quarta-feira, janeiro 04, 2023

10 teses de Ano Novo


1. A abstenção do PSD na moção de censura da IL agrava o afastamento entre os dois partidos e reduz as hipóteses do PSD poder vir a recuperar o eleitorado perdido para os liberais durante o consulado de Rio. Internamente, isso não deixará de potenciar um mal-estar face a Montenegro.

2. A menos que consiga um bom resultado nas europeias, a liderança de Montenegro ficará comprometida. O PSD é um partido de poder, que não se esgota no mundo autárquico. Perde cada vez mais quadros urbanos e, mais do que acontece com o PS, sempre sobreviveu mal a jejuns na oposição.

3. Com a crescente sangria que sofre à sua direita, o PSD tenderá a ser, no futuro, um partido de tamanho médio, com uma ideologia difusa, onde convive uma tendência social-democrata em diluição com setores populistas e de direita radical para os quais já há outros destinos de voto.

4. O espaço à direita do PS acabará por converter-se num conjunto de pequenos e médios partidos, federados apenas pela oposição aos socialistas. Sendo o PSD o maior deles, e sempre o único com hipóteses de liderar a sua coligação, não terá força para impor uma matriz ideológica.

5. No futuro, fruto de fragilidade do partido, qualquer líder do PSD, para chegar a S. Bento, terá de fazer fortes concessões à direita. O populismo do Chega e matriz a-social da IL descaraterizarão irremediavelmente o PSD numa eventual coligação. O CDS, se existir, será irrelevante.

6. Por muito que as “contas certas” e o saldo das tensões sociais nas ruas, em 23/24, venham a afastar os partidos à sua esquerda, para o PS a possibilidade futura uma nova Geringonça mantem-se aberta e será tanto mais forte quanto a hipótese de uma coligação de direita vier a desenhar-se.

7. O presidente da República sabe que uma dissolução da AR que pudesse vir a provocar uma nova Geringonça seria fatal à sua autoridade para o resto do mandato. Costa sabe que Marcelo sabe isto e a sua evidente displicência nesta remodelação também deve partir desta assunção.

8. Costa não corre o menor risco ao reforçar setores próximos de PNS no governo. Pelo contrário, isso limita mesmo o espaço para o antigo ministro das Infraestruturas vir a ser um “trouble-maker”, num partido que veria com maus olhos algo que ameaçasse a estabilidade do seu poder.

9. Medina é o único verdadeiro “fusível” de Costa. Se falhar nas Finanças, Costa falhará no governo. Se, como tudo o indica, sair incólume da questão TAP, em que a direita e algum “unfriendly fire” da máquina socialista o tentam envolver, Medina amealhará poder para o futuro.

10. O país está muito longe de estar tão mal como a direita mediática obsessivamente o pinta. Basta olhar mais os índices económicos e menos as televisões e o catastrofismo endémico que por aí anda. Mas Costa sabe que, às vezes, em política, o que parece é que leva ao voto.

11 comentários:

Luís Lavoura disse...

A abstenção do PSD na moção de censura da IL agrava o afastamento entre os dois partidos e reduz as hipóteses do PSD poder vir a recuperar o eleitorado perdido para os liberais durante o consulado de Rio.

Eu diria que, pelo contrário, o PSD aparece como um partido sério e responsável, enquanto que a IL se une ao Chega, tanto na votação da moção de censura, como em andar a apresentar moções de censura inconsequentes. O PSD ganha votos, a IL perde-os.

Anónimo disse...

Ena! Tudo tão sólido. Mais firme que uma ponto de Eiffel.

José disse...

"(...) Costa sabe que, em política, às vezes, o que parece é que leva ao voto"

Pois sabe. E até ganhou esta maioria absoluta jogando miseravelmente com o medo do eleitorado relativamente a uma alegada coligação PSD/Chega a nível nacional, coligação essa que por mais que fosse negada, o Costa continuava a declarar ser real.

(Já agora, que frutos maléficos produziu o entendimento PSD/Chega nos Açores? É que não se ouve falar de nada...)

Foi ótimo para o país, como se vê: o Chega aumentou os deputados, o PSD perdeu um líder que, embora fosse algo inábil para a "jogatana" política, era honesto, direto e tinha sentido de Estado, e nós temos um governo que tropeça nos próprios pés o tempo todo.

Luís Lavoura disse...

José

[António Costa] ganhou esta maioria absoluta jogando miseravelmente com o medo do eleitorado relativamente a uma alegada coligação PSD/Chega

Não. O eleitorado não tem medo da alegada coligação PSD-Chega. António Costa ganhou a maioria absoluta, não porque o eleitorado tivesse tal medo, mas sim porque o eleitorado ficou furioso com a atuação do BE e do PCP ao tirarem o tapete ao PS. O eleitorado que era favorável à Geringonça viu que esta tinha colapsado por culpa do BE e do PCP e castigou esses partidos, transferindo-se (quase) todo para o PS.

Jorge Lourenço Goncalves disse...

«O presidente da República sabe que uma dissolução da AR que pudesse vir a provocar uma nova Geringonça seria fatal à sua autoridade para o resto do mandato.»
E ele ralado! Já não pode ir a votos para a próxima eleição a P.R.

Carlos Antunes disse...

Caro Embaixador
Lembra e bem na tese 10 do Novo Ano que “olhando mais os índices económicos e menos as televisões e o catastrofismo endémico que por aí anda, o país está muito longe de estar tão mal como a direita mediática obsessivamente o pinta”.
A propósito, acabo de ler que o insuspeito “The Economist -2022’s unlikely economic winners” colocou Portugal em segundo lugar na lista dos “vencedores económicos” de 2022, classificando o país como um dos vencedores “improváveis”. O ranking tem em conta o PIB, inflação, amplitude da inflação, desempenho do mercado de ações e a dívida pública.
Claro que esta notícia não passou nas televisões e não foi objecto dos seus habituais comentadores.
Ai, ai, ai, querem ver que a pré-anunciada catástrofe (pelo Marques Mendes e quejandos) de o PIB de Portugal ser ultrapassado pelo da Roménia em 2024, não se vai concretizar!!!
Cordiais saudações

João Cabral disse...

«O país está muito longe de estar tão mal como a direita mediática obsessivamente o pinta.»
Está óptimo, senhor embaixador.

jose duarte disse...

Mas,o que interessa verdadeiramente à maior parte dos"jornalistas"é vender o jornal para quem escrevem e,também,para as respetivas agendas políticas.
Marques Mendes é o expoente máximo da mediocridade "informativa" e "formativa" (lembre-mo-nos do que disse sobre o BES)
O, papel, por excelência destas personagens do "comentariado" nacional não é informar, é confundir e muitas vezes mentir mesmo.
Mais grave ainda é:fazerem os comentários omitindo a informação fatual,isto é, sabem mas escondem, por que não cabe no modelo de informação adotado.......

manuel campos disse...


Como em qualquer corrida, a luta é por apanhar o maior número possível dos que vão à nossa frente, ou porque tomaram logo a dianteira ou entretanto nos ultrapassaram.
Quando se chega à fase em que só nos preocupa ir a olhar para trás, a ver quando é que os últimos nos ultrapassam, é porque já percebemos que o mais certo é ficarmos mesmo no fim da lista.
Quero lá saber que a Roménia nos apanhe.
Eu quero é saber como se apanha o maior número possível dos outros todos.

Unknown disse...

Ou Costa trabalha mais ou as pessoas têm de arranjar alternativa. E como a nossa História recente o demonstra não têm escolhido as segundas figuras dos partidos no poder para essa alternativa.

José disse...

Cumprindo a minha obrigação de "informar" e "formar" e não me limitando, meramente, a "comentar", tenho a dizer o seguinte ao "jose duarte"

1) Escreve-se "José" (é o seu nome, raios!)

2) Escreve-se "lembremo-nos" (lembremos + nós)

3) "Informação fatual" é o quê?! Vem de "fogos fátuos"?

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...