segunda-feira, dezembro 12, 2022

O Qatar a ver-se grego

A confirmarem-se, são bastante graves as acusações de corrupção que impendem sobre a deputada europeia grega e o grupo que o Qatar terá financiado para tentar edulcorar a sua imagem europeia. 

Teremos de concluir que Doha, com este episódio a somar-se a todas as controvérsias que antecederam o Mundial, não parece estar a ter um período de “relações públicas” muito brilhante.

Conversas em família

- É um escândalo, de facto! O dinheiro que esta deputada europeia grega recebeu do Qatar! Devia andar de Rolls-Royce!

- Mas quem é que quer andar de Rolls-Royce? Já pensaste o que deve ser estacionar um Rolls-Royce?

Rimo-nos os dois e, nesse instante, vi um lugar para deixar o Smart.

Bolas


Lídia Paralta Gomes, uma jornalista do "Expresso" cujo nome li hoje pela primeira vez, escreveu há pouco, em modo sinédoque, este "filme" do Euro que ganhámos: "Moutinho ganha a bola, dá para William Carvalho, este, com aquela leveza que ainda hoje traz no pé, passa para Ricardo Quaresma que devolve de primeira para João Moutinho. O médio vê Éder, entrega a bola ao avançado, que ganha posição a Koscielny e remata."

Gosto destes ritmos de balanço para a glória e, por isso, e para quem tiver idade para isso, trago aqui esta bela "peça" que, há meses, o Manuel Magalhães e Silva me recordou, bem de outros tempos, talvez do Nuno Brás: "Corre Hernâni, levanta a cabeça, procura a quem dar, amortece na coxa, arma o tiro, aponta, executa e ... golo".

O "falar" do futebol é uma arte de antologia. Conseguir dizer que um jogador "chutou com o pé que tinha mais à mão" ou que, como um dia disse o clássico Alves dos Santos, "lá vai o jovem Simões, agilidade na cabeça, inteligência nos pés" são tiradas que confortam a nossa alma de eternos adeptos da "modalidade".

Há "coisas" mais bonitas do que o futebol? Há e eu já fui apresentado a algumas. Mas a arte da bola é magnífica, desculpem lá!

domingo, dezembro 11, 2022

Um senhor do tempo


O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas editou a obra de homenagem “Adriano Moreira - Para Além da Espuma do Tempo”.

Trata-se de um conjunto de textos que analisam a passagem por diversos palcos de intervenção de uma figura marcante da pedagogia e do pensamento estratégico do nosso país, que há pouco nos deixou.

Ao olhar o título desta obra, veio-me à ideia que o conceito do tempo esteve bastante presente na bibliografia de Adriano Moreira. Senão vejamos: “Notas do tempo perdido “, “O tempo dos outros”, “A espuma do tempo. Memórias do tempo de vésperas”, “Nunca é tarde para o homem”, “Futuro com memória”, “A nossa época”, “Este é o tempo!”.

É compreensível, para quem iria viver um século, esta atenção ao tempo.

À Alves Redol


Cá por casa, há uma secção de camisas chamada, desde há muito, “à Alves Redol”. Têm quadrados largos, cores diversas, algumas berrantes, a lembrar as camisas que o escritor vestia em fotografias, idênticas às dos pescadores e presumivelmente dos gaibéus, por mim compradas em momentos de completa insconsciência estética, deslize neo-realista ou, simplesmente, saldos a que não soube resistir. Nos dias de hoje, quase só as uso quando tenho a certeza de que não vou sair de casa, porque algumas são mesmo inapresentáveis. 

Há tempos, tocou à campaínha um amigo, antigo exilado em França, e, vendo-me com aqueles quadriculados largos sobre o corpo, exclamou: “É pá! A tua camisa faz-me lembrar Paris!” Paris? Porquê? Ele explicou: “Não te lembras da eterna montra da Casa de Portugal, na rue Scribe, no tempo do fascismo? Tinha sempre uma guitarra, um xaile de fadista, umas redes e um pescador com barrete e uma camisa como a tua. Isso ainda se vende?”. 

Embatuquei. Vou fazer a sugestão à Catarina Portas, para incluir as camisas de pescador - podia chamar-lhes “à Tenreiro” - no catálogo de “A Vida Portuguesa”.

Os verdadeiros artistas

Gostaria de lembrar que, se Ronaldo não deixa de ser um génio do futebol, tenha ele as birras e atitudes que tiver, o mesmo se aplica à classe técnica de Messi, apesar da sua detestável falta de desportivismo. A qualidade de um “artista da bola” supera tudo.

A jogar

A brincar, a brincar, o Qatar lá conseguiu que o futebol embrulhasse em relativo esquecimento os Direitos Humanos e as acusações que impendem sobre país. Isto não significa, contudo, que, no saldo deste Mundial, a sua imagem não passe a ter uma nódoa no imaginário mundial.

Quem gostarias que ganhasse o Mundial?

Perguntaram-me isto. A pessoa ficou espantada quando lhe respondi, muito sinceramente, que não sabia. Gostaria que Portugal ganhasse, claro, porque os cidadãos do meu país teriam ficado satisfeitos - e o bem-estar das pessoas que nasceram para cá do Caia é uma das medidas simplórias do meu patriotismo. Porém, afastado que foi Portugal (e o Brasil, ”my second and last best”), é-me indiferente, em absoluto, quem vai levar a taça. (Fiquei muito chocado com a falta de desportivismo da Argentina. Mas o facto de ter por lá o melhor jogador do mundo ainda em prova empata-me o sentimento). Nunca percebi por que diabo, sempre que há um jogo de futebol, temos de escolher um lado pelo qual “torcer”? Durante o Inglaterra-França, dois países onde vivi e fui feliz, onde tenho amigos e a cujas culturas (e livrarias!) estou muito ligado, não me senti minimamente a favor de um ou de outro. Ou melhor, tive pena que o Kane falhasse o penalti, mas apenas porque tal me permitiria ter mais meia hora de bom futebol. Mas confesso que me estou completamente ”a borrifar” para quem vá ganhar o Mundial. Gostaria é que as quatro partidas que faltam, e que verei com atenção (falhei alguns jogos, mas poucos), resultassem em jogos animados, com muitos golos e com excelente futebol. Só isso! A sério! 

p.s. - tenho a certeza, quase absoluta, que cada comentário a este post trará um país que o seu autor privilegia. É que não conheço muita gente que reaja como eu. E durmo lindamente assim, acreditem.

sábado, dezembro 10, 2022

Marrocos


Era uma mulher muito bonita. Chamava-se Christine Keeler. Morreu há cinco anos.

A história que vou contar - e que dedico à Célia Rocha e ao Frederico Alcantara De Melo, leitores desta página e testemunhas inconscientes do episódio - passou-se nos anos 70 do século passado.

Naqueles tempos, as chamadas “comissões mistas”, as visitas técnico-políticas de membros dos governos aos seus homólogos de outros países, para assinar ou cumprir acordos, demoravam vários dias, entrecortados de trabalho e de algum lazer. Bons tempos esses!

Estávamos em Marrocos, no início da minha carreira, e eu fazia parte de uma dessas delegações, chefiada por um político jovial e mundano, saído de uma área técnica que não vem para o caso referir.

Acabado o jantar oficial do primeiro dia, em Rabat, o nosso governante chama-me à parte e coloca-me uma questão: “Você é muito mais novo que eu, mas já ouviu falar do caso Profumo?”.

Eu conhecia bastante bem a história do ministro da Defesa britânico, John Profumo, que, uns bons anos antes, havia caído em desgraça, com grande escândalo público, por, em Londres, partilhar uma bela amante com o adido militar soviético.

Estranhei um pouco que a curiosidade prosseguisse, numa linha inquisitiva: “E lembra-se do nome dela?”. Com algum gozo, mostrei a minha familiaridade com a intriga política londrina e disse-lhe que ela se chamava Christine Keeler. Ele ficou satisfeito.

Mas o que eu não sabia, e ele logo me revelou com um sorriso cúmplice, é que, segundo informações seguras de que dispunha, Christine Keeler vivia então em Marrrocos, mais precisamente em Casablanca, onde dirigia nada mais nada menos que uma próspera “casa de meninas”.

Chegado a este ponto, o nosso político – que, diga-se de passagem, não foi muito longe na sua carreira governativa – lança-me o desafio: “Meu caro, você é um homem do mundo, lá dos Estrangeiros e agora vai ter de mostrar o que vale. Tem como missão arranjar maneira de, numa destas noites, eu dar um salto lá à “casa” da Keeler. Fale com o protocolo marroquino, eles estão habituados a estas coisas. E você, se quiser, até pode vir comigo. Tome bem nota: será um encontro com a História!”.

Caí das nuvens, confesso. Fiz-lhe ver que, andando nós com batedores, com uma delegação relativamente numerosa e enredados em compromissos oficiais vários, era um pouco delicado e difícil montar uma escapada lúdica daquele porte, para uma cidade a quase uma centena de quilómetros da capital. Mas o nosso político insistia e, praticamente, só não ameaçou queixar-se de mim em Lisboa porque, apesar de tudo, este tipo de tarefas não fazia parte, pelo menos obrigatória, da “job description” dos nossos diplomatas.

A minha discreta e pouco empenhada missão junto do protocolo marroquino não teve, porém, aquilo que se possa qualificar como um acolhimento entusiasmado. No entanto, para atenuar os fulgores do nosso político, lá se conseguiu para ele um programa alternativo, através de uma espécie de “room service” feminino, que a viúva de um antigo chefe da polícia de Rabat tinha à época instalado para clientes VIP, no hotel onde nos alojávamos. Do mal o menos e o homem lá se acalmou.

John Profumo morreu já há alguns anos, bem depois no nosso episódico governante. Christine Keeler, que morreu com 75 anos (na bela foto que reproduzo tinha 19), acabou por ganhar renovada fama, em 1989, com o filme “Scandal“, onde era relatada a sua aventura política de alcova. Não verifiquei, na autobiografia que publicou, os relatos das suas posteriores noites de Casablanca. Mesmo que o tivesse feito, e graças à minha lamentável imperícia diplomática, eles não poderiam incluir qualquer nota sobre a visita de um fogoso político português, nos idos da década de 70. A menos que outros por lá tivessem andado! Quem sabe?...

Hoje é dia para trazer esta memória de Marrocos. 

Glória

À volta do Telefunken lá de casa, em Vila Real, na transição dos anos 50 para 60 do século que teima em não me passar, o meu avô, o meu pai e eu, com as senhoras da família um pouco mais distantes, mas atentas, ouvíamos, com patriótica ansiedade, os relatos dos Portugal-Espanha ou Portugal-Itália que ditavam, nesse ano, o campeão europeu em hóquei em patins, modalidade onde, por uma vez, “éramos” (plural majestático da glória que estava mais à mão) bons. Perdíamos, ganhávamos, e, por uns dias, aquilo era um verdadeiro oxigénio moral. Depois, vinham os dias normais.

Amanhã, serão esses dias. Toda a vida me tenho interrogado sobre esta inevitabilidade de nos dedicarmos nervosamente ao absurdo das equipas, das cores, das pátrias. Mas tudo indica, seja lá por que for, que a vida é mesmo assim.

Aprender

De uma vez por todas, é preciso compreender que ter posse de bola não significa necessariamente controlar o jogo.

Brasil (2)

Há a regra não escrita, de mínimo bom senso, de que um ministro indigitado, mas que ainda não tomou posse, se deve abster de comentários públicos sobre as temáticas do seu futuro cargo. No Brasil, alguns titulares indicados por Lula estão já a “mandar bitaites”. Mau começo.

Brasil (1)

Há qualquer coisa no ar que me diz que os próximos vinte dias, no Brasil, podem não ser fáceis.

Santos da casa

Fernando Santos não é, na tática futebolística, o mais corajoso treinador do mundo - e isto é um óbvio “understatement”. Mas, na vida, como hoje o demonstra, é um homem com muita coragem e forte personalidade. Se se enganar, acabará hoje o seu contrato. Se acertar, logo se verá!

Senhor dos Passos

Sem clarificar nunca o seu “end game”, Pedro Passos Coelho adota a santanal atitude de “andar por aí” a falar. Assume um registo sebastiânico que reduz o espaço aos protagonistas de turno na direita. Vou dizer isto de forma elegante: Passos Coelho nem “atua” nem sai de cima…

Vizinhos

É num dia como o de hoje que nos devemos lembrar de que a distância entre Lisboa e Rabat é mais curta do que aquela que separa as capitais portuguesa e espanhola.

Guerras

A eventualidade de Alcácer Quibir e do rei Sebastião virem à baila por aqui, no dia de hoje, é elevadíssima.

Isto é miserável!

 


sexta-feira, dezembro 09, 2022

É a bola!


O Brasil foi eliminado pela Croácia. O futebol é isto. Achei o Brasil melhor, criativo e com um jogo muito mais interessante, uma equipa que, este ano, parecia ter a “estrela” para ser campeã do mundo. A Croácia foi teimosa, resistente, com a genialidade de Modrić a puxar pelo conjunto. No início da segunda parte, os croatas pareciam já não poderem “com uma gata pelo rabo” mas, com um guarda-redes excecional, conseguiram segurar o jogo. Nos penaltis, tudo é sempre possível! Um grande abraço de pesar aos meus muitos amigos brasileiros, que imagino desolados, neste momento. É a vida! É a bola!

O escrete do Planalto

Bons nomes anunciados por Lula para o futuro governo. José Múcio na Defesa é um “safe pair of hands”, Mauro Vieira no Itamaraty é um nome sólido, embora um pouco factotum de Celso Amorim. Haddad é um político de mão cheia e pode surpreender na Fazenda.

Eutanásia

Tenho muitas dúvidas sobre a questão da eutanásia. Mas já ouvi muitos bons argumentos a favor, por parte de gente por cuja opinião tenho muito respeito.

Spectator

“NHS waiting lists have reached a new record high of 7.2 million in England, figures released today revealed. Rishi Sunak last night attended a taskforce on trying to cut the backlog, which is expected to grow further.”

No sapato…

A maior prova de falta de imaginação, neste Natal, é oferecer livros sobre a Rússia, a Ucrânia e respetivas figuras.

Chama-se a isto presciência…

 


Se trabalhassem…

Os três episódios que a Netflix divulgou sobre a saga dos príncipes britânicos desavindos são uma obra-prima de promoção da senhora e de vitimização do casal. Parece serem uma almofada sentimental para a “pancada” na família real que virá nos próximos episódios. Se trabalhassem…

Feito ao bife!


Passei ontem por lá, pelo Café de São Bento, na hora noturna pós-espetáculos em que mais gosto de ir. Tinha lido que houve mudança de gerência e que iria haver alterações. Por ora, que eu desse conta, são poucas: algum pessoal novo mas simpático, aumento sensível de alguns preços e fim das meias garrafas de vinho (truque desagradável para promover o cada vez mais rentável vinho ao copo). O bife continua muito bom e essa é a medida clássica de uma casa onde, contudo, quase sempre nos esquecemos de que existem outros pratos. Por exemplo, o “strudel” de bacalhau estava excelente. O serviço continua com grande simpatia e profissionalismo, o que foi sempre uma marca da casa. Que as futuras mudanças não levem o Café de S. Bento a perder-se e a perder a afetividade de quem dele gosta, como é, de há muito, o meu caso, é tudo o que desejo.

Pois!

Ontem, um reputado médico e professor universitário português, que está longe de ter a menor simpatia por este governo, dizia-me: “Não consigo entender como é que a nossa comunicação social não esclarece que a situação que se vive nos serviços de urgência, por toda a Europa, não é muito diferente daquela que se passa em Portugal. Os serviços públicos de saúde, em França ou no Reino Unido, estão hoje numa situação pior do que aquela que se vive no nosso país e as operações em atraso atingem números extraordinários, muitos piores do que os nossos. E, no entanto, o tema, por lá, não costuma abrir os telejornais”.

quinta-feira, dezembro 08, 2022

País de marinheiros

 


человек года


Alguém já verificou quem será ”o homem do ano” para a Pravda ou para o Izvestia? Ou para o Sebastopol Times? Faço uma aposta…

O sal e a vida


Não estou a exagerar, garanto! Desde há décadas, de cada vez que, num restaurante, sou tentado a colocar um pouco mais de sal na comida, vem-me à ideia a figura, sorridente e de “papillon”, do professor Fernando Pádua, que, através da televisão, educou gerações de portugueses a serem parcos na utilização do cloreto de sódio, como forma de prevenir a hipertensão.

Fernando Pádua morreu hoje. O meu agradecimento pessoal pela sua lição de vida.

Eduardo


Um insuperável conflito de calendário impediu-me de estar presente na homenagem que ontem foi prestada a Eduardo Ferro Rodrigues, na Assembleia da República. Tenho muita pena de ter sido forçado a essa ausência e ele sabe isso. Teria gostado de poder dar-lhe um abraço, não apenas de forte amizade mas, igualmente, de sincero agradecimento pelo seu permanente exemplo cívico, pela impoluta figura de Estado que sempre foi, que muito honrou a democracia e a nossa geração. Fica aqui esse abraço, caro Eduardo.

quarta-feira, dezembro 07, 2022

“A Arte da Guerra”


A guerra e o petróleo, novo governo em Israel e os equilíbrios parlamentares nos EUA - três temas que, com o jornalista António Freitas de Sousa, desenvolvo em “A Arte da Guerra”, o podcast semanal sobre política internacional do “Jornal Económico”. 

Pode ver clicando aqui.

Falando de Cristiano Ronaldo


Cristiano Ronaldo é, a uma distância incomparável, o maior jogador português de todos os tempos. Com todo o respeito e imensa simpatia que me merece a figura do grande Eusébio, estamos a falar de “outro campeonato”. 

Cristiano Ronaldo tem disputado com Lionel Messi o título do melhor jogador do futebol contemporâneo. Eu, confesso, sempre hesito em escolher entre eles.

Cristiano Ronaldo está, a meu ver, entre os dez maiores jogadores de futebol de todos os tempos, num grupo onde, para mim, estão Messi, Maradona, Beckenbauer, Pelé, Platini, Cruijff, Di Stefano, George Best e Puskas - e talvez pudessem estar Eusébio, Bobby Charlton, Van Basten, Muller, Romário, Zidane, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e uma meia dúzia de outros mais.

Cristiano Ronaldo levou e leva o nome de Portugal pelo mundo, num sentido positivo, granjeador de um apreço e simpatia que se refletem na imagem do nosso país. Temos de agradecer-lhe por isto. Os portugueses que andam por fora sabem bem do que estou a falar.

Cristiano Ronaldo demonstrou, desde muito cedo, uma vontade de auto-superação que o tornou altamente respeitado e um exemplo mundial de profissionalismo. Além disso, não obstante alguns deslizes de comportamento, Cristiano Ronaldo soube, por muito tempo, conduzir a sua vida pessoal com um apreciável equilíbrio, o que o tornou merecedor de grande admiração. Não deve ser fácil gerir um estatuto - profissional, mediático e sócio-económico - como aquele que hoje é o seu. 

Cristiano Ronaldo tem, nos últimos tempos, dado passos e assumido atitudes que não apenas contrastam com o perfil a que nos tinha habituado como o fazem entrar, por vezes, num inesperado registo de “prima dona”. E porque esse comportamento surge, precisamente, naquele que começa a ser o óbvio início do ocaso da sua carreira, fica a sensação, talvez injusta, de que ele não está a saber lidar bem com essa fase, trágica mas inevitável, do seu tempo profissional.

Porém, Cristiano Ronaldo, por tudo aquilo que foi, pelas alegrias que deu a quem, como eu, sempre apreciou imenso o seu percurso, é merecedor da nossa eterna admiração. E merece mais: merece que esse seu passado seja protegido e preservado de tudo quanto, de menos bom, o seu presente ou futuro possam vir a trazer.

Ventozelo


No dia 14 de dezembro, com o jornal “Público”, é editado um caderno das “Conversas em Ventozelo”, coordenado pelo professor Luís Valente de Oliveira, sobre os 20 anos do Douro Património Mundial, um trabalho a que tive o gosto de prestar a minha modesta colaboração.

Évora, capital europeia da Cultura 2027

 


Excelente escolha! 

terça-feira, dezembro 06, 2022

Pois é assim!

Ronaldo no banco. Tinha de ser. E se perdermos? Se perdermos? Perdemos.

Perejil

Quem conhece a relação entre Marrocos e a Espanha percebe bem o significado do resultado de hoje entre as duas seleções.

Pode ser isto

Bela síntese do “Financial Times”, na sequência do artigo de Olaf Scholz, primeiro-ministro alemão, na “Foreign Affairs”: “Germany is a case study of a western state that made a “strategic bet” on globalisation and interdependence — and was now suffering the consequences.. It outsourced its security to the US, its export-led growth to China, and its energy needs to Russia.”

Notícias de Kiev

Por simpatia ou mero realismo, dificilmente qualquer órgão de informação irá escolher uma “personalidade do ano“ que não seja Volodymyr Zelenskyy.

Só talvez a “Pravda” e o “Izvestia” se inclinem para um conhecido senhor do Kremlin. Ah! E “A Bola” para Mbappé, claro.

segunda-feira, dezembro 05, 2022

Que ferro!


Foram sete, contei-os bem, os livros que me apetecia comprar e não comprei, na passagem, depois do almoço, nas livrarias Bertrand, FNAC e Férin. Porquê? Nem consigo tempo para ler as resmas que tenho em atraso cá por casa, quanto mais juntar-lhes novos parceiros. “Que ferro!”, diria o Eça.

domingo, dezembro 04, 2022

Trump

Trump tenta, a todo o custo, regressar às notícias. Depois de um lançamento de recandidatura que caiu em saco roto, não despertando entusiasmo nas hostes republicanas, fez agora uma proposta para anular as eleições de 2020 e suspender a Constituição. E disse isto sem rir!

Vergonha

Se acaso não ficar evidente uma reação forte por parte das autoridades, o escândalo das condições de vida dos trabalhadores estrangeiros no Alentejo pode vir a ter um efeito reputacional negativo sobre o nosso país idêntico àquele que, no passado, ocorreu com o trabalho infantil.

Sobe e desce

Olhando a onda de críticas a Marcelo, cada vez mais me convenço de que o sentimento português pende para a ciclotimia: cansaço com as figuras seráficas, subsequente escolha de “porreiraços” e, depois, regresso ao primeiro modelo. Afinal, a democracia também é isto.

Irão


A realidade parece estar a ter muito peso. Há sinais de que as autoridades iranianas se preparam para desmantelar a “polícia dos costumes”, destinada a regular as práticas comportamentais em sociedade que possam infringir as regras corânicas. A ver vamos!

Jill Jolliffe


Acabo de ler a notícia da morte de Jill Jolliffe, aos 77 anos. Nela se diz que os seus últimos anos foram passados em Melbourne, num estado de crescente demência.

Conheci Jill Jolliffe nos anos 80, quando ela viveu em Portugal. (Escolhi, na net, uma fotografia com a imagem que dela recordo). Criámos uma boa relação, estabelecida já não sei através de quem. (Terá sido o Benjamim Formigo?) Almoçámos algumas vezes. Recordo que, invariavelmente, nos encontrávamos à porta do Palácio Foz, onde ela frequentava o ponto de apoio ali existente para os jornalistas estrangeiros e íamos comer para tascas na Baixa, que ela conhecia como ninguém.

Jill era uma jornalista australiana fortemente dedicada à causa timorense, num tempo em que o tema não mobilizava muitos setores portugueses. Era uma mulher com um sorriso suave, por detrás do qual se notava uma forte convicção. Tinha “uma história eterna com Timor”, como um dia me disse. Tinha andado por lá, testemunhou momentos dramáticos, escreveu sobre isso e dedicava-se abertamente àquela causa. Nas conversas comigo, procurava sempre sondar do estado de espírito da nossa diplomacia face à ocupação indonésia de Timor-Leste e ao apoio possível à guerrilha. Como eu, nas Necessidades, não tratava minimamente do tema, sabendo muito pouco sobre o modo como ele era abordado politicamente, nunca lhe dei nenhuma ajuda. Até um dia.

Um dia, Jill Jolliffe pediu-me um favor: se eu podia encaminhar uma carta de Xanana Gusmão para o primeiro-ministro de então, Cavaco Silva. A carta, que vinha aberta, era um pedido de material, de diversa natureza (recordo que incluia material de comunicações), de que a guerrilha necessitava. Fiz o que me pediu e obtive um contacto para ela poder fazer um “follow-up” do assunto. Nunca cheguei a saber se a carta teve uma resposta, positiva ou não. 

Várias vezes, nos últimos anos, me tinha perguntado sobre o que seria feito de Jill Jolliffe. Tal como em outras ocasiões já me aconteceu, acabo por saber da vida de alguém na altura em que recebo a notícia da sua morte.

sábado, dezembro 03, 2022

Taberna do Adro


Ainda antes de sair do bulício ruidoso e multitudinário do Alentejo, para regressar à calmaria desértica da paisagem urbana olissiponense, decidi passar por Vila Fernando. A aldeia, que já teve no seu centro uma instituição correcional para jovens, bem memorada na arquitetura ali construída, sofre hoje de um claro declínio demográfico. Não terá mais de 300 habitantes. 

O saldo populacional, contudo, aumenta um pouco às horas de almoço e jantar, por via dos utentes da “Taberna do Adro” (que fecha às quartas, desde já aviso). Pela mão hábil da Dona Maria José Sousa uma cara hoje muito popular para quem gosta de aprender culinária pela televisão, com o marido no “backstage” e o filho e o neto a oficiarem às poucas mesas, ali se apresenta uma cozinha alentejana tradicional, sem arrebiques nem efes-e-erres, a preços pré-guerra, num ambiente agradável e acolhedor. Miguel Esteves Cardoso fez-lhe adequada menção no “Fugas” e a nossa Academia Portuguesa de Gastronomia consagrou, há pouco, a genuina divulgação mediática da cozinha alentejana que a Senhora faz (40 programas, gravados em Madrid, já há uns tempos, contou-me).

Há alguns anos, tinham sido os alertas gastronómicos dos meus amigos Fortunato da Câmara e Fernando Melo que, respetivamente no “Expresso” e no “Diário de Notícias”, me tinham obrigado a anotar este endereço, onde a vida, contudo, ainda me não tinha trazido.

A experiência desta refeição trouxe-me agora à memória, gustativa e não só, outros tempos da primeira morada do Chana do Bernardino, na Aldeia da Serra, da época originária do Chico, em São Manços, ou dos alvores do Manuel Azinheirinha, no Escoural. Da lista, que não é longa, o que se saúda, ficaram por experimentar o pastelão de espargos, que a casa recomenda, a tomatada de galinha, o cachaço de porco preto e os pezinhos, e algumas sobremesas. E nem digo o que se comeu.

Onde fica Vila Fernando? Não fica longe de Elvas, não fica longe de Estremoz e não fica longe da A6. Como diz o “Michelin”, para aquilo que se recomenda, “vaut le détour”. Fá-lo-ei mais vezes. Deixo a capa da lista, debruada a pano. Fechada, para abrir o apetite de quem lê.

Estremoz, ora bem!

 


sexta-feira, dezembro 02, 2022

Azulejos



Joe Berardo é uma figura muito polémica, “to say the least”. Mas Berardo não é chamado a esta conversa (e agradeço que o não seja). Porque não é dele que quero falar agora.

O que hoje quero dizer é apenas que o museu do azulejo que leva o seu nome, no centro de Estremoz, merece uma visita e justifica mesmo uma deslocação à cidade.

Trata-se da exposição de dezenas de milhares de azulejos, de muitas e bem diversas origens e períodos, divididos por cerca de 40 salas, num edifício muito bem recuperado, com espaços onde as peças “respiram” bem. 

Fosse eu estremocense (assim se chama a quem nasce em Estremoz) e estaria muito satisfeito com este excelente ativo cultural da cidade.

Alentejo, pois

 


Alentejo, claro

 


Dia 25 deste mês

Helena Pereira, no editorial do "Público" de hoje, a dizer o que precisa de ser dito sem meias palavras.  Já agora: à atenção do P...