Vinha a sair, ontem à tarde, da antiga Valquíria, onde uma senhora chinesa agora passa roupa para fora. Trazia com ele uma trouxa. Está mais gordo, balofo, um pouco desmazelado. Vestia uma gabardine com ar encardido, modelo Columbo. Como o Eça contou, na cena de "Os Maias" em que o Ega e o Cruges o foram intimar a pedir desculpas escritas ao Carlos, o Dâmaso mora na São Domingos à Lapa. Tal como eu e o Guilherme Oliveira Martins moramos, e tanta outra gente. Vive sozinho, ao fundo da rua, perto das escadinhas. Às vezes encontramo-nos por ali. Cruzo-o a espaços na Cristal, sempre agarrado ao "Correio da Manhã", a comer um croissant com sumo de laranja, trocando larachas com o Fernando, que o trata por "Sô Salcede". Longe vai o tempo em que fazia esperas às "piquenas" (o Dâmaso cuida sempre em utilizar o "tialecto", isto é, o dialecto das "tias", para garantir usucapião social), nas esquinas da Buenos Aires. Consta que se meteu, há tempos, com uma cabeleireira e que, em lugar de umas clássicas bengaladas, que teriam algum estilo, levou duas secas lambadas do marido da senhora. Ontem, encontrei-o bastante aborrecido, com alguma razão: ninguém o tinha convidado para ir ao Panteão, despedir-se do Eça. "Logo eu, que sempre me dei tão bem com o Zé Maria! Às vezes, zombou de mim, é verdade, mas a rapaziada do nosso tempo nunca se zanga". Pois não.
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