domingo, agosto 04, 2024

Queixem-se à morte!


Há dias, alguém dizia que passo o tempo a escrever notas necrológicas. É verdade, mas a culpa não é minha: queixem-se à morte! 

Ontem, estive em Trás-os-Montes no funeral de um familiar. Há minutos, uma rádio trouxe-me a notícia da morte do João Paulo Guerra. Ainda abananado com a notícia, disse já não sei o quê, em menos de um minuto.

À falta de melhor, deixo aqui um texto que, há dois anos, escrevi para um "jornal" organizado pela familia do João, por ocasião dos seus 80 anos, recolhendo histórias dos amigos. Dei-lhe o título de "Nome de Guerra":

"Ó diabo! Eu não tenho nenhuma “história” com o João para contar! Lembro-me de ter posto uma cara, pela primeira vez, há quase quatro décadas, numa voz e num nome que trazia no ouvido desde o “Tempo Zip”. Foi num jantar oficial, quando coincidimos na mesma mesa numa roça, em S. Tomé, durante uma visita de Estado de Ramalho Eanes ao outro Pinto da Costa. Começámos a conversa com alguma cerimónia (“esta malta do MNE…”, deve ele ter pensado), acabámos a função a tratarmo-nos por tu. Eu tinha ido de Luanda ajudar à festa. O João estava ali pelo “O Diário”. No bar, com apoio escocês, prolongámos a charla e iniciámos a amizade. Tão simples como isso.

Tempos mais tarde, com o Nuno e com a Céu, na Mesa Dois, do Procópio, continuámos a falar, sempre com muita gargalhada pelo meio, com uma cada vez maior cumplicidade, com a Clara e Gina à mistura. E, em outras jantaradas, surgiram tantas coisas, causas e gentes comuns. E descobrimo-nos amigos para a vida. Veio depois o tempo dos heterónimos em blogues, as risadas em tertúlias e jantaradas com o Fausto, um almoço histórico, a três, com o Baptista-Bastos, em Carnide. Foi assim que fui “aprendendo” o João: a sua integridade, a sua inteligência, a sua cultura, o seu humor, a sua solidariedade."

Um abraço do tamanho do mundo, João: hoje é o primeiro dia do resto, que é muito, da nossa amizade."

O João sai agora de cena. Há poucas semanas, aquando da morte do Fausto (outro amigo que lá se foi), tentei ligar-lhe. pelo telefone. Sem sucesso. Achei estranha a falta de resposta. Um beijo de imenso pesar à Clara, ao Francisco e à Maria do Céu.

1 comentário:

Flor disse...

As minhas condolências á família.

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