sábado, novembro 16, 2024

Novembro

Rodrigo de Sousa e Castro, subscritor do Documento dos Nove, foi um dos "vencedores" do 25 de novembro, tal como Vasco Lourenço, presidente da "Associação 25 de Abril", organização que não vai estar presente na cerimónia que a Assembleia da República vai fazer no próximo dia 25.

Com a indiscutível autoridade que a sua posição em 1975 lhe concede, escreveu no Twitter esta síntese brilhante, que vale a pena ler :

"O VI governo, que vigorou antes (desde setembro de 1975) e após o 25 de novembro até ao I governo constitucional (julho de 1976), tinha elementos do PS, PPD/PSD e PCP e ainda militares e independentes. 

A Constituinte manteve-se exactamente na mesma, antes e depois do 25N. 

O Conselho da Revolução assistiu à saída do Otelo do Conselho da Revolução e do COPCON, e do Fabião do Estado Maior do Exército, mas basicamente manteve a mesma composição 

As regiões militares continuaram comandadas pelo Pires Veloso, Vasco Lourenço, Pezarat Correia e Franco Charais. Ramalho Eanes foi escolhido pelo "Grupo dos Nove" para Chefe do Estado-Maior do Exército;

Os órgãos judiciais permaneceram intocáveis.

A mudança efectiva de Poder tinha-se verificado no Pronunciamento de Tancos, em Setembro de 1975, com o fim do V governo provisório e o afastamento de Vasco Gonçalves e de membros do Conselho da Revolução "próximos" do PCP.

O Presidente da República, general Costa Gomes, permaneceu no cargo de 1974 a 1976. 

Não há, a 25 de novembro, nem mudança de Poder nem de Regime. Houve sim, após o 25 de novembro, um saneamento extensivo dos OCS com uma espécie de caça aos jornalistas e comentadores comunistas e, claro, tinha havida um recontro entre forças militares após a insubordinação dos páras de Tancos. que o grupo dos Nove, e o seus apoiantes militares, aproveitou para mudar comandos de alguns regimentos do Exército.

Todos, incluindo os palermas e ignorantes, têm direito a comemorar o "seu" 25 de Novembro. Foi para isso que se fez o 25  de Abril."

O ridículo de tudo isto é que parece que, nos dias de hoje, há quem "saiba mais" sobre o 25 de novembro do que aqueles que estiveram no seu centro. Curioso, não é?

8 comentários:

josé neves disse...

Nada de curioso ou virgem. Infelizmente na história da democracia raramente não foi assim; os que se refugiaram em casa e nada fizeram são sempre os maiores palradores a interpretar os acontecimentos 'à lá carte' dos seus interesses pessoais ou de grupo.
Felizmente ainda estão vivos alguns dos verdadeiros intérpretes da Revolução do 25A para reporem a verdade e não deixarem que a verdade histórica caia no âmbito das falsas notícias.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

À falta de 28 de maio, inventaram um 25 de novembro mítico - que não existiu de facto.

António Soares disse...

"...Todos, incluindo os palermas e ignorantes, têm direito a comemorar o "seu" 25 de Abril...."
António Soares

josé neves disse...

Escrevi um comentário, en passant, acerca deste post e não o vejo cá publicado. Era um simples elogio ao Santos e
Castro e a todos os verdadeiros intervenientes autores do 25A ainda vivos para poderem repor a verdade sobre os acontecimentos desse Abril libertador e desmascarar os que nada fizeram mas, como sempre ao longo da história, querem colocar em si próprios a coroa de glória.
São os cagados que se escondem na batalha e saltam à frente a berrar alto no momento da vitória.
Não era escrito assim mas o sentido era este.

jorge neves disse...

Fiz um pequeno comentário sobre este assunto que aparentemente foi censurado.Não tinha nada de extremista ou ofensivo, apenas pretendia exprimir o meu desacordo sobre a leitura do 25 de novembro aqui expressa.Como diria o outro eu tambem estava lá.
È uma pena que um dos poucos blogues, que eu pensava ser absolutamente democrata com discussão aberta e educada , se esteja a transformar na voz do dono. Para esse peditório já dei.
Mas como dizia o outro é a vida.

Basket-Spot disse...

Também escrevi um comentário sobre as várias perspectivas do 25 de Abril/Novembro e de como isso é democraticamente saudável. Lateralmente, também fiz referência ao "25 de Abril" dos países da Europa de Leste com a queda do muro de Berlim, cujos 35 anos passaram há poucos dias. Infelizmente, não mereceram publicação. Paciência...

Fernando Martins disse...

Pensava que se podia discordar, respeitavelmente, sem ser censurado. É pena que os meus comentários sofram a ação de uma tal de lápis azul que pensava que tinha sido eliminado...

Luís Lavoura disse...

O que Sousa e Castro nos diz é que não houve, depois do 25/11, nenhuma revolução. Os poderes constituídos permaneceram.
Mas isso é que é notável no 25/11: que a revolução que os militares revoltosos pretendiam tenha sido derrotada, que não tenha havido revolução nenhuma.

O 25/11 não foi uma revolução, como o 25/4. E isso é que é bom: que não tenha sido uma revolução. É por isso que deve ser lembrado.

Ramalho Eanes

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