sábado, janeiro 11, 2025

Simplesmente Coimbra


O Alfa em que viajo acaba de fazer uma breve paragem em Coimbra-B, no caminho ferroviário entre o Porto e Lisboa. Este é o último dia em que a estação se chama assim. Amanhã, esta paragem do comboio passa a designar-se apenas por Coimbra. Hoje, a placa ainda era esta.

Para quem não saiba, sublinho que a cidade de Coimbra tinha, desde 1885, uma estação no centro da cidade, que fazia a ligação, num "shuttle" de cerca de cinco minutos, a uma segunda estação situada na linha do Norte - à Coimbra-B por onde acabo de passar. E, dali, acedia-se “ao mundo”... 

A estação central deixa de existir precisamente amanhã, 135 anos depois de ter sido posta em funcionamento. Daí esta nota história e nostálgica.

Essa estação mais central era oficialmente chamada de Coimbra, mas muita gente (eu incluído) designava-a por Coimbra-A. 

(Historicamente, era em Coimbra-B que os “caloiros”, arribados à universidade da cidade, eram pela primeira vez chamados de “doutor”, pelos carregadores de bagagem, à espera de uma gorgeta pelo “elogio”, que inchava esses incautos novatos.)

Mas hoje trago à baila as duas estações ferroviárias de Coimbra por uma outra razão: uma anedota que se contava no meu tempo de liceu.

Segundo a historieta, alguém de Coimbra quis, um dia, ir de comboio até Qianjin, uma cidade no norte da China. Dirigiu-se à bilheteira da estação de Coimbra-A, no centro da cidade, e pediu um bilhete. O homem do guichet respondeu-lhe: “Para isso, só em Coimbra-B. Eles é que têm as ligações internacionais”. 

Chegado a Coimbra-B, a resposta não foi muito mais promissora: “Só na Pampilhosa, meu amigo. Lá é que os comboios ligam a Espanha. Ali é que o podem informar”. 

Na Pampilhosa, de facto, as coisas começaram a compor-se, ainda que não em definitivo: “Vendemos-lhe um bilhete para Paris. Depois, eles lá o encaminham para a China”.

E o homem assim continuou. De Paris foi mandado para Moscovo, dali para Pequim e um dia lá chegou a Qianjin. E por ali ficou o tempo que tinha de ficar, sabe-se lá bem a fazer o quê.

Um dia, o coimbrão decidiu regressar. Dirigiu-se então ao guichet da estação ferroviária de Qianjin. A fila de pessoas era grande (tudo o que mete pessoas, na China, como se sabe, é “em grande”). Esperou pela sua vez e, quando esta chegou, pediu um bilhete para Coimbra, que explicou ser uma cidade em Portugal. Contava-se - mas “vendo-a como ma venderam”, como soe dizer-se - que o chinês, com um ar impaciente, lhe perguntou: “Mas o meu amigo acha que aqui não temos mais nada que fazer? Seja mais preciso, homem! Quer um bilhete para Coimbra-A ou para Coimbra-B?”

E agora? Já terão avisado a bilheteira de Qianjin?

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