O Alfa em que estou a viajar, entre o Porto e Lisboa, acaba de fazer uma breve paragem em Coimbra-B.
Este é o último dia em que a estação tem esta designação. A partir de amanhã, esta paragem do comboio, na Linha do Norte, passa a designar-se apenas por Coimbra.
Há minutos, constatei que a placa da estação ainda era esta.
Desde 1885, Coimbra tinha uma outra estação, situada no centro da cidade, que fazia a ligação, num "shuttle" de cerca de cinco minutos, a esta Coimbra-B, por onde acabo de passar. E, daqui, acedia-se “ao mundo”...
A estação central de Coimbra deixará de existir precisamente amanhã, 140 anos depois de ter sido posta em funcionamento.
Daí esta nota histórica e nostálgica.
Essa estação mais central era oficialmente designada como Coimbra, embora muita gente da cidade lhe chamasse a "estação nova". Outras pessoas, como era o meu caso, chamavam-lhe Coimbra-A.
(Historicamente, era em Coimbra-B que os “caloiros”, arribados à universidade da cidade, eram pela primeira vez chamados de “doutor”, pelos carregadores de bagagem, à espera de uma gorjeta pelo “elogio”, que inchava esses incautos novatos.)
Mas hoje trago à baila as duas estações ferroviárias de Coimbra por uma outra razão: uma anedota que se contava no meu tempo de liceu.
Segundo a historieta, alguém de Coimbra quis, um dia, ir de comboio até Qianjin, uma cidade no norte da China. Dirigiu-se à bilheteira da estação de Coimbra-A, no centro da cidade, e pediu um bilhete. O homem do guichet respondeu-lhe: “Para isso, só em Coimbra-B. Eles é que têm as ligações internacionais”.
Chegado a Coimbra-B, a resposta não foi muito mais promissora: “Só na Pampilhosa, meu amigo. Lá é que os comboios ligam a Espanha. Ali é que o podem informar”.
Na Pampilhosa, de facto, as coisas começaram a compor-se, ainda que não em definitivo: “Vendemos-lhe um bilhete para Paris. Depois, eles lá o encaminham para a China”.
E o homem assim continuou. De Paris foi mandado para Moscovo, dali para Pequim e um dia lá chegou a Qianjin. E por ali ficou o tempo que tinha de ficar, sabe-se lá bem a fazer o quê.
Um dia, o coimbrão decidiu regressar. Dirigiu-se então ao guichet da estação ferroviária de Qianjin. A fila de pessoas era grande (tudo o que mete pessoas, na China, como se sabe, é “em grande”). Esperou pela sua vez e, quando esta chegou, pediu um bilhete para Coimbra, que explicou ser uma cidade em Portugal. Contava-se - mas “vendo-a como me a venderam”, como soe dizer-se - que o chinês, sem paciência de chinês, lhe retorquiu: “Mas o meu amigo acha que aqui não temos mais nada que fazer? Seja mais preciso, homem! Quer um bilhete para Coimbra-A ou para Coimbra-B?”
E agora? Já terão avisado a bilheteira de Qianjin?
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