Com os anos e com a vida, fui aprendendo a saber desligar os meus preconceitos ideológicos da avaliação do perfil público das pessoas. Tudo, na política, me afasta de Fernanda de Castro e de António Ferro. E, no entanto, é fascinante acompanhar o percurso daquele casal no Portugal da ditadura.
Há já bastantes anos, li, com muito agrado, os dois volumes das memórias de Fernanda de Castro. É o tipo de livro que nos ajuda a perceber a intimidade de alguns setores do regime, a sociologia de uma certa Lisboa, vista pelos olhos de uma pessoa comprometida com esse tempo. Não é necessário estar de acordo com a interpretação que a autora faz das situações que atravessa para apreciar o modo, literariamente límpido, como as aborda e descreve. Vejo agora que essa obra foi reeditada, num único volume. Quem se interessa por perceber melhor o país que herdámos ganhará em lê-la.
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