A insensata proposta de Jean-Luc Mélenchon de destituição de Emmanuel Macron pela Assembleia Nacional francesa no caso, mais do que provável, do presidente não vir a aceitar a candidata a primeiro-ministro proposta pelo Nouveau Front Populaire (NFP), é uma atitude sem senso e sem o menor realismo.
A esquerda, que teve nas eleições legislativas uma maioria relativa que lhe confere alguma legitimidade, mas não necessariamente uma carta branca constitucional para governar, desbarata, com este gesto de Mélenchon, a imagem de responsabilidade que vinha a procurar criar.
Desde o início que o sonho de Macron é isolar o La France Insoumise (LFI) do resto do NFP. Ao atuar agora desta forma, Mélenchon torna-se cúmplice objetivo do equilibrista do Eliseu, que procura disfarçar a todo o custo a irresponsabilidade que cometeu, ao provocar eleições e lançar o caos no sistema político.
Mélenchon só tem uma agenda: bipolarizar a França e tornar-se no polo oposto a Marine Le Pen, a caminho das presidenciais de 2027. Como se alguma vez mais de metade da França o fosse escolher, para barrar a extrema-direita. É apenas uma jogada pessoal, de "tudo ou nada". O resto da esquerda, que se havia unido a ele no NFP, não está disposto a alinhar nessa manobra, por todas as razões válidas.
Macron, que coneçou por desbaratar e dividir a sua própria família política, está agora tentar forjar um arremedo de governo de uma França supostamente "moderada", afastando dele o Rassemblement National (RN) e o LFI. Na sua postura "ni-droite-ni-gauche", consagra-se como o expoente do presidente do equívoco: destruiu a direita republicana e partiu a esquerda moderada, na sua obsessão por um centrismo cada vez menos viável.
Mélenchon é um demagogo irrealista? É, mas nada de confusões! Mélenchon não pode ser comparado a Le Pen. Tem uma história pessoal "honorable", pelo que equipará-lo à extrema-direita constitui um insulto soez. Uma coisa, porém, é evidente: ao proceder desta forma, Mélenchon ajuda ao golpe de Macron e puxa o tapete à unidade d esquerda.
3 comentários:
Mélenchon é antes de tudo um personagem inconsequente. Macron é um irresponsável e um extremista. As coisas fazem-se segundo os preceitos e uma certa ordem: primeiro, convida-se a força política que chegou à frente a apresentar um primeiro-ministro e a formar governo. Em seguida, vê-se se este passa na Assembleia e se consegue governar. Apenas depois se consideram soluções alternativas. Dominique de Villepin explicou-o recentemente de forma muitíssimo pedagógica. Macron faz tudo ao contrário, e o seu comportamente configura um esticar da corda recorrente. Era urgente fazer as eleições em três semanas (sem justificação alguma), em seguida o novo governo pode esperar mais de um mês e é ele que o quer escolher à revelia dos resultados eleitorais (sem justificação novamente). É a arbitrariedade absoluta. Um dia a corda parte-se e serão os franceses a sofrer as consequências.
Gostei de ler o "marsupilami".
Mas não sei se serão só os franceses, o que se passa em França pode levar a médio-longo prazo a preocupações maiores dentro da UE do que as que advêm de quem ganha ou deixa de ganhar as eleições nos EUA.
Falando de França, com sua licença.
Continuo a encontrar livros nas filas de trás.
Muitas filas de trás tenho por aqui!
Hoje encontrei dois que sabia que tinha mas não me lembrava muito bem onde, os dois da “Livre de Poche”, os dois comprados em alfarrabista conhecido há uns bons anos.
Um é “Le duel De Gaulle Pompidou” de Philippe Alexandre e de 1970 na Bernard Grasset.
O livro gira à volta das razões que levaram De Gaulle a fazer de Georges Pompidou “son modeste sécrétaire, puis son premier ministre et, finalement, son dauphin”.
O outro é a “entrevista” de 400 páginas que Christine Ockrent fez a Alexandre de Marenches, editado em 1986 pela Stock.
Esta foi outra vida pouco vulgar, andava para o reler, muito em especial os capítulos dedicados aos 11 anos que ele esteve á frente dos serviços secretos franceses (com Pompidou e Giscard d’Estaing).
Fala-se de Portugal e de Angola no capítulo “Angola: un front oublié”.
É aí que ele conta que a 25 de abril de 1974 era dia da visita anual de “monsieur B.” (sic), neste caso sabemos ser Barbieri Cardoso, que entrou a dizer que “la vie est belle” porque estava um dia magnífico em Paris.
Aí Marenches diz-lhe que é melhor sentar-se e pergunta-lhe se não estava a par dos acontecimentos em Portugal, não estava e claro que não queria acreditar, tiveram que ligar para Lisboa mas da PIDE ninguém atendia,
Marenches concluí assim que ele devia ter passado a noite em algum lugar idílico a tratar de assuntos pessoais.
E que foi assim que se livrou de outras chatices e procurou asilo político em Madrid.
Esta é a única página do livro que o proprietário anterior do livro dobrou.
Ao serão vejo DVD, vou hoje começar a rever as estupendas “Viagens pelo Cinema Francês” de Bertrand Tavernier, na colecção que saíu cá com 8 episódios em 3 discos e 7 horas (também tenho um DVD que já tinha saído do mesmo autor e do mesmo tema mas aquilo era uma viagem muito curta, esta é a sério).
PS- Passou o calor, está na hora de ir lá para o meu refúgio de leitura do jardim.
Enviar um comentário