“Quando revemos aquele fantástico filme da saída dos últimos presos de Caxias, surge por ali a cara sorridente e confiante de um homem alto, com ar determinado, a caminhar para a liberdade por que tanto tinha lutado. É o Luís Moita.
Há muito que, à distância, eu sabia quem era aquela figura que, saída do catolicismo crítico, enveredara, entre outras, pela tarefa difícil, mas essencial, de ajudar à luta anti-colonial na terra do colonizador. A repressão, que bem conhecia a sua determinação, não o poupou.
Imediatamente após Abril, cruzei o Luís em algumas noites agitadas desses dias sem par. Mas, com a minha itinerância, os nossos destinos perderam-se, por algum tempo.
O Luís, com uma admirável coerência e grande dignidade, fez, a partir daí, o percurso cívico que a consciência lhe ditou, ligando-se, sempre com aquele contagiante entusiasmo juvenil que é o seu, a algumas causas que entendeu como nobres e necessárias.
Sempre do lado certo da História, com aquele sorriso bom e o seu modo suave e amável de estar com os outros, o que o torna apreciado e respeitado em insuspeitados quadrantes, o Luís foi fazendo o seu caminho, envolvendo-se em áreas da dinamização da sociedade civil, ao mesmo tempo que ia construindo uma carreira académica de sucesso.
Foi em alguma limitada ligação minha ao mundo universitário, a seu convite, na última década, que me aproximei mais do Luís. E em que desenvolvi com ele a forte relação de amizade que hoje nos une. Tenho, além disso, pelo Luís Moita, uma consideração e uma admiração que dedico a muitas poucas pessoas - e digo isto com grande sinceridade.
Durante anos, eu achava que o Luís “não tinha idade”. A sua vitalidade e capacidade de trabalho projetavam nele um “boyish style” que quase me levou a não acreditar quando, um dia, ele me convidou para a festa dos seus 80 anos.
A saúde pregou, entretanto, algumas partidas recentes ao Luís. O seu quotidiano futuro vai ter algumas limitações, o dia a dia já não vai poder ser aquilo que, até há pouco, foi e em que ele se sentia confortável. A universidade já não poderá contar com aquela sua generosa e proverbial disponibilidade. Mas, como canta o nosso amigo Fausto, “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”. “
Não vieram. O Luís Moita morreu hoje. Pouco consigo dizer, além de enviar um abraço de muito pesar à Ana e à sua família.
3 comentários:
Somos feitos de memórias e da construção de presentes e futuros que elas permitem.
A nossa vida em conjunto é feita de tantas memórias de coisas inacreditáveis que fizemos em conjunto, tanta experiência que tivemos, tantos projectos que fizemos, tantas coisas novas que vimos, mas sobretudo, tanta gente interessante e estimulante que conhecemos. Entre essas coisas, na ACERT entre 1986 e 1989 (no seguimento do curso de animadores culturais) contactamos com as pessoas mais incríveis que vinham até Tondela, partilhar com uns miúdos liderados por um, diziam, “alucinado experimentalista” para quem não havia impossíveis na construção do nosso futuro colectivo.
Fomos levados a pensar o mundo, o continente, o país, o concelho, a cidade, a nossa rua, como espaços do inico e fim dessa mudança que todos sonhámos. Para esse pensamento tivemos muitos imputes de gente que nos trouxe uma visão do mundo, que a partir de Tondela fomos construindo.
Uma dessas pessoas foi o Luís Moita, e o CIDAC a que na altura presidia e que veio fazer umas sessões a Tondela sobre desenvolvimento, construção comunitária, liberdade, cidadania, diversidade, cultura etc.,etc.,etc.
Sempre fiquei na memória com uma imagem do Luís Moita de grande serenidade e simpatia, franqueza e sabedoria que nos inspirava a ver o outro como nós próprios.
Eu sou hoje produto de muitas dessas sessões. Na minha memória poucas ficaram tão marcadas como essas com o Luís Moita e a malta do CIDAC, poucas influenciaram tanto a ACERT como esses dias e a liberdade de pensamento que nos permitiram.
Soube agora que o Luís Moita morreu hoje, mas a minha memória dele ficará e perdurará no que for capaz de fazer em prol daquilo em que acredito.
Miguel Torres
Tondela, 28 de Janeiro de 2023
Lamento imenso. Era um Homem bom.
Descanse em Paz💜
Meu caro Chicamigo
Duas linhas só: conheci o Luís Moita e admirei-o; soube agora da sua morte: estou desolado.
Abração
Henrique
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