda não percebeu bem se o novo líder pretende deslocar o partido do lugar onde tem estado e que, no fundo, lhes dava algum conforto. Pelo meio, há ainda outros que também se interrogam. Não houve, pelas bandas socialistas, algumas trapalhadas desagradáveis? Claro que sim, mas também há que lembrar, do outro lado da balança, que, na pandemia e na crise económica que lhe sucedeu, quando o país tremeu, o governo esteve onde devia estar, transmitiu a confiança e a segurança necessárias. E deixou as contas certas, o que não é de somenos. Está bem, mas não há ainda muitas outras coisas, nos serviços públicos, que continuam a correr menos bem? É bem verdade, mas também há que pensar que os professores e os médicos terão ido longe demais no seu egoísmo corporativo e isso, somado a outros fatores, não deixa de ter efeitos negativos na eficácia de serviços que deles dependem. Ou também acham que os polícias e os agricultores na rua, nesta precisa ocasião, é uma mera obra do acaso? Tudo considerado, contudo, sente-se que algumas pessoas ainda que não parecem decididas em transferir para Pedro Nuno Santos a confiança que um dia tiveram em António Costa. Mas será isso suficiente para as fazer mudar de "lado"? É que, quando olham para a alternativa potencial, imagino que algumas devam perder o apetite... Daí a importância da campanha, dos debates, para ajudar a um separar de águas, mesmo por cima do ruído dos debates. Esta é uma eleição que ainda vai ter muito mais demagogia, "fake news" e mentirolas gordas, com uma comunicação social (algumas televisões já nem disfarçam nada!) que, em grande parte, já juntou os trapinhos com o lado do costume e irá continuar a fazer títulos de arromba para tentar levar a água ao seu moínho. Enfim e no fim, que seja o que os eleitores quiserem, esperando eu, naturalmente, que uma maioria deles venha a querer o que eu quero. Mas que fique claro: se outra maioria decidir ir por um caminho diferente do meu, estará no seu pleno direito! Foi para isso, foi também para eles (mesmo para os que dele não gostam), que se (e o "se" aqui é reflexo) fez o 25 de Abril.

segunda-feira, fevereiro 05, 2024

Orgulho

Alguns comentadores devem ter mães que, chegados eles lá a casa, lhes devem dizer, orgulhosas: "Ó filho! Mas se tu, afinal, sabes mais do que aqueles senhores sobre o que é que se devia fazer e o que é bom para o país, não devias ser tu a mandar?" E dão-lhes pão com marmelada. 

Uma doença democrática


Acontece a muitos. Surge, a todo o momento, nas nossas famílias, aos nossos amigos, aos que mal cruzámos na vida. É uma doença democrática, que não escolhe classes. Agora, calhou a um rapaz da minha idade. "I wish the very best to His Majesty". Sinceramente.

Sala de espelhos


Conversa real, ouvida na sala de maquilhagem de uma televisão: "Tenho muita pressa. Estou quase a entrar para o ar". A maquilhadora, compreensiva: "Vou pôr-lhe só um pozinho, para lhe tirar o brilho!" Resposta da pessoa visada: "Não faça isso! Não me tire o brilho! Se perco o que me resta de brilho, ainda me acabam com a avença!" 

E os da coroa?

Não vejo muita gente a felicitar a liderança do PPM pela sua estrondosa vitória nos Açores, aliada a duas formações políticas que não vem ao caso referir. E, esta hora da madrugada, ainda continuo à espera de um direto da sede monárquica, para a necessária conferência de imprensa do líder.

domingo, fevereiro 04, 2024

Rui Patrício (1932-2024)


Acabo de saber da morte, no Brasil, de Rui Patrício, último ministro dos Negócios Estrangeiros da ditadura.

Rui Patrício fez, naquele país, uma destacada carreira de advocacia e na área empresarial, tendo-se igualmente mantido ligado a instituições da comunidade portuguesa.

Desde o tempo em que fui embaixador no Brasil, construí com Rui Patrício uma relação de grande simpatia, que se converteu em amizade. Chegámos a planear escrever um livro juntos, o que, por várias razões, acabou por não se concretizar. Encontrámo-nos bastante no Brasil, mas também em Paris e em Lisboa. Criei por ele um grande respeito e consideração, não obstante o fosso ideológico que nos separava, que nunca afetou o nosso convívio.

Recentemente tive o gosto de dedicar-lhe um livro que publiquei e em que ele é referido. Partilho uma imagem dele a lê-lo.

À família de Rui Patrício, em especial ao seu filho Miguel, deixo as minhas sentidas condolências.

A sigla

Ao observarem o comportamento recente dos agentes da PSP, os socialistas portugueses terão confirmado a imensa sabedoria da decisão que foi tomada, aquando da fundação do partido, de, ao contrário de todos os seus homólogos pelo mundo, não incluírem a nacionalidade no nome. 

PSP

Por estes dias, a hierarquia da Polícia de Segurança Pública deveria lembrar-se do esforço que a corporação tinha vindo a fazer para se credibilizar perante os portugueses, como instituição integrante e protetora da ordem democrática, apagando a imagem que tinha de força repressiva ao serviço da ditadura. E o mesmo vale para a GNR.

Não estraguem tudo! 

sábado, fevereiro 03, 2024

Porque hoje é sábado

Telefonema de um amigo, ao fim da manhã: "Hoje é o primeiro dia do resto da vida do teu blogue. Tens de comemorar com um post brilhante, que fique memorável. O que é que vais publicar?". Eu, ensonado (deitei-me tarde p'ra burro!): "Sei lá! Acho mesmo que hoje não vou publicar nada!". Resposta do meu amigo: "Não podes fazer isso! Tens uma responsabilidade para com o blogue!". Dei comigo a pensar: "O que é que me acontece se eu não publicar nada? Vou preso? Não me parece! Logo hoje! Deixa-me aproveitar, os polícias estão de baixa psicológica! Hoje ninguém me prende!". E fui jantar com amigos, que é o que se leva desta vida, não é?

sexta-feira, fevereiro 02, 2024

15 anos


Em 2 de fevereiro de 2009, este blogue publicava o seu primeiro texto. Faz hoje precisamente 15 anos. Desde então, todos os dias, por aqui é colocado um texto ou uma imagem, muitas vezes ambas as coisas. E assim continuará a ser, enquanto assim for. Obrigado a quantos me leem.

Autora do "quadro": a Carris


Ontem, coloquei por aqui uma imagem, pedindo que identificassem o autor da "obra".

Turner foi, a grande distância, o pintor referido como mais provável, pelos muitos comentadores, em diversas redes sociais. Outros nomes foram ainda sugeridos: Kroeger, Carlos Araújo, Beckman, Vieira da Silva, Susana Ayres, Mário Botas, Rothko, Domingos Sequeira, Constable, Goya, Victor Hugo, Noronha da Costa, Leonardo da Vinci, Tanya Hayes Lee.

Posso agora revelar esta coisa muito simples: trata-se das traseiras, bem sujas, de um autocarro da Carris, à descida da Calçada da Estrela, que ontem fotografei.

Não fiquem zangados! Ah! O prémio, que ninguém ganhou, era um passe da Carris...


Lapso ou censura


O jornal "Expresso" tem um património histórico de responsabilidade na vida democrática portuguesa que é incompatível com o cancelamento descarado do Partido Comunista Português que resulta desta imagem. Um pedido de desculpas ficar-lhe-ia bem.

ps - a retificação do erro e o pedido de desculpas surgiram. O "Expresso" esteve bem.

O meu fado


A rádio estava a dar o Francisco José no "Nem às paredes confesso". O taxista ia baixar o som mas eu disse que podia deixar. Perguntou-me se gostava de fado e eu disse que sim. Concordou comigo em que o Francisco José não era um verdadeiro fadista. Mas foi de opinião de que o Max talvez pudesse ser (interessante!). Qual a voz masculina de que eu gostava mais, perguntou. Fernando Maurício, claro, disse eu. Aleluia! Era o fadista preferido do taxista, "a Amália dos homens", como o qualificou. Voltei a estar de acordo. Vieram à baila Manuel de Almeida e Fernanda Maria. E a Beatriz da Conceição e o Carlos Ramos, com o imenso "Não venhas tarde!" E nós sempre de acordo, com uma pequena reticência minha à Ada de Castro, que ele apreciava muito. A rádio trazia, entretanto, o vozeirão da Lenita Gentil, no "Fado Malhoa". "É mais cançonetista", concordámos. E falou-se do "Faia", onde ela canta. E da falta que agora ali faz a alegria da Anita Guerreiro, que ele me disse estar a viver na Casa do Artista. E, falando do "Faia", reverenciámos a memória da grande Lucília do Carmo. Eu disse que a tinha visto, há dias, na RTP Memória, ao lado do Fernando Farinha, o "menino da Bica", que, ao contrário do Manuel de Almeida, afinal não tinha nascido na Bica, explicou-me o taxista. Acabámos a concordar em não gostar do Marceneiro, coisa que sei que poria o meu amigo Rui Vieira Nery furioso. A corrida, entre a Buchholz e a minha casa custou menos de seis euros. E valeu a pena.

Não disse ao taxista que, hoje à noite, vou apreciar Cristina Branco no CCB. E que, até ao dia 10 de março, ainda tenho esperança de conseguir ouvir esse tenor da nova AD que se chama Gonçalo da Câmara Pereira. Se, entretanto, vier a ser "libertado". Gostaria de ouvi-lo falar, não cantar. Livra!

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

Matiné cultural


Vamos lá então ver como estão os nossos leitores em matéria de cultura estética. 

Quem é o autor do quadro de que destaquei este fragmento? 

Prometo um prémio a quem acertar.

50 Abris

 


É isto


 

O que eu penso

Depois do ataque terrorista do Hamas, passou a estar na moda dizer que havia uma guerra entre Israel e o Hamas. Isso acabou. O modo como Israel se comporta em Gaza e na Cisjordânia mostra, à evidência, que a guerra é entre Israel e os palestinos. Aliás, foi sempre assim. 

A frase


A frase, dita em tom alto, atravessou uns bons metros, cheios de gente, ainda no Grande Auditório, no final de um concerto (já agora, excelente!) na Gulbenkian, na noite de ontem: "Estou a ler o seu livro e estou a gostar muito!". Quem a disse, logo ecoado pela mulher, era uma figura pública bastante conhecida e reconhecida. Ao ver alguns olhares curiosos convergirem para mim, por uns segundos, quase que me senti tentado a pôr ar de "escritor". Passou rápido! Algumas caras estavam com jeitos de pensar: "Que diabo é que este tipo terá escrito?" Outras, de olhar mais indiferente, pareciam dizer: "Este tipo não tem aspeto de ter escrito nenhum livro de jeito". Outras, nem olharam, porque o bife no "Oh! Lacerda" já estava a arrefecer. Já passou!

quarta-feira, janeiro 31, 2024

O cheiro soviético


Desde há uns dias que Lisboa anda invadida, em certas horas, por um cheiro que vem sendo designado como "acre e de azeitonas". É esta a designação dada pelos "cheirólogos", ecoados pela nossa imprensa. No entanto, a origem do odor continua a ser um místério.

No primeiro dia em que se sentiu o tal cheiro pelas ruas, eu disse à minha mulher: "Não é o cheiro soviético"? Ela concordou.

Mas o que é o "cheiro soviético"? Trata-se de um cheiro que ambos detetámos em vários locais da então União Soviética, quando visitámos o país em 1980. Era um odor que surgia em diversos espaços públicos, que em tudo se assemelha ao que agora anda por Lisboa.

Com isto, não pretendo dizer que "os russos já andam por aí". Mas lá que o cheiro é o mesmo, lá isso é! 

terça-feira, janeiro 30, 2024

O caso "República"


Um dos textos que integram o livro de Mário Mesquita recentemente publicado diz respeito ao conflito político e laboral que, em 1975, envolveu o jornal "República", onde ele próprio trabalhava. Na sequência desses acontecimentos, que se projetaram fortemente sobre o ambiente de crispação política que então atravessava o país, o "República" deixou de ser publicado.

Mário Mesquita favorece a tese de que o Partido Comunista Português, por não ter conseguido garantir o controlo editorial do jornal, onde a redação era maioritariamente afeta ao Partido Socialista, acabou por estimular um processo de confronto entre um setor dos trabalhadores e a direção do jornal, esta última acompanhada pelo corpo redatorial.

Na sessão de apresentação do livro que ontem teve lugar na Gulbenkian, interveio José Rebelo, professor universitário de jornalismo, que, sobre os acontecimentos, tem uma leitura radicalmente diferente da de Mário Mesquita, de quem aliás era amigo. 

Rebelo, à época, era o correspondente em Lisboa do diário francês "Le Monde", jornal que acompanhou então a sua visão dos factos e que, por esse motivo, entrou em público confronto com outros setores da opinião política em França, favoráveis a Mário Soares e ao Partido Socialista. Recordo que o caso "República" veio a ter uma imensa repercussão internacional.

Um dia, há muitos anos, após ter lido um anterior texto de Mário Mesquita sobre o conflito no "República", perguntei-lhe se ele sabia a origem de um dos livros que faziam parte da muito escassa bibliografia que ele então (como agora) citava sobre o assunto: "O Caso República -  documentos, entrevistas, comentários", edição de autor, Lisboa, 1975. 

(Provando que este mundo é muito pequeno, noto que o outro livro citado por Mário Mesquita na bibliografia tem como um dos co-autores o jornalista Carlos Pina, a quem, em 1973, sucedi como bibliotecário e diretor do jornal da Escola Prática de Administração Militar, "O Intendente".)

Mário Mesquita, nessa conversa comigo, que tenho ideia de ter sido no café Montecarlo, referiu que esse livro tinha chegado ao seu conhecimento através de Raul Rego, o último diretor do "República". Tanto ele como Rego consideravam aquela edição, de cuja orientação fortemente discordavam, "algo misteriosa". 

Procurei ajudar a tenuar essa impressão: os nomes "Francisco S. Costa" e "António P. Rodrigues" eram, afinal, Francisco Seixas da Costa e António Pinto Rodrigues, este último então ligado à indústria cinematográfica e genro do escritor e diretor bancário José Palla e Carmo ("José Sezinando", na literatura), que nos ajudou, junto do então BPA, com umas letras que demoraram a liquidar. É que aquela nossa edição "de autor" acabou por não ser um grande sucesso, e isto é um "understatement"...

Mário Mesquita


Ontem, na Gulbenkian, falou-se de Mário Mesquita, que se foi desta vida vai para dois anos. Todos os pretextos são bons para recordar uma das figuras mais impolutas e retas da comunicação social portuguesa, um académico e um pensador, qualidades que se somavam a um trajeto jornalístico de grande valia. Desta vez, falou-se de um livro recém-publicado, que acolhe alguns dos seus estudos de grande interesse: "25 de Abril: a transformação nos 'media' ". Esta evocação contou com testemunhos de pessoas que se cruzaram com Mário Mesquita, antes e depois da Revolução e com a presença de algumas outras que, como eu, tinham grande apreço por Mário Mesquita.

Genial

Devo dizer que, há uns anos, quando vi publicado este título, passou-me um ligeiro frio pela espinha. O jornalista que o construiu deve ter ...