Recebi a notícia de que, com 94 anos, morreu Alfredo Campos Matos. Trata-se de um arquiteto que dedicou toda a sua vida ao estudo da figura e da obra de Eça de Queiroz, tendo ampla e valiosa bibliografia publicada sobre o escritor.
O seu primeiro trabalho surgiu há quase cinco décadas. Chamava-se “Imagens do Portugal Queiroziano” e juntava fotografias de vários locais do país, em especial de Lisboa, referidos nas obras de Eça de Queiroz, cujos trechos eram mencionados. Porque eu próprio era um curioso dessa geografia queirosiana, recordo ter completado esse seu percurso, embora nem sempre consensual, de identificação dos locais.
Campos Matos veio a publicar depois vários livros, de que cumpre destacar o monumental “Dicionário de Eça de Queiroz”, uma obra insubstituível, com valiosíssimas colaborações de muitos especialistas, que vai na sua terceira e muito desenvolvida edição.
Há uns anos, com José Sarmento de Matos, participei num debate em que o tema era a Lisboa dos cafés desaparecidos. Nesse jantar, num restaurante que o tempo também já levou, estava sentado um senhor idoso, que esteve silencioso até ao final da nossa charla. No final, apresentou-se-nos: era Alfredo Campos Matos. Quis simplesmente dizer-nos que tinha gostado muito de nos ouvir.
A partir de então, Campos Matos e eu trocámos alguns emails e chegámos a planear um almoço com outro distinto queiroziano, Luís Santos Ferro. O Luís morreu e acabámos por nunca concretizar esse encontro. O nosso último contacto foi a oferta que me fez da sua biografia de Eça de Queiroz, um trabalho onde procurou colocar todo o conhecimento que, ao longo de uma vida de investigação, adquiriu sobre o escritor.
Estou certo que o Círculo Eça de Queiroz e o Grémio Literário não deixarão de prestar a homenagem que a figura de Alfredo Campos Matos bem merece.
3 comentários:
Caro Francisco,
Há pessoas insubstituíveis. O meu querido amigo Alfredo Campos Matos era uma delas.Tive a honra de o desafiar para escrever a sua primeira biografia de Eça de Queiroz, o que ele fez com algum receio mas deslumbrantemente. Foi inicialmente publicada em França pelas Editions de la Différence, de outro amigo que também já se foi, o Joaquim Vital. O volume foi lançado na Avenue d’Iéna, nos tempos em que lá estive. Depois disso, em cada livro que publicava, Alfredo Campos Matos, incluiu sempre o meu nome e oferecia-mo depois com dedicatória excessiva. Jamais o esquecerei.
Um abraço
JPGarcia
Que Descanse em Paz🖤
Flor
Amen
maitemachado59
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