quarta-feira, fevereiro 28, 2024

Hélder


Hélder Macedo é uma grande figura da cultura portuguesa. Fixou-se em Londres há seis décadas e aí construiu uma notável carreira académica, base para a obra literária de vulto que ali também desenvolveu.

O escritor reuniu agora em livro, numa bela edição da Caminho, um conjunto de crónicas que, ao longo de anos, publicou no JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias. "Pretextos" chama-se o livro.

Congregados pela professora Margarida Calafate Ribeiro, um grupo de amigos e fiéis leitores de Hélder Macedo, nos quais me incluo, esteve ontem no Palácio Galveias a testemunhar o lançamento desta obra. E, no meu caso, tal como no de três outros amigos do Hélder, a ler para a audiência extratos destas suas crónicas.

2 comentários:

Unknown disse...

Tenho de ler alguma coisa deste meu conterrâneo, para além de que me parece uma pessoa encantadora (como não podia deixar de ser).

Carlos Antunes disse...

A propósito da homenagem a Hélder Macedo, grande figura da cultura portuguesa, ficcionista e poeta, professor da cátedra Camões na King’s College, em Londres, autor do romance “Partes de África”, publicado em 1991, como “um dos primeiros romances portugueses escritos de uma perspetiva pós-colonialista”, lembrei-me de recordar algumas das suas ideias sobre o Moçambique colonial, no qual nasceu, cresceu, de que fez parte e a que nunca renunciou:
«A minha certidão de nascimento foi emitida pelo registo civil da então capital colonial Lourenço Marques, sou filho e neto de funcionários administrativos de Moçambique, disse as minhas primeiras palavras na Zambézia, aprendi as primeiras letras no sul do Save, iniciei o liceu em Lourenço Marques, foi lá que escrevi os meus primeiros versos, dei pontapés na bola com o Mário Coluna e o Costa Pereira, vivi em Moçambique toda a minha infância e parte da minha adolescência”.
“Foi um tempo mágico, como só a infância pode ser, porque a infância é um espaço sem culpa”, logo concluindo: “Não me sinto minimamente culpado pelo que houve de culpável, e muito houve, no colonialismo português, de que sou originário e que é parte integrante da minha identidade portuguesa.»
Hélder Macedo fez parte de uma notável geração de moçambicanos do tempo colonial (Reinaldo Ferreira, Rui Knopfli, Glória de Sant’Anna, Alberto de Lacerda, Eugénio Lisboa, Fernando Gil, Hermínio Martins e muitos outros que agora não vêm à mente) num meio cultural dinâmico da então Lourenço Marques (mas também da Beira), cidades abertas e espaços de liberdade que não havia então na metrópole.
Basta recordar o “Diário de Notícias”, e os quinzenários ou mensários como “A Voz de Moçambique”, “Itinerário”, “Voz Africana” e as páginas literárias dirigidas pelo Rui Knopfli e Eugénio Lisboa, ou os filmes de Eisenstein, Antonioni, Fellini, Milos Forman, ou do grande cinema russo, polaco, checo e húngaro, interditos na metrópole, e que então eram vistos nas salas do Manuel Rodrigues ou do Cine-Clube, ou ainda do Círculo de Cultura Musical em Moçambique onde era possível ouvir concertos dos maiores violinistas, pianistas e violoncelistas, que em digressão pela África do Sul, aceitavam actuar em LM.
Convém recordar esta notável plêiade de intelectuais moçambicanos, todos oposicionistas ao Estado Novo e defensores de um Moçambique independente, mas que se viram obrigados após a independência a abandoná-lo perseguidos pela ditadura do partido único da Frelimo.
Nem tudo, nestes tempos do facilitismo dos historiadores e da moderna historiografia pós-colonialista, se cinge à descrição que estes fazem sobre o Moçambique colonial. Como recentemente, o Prof. Luís Reis Torgal, historiador e professor jubilado da Universidade de Coimbra, insuspeito, por ser um homem de esquerda, escrevia (Publico, 2/03/2023): «é este mau gosto de chamar História a tudo, quando, por exemplo, se fala da presença colonial portuguesa (…) o que implica que devemos, obviamente, estudar a colonização e o colonialismo com todo o rigor, mas sem preconceitos negativos ou positivos, como por aí se vê nesta febre de opinião ou de ideologia radical anticolonialista ou neo-imperialista, que vai deformando a interpretação da realidade».

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