Há quem se esforce por entender a racionalidade subjacente à atitude de cada lado nos conflitos. Há quem tente explicar-nos que tudo está sempre a correr bem àqueles de quem se gosta. Há os que espalham que aqueles de quem não gostam acabarão inevitavelmente por ser derrotados. E estamos nisto.
quinta-feira, agosto 29, 2024
América, América
As eleições presidenciais nos EUA são, em regra, muito renhidas. As diferenças entre os finalistas não costumam ser grandes. Este ano, com a recuperação de Harris e algum desvario que se sente na campanha de Trump, está tudo mais imprevisível. Se isto fosse apenas um jogo, teria imensa graça. Mas, infelizmentr, não é só isso.
quarta-feira, agosto 28, 2024
Com frieza
Olhando um perfil técnico-político, há que pôr de lado os humores adversariais. Desde que o nome cumpra "os mínimos", o poder de turno tem direito à livre escolha do nome do comissário: nessa perspetiva, reconheço que Maria Luís Albuquerque é um nome adequado. Como o seria Poiares Maduro.
Um voto em Branco ?
Há algo que surpreende: o nome de Aguiar-Branco não surgir, do lado dos apaniguados de Montenegro, como potencial candidato a Belém. Não sendo eu da mesma "freguesia", e tendo mesmo algumas reticências sobre a sua condução da vida parlamentar, não me parece, contudo, que o PSD tenha muita gente melhor.
Comissária
Montenegro teve juízo e poupou- se a um grave erro de Estado. Pode ser que alguém lhe tenha estimulado o bom senso.
Quando a Adelaide toca
terça-feira, agosto 27, 2024
O Estado das coisas
A ideia de vir anunciar, como que "saído da cartola", o nome do futuro comissário europeu no contexto de um comício partidário do PSD, releva de uma imperdoável ligeireza no tratamento de uma questão que é de natureza nacional. A acontecer, demonstraria uma evidente falta de sentido de Estado. O senhor presidente da República, que se sabe ter um apurado sentido de rigor nestas coisas de Estado, é que poderia ter uma palavra de apelo ao bom senso de quem o não está a ter.
Saudades do frei Bernardo
Governantes
No comunicado em que afastou o grupo de Mélenchon de um futuro governo, Macron lembrou as responsabilidades políticas da esquerda "que já governou". Ora, de toda essa esquerda, feitas bem as contas, a única personalidade que já governou é precisamente Jean-Luc Mélenchon.
Fofura vermelha
Há uma imensa ironia no facto de Macron ter afastado das suas escolhas para o novo governo o "La France Insoumise", do antigo ministro socialista Jean-Luc Mélenchon, e ter sublinhado a sua abertura ao Partido Comunista. Os comunistas, quando fracos, ficam deliciosamente "fofos".
segunda-feira, agosto 26, 2024
Sismando
A melhor do sismo que li por aí é que ele tirou uma selfie com o Marcelo mas ficou tremida.
Conversa arbórea
Hoje, no Porto, tive um longo almoço com um amigo, uma figura pública bastante conhecida. Abancámos à uma hora e já passava das quatro quando nos levantámos. Nessa altura, no restaurante, só havia o pessoal da casa a comer, após o trabalho, numa mesa coletiva. Gosto destes meus encontros com a agenda pré-determinada de falar sobre o que nos dá na real gana, sem preocupação das horas e sem outro objetivo que não seja o prazer de conversar com o outro. A charla, para usar uma figura do meu pai, foi, como se previa, bastante "arbórea": vinha à baila um assunto, um nome, uma história e, desse "ramo", partia-se para outro nome, para outro episódio. E daí para outro. Por mais de três horas. Que me recorde, e eu tenho boa memória, não dissémos mal de ninguém e dissémos bem de muita gente. E, claro, não pedimos nada um ao outro. O que comi? Eu comi um "bacalhau à facho" e, para sobremesa, uns "matateus". O que bebemos? Não fomos parcos, porque a vida é o que dela se leva: um "grande reserva" da Quinta dos Arciprestes. E não houve digestivos, porque eu ainda tinha de guiar até Vila Real, passando, de caminho, por uma padaria de Paredes, em busca de uma regueifa, que teimei que devia ir bem com uma goiabada cascão que arranjei numa loja de coisas brasileiras. Cada vez me convenço mais: as férias são uma canseira, é o que é!
La France
A França vive um período constitucional muito interessante. Macron finge não ter percebido que o seu papel de "chef de l'État" já não é o de um presidente da V República. A oposição faz de conta de que tem maioria para forçar uma co-habitação. Volta, Duverger!
Eu, sem sismo
De facto, recordo-me de ter acordado durante a madrugada. Mas como é vulgar isso acontecer-me nos hotéis, fico sem saber se foi o sismo ou não. Por isso, com muita pena minha, não tenho uma história pessoal do tremor de terra para a troca, como toda gente tem no dia de hoje.
A Ferry Street em Vila Real
domingo, agosto 25, 2024
Um está aqui...
E aquele dia em que Trump quase morria com um tiro e a esmagadora maioria dos comentadores logo concluiu que, com a exploração do efeito de vitimização, a eleição já não lhe escapava? Por onde andam esses comentadores? Os outros não sei, um deles está aqui.
sábado, agosto 24, 2024
Bolas
Montenegro - take two
Perguntem a Luís Montenegro o que é que ele já fez de útil pelo país, para além de distribuir recursos públicos que o governo anterior tinha amealhado. Mas não perguntem a Luís Montenegro onde é que ele legitimamente passa férias com a família e amigos. "Mind your own business!"
Montenegro - take one
Mas que raio é que nós temos a ver com as férias de Luís Montenegro no nordeste brasileiro? O homem, com a trupe amiga, não pode ir de férias para onde muito bem lhe apeteça? Há uma imprensa transformada em "voyeurs", para exploração da inveja e do miserabilismo populista.
Manda quem pode, vota quem deve
Perante esta obsessão dos portugueses em "votar" nas eleições americanas: serão os americanos quem escolherá o seu presidente e, seja ele quem for, aquele de quem gostamos ou o outro, todos iremos obedecer àquilo que a América nos impuser, na sua inescapável liderança ocidental.
La gauche
A iniciativa de Mélenchon de dispensar a presença de figuras da sua LFI num possível governo liderado pelo NFP tira argumentos a Macron para não nomear uma figura de esquerda para Matignon. À suivre.
Américas
A muitos, parece chocante que um candidato presidencial americano possa ganhar tendo menos votos do que o seu adversário. Essas pessoas esquecem que os EUA são um compromisso político entre entidades que se uniram para fazer um país, mantendo alguns processos decisórios próprios.
sexta-feira, agosto 23, 2024
Bolas
Três jornais desportivos (tradução: sobre futebol) diários, alinhados por seitas, são um significativo sintoma. E é pelos sintomas que se chega à doença.
Lume brando
Anda-se pelas estradas do país rural e, por toda a parte, o mato seco ali está, sem ser cortado, a atiçar os incendiários. Depois, se há fogo, vêm às televisões uns senhores graves, anunciar medidas, leis e coimas. Passam uns anos e volta tudo ao mesmo. Será congénito?
Poluição
Não me vem à ideia nenhum país democrático, para além de Portugal, onde os partidos políticos disponham, em permanência, fora de períodos eleitorais, de largos espaços de propaganda, no meio das cidades e nas suas principais artérias. Visitem a Avenida da República, em Lisboa, por exemplo.
Segundo tempo
Não conheço nenhum país democrático, além de Portugal, onde titulares de cargos políticos, por eleição ou nomeação, disponham de colunas regulares na comunicação social (salvo na imprensa partidária). Trata-se de uma espécie de segundo tempo de antena. Por cá, vale tudo!
quinta-feira, agosto 22, 2024
"Crystal clear"
O líder parlamentar do PSD diz ao Expresso que "teria muita dificuldade" em escolher entre Trump e Harris. Já se suspeitava, mas é bom que fique dito, alto e bom som.
Os comunistas, os russos e coisas assim
Há dias, ao fazer notar nas redes sociais que, no usufruto da saudável tolerância que se vive no nosso país, um estandarte vermelho adejava na varanda de uma sede do PCP ao mesmo tempo que uma procissão passava pela mesma rua, constatei ter conseguido convocar, pela enésina vez, os demónios do anti-comunismo mais primário. Que espero se mantenham vigilantes, para o que vem a seguir.
quarta-feira, agosto 21, 2024
A democracia do mar
É chocante o contraste entre a farta cobertura noticiosa do naufrágio de um iate de um milionário britânico e a quase indiferença mediática em face das imensas vítimas anónimas da travessia de migrantes nas mesmas águas. Afinal, só o Mediterrâneo os trata da mesma forma.
terça-feira, agosto 20, 2024
"Israel e a armadilha da História"
Recordo que me recebeu com tempo, o que é raro neste tipo de encontros. Um amigo comum tinha-lhe dito que eu "sabia muito" do Brasil e, por um qualquer razão circunstancial, Araud estava bastante interessado em Lula e nos equilíbrios políticos que prevaleciam na cidade onde eu tinha acabado de passar quatro anos. Dei-lhe a minha opinião e a conversa prolongou-se.
Desse encontro, ficou-me a impressão de ser uma personalidade autoconfiante, muito bem preparada, no género dos excelentes profissionais que a França produz, para sustentar - umas vezes bem, outras vezes com maior dificuldade - aquela que é, porventura, a mais idiossincrática, ambiciosa e "sempre-em-bicos-de-pés" diplomacia do mundo ocidental.
Araud, que ocupava já há alguns anos um dos dois lugares de topo do Quai d'Orsay - o outro é o de Secretário-Geral, lugar que em França tem uma dimensão política pouco usual - estava quase de saída para embaixador na ONU. Anos mais tarde, sairia dali para embaixador em Washington, onde terminou uma carreira brilhante. Antes, tinha sido embaixador em Tel-Aviv, posto em que havia iniciado a carreira.
Nos seus anos nos EUA, Gérard Araud deu um ar da sua graça nas redes sociais, com comentários que, não raramente, o colocaram em posições delicadas. Esse seu estilo "outspoken", pouco comum na escola de "diplomacia pública" francesa, quase que o prejudicou profissionalmente.
Desde que saiu da carreira, Araud dedicou-se à escrita e publicou alguns livros sobre diplomacia e História.
No meu saco de livros para férias trazia um pequeno volume da sua autoria sobre Israel. Tinha-o comprado em junho (terá sido posto à venda nesse mês), numa livraria de Lyon. Quase que o tinha esquecido, no caos de tudo aquilo que ainda não li e que me enche estantes e mesas lá por casa.
Nos últimos dois dias, devorei o livro. A experiência profissional de Araud, em especial as duas estadas em Tel-Aviv, conferem a este trabalho uma qualidade muito rara. Equilibrado, informado e informativo, "Israël - le Piège de l'Histoire" ajuda quem se interessa pelos problemas do Médio Oriente (singularmente, os franceses chamam à área Israel/Palestina "Proche Orient" e, embora mais no passado, "Machrek" ao Médio Oriente) a assentar ideias e a ver de forma mais clara as coisas. Dada a experiência de Araud em Washington (posto onde serviu também duas vezes), o texto traz também dados muitos interessantes sobre o histórico da relação entre os EUA e Israel.
Guantánamo, lembram-se?
Agora, todos dizem que Biden é um homem decente. Obama era um homem decente. Ambos não foram suficientemente decentes para terem terminado com a indecência que constitui a prisão de Guantánamo, onde a América guarda, há mais de 20 anos, sem os julgar, suspeitos do 11 de setembro.
segunda-feira, agosto 19, 2024
Delon
Morreu Delon. Era um ator mediano (posso ter a minha opinião, não posso?), esteticamente arrebatador para muitas mulheres (e imagino que para alguns homens). Politicamente era de extrema-direita, mas não será por essa razão que lamentarei menos a sua morte, como acontecerá quando a Bardot morrer.
domingo, agosto 18, 2024
Mélenchon e a realidade francesa
A insensata proposta de Jean-Luc Mélenchon de destituição de Emmanuel Macron pela Assembleia Nacional francesa no caso, mais do que provável, do presidente não vir a aceitar a candidata a primeiro-ministro proposta pelo Nouveau Front Populaire (NFP), é uma atitude sem senso e sem o menor realismo.
A esquerda, que teve nas eleições legislativas uma maioria relativa que lhe confere alguma legitimidade, mas não necessariamente uma carta branca constitucional para governar, desbarata, com este gesto de Mélenchon, a imagem de responsabilidade que vinha a procurar criar.
Desde o início que o sonho de Macron é isolar o La France Insoumise (LFI) do resto do NFP. Ao atuar agora desta forma, Mélenchon torna-se cúmplice objetivo do equilibrista do Eliseu, que procura disfarçar a todo o custo a irresponsabilidade que cometeu, ao provocar eleições e lançar o caos no sistema político.
Mélenchon só tem uma agenda: bipolarizar a França e tornar-se no polo oposto a Marine Le Pen, a caminho das presidenciais de 2027. Como se alguma vez mais de metade da França o fosse escolher, para barrar a extrema-direita. É apenas uma jogada pessoal, de "tudo ou nada". O resto da esquerda, que se havia unido a ele no NFP, não está disposto a alinhar nessa manobra, por todas as razões válidas.
Macron, que coneçou por desbaratar e dividir a sua própria família política, está agora tentar forjar um arremedo de governo de uma França supostamente "moderada", afastando dele o Rassemblement National (RN) e o LFI. Na sua postura "ni-droite-ni-gauche", consagra-se como o expoente do presidente do equívoco: destruiu a direita republicana e partiu a esquerda moderada, na sua obsessão por um centrismo cada vez menos viável.
Mélenchon é um demagogo irrealista? É, mas nada de confusões! Mélenchon não pode ser comparado a Le Pen. Tem uma história pessoal "honorable", pelo que equipará-lo à extrema-direita constitui um insulto soez. Uma coisa, porém, é evidente: ao proceder desta forma, Mélenchon ajuda ao golpe de Macron e puxa o tapete à unidade d esquerda.
Este é o meu Portugal
sábado, agosto 17, 2024
sexta-feira, agosto 16, 2024
Assassinatos de caráter
"O Laranjeira" (Viana do Castelo)
quinta-feira, agosto 15, 2024
Um argumento jeitoso
A fragilidade revelada perante a incursão ucraniana parece desqualificar o argumento "ad terrorem" de que um qualquer êxito na Ucrânia qualificaria a Rússia para "chegar a Varsóvia" e ameaçar o ocidente. É o ridículo como argumento, mas admito que, embora falso, dê jeito.
"Montebelo" (Alcobaça)
quarta-feira, agosto 14, 2024
"Jornalismo"
A imprensa que se dedica a coscuvilhar os rendimentos dos políticos - os seus depósitos, casas, dívidas, carros, etc - não é inocente: sabe muito bem que, sob o hipócrita alibi da transparência, está a deitar achas de inveja na fogueira de ressabiamento miserabilista, de que se alimenta o populismo mais reles. No fundo, esse "jornalismo" sabe que contribui para que cada vez seja mais difícil que gente qualificada aceite exercer cargos públicos.
Férias...
Há um mês, quem havia de dizer que Kamala Harris estaria a ameaçar Trump e a Ucrânia estaria a entrar pela Rússia dentro? Fazer comentário internacional na televisão deve ser fascinante neste cenário, em que o mundo se mostra muito mais imaginativo do que os homens. Mas estou de férias...
terça-feira, agosto 13, 2024
"Il Mercato" (Lisboa)
Das cãs
Até há poucos meses, a maioria dos comentadores abordava as gafes e a óbvia senilidade de Biden com "pinças" e um extremo pudor. Agora, saído que foi Biden, é Trump o novo alvo. No mundo e no futuro, a questão da idade dos políticos nunca mais irá sair de cena. Não tarda, chegará também a questão da idade dos comentadores...
Smarties
O poder e o voto
"Drauche"
Em França, as soluções políticas de Emmanuel Macron são, quase sempre, aquilo que alguém um dia crismou de "drauche" - uma mistura de direita ("droite") e esquerda ("gauche").
Intelectual
Quase nunca falha: quando alguém, depreciativamente, usa a expressão "pseudo-intelectual", a propósito de outrém, é porque sabe que não corre o risco de, a si, alguém vir um dia a "acusar" de intelectual.
Extrema-direita
Quase nunca falha: quando alguém contesta o conceito de "extrema-direita", ou essa pessoa é de extrema-direita ou anda lá muito próxima.
segunda-feira, agosto 12, 2024
Bólide
"Mudámos o óleo e o filtro, os travões estão bem, vimos os outros níveis, os pneus estão excelentes. O motor parece um relógio. Boas férias!". Retorqui: "Então não recomenda que se faça mais nada no carro?" Ele olhou-me com um sorriso: "Nada. Está impecável. Costuma ir ao Norte, não é? Com uma coisa destas, com estes seis cilindros, quase 2500 de cilindrada, chega lá num instante". Entrei no meu carro, que tem uns orgulhosos 18 anos, e olhei a quilometragem: 272 mil quilómetros. Valor de mercado: 5 mil euros, mais coisa, menos coisa.
Olímpicos
A abertura dos Jogos Olímpicos, ainda que prejudicada pela chuva, mereceu muitos mais elogios do que críticas. Embora um tanto franco-francesa em demasia, revelou indiscutível rasgo e ousadia. E os jogos correram muito bem. O encerramento foi, para o meu gosto, um tanto chatote. No todo: muitos parabéns à França!
Delfim Netto
domingo, agosto 11, 2024
Lisótima
Bolas
O país da bola aí está, a partir deste fim de semana, em todo o seu esplendor. Seríamos seguramente um país melhor com um pouco menos de futebol.
Baixos?
Guerrinhas
A China transformou-se na URSS dos tempos atuais, na disputa Leste-Oeste pelas medalhas. Quem, desses tempos passados, desapareceu de cena foi a Alemanha Oriental, que então disputava os lugares de topo. Os seus atletas ter-se-ão cansado da modalidade de "salto do muro"...
Hoje recebi, por mensagem, uma sugestão divertida: "Se me seguir no Twitter/X, eu sigo-o de volta". Há pessoas que não têm a noção do ridículo.
O perigo do ridículo
Um poder nuclear como a Rússia ridiculariza-se, dia após dia, nomeadamente em face da sua própria opinião pública, ao continuar a ameaçar, sem o concretizar, com a utilização da arma atómica. Pode, no entanto, haver um dia em que essa humilhação a faça passar ao patamar da irresponsabilidade.
Às terças
Todas as eleições federais americanas futuras têm já a sua data marcada: têm sempre lugar na terça-feira mais próxima da primeira segunda-feira do mês de novembro dos anos pares, sendo de dois em dois anos para a Câmara e para 1/3 do Senado, de quatro em quatro para Presidente.
Biden
Biden confirmou algo que muitos suspeitavam: uma das principais razões para a sua desistência foi o facto dos candidatos democráticos ao Congresso o considerarem um "empecilho" à sua eleição.
Congresso americano
Relembro: os 433 membros da Câmara dos Representantes dos EUA têm um mandato de apenas dois anos. Assim, em cada ano par, todos os lugares da Câmara vão a votos. Também a cada dois anos, um terço do Senado (33 senadores, com mandato de seis anos) vai a votos.
A agora, António?
A União Europeia dispara comunicados indignados quando há uma violação de Direitos Humanos em países frágeis. Mas é de uma imensa cobardia em face das atrocidades de Israel em Gaza. E alguém lhe ouviu alguma vez a voz perante a indignidade de Guantánamo? E agora, António Costa?
A guerra
A guerra não tem a menor graça. Mas não deixa de ter graça ver os especialistas militares, lidos na imprensa estrangeira, divididos sobre a racionalidade da incursão ucraniana na Rússia. Uns acham aquilo uma aventura insensata, outros uma audácia genial. Logo veremos.
Alegria nossa
É muito bom ver a saudável alegria deste dois miúdos que, graças ao seu esforço e à sua genialidade, sabem que têm hoje um país a admirá-los. Esta é também a sua grande e merecida medalha.
sábado, agosto 10, 2024
"Bem Disposto" (estrada Alcácer do Sal / Comporta)
sexta-feira, agosto 09, 2024
Vai haver guerra?
Há já uns meses, um amigo, pessoa com educação universitária de nível internacional e com fortes ligações pelo mundo, mundo exterior esse onde vivem os seus filhos, telefonou-me e, de chofre, fez-me esta pergunta terrível: "Achas que vai haver uma guerra?"
Fiquei surpreendido com a questão. Se ela tivesse surgido no intervalo dos concertos na Gulbenkian, onde eu e ele nos vamos encontrando com regularidade, em fins de tarde que nos amainam o espírito, seria normal. Contudo, ser essa pergunta o único objetivo de uma chamada telefónica era coisa bem diferente: traduzia a respeitável angústia que atravessava esse amigo e, no que me dizia respeito, demonstrava alguma confiança no meu juízo, a que eu não podia ser indiferente
Apanhado de surpresa, devo ter começado por dizer algumas obviedades: que a tensão internacional dava sinais de estar em crescendo, que havia no terreno dos conflitos alguns atores essenciais sobre cuja racionalidade decisória havia fundadas dúvidas, que o ambiente de "guerra de surdos" em que o mundo estava a cair tinha fechado certas "pontes" de diálogo de "ultima racio", que começava mesmo a emergir, no discurso de alguns, a perigosa ideia da inevitabilidade de um conflito mais alargado. E porque é essa a minha convicção profunda, imagino que lhe tenha transmitido a ideia, que há muito alimento, de que só pode existir paz quando os adversários, explícita ou implicitamente, acordam numa base mínima de entendimento, que comporte a aceitação de mútuas preocupações de segurança. E que isso estava longe de existir.
Lembro-me de lhe ter dito que o que mais me preocupava era a inconsciência de certas vozes, que pareciam não temer uma deriva do mundo para uma nova guerra, na lógica do "se tiver que ser, que seja". Talvez porque muitos ingenuamente entendem que a guerra, a surgir, acabará por ter um "preço" comportável, que talvez os não "atinja", habituados que estão a assistir no sofá às guerras alheias, feitas dos mortos e feridos dos outros. Mas julgo que não lhe terei falado do mito da guerra "rápida" que, há mais de um século, tinha conduzido à carnificina da Grande Guerra.
Uma coisa, com toda a certeza, lhe devo ter dito, provavelmente constituindo isso para ele uma surpresa: que - e afirmo sempre isto com toda a convicção e sinceridade - a grande esperança que eu tinha em que se não desencadeasse uma nova guerra internacional alargada residia nos Estados Unidos e, em especial, nos seus militares.
Porquê esta "confiança"? Ao longo da minha vida, nunca fui conhecido por subscrever, "de cruz", as opções estratégicas americanas. Tenho mesmo, nos tempos que correm, sérias reticências perante algumas posições de Washington, em vários teatros de tensão e de conflito, da Ucrânia à Palestina, do Pacífico à América Latina. Mas confio em que os EUA tenham, melhor que ninguém, pelo poder bélico que controlam, a consciência de que um qualquer conflito de natureza grave, com potencial tentação de uso nuclear, poderá significar uma tragédia universal irremediável.
O meu amigo, que me recorde, não me terá feito a pergunta óbvia: "Mas tu não achas que os russos ou os chineses também devem ter a consciência desse risco?" Eu ter-lhe-ia respondido que, até ver, tendo a confiar mais no "decision-making process" do mundo dito democrático, por muito crítico que dele seja, do que no de atores políticos do campo dos poderes autoritários e centralistas, cujos "checks-and-balances" desconheço. E poderia ter acrescentado que também não confio minimamente em entidades nucleares (ou protonucleares) estrategicamente fanáticas, como Israel, o Irão ou a Coreia do Norte. Ou em certos parceiros europeus empanicados pela conjuntura e, como tal, propensos a (nos fazer) correr riscos limite.
Não sei como acabou a conversa com o meu amigo. Acho que, no seu termo, terá percebido que estou tão preocupado como ele com o estado do mundo, não obstante continuarmos distantes em termos ideológicos e de filosofia política. É que, quando se chega àquilo que é essencial - a vida -, a nossa trincheira acaba por ser a mesma.
quinta-feira, agosto 08, 2024
América
Leal ao presidente até ao fim, pelo menos ao olhar público, o nome de Kamala Harris pareceu emergir, de início, apenas como a única alternativa possível, em face do "disarray" que se instalou no seio do seu partido, perante a inevitabilidade da saída de Joe Biden.
O primeiro sinal de que a "operação Kamala" poderia ser um pouco mais do que isso foi o surgimento de uma evidente preocupação na campanha de Donald Trump. A agressividade quase gratuita que o discurso republicano passou a assumir revelou que a nova candidata estava a fazer mossa.
Algumas primeiras sondagens, mostrando uma redução da vantagem que Trump antes levava sobre Biden, podiam, no entanto, resultar apenas do efeito surpresa. Também o embandeirar em arco nas redes sociais podia apenas refletir o "wishful thinking" reinante nos média liberais.
Contudo, os dias passam e a campanha da candidata não parece esmorecer, antes pelo contrário, estando ainda por medir o efeito da escolha do seu candidato à vice-presidência. Mas ainda não há dados para ajuizar se existe, de facto, uma imparável dinâmica de reversão de tendência de voto, desfavorável a Trump.
A complexidade do voto, na imensa diversidade política dos EUA, recomenda sempre muita prudência, na previsão do caminho que levará até ao sufrágio. Uma coisa, porém, parece evidente: para os democratas, a situação há muito que não parecia tão promissora. Será suficiente?
A piscina de Vila Real
A nossa conversa era sobre piscinas. Em Vila Real, não havia nenhuma piscina. À época, aprendia-se a nadar, sem um mínimo de condições de segurança, na levada de Codessais, do rio Corgo.
Os meus pais nunca tinham autorizado que eu fosse para o rio, onde já tinham ocorrido acidentes. Assim, eu acabara por aprender a nadar, em férias, na doca do porto de Viana do Castelo, onde uns voluntários ensinavam os miúdos. As condições também não eram as ideais, pelo que havia sido criado um movimento cívico para a construção de uma piscina pública para Viana (havia então apenas a piscina do hotel, no topo do monte de Santa Luzia). Eu explicava ao vereador vila-realense que o meu pai, muito ligado a Viana e sensível a um apelo feito por esse movimento, tinha oferecido um saco de cimento para a iniciativa, ideia que estava a ter ampla adesão. E fui perguntando ao meu interlocutor se não seria possível, em Vila Real, alguém vir a avançar com uma proposta idêntica.
O vereador sossegou-me: o município de Vila Real tinha já decidido construir uma piscina, aliás muito perto do tal lugar de Codessais, no rio Corgo, pelo que não estava previsto qualquer apelo para ajuda do público. As obras iam iniciar-se em breve. (Não tenho ideia de quando foram efetivamente efetuadas e concluídas). Felicitei-o e perguntei-lhe, por mera curiosidade, sobre qual iria ser o comprimento e a largura daquela que iria ser a primeira piscina de Vila Real. Para sempre guardei a sua resposta: "A piscina vai ser redonda. Se a fizéssemos retangular, haveria logo gente que queria ir para lá nadar de uma ponta à outra, impedindo as pessoas de tomar banho à vontade..." Bem visto!
quarta-feira, agosto 07, 2024
"Talent de rien faire"
Estou a ter umas férias deliciosamente estranhas. Para além dos acasos imperativos da vida, não tenho nesta não-agenda outros compromissos que não sejam opções lúdicas por mim determinadas. Não trouxe comigo nada para fazer, trabalhos para acabar, atividades profissionais a cumprir, textos a preparar, coisas para estudar ou analisar ou dar parecer. É a primeira vez que isto me acontece, desde há vários anos. Deu algum trabalho organizar assim a vida, por um mês, mas, finalmente, consegui concretizar este objetivo, afinal bem modesto. E, até ver, ainda me não "cheira a setembro".
terça-feira, agosto 06, 2024
Praia
segunda-feira, agosto 05, 2024
A medalha
Sem estilos
Eme-érres
Sobrinho Simões
Manuel Sobrinho Simões, que conheci pessoalmente em Oslo, há 45 anos, e que tenho vindo a cruzar por aí nos últimos anos, é uma das mais fascinantes personalidades do Portugal dos tempos que vivemos. É um cientista, um médico, mas também um humanista, com uma relação muito forte com o país onde vive e sobre o qual, em permanência, reflete e se interroga. Sempre com um saudável e realista otimismo.
O livro reproduz uma longa conversa entre ele e o jornalista Luís Osório. Um diálogo equilibrado, em que o entrevistador teve o cuidado prévio de se preparar muito bem sobre a substância do mundo do entrevistado, colocando-se os dois no mesmo patamar de exigência, para um resultado à altura do desafio que ambos se impuseram. O pensamento de Manuel Sobrinho Simões é muito elaborado e rico, mas Luís Osório, com imensa inteligência e com a escrita soberba que sabemos ser a sua, consegue, sem facilitismos nem truques de divulgação simples, retirar do diálogo um resultado notável. Dali resulta um texto muito agradável de ler, de onde emerge uma intensa racionalidade crítica, sempre pontuada por dúvidas e incertezas. A força de Manuel Sobrinho Simões, ia a dizer, a sua superioridade, é a sua capacidade de pensar o mundo de uma forma empenhada, ao mesmo tempo complexa e simples. Estamos perante um intelectual que se auto-interroga em permanência, às vezes com assumidas fragilidades que o humanizam e o tornam bem próximo do cidadão comum que todos nós somos.
Sai-se deste livro muito mais rico, acreditem. Recomendo-o vivamente. Deixo um abraço a ambos os autores, pessoas por quem tenho estima pessoal e admiração, que é também de sincero agradecimento pelas boas horas de leitura que agora lhes fico a dever.
Sobreturismo
O que é demais é erro, sempre ouvi dizer. Face ao "sobreturismo", não procuremos consensos. Haverá sempre dois países: o que está fatigado com o turista que lhe salta a cada esquina e o que empocha as vantagens de encher os restaurantes, hotéis e o resto. É preciso regular, já.
domingo, agosto 04, 2024
O João e o Bastos
Eu vivia então em Paris. Numa deslocação a Lisboa, fui, com o João Paulo Guerra e o Baptista-Bastos, almoçar ao Miudinho, em Carnide. A ideia foi do João. A conversa acabou por ser muito sobre jornalismo. Ambos contaram histórias divertidíssimas desse mundo de que eu era apenas um observador distante. A certo passo, o Bastos falou, com ironia, de um colega que era "injustamente acusado de ser jornalista". E o João lembrou a frase que abria um pedaço de prosa de um outro prendado colega, que assim caraterizava um ambiente: "Era meia noite e, no entanto, chovia". Dá raiva pensar que momentos como estes não podem repetir-se.
Queixem-se à morte!
Há dias, alguém dizia que passo o tempo a escrever notas necrológicas. É verdade, mas a culpa não é minha: queixem-se à morte!
Férias
A política internacional não mete férias. Pelo contrário, da Venezuela à Palestina, da América à Ucrânia, o mundo está cada vez mais animado, se é que o termo é adequado. Mas, se a política internacional não mete férias, o contrário não é verdade: necessito de fazer férias da política internacional.
Toponímia sentimental
A segurança da Europa
O novo secretário-geral da NATO disse no PE que, para se poder substituir militarmente aos EUA, a Europa precisaria de gastar 10% do seu orç...