segunda-feira, agosto 05, 2024

Sobreturismo

O que é demais é erro, sempre ouvi dizer. Face ao "sobreturismo", não procuremos consensos. Haverá sempre dois países: o que está fatigado com o turista que lhe salta a cada esquina e o que empocha as vantagens de encher os restaurantes, hotéis e o resto. É preciso regular, já.  

8 comentários:

manuel campos disse...


Não vou repetir o que já disse muitas (demasiadas) vezes por aqui, como é evidente o facto de viver há 48 anos no coração de uma zona histórica permite-me estar em condições de “trocar umas ideias sobre o assunto”.

No nosso caso não somos umas “vítimas” nem nada que se pareça: andar alto, vidros duplos, carros em estacionamento privado, não fazemos hoje em dia qualquer tipo de vida por ali, almoços sozinhos ou com amigos onde calha, compras de supermercado bem longe dali, fugimos de lá aqui para o nosso “algures” quando queremos e as questões de “saúde” não nos prendem por lá.

Mas venho assistindo a uma crescente publicação de artigos com aquilo que eu chamo uma lógica retorcida que me põe a questionar “o que é que faz correr” quem os escreve.
Aparentemente devíamos estar todos muito felizes porque o turismo nos traz muito dinheiro na rúbrica “exportações”, uma ideia bem portuguesa de que “vai durar sempre”, serve para o turismo como sempre serviu para todos os “não vai haver azar” e os “vai correr tudo bem” que nos embalam a existência
E estamos felizes, mais uns que outros, mas é preciso saber onde estão os turistas que efectivamente gastam e esses não estão de certeza certezinha no eléctrico 28 ou nos passeios do Rossio (nem a urinar no hall de entrada da minha escada porque alguém lhes abriu a porta da rua), mas sim nos Mercedes pretos de vidros fumados que se passeiam pelas zonas antigas da capital ou pelos lugares idílicos deste país.

A lógica destes artigos é que não gostamos de ver turistas cá mas já gostamos de ser turistas lá.
Ora o que se passa é que as pessoas que mais sofrem com o turismo “cá” não são as que alguma vez em toda a vida fizeram turismo “lá”, os locais que sofrem “invasões turísticas” vivem em áreas maioritariamente habitadas por pessoas velhas e de rendimentos muito baixos, não têm para a farmácia (nem para ir no Verão à terra), não há turistas em Telheiras nem no Lumiar (as zonas com uma maior mediana de rendimentos).

Mas pobre não existe, pobre não conta, pobre só empata.
E alguns dizem-se com preocupações sociais.
Mais valia que as tivessem mesmo.


Anónimo disse...

Não se esqueçam, já que estão com a mão na balança, que também se deve ao turismo a reabilitação (ainda não completa) em tempo recorde dos centros das cidades portuguesas que estavam completamente degradados e que envergonhavam qualquer pessoa.
Como consequência, agora toda a gente quer habitar o centro quando há vinte anos toda a gente fugia dali.

Nuno Figueiredo disse...

... com este governo ?

Flor disse...

Óptimo comentário Manuel Campos. Boas férias.

manuel campos disse...


Não sei bem a que centros de que cidades se refere o Anónimo das 13.52.

No caso específico de Lisboa, como não sei se vem aqui há muito ou pouco tempo, atrevo-me a relembrar que nos últimos 10/11 anos (desde que deixei de ter horários a cumprir) desço à Baixa como passeio higiénico duas vezes por semana, ando por ali 2 ou 3 horas entre livrarias e alfarrabistas como vício (há piores), almoço num dos restaurantes com comida local e toalhas de pano, que de resto estão reduzidos a 2 ou 3 e volto para casa.

Não sei se na origem desta reabilitação (em tempo recorde, como diz), que é muito bem vinda, está só o turismo e nem sequer sei se ele pesa assim tanto como se diz, ao verificar como a evolução do imobiliário tomou caminhos bem conhecidos de outras paragens, bolas de neve dos marketing desta vida.

Devo aproveitar para dizer que todos os meus filhos e até os meus netos vivem em casa própria, pelo que nenhum de nós é "vítima" de turismo nenhum.
Mas veria de bom grado que, quando quero atravessar a rua (fora da passadeira mais próxima que fica a mais de 50 metros) que me leva à garagem onde tenho os carros, que não contasse com frequência quase diária 12, 13 e até 17 tuk-tuk seguidos antes de o poder fazer.
E já agora que as excursões de ciclistas que acham que me calam com um "comprends pas" não usassem os passeios estreitíssimos das ruas antigas.

manuel campos disse...


Flor

Muito obrigado, sempre cuidadosa.
Boas férias também para si.

Facto do dia, por aqui estivemos a descalcificar a máquina Nespresso e eu acho agora que montar e ferrar uma bomba hidráulica de não sei quantos cavalos é mais simples...

Anónimo disse...

Nacionais ou não, mais para não parece, andam a servir turistas e a empochar quem os acolhe...já dormem em garagens no Lumiar, desconheço se chegaram a Telheiras. É triste.

Flor disse...

Manuel Campos.
Obrigada.

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