quinta-feira, janeiro 05, 2023

Calendários de vida


É uma saudável e antiga tradição. A cada ano, as embaixadas do Japão pelo mundo distribuem lindíssimos calendários, sempre com fotografias artísticas, este ano de fantásticas flores. Na profusão das prendas natalícias, habituei-me, por todos os lugares por onde andei, à expetativa da chegada do sereno calendário japonês. Felizmente, aqui por Lisboa, ainda sou feliz usufrutuário desse amável gesto.

Os calendários estarão a acabar? Antigamente, na parede das casas comerciais ou dos escritórios, era de regra a existência desses referenciais cíclicos da vida, a que mensalmente era arrancada uma folha, representando a renovação do mês. Eram uns blocos retangulares, com letras garrafais, para serem lidas à distância, encimados por uma imagem, quase sempre uma paisagem, com publicidade destacada. No topo, uma argola para pendurar num prego de parede. Era uma coisa simples, mas quantas “pontes” ou férias, quantos “artigos quarto” (quem se lembra disto?) a “meter”, se planeavam, ajudados por aquele ano de vida em papel!

Nas garagens e nos quartéis de bombeiros, quem tem idade para isso lembrar-se-á que os pneus de marca Pirelli mostravam toda a sua raça através da oferta de icónicos calendários, neste caso agregando, a cada mês, figuras femininas que, mesmo nos meses de invernia, destapavam uma fogosa resistência às intempéries, já para não falar dos espartanos trajes em tempos cálidos. À medida que se folheava o ano, íamos descobrindo sempre novas e apreciáveis personagens, com cada mês a rivalizar com o outro. Dizem-me que essa contribuição pneumática para animar a alma de camionista que vive no íntimo de muitos já deixou de publicar-se naqueles apelativos moldes.

Este mundo já não é o que era, é o que é!

3 comentários:

manuel campos disse...


Por falar em quartéis de bombeiros.
Pois o mundo já não é o que era, onde já vão os da Pirelli com o advento da internet nos smartphones dos camionistas...
Agora é outro o público alvo.
Mas desta vez por boas causas.

https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2022-12-16-calendarios-de-bombeiros-dar-o-peito-a-solidariedade/

Anónimo disse...

Que saudades, da simplicidade com sentido!!!

Luís Lavoura disse...

Ainda há calendários de parede, por exemplo em alguns restaurantes chineses. Pode-se-lhes pedir, eles oferecem.
Também os há em papel, nas empresas Multiópticas. É desses que uso, todos os anos.
Na revista The Economist desta semana diz-se que um estudo constatou que as pessoas que usam calendários em papel são mais organizadas do que as que usam calendários eletrónicos.

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...