domingo, agosto 04, 2024

Toponímia sentimental


Creio que acontece com toda a gente: há nomes de terras que nos evocam emoções, boas ou más. 

Se alguém me falar da localidade de Tamel, perto de Barcelos, vem-me á memória um túnel, no caminho de ferro da linha do Minho, onde, em criança, a inesperada paragem do comboio fumegante, que nos levava para as férias grandes em Viana, me pregou um susto para a vida, de que a melhor prova é mesmo esta nota traumática.

Alpiarça, pelo contrário, é um topónimo que acarreta consigo uma imagem feliz, também de infância. Por lá vivia uma prima direita da minha mãe, numa casa que recordo muito agradável, com uma grande propriedade por detrás. Essa prima, casada com um abastado proprietário ribatejano, tinha um casal de filhos, de idades não muito distantes da minha. Era gente muito amável e acolhedora. Viviam "lindamente", como então se dizia, com satisfação, na nossa família.

À época, todo aquele enquadramento deve ter representado, para o miúdo visitante que eu era, um quadro familiar ideal. Com certeza por essa razão, a palavra "Alpiarça" ficou-me, para sempre, a ecoar boas recordações.

Passei há pouco por Alpiarça. Não tive tempo para ir à procura dessa casa de gente feliz da minha memória de infância, onde regressei, de visita, algumas vezes, ao longo dos anos. É que, passados que foram esses primeiros tempos venturosos, nem tudo correu bem, ou melhor, tudo passou a correr bastante mal no seio daquela família. O marido da prima da minha mãe morreu cedo, as propriedades foram-se em azares imobiliários, os irmãos desentenderam-se fortemente, a prima da minha mãe veio a ter um fim de existência muito pouco feliz. O filho acabou por morrer ainda jovem, a filha, enredada em tragédias pessoais, viria a ter muito pouca sorte na vida.

Não obstante isso, Alpiarça continua a rimar de forma muito positiva na minha toponímia afetiva. Já de Tamel, nem me falem! Cada um é como é, não é?

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Embaixador, não encare o que vou dizer como uma crítica. É antes um lamento. Relata tantos episódios pessoais da sua vida e raramente nos dá conta de um ou outro livro que esteja a ler. Não me refiro, obviamente, ao(s) seu(s) trabalhos ou a obras sobre politica internacional, mas sim a romances ou a livros de ficção ou de poesia. Não gosta ou será que a sua apertada agenda não lhe dá tempo para estevtipo de literatura? E filmes ou peças de teatro? Também não me lembro de quaisquer indicações suas. Se estou a ser injusto desde já lhe peço desculpa. Cumprimentos.

Flor disse...

Tantas tantas vezes passei por Alpiarça desde muito pequena. Só me lembro da estrada nacional que atravessava a vila. O que me ficou na memória até hoje foi as bermas da estrada estarem repletas de bicicletas. Daí ainda hoje continuo a associar Alpiarça com bicicletas.

Nuno Figueiredo disse...

o muro...

Tarde do dia de Consoada