Faz hoje precisamente 10 anos, fechei, pela última vez, esta porta. É o nº 3 da rue de Noisiel, onde se situa a embaixada de Portugal em Paris. Regressei a Portugal, nesse dia 25 de janeiro de 2013, sem a mais leve nostalgia, depois de mais de 42 anos ao serviço do Estado. Gostei imenso do que fiz, tive um grande orgulho em ser funcionário público, mas há mais vida para além da diplomacia.
7 comentários:
«há mais vida para além da diplomacia»
Mas não tem mais que fazer agora do que nessa altura, senhor embaixador?
mais de 42 anos ao serviço do Estado
Está a incluir nisso, presumo eu, os anos como trabalhador da Caixa Geral de Depósitos.
É que, a CGD atualmente não é Estado, é uma empresa pertencente ao Estado, o que é diferente.
É verdade! As portas de Paris são lindas.
“… mas há mais vida para além da diplomacia.”
“Não há ninguém tão ocupado como um reformado” era uma frase que ouvia muitas vezes, muito tempo antes de o ser, sorria mas não me ria pois vinha sempre de amigos e conhecidos que eu sabia que nunca estavam muito quietos, ainda que reformados há bastante tempo.
Dei por mim a dar-lhes razão quando me reformei e agora, uns bons anos depois, cada vez lhes dou mais razão, há que saber preparar a reforma, sabemos mais ou menos quando vamos deixar de trabalhar mas não sabemos (e é bom que não saibamos) quando vamos deixar de estar reformados ou, pelo menos, com dificuldades em gozá-la de forma satisfatória.
Dou assim por mim ainda a escrever e a ler (sempre com música de fundo) às 3 da manhã, muito incomodado com a ideia de ter que ír dormir, uma perda de tempo (necessária mas perda à mesma).
Sempre a andar de um lado para o outro ou ocupado com algo, fazem-me cada vez mais confusão os que se arrastam de mesa de café em mesa de café (ou pior ainda, de sofá em sofá dentro de casa), sem saberem o que fazer à vida que lhes resta, a maior parte das vezes cada vez mais sós porque já ninguém os atura, já nada trazem aos outros.
Por isso a segunda frase-chave é “O que se fizer nos 3 primeiros meses de reforma é o que se vai fazer sempre”, eu e outros somos a prova viva disso mesmo.
Somos todos animais de hábitos, o “agora estou uns tempos sem fazer nada e logo se vê” é um cair no ócio fácil e cómodo mas, lá caído, nunca vi ninguém de lá saír capaz de nada de jeito .
Claro que estamos longe de poder fazer o que fazíamos há 20 ou 30 anos , mas também já não lhes devíamos achar tanta graça, há decerto mais formas de ocupação adequadas à idade e/ou às limitações físicas do que tempo para elas (por menos que se durma).
Há que ter “hobbies” ou criá-los atempadamente, se já existirem melhor porque passamos a ter outro tempo e outra disposição para deles desfrutar, ter que os inventar pode levar a sucessivas frustrações do tipo “não era bem isto…” que podem ser fatais.
Conheço muitas (demasiadas) pessoas que, ansiando pela reforma, vejo agora mais ou menos desesperadas, a definhar mentalmente e até físicamente, só porque não sabiam fazer mais nada senão trabalhar e parece que desistiram de dar a volta, que não perceberam bem que aquele dia era “o primeiro dia do resto das nossas vidas”.
E como tal é um começo de outra viagem e nunca o fim de um caminho.
PS- Admito que a bricolagem seja uma opção.
Para mim nunca foi, partindo de peças esparsas fabricar com grande esforço algo que nunca vai funcionar decentemente quando, a custo modesto e em pouco tempo, se pode obter algo de equivalente e novo na loja da esquina, com direito a troca ou reembolso, nunca fez o meu estilo.
É um currículo profissional credível que falta à maioria dos nossos governantes. E, por isso, não posso ter muito respeito por eles.
"não posso ter muito respeito por eles."
Mas se foram eleitos...Ou eu sou mais inteligente do que quem votou naqueles?
Zeca
"sem a mais leve nostalgia"
Essa bela arte de não viver agarrado ao que lá vai e recordar por puro prazer. E nós gratos por tudo isso!
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