terça-feira, julho 30, 2024

É também isto!


A qualidade das casas em que passamos férias também se mede pela qualidade dos livros que encontramos pelas estantes

Quase que desconfiava!

É a toda a hora: falo com qualquer amigo e ou ele ou alguém de família sentiu-se mal, foi ao médico, surgiu-lhe uma maleita, simples ou complicada. 

Não fosse dar-se o caso de, dia após dia, nós irmos cada vez mais para novos e eu até me permitia desconfiar que isto era da idade. 

JNcQUOI Beach Club (Praia do Pego)


Ver esta minha ousadia "fútil" no "Ponto Come"

segunda-feira, julho 29, 2024

O meu fuso

Em tempo de férias, a minha única ligação à Venezuela é o facto da minha hora de sair da cama corresponder, exatamente, à alvorada por lá: em matéria de horas, vivo pelo fuso de Caracas.

Coisa séria

Nos tempos em que andei pela OSCE, como embaixador português, falava-se, em tom irónico, num sistema de voto eletrónico bielorrusso, que apenas algumas repúblicas da Ásia Central teriam adquirido. Será que o venderam à Venezuela? É que aquilo nunca falhava e acabava com todas as angústias.

Varifakis 2.0


O meu ex-colega nas Nações Unidas, Sergei Lavrov, no seu momento Varoufakis.

Pessoal Maduro


Liberdade, liberdade é ter a coragem de usar estes belos fatos de treino, que aliam a mensagem política ao patriotismo e a uma estética apurada. Por aqui poderemos imaginar como devem ser animados os corredores dos centros comerciais venezuelanos.

O meu romance


Há mais de quarenta anos, comecei a escrever um romance, meio policial, meio de intriga política. Por essa época, eu era diplomata em Angola e, ingenuamente achando que a tudo podia chegar na vida, lancei-me uma noite à escrita. Uma noite, porque foi só isso e nada mais.

A trama era ousada. Um comando da Unita tinha-se introduzido em Luanda, durante a guerra civil que então se vivia em Angola, com vista a executar um golpe de mão no palácio presidencial, dali roubando o cadáver do "guia imortal da revolução angolana", Agostinho Neto. À época, era ali que estava guardado o seu corpo, embalsamado pelos soviéticos. Fazer desaparecer o símbolo central do regime constituía um imenso desprestígio para o Estado angolano, demonstrava a fragilidade do poder do MPLA e tinha um efeito de escândalo à escala mundial.

A operação envolvia um diplomata português, forçado a colaborar por via de uma chantagem, bem como uma empresa de transportes, também portuguesa mas com ligações aos serviços secretos franceses, que se encarregaria de "exfiltrar" o cadáver. Havia também pelo meio um ex-Pide, uma "Mata Hari" luso-angolana e outra gente desse género, entre o exótico e o pretensamente interessante. O esquema estava desenhado. Só faltava ... preenchê-lo com palavras escritas.

Disse acima que comecei a escrever o romance. Esse começo foi breve: há dias, no meio de papelada antiga, encontrei as suas únicas quatro páginas manuscritas. O romance começou e acabou ali. Não prossegui na escrita porque, posso hoje imaginar, num oportuno e feliz ataque de bom senso, devo ter percebido que aquela não era, decididamente, a minha vocação. E se assim pensei, melhor o fiz: passei a dedicar-me a outras coisas.

A cena inicial do frustrado romance, a única que havia sido passada a papel, tinha lugar no conhecido cruzamento de dois corredores que atravessam o terceiro andar do Palácio das Necessidades, junto ao gabinete do ministro. O nosso diplomata tinha sido chamado a Lisboa e, enquanto fazia horas para a audiência com o ministro, ia encontrando por ali vários colegas, que há muito o não viam. Enquanto falava com um, outro aproximava-se e o trio prolongava-se, por instantes, à conversa. Até que o primeiro interlocutor ia à sua vida. O nosso diplomata continuava então a trocar impressões com o segundo colega. Porém, nesse entretanto, aparecia um terceiro colega, lá vinha um novo abraço, e a cena repetia-se. O homem, coitado, retido por esses reencontros sucessivos, quase não conseguia sair do sítio! Uma das figuras retratadas na descrição, conhecida por expressões de genuína cordialidade mas com um inescapável vigor físico, era a caricatura do embaixador Gaspar da Silva. Outra, pelo odor a álcool que sempre lhe marcava o bafo pós-pandrial, desenhava um outro colega cujo nome o texto optou por não revelar. A cena tinha, aliás, foros de colar bem com a realidade: é que tinha realmente acontecido comigo, naquele mesmo lugar.

Costuma ser na praia, de pé à beira-água, ao deparar com alguns conhecidos que quase só encontro uma vez por ano, que esta primeira cena do meu "romance" ganha, a cada verão, foros de realidade. Mas, felizmente, por aqui ninguém o leu. Sorte a minha! 

domingo, julho 28, 2024

"Criadagem"

Estou num embaraço. 

Gosto de Rui Moreira, o atual presidente da Câmara do Porto. Acho graça ao seu falar desempoeirado, à cuidada heterodoxia do seu discurso, ao modo algo solitário, quase aristocrático, como anda pela política. Frequentemente, paga o preço do exercício dessa liberdade, quando usa um tom cáustico e acerado, por vezes chocante. Atitude que o leva a cometer erros: há dias, numa reação pública sobre uma fraturante questão urbana, fugiu-lhe a expressão para o termo "criadagem", num contexto de insuportável arrogância. Tinha lido e quase não quis acreditar que Rui Moreira tinha dito aquilo.

Gosto de Pedro Garcias. É um jornalista desassombrado, com uma atenção grande ao nosso comum Norte, sobre o qual, há muitos anos, editou umas conversas em que tive o gosto de participar. Desde então, com ele dedicado a produzir bons vinhos, fomo-nos vendo em alguns contextos enófilos. Por mim, acompanho-o, com regular atenção, nas excelentes crónicas que escreve no "Público". Tal como Rui Moreira na palavra, o Pedro é muito frontal nesses seus textos, e, frequentemente, imagino que crie reações que não devem ser fáceis de gerir.

Rui Moreira disse o que disse, o Pedro Garcias respondeu-lhe agora com um belo texto no "Público". Um texto em que Pedro Garcias tem toda a razão, uma razão que ele expõe, por escrito, com grande elegância e sabedoria. Tenho pena que Rui Moreira não tenha evitado dar o flanco, com um comentário despropositado e tido por deselegante por muita gente. 

O embaraço que referi no início deste texto é o facto de, sendo admirador dos dois, não poder evitar, neste caso, estar em desacordo profundo com Rui Moreira e em acordo solidário com Pedro Garcias.

Dom Sebastião Bugalho

Ouviu-se falar mais de Sebastião Bugalho, nas últimas horas, do que desde que foi derrotado por Marta Temido nas eleições para o Parlamento Europeu. Passei a ter uma coisa comum com o meu amigo Sebastião Bugalho: ambos nunca fomos à Venezuela.

O voto de cá

Trump, se vier a ser reeleito, não o será pelos votos dos seus furiosos e ajavardados apoiantes portugueses. E Kemala Harris, se acaso isso lhe acontecer, não o ficará a dever aos seus babado seguidores lusos. Só os americanos decidem o seu futuro - e o nosso, por arrasto.

Livros

A senhora que chefiava a equipa que limpou a casa que aluguei para férias "assustou-se" com a resma de livros que coloquei na estante: "Credo! Vai ler isto tudo?" Sosseguei-a: "Nem pense! Nem um quarto disso! É para poder escolher". Ela, rindo: "Sempre pode dizer que tentou..."

Vezenuela


Não, não é erro, é mesmo Vezenuela, não Venezuela.

Vou tentar contar esta história como deve ser. Em Vila Real, a minha terra, há um empresário, uma figura simpatiquíssima que, um dia, há muitos anos, teve como prémio de um determinado êxito profissional, a oferta de uma viagem à Venezuela. Não me perguntem mais pormenores porque não sei. Só posso assegurar-lhes que esta historieta é 100% verdadeira.

Por um qualquer motivo de ordem profissional, um familiar meu, que desconhecia então a ausência do empresário no estrangeiro, tentou contactá-lo. Ligou para a empresa e foi atendido por um funcionário. O rapaz - porque era um jovem, ao que veio a apurar-se - explicou que o patrão estava ausente. E, com um rigor terminológico algo discutível, referiu-se desta forma ao paradeiro da entidade patronal: "Esta semana ele não está cá. Foi para a 'Vezenuela'!"

Magnífico! A corruptela impôs-se de imediato. Desde então, nos muitos anos que entretanto se passaram, numa ala da minha família de Vila Real, sempre que a figura desse empresário amigo vem à baila, sempre nos referimos a ele como "o Vezenuela".

Pior! Há uns tempos, num programa informativo da RTP, onde tinha ido falar sobre Maduro, Guaidó e o processo político venezuelano, uma jornalista colocou-me uma questão sobre a crise política que se vivia em Caracas. Lá falei do tema e, a certo passo, também referi o país. E não é que, em lugar de referir Venezuela, me saiu 'Vezenuela"? Tenho esperança que audiência da RTP, nessa noite de "gaffe", não tenha sido muito elevada...

Ando a pensar contar ao meu amigo empresário de Vila Real o nome que regularmente usamos quando a ele nos referimos. Estou certo que não vai levar a mal....

sábado, julho 27, 2024

A diplomacia da China


Ver aqui.

Mísia


O seu nome, soube agora, era Susana Maria Alfonso de Aguiar, mas ninguém a conhecia a não ser por Mísia. Era uma mulher com um fado estranho, diferente, um registo de voz muito pessoal. E teve também uma vida incomum.

Uma noite, em Paris, há 15 anos, fomos ouvi-la, num espetáculo de casa cheia, com a Maria de Medeiros e o Manuel Maria Carrilho, que então era o nosso embaixador na Unesco. Por lá estivemos juntos em outras ocasiões, nos quatro anos seguintes. Fica esta foto.

Há muito que não ouvia falar da Mísia. Soube que morreu. Tinha 69 anos. Os meus sentimentos.

Polícia

Têm visto polícias a pé pelas ruas, regulando abusos nos passeios e e passadeiras, ajudando a organizar a circulação nas zonas mais congestionadas, dissuadindo a pequena criminalidade e transmitindo um sentimento público de segurança? Eu não! Estarão em teletrabalho? 

Do anti-americanismo

O grande divisor político do mundo contemporâneo são os EUA. É face à América que o mundo se define. Muitos dos defensores da ação russa na Ucrânia, podendo acontecer serem ainda ser "órfãos" da URSS, são essencialmente anti-americanos. Desejam ver a América derrotada pelo mundo.

Vencedores da Guerra Fria, os EUA foram criando, à escala global, inúmeros inimigos. A sua arrogância como potência, os seus "double standards", o seu menosprezo pelo mundo multilateral, que protege os poderes mais fracos, foi fazendo perder a Washington a sua autoridade moral. 

Alguns ocidentais que, no passado, mostravam o seu incómodo com a hegemonia americana, exclusivamente centrada nos seus interesses nacionais, desistiram entretanto de a contestar, ao terem entrado em pânico com a invasão russa da Ucrânia, para cuja contenção os EUA se revelaram essenciais.

Ora quem definiu toda a estratégia para a captação da Ucrânia para a esfera de influência ocidental foram os EUA (com a ajuda do Reino Unido). A NATO e a UE apenas foram atrás, propulsionadas pela russofobia da "nova Europa", como lhe chamava (e bem, vê-se agora) Rumsfeld.

Os EUA têm uma estratégia global que apenas depende dos aliados na medida em que deles forem necessitando para a levarem a cabo, como se viu bem no Afeganistão. Nessa estratégia, o afrontamento à China prevalece claramente sobre o interesse no enfraquecimento da Rússia.

Juntos no desiderato de afrontar a China, rival económico e, como tal, inimigo estratégico, tema em que a proteção a Taiwan é um óbvio fator instrumental, republicanos e democratas divergem, contudo, no modo de tratar o caso da Rússia. 

Trump parece favorecer a imposição de uma paz forçada à Ucrânia, a troco de concessões territoriais à Rússia. Terá a ideia de que esse "deal" com Putin o irá coibir de, no futuro, ter mais ambições expansionistas. A Europa mais anti-Moscovo detesta essa ideia e sonha ter a Ucrânia como tampão. 

Os democratas, historicamente mais intrusivos na ordem externa, não desistiram de proteger o regime de Kiev, porquanto alimentam uma leitura mais tutelar da Europa. Acham, aliás, que isso não é incompatível com a atenção prioritária da América face à China. E que podem mesmo usar a Europa nessa estratégia.

O anti-americanismo tem de escolher entre duas Américas. Do mal o menos, prefere uma América retraída (pelo menos) na Europa, a qual, na sua leitura, significaria uma menor intrusão futura no continente. Por isso, opta por Trump, tanto mais que o seu amor à democracia é escasso.

É irónico que o anti-americanismo, ao escolher Trump, entregue os palestinos ao mais desapiedado líder americano. A verdade, porém, é que, no tema de Israel, entre republicanos e democratas, o diabo pode escolher. A atitude face a Israel é a prova da falência moral da América.

O anti-americanismo é pró-russo? O anti-americanismo está ao lado de quem ajudar a travar a expansão americana. A Rússia faz isso, além de que, em alguns casos, traz memórias de "ontens que cantaram". O facto de ser uma autocracia não a desvaloriza minimamente a esses olhos. Muitas vezes, antes pelo contrário.

Biden e Kamala


Ver aqui.

O regresso de Van der Leyen


Ver aqui.

sexta-feira, julho 26, 2024

O senhor Guedes


Era por esta altura de início de férias grandes. Mas também podia ser pelo Natal ou na Páscoa. Ou numa possível ponte entre um feriado e um fim-de-semana. Aquela nossa amiga conseguia sempre um conveniente arredondamento dos seus dias de férias, fosse isso uma dispensazita numa tarde de sexta ou uma chegada tardia na segunda-feira.

Nós invejávamos-lhe a arte de convicção, mas, acima disso, a benemérita luz verde de quem lhe permitia o usufruto dessas folgas. É que, invariavelmente, ouvíamos: "Tenho de pedir ao senhor Guedes". Se propunhamos prolongar a estada numa pousada ou num hotel, era certo e sabido que ali viria: "Vou ter de falar com o senhor Guedes, para ver se é possível". Durante várias décadas, que déssemos conta, foi sempre possível. Grande Guedes!

Nunca conheci esse tal senhor Guedes, mas assistimos a várias chamadas da nossa amiga para esse generoso gestor de recursos humanos na entidade onde ela dedicadamente trabalhava, embora apenas nos dias do ano que ainda lhe sobravam entre as férias e as borlas dadas pelo senhor Guedes.

Hoje, ao início da tarde, numa viagem através do país, ao encontrar multidões em carros apinhados, a caminho das praias, bem antes do fecho do horário oficial dos empregos, num dia útil como é uma sexta-feira, dei comigo a comentar: "Isto é malta que foi dispensada pelo senhor Guedes!"

É aqui, é!

 

O sol da terra

A esquerda putinista lusa, se fosse moralmente coerente, deveria estar num impasse: Trump presidente é, de longe, o pior cenário para o futuro dos palestinos; mas, a grande distância, é o melhor para uma paz na Ucrânia favorável aos russos. Gaza ou o Donbass? Moscovo! Old habits die hard! 

Volta aonde?


Estão a gozar connosco?

quinta-feira, julho 25, 2024

Dizem...


Quando, em meados dos anos 60, alguns de nós saíram de Vila Real para a universidade, deixámos para trás amigos, atrasados nos estudos ou com outras perspetivas de vida. Nos nossos regressos pontuais à cidade (por lá, dizemos "à Bila"), iamo-los reencontrando pelos cafés. E, através deles, recuperávamos as novidades e atualizávamos o conhecimento das coisas da terra. 

Naquela idade e naquele contexto temporal e cultural, por muito que isso possa chocar pelos padrões de hoje, um dos temas rotineiros de conversa eram as "escapadinhas" românticas de cavalheiros e senhoras da cidade, em regra pessoas casadas. Muitas vezes eram casos verdadeiros, que o tempo viria a confirmar, outras eram mero "gossip" não comprovado. Mas que raio de interesse podia isso ter, perguntar-se-ão alguns hoje? Pouco, na realidade, mas à época era mesmo assim e, por ser assim, vou deixar aqui uma historieta.

Um desses amigos que deixámos para trás na cidade era um conhecido "especialista" no tema das infidelidades. Sabia tudo! Colecionava essa informação e tinha as coisas como que anotadas. Mas, à partida, nunca assumia abertamente essa qualidade de cultor de notícias malandras, mostrando-se mesmo relutante a abrir-se e a partilhá-la, quando frontalmente aproximado por nós (que não éramos melhores do que ele, está bem de ver!).

Chegados à mesa da Gomes, à época o centro geográfico da cidade social, ao encontrar esse amigo, inquiríamos: "Então conta lá o que é que há de novo nas aventuras românticas do pessoal da cidade?" A primeira reação era de falsa indignação: "Lá estão vocês com a mania de que eu sei dessas intrigas! Assim, criam-me uma fama terrível. Deixem-se disso!". 

Poucos minutos depois, o "orgulho" de ser tido como o mais bem informado impunha-se, embora antecedido de um "disclaimer" clássico: "Passo-ta como me a passaram. Mas dizem que a mulher daquele tipo da sapataria da esquina anda metida com um professor novo do colégio de São José. Mas, se calhar, não é verdade..." E, sempre com o "dizem" para se distanciar da responsabilidade do boato, iniciava-se um chorrilho de outras novidades do género. 

Uma vez, com esse "informador" mais bem disposto à partilha, um grupo chegou a fazer um passeio noturno a pé, pelas ruas da cidade, com ele deliciado a apontar, casa a casa, as facadinhas nos matrimónios que, pela sombra, supostamente se viviam lá por Vila Real. Quem o ouvisse, parecia que "a Bila" era uma espécie de Sodoma ou de Gomorra.

Esse amigo coscuvilheiro já não está entre nós. Chamavamo-lo de o "Dizem...".

América

Se algumas das posições políticas assumidas pelo movimento trumpista fossem apresentadas por políticos europeus seriam de imediato qualificadas como de extrema-direita. Por que razão escapam a este qualificativo? O que ontem JD Vance disse sobre as mulheres sem filhos é obsceno.

Venezuela

Distraídos pelas guerras, tendemos a esquecer a Venezuela, onde um autocrata conhecido pelos seus fatos-de-treino coloridos tenta manter-se a todo o custo no poder. Agora vai a votos e logo se constatará se o sufrágio é minimamente correto e, caso ele o perca, se aceitará o resultado.

Biden

Biden falou ao país e disse que considerou necessário passar o testemunho a uma nova geração. Caramba! Meio mundo andava, há meses, a dizer-lhe isso mesmo e ele resistia à ideia. Com essa teimosia, algo egoísta, pode ter feito perigar o sucesso da sua substituição. Logo veremos!

(5) "Jockey" (Lisboa)

 


Pode ler aqui uma nota sobre o "Jockey", um belo restaurante lisboeta, hoje publicada no "Ponto Come".

quarta-feira, julho 24, 2024

Shame

O que hoje se passou no Congresso dos EUA é uma lição para o mundo. Quem tiver tido a decência de se sentir indignado, deve poupar nos adjetivos e preparar-se para o que aí virá da "nova" América. O que quer que Washington vier a ser, ficou claro que não vai ser bonito de se ver.

País de marinheiros


O José, chamemos-lhe assim, tinha sido meu colega na escola primária, lá por Vila Real. Ele era aluno do professor Maduro, eu era do Pena. Mais velho do que eu, ficámos desde aí amigos para a vida.

Para quem, como ele, não era muito dedicado aos livros, os estudos tinham terminado mais cedo. Teve de fazer pela vida, com tropa africana à mistura, depois já com mulher e filhos a sustento.

Ia-o encontrando sempre, nas minhas visitas à cidade, pelos Natais e outras férias. Falávamos cada vez mais do passado e de alguns amigos dentro dele, mas também de coisas do quotidiano. Pouco mais. Ele ia seguindo a minha itinerância por algum mundo, eu perguntava-lhe pelo trabalho, pela família e pela saúde. Dava para encher muitos minutos de conversa.

Por muito tempo, eu e o José não falávamos de política, nos nossos encontros de fim de tarde, na esquina da Gomes ou, à noite, num café onde calhava passarmos, na Senhora da Conceição. Ele sabia bem por onde eu aí andava, eu não cuidava minimamente em conhecer as suas opções.

Um dia - e ja lá vão umas décadas -, num desses contactos breves, detetei na expressão do José algo de diferente, diria mesmo que algum embaraço. De súbito, disse-me, sem um evidente pretexto: "Sabes, mudei-me para a Araucária". Era um bairro social recente, de aspeto agradável, numa zona que os vila-realenses dizem ser "ao lado do circuito". Perguntei-lhe se a nova casa era simpática. Que sim, que era, era um T qualquer coisa, tudo novo, a estrear, atribuído pela Câmara.

Ao dar-lhe os parabéns, senti-o um pouco retraído. Em voz baixa, disse-me: "Sabes, lá tive de entrar para o barco..." O "barco"? Não percebi e a minha cara deve ter-lhe transmitido isso mesmo. O José foi então mais explícito: "Entrei para o partido...". Não perguntei qual. Era naturalmente aquele que então estava no poder, lá pela cidade.

O José já lá vai, há muito. Lembro-me bem do seu velório. Foi na igreja da Araucária. Era ali que o barco tinha amarado.

Na Ordem

Leio que há uma greve de médicos. Não conheço as razões, que até podem ser justas. Posso ter estado distraído, mas já é conhecida a reação do antigo bastonário da respetiva Ordem, tão vocal e sindicalista no passado, agora deputado do partido do governo? É só por curiosidade... 

Vice


Vive-se um tempo de discussão de nomes para vice-presidente dos EUA. Nesse cargo, de contornos funcionais indefinidos, houve gente muito competente. Mas também por lá passou um escroque como Spiro Agnew e um inenarrável cromo como Dan Quayle. E houve o risco de haver Sarah Palin!

(4) "Visconde da Luz" (Cascais)


Hoje, no "Ponto Come", falo do " Visconde da Luz". Leia aqui.

terça-feira, julho 23, 2024

É claro?

Um comentador no meu blogue diz que não posso usar "denegrimento", pelo facto desse vocábulo associar uma imagem negativa à palavra "negro". Ah! E também não posso dizer "branquear", que liga palavra "branco" a uma melhoria de condição. Já não tenho pachorra para estas barreiras!

Ato de fé?


Tem "pinta" a personalidade que o "Nouveau Front Populaire" indicou a Emmanuel Macron para chefiar o governo francês. Pode é não ter futuro, a julgar pelo modo como as coisas estão a correr. A ver vamos.

Piauí


Chegou-me hoje a Piauí, o número de julho. São 86 páginas. Todos os meses, ambiciono conseguir lê-la, por completo. Nunca é possível. Tal como "The Economist", e, nesse caso, trata-se de uma angústia semanal. Também ali fico sempre aquém das minhas ambições de leitura. Mas só a tentativa já me apazigua a consciência.

Civilização (2)

Também somos o único, de todos os países "civilizados", onde, meses depois de umas eleições, as ruas continuam ainda pejadas de cartazes desse outro tempo. Os partidos não se responsabilizam minimamente pela poluição que criam e os governos assobiam para o ar. É a festa na aldeia!

Civilização (1)

Sabiam que não há nenhum país "civilizado" em que, como acontece em Portugal, sempre que ocorre qualquer coisa na política da freguesia, são de imediato ouvidos pelas televisões todos - mas todos! - os partidos com assento em São Bento, por mais minúsculos que sejam? Isto não acontece em mais nenhum lado, sabiam?

Feminina

Tenho a sensação de que Kamala Harris tem uma maior probabilidade de ser vista como mulher, por parte das votantes americanas, do que teve, ao seu tempo, Hillary Clinton. A postura de alguma arrogância de Clinton como que a "desfemininizava". (Sei que vou levar pancada por aqui...) 

Intrusos

Um dia, no Brasil, ao tempo de eleições nos EUA, ouvi isto de uma importante figura do governo Lula: "Uma avaliação racional das coisas deve levar-nos a preferir uma vitória republicana. Os democratas são mais intrusivos nos assuntos internos dos países da América Latina".

Coimbra, 13 de setembro

 


Raiva

Os cidadãos dos EUA - e só eles - vão escolher alguém que vai acabar por ter uma importância determinante no nosso futuro,  o futuro do mundo não americano. A nós cabe a triste sina de sermos espetadores impotentes de quem nos vai marcar o destino. Dá-me alguma raiva, confesso.

... e a caramunha


Não foram necessárias 24 horas para ver surgir, por aí, um chorrilho de notícias desqualificantes sobre Kamala Harris. As máquinas de denegrimento têm uma fantástica capacidade de mobilização. Ao pé delas, alguns dos nossos operadores nacionais no ramo não passam de uns amadores. 

Rato


Passei lá há pouco. O Rato estava um pouquinho mais movimentado. Esta fotografia tem precisamente 80 anos.

La gauche

Em França, a dita aliança de esquerda desunha-se, sem êxito, para conseguir consensualizar um nome para chefiar o governo. É um inútil exercício de  "geometria no espaço", que só põe a claro as suas irreconciliáveis divisões. Macron nunca aceitará nenhum nome vindo da esquerda.

Bela malha!

 


Na terra do Tio Patinhas

É extraordinária a placidez com que lemos, sem dar um salto na cadeira, sobre os milhões que privados oferecem às candidaturas americanas, destinados a propaganda e à promoção de anúncios "biased". Fosse isto na Europa e era um escândalo!

A idade da eleição

Não deixa de ser irónico que o discurso sobre a idade de Biden passe agora a ser transposto, subitamente, para o candidato republicano - um homem que se aproxima dos 80 e que tem a seu lado um jovem de 39 anos e, como sua opositora, uma mulher com menos de 60 anos.

Fui arrasado no Twitter


Ontem, fui "arrasado" no Twitter! A razão era de fundo. O meu erro foi gravíssimo. É mesmo motivo para me demitir. Vou pensar de quê! 

segunda-feira, julho 22, 2024

(3) "Gambrinus" (Lisboa).


Hoje, no "Ponto Come", falo do "Gambrinus". Leiam aqui

O verão à mesa


Neste tempo de verão, com férias pelo meio, sou dado a andar um pouco mais por restaurantes. Embora cada um de nós tenha uma leitura diversa das suas experiências, e elas possam efetivamente ser diferentes e até contrastantes, há muito que acho que pode ser interessante, a titulo informativo, ir dando dar conta do saldo de alguma dessas visitas.

Em lugar de estar a encher este espaço com laudas sobre comidas e bebidas, optei por  reativar o meu blogue "Ponto Come", lugar mais adequado para o relato dessas amesendações. 

Ali irei colocar, em princípio até final de agosto, algumas notas muito curtas sobre cada uma dessas visitas, embora elas não tenham necessariamente tido lugar em data próxima do dia da publicação. 

Ao contrário do que no passado costumava fazer - apenas sublinhar os pontos positivos dos restaurantes -, tenciono desta vez deixar expressas, quando for caso disso, as notas críticas que me pareçam adequadas e justas. Isso permitir-me-á não falar apenas de excelente e bons restaurantes, mas também de lugares "assim-assim". 

Não desconheço que o surgimento desta lista de restaurantes pode provocar algumas críticas. Alguns dirão que pode ser quase ofensivo, para quantos não têm essas oportunidades, estar a destacar lugares que, para essas pessoas, não são acessíveis. 

Acho o argumento sem o menor sentido. Por essa ordem de ideias, as revistas de viagens não trariam relatos de destinos de sonho, não se falaria de automóveis com preços milionários, desapareceriam as referências a caríssimos restaurantes com "estrelas Michelin" - os quais, aliás, não irão constar destas minhas notas. O mundo é injusto, eu sei, mas não é escondendo parte dele debaixo do tapete que tudo se tornará, por milagre, mais igualitário.

Vamos proceder assim: de cada vez que eu publicar no "Ponto Come" uma nota sobre um restaurante, deixarei aqui o link para quem possa estar interessado. Quem não estiver interessado, tem bom remédio: passa à frente. Combinado?

Desistência

"Há pouco, na CNN, trocaste o nome de Biden pelo de Trump. Deste conta?". O meu amigo, pelo telefone, pareceu-me preocupado que eu não tivesse notado. Respondi-lhe: "Reparei. Estou já a redigir um comunicado a desistir da minha eleição para a administração do condomínio".

Há quatro dias ...

... publiquei aqui isto:

Pensei que o tiro em Trump tinha segurado Biden. Afinal, com Obama a puxar-lhe o tapete, com os "grandees" do Congresso a afastarem-se, Biden pode aproveitar a Covid como pretexto para sair. Será sempre tarde e mal, recheado de elogios que soarão a necrologia política.

domingo, julho 21, 2024

A vítima

Há uma "vítima" do dia de hoje: o atentado contra Donald Trump. A partir de agora, deixou de ser assunto.

Um pedido

Confesso que, por mim, ficaria mais confortável se os americanos, no futuro, fizessem o favor de colocar as suas crises fora dos fins de semana.

A hora de Kamala?


Ver aqui.

E Gaza?

Agora que são entoadas merecidas loas a Joe Biden pelo sucesso de algumas das suas políticas públicas, em favor de setores desfavorecidos nos EUA, não posso deixar de colocar, a seu imenso débito, a sua escandalosa e continuada complacência com os massacres israelitas em Gaza.

Rir é o melhor remédio


Contrapondo-se aos insultos de Trump sobre o sorriso de Kamala Harris, os democratas deveriam usar esse mesmo sorriso como uma expressão de confiança e de otimismo na possibilidade dela o vir derrotar.

Now what?

A diversidade informativa deve ser estimulada. Por isso, fiquei sinceramente expectante face ao surgimento do canal televisivo Now. Às vezes, passo por lá. E, confesso, até hoje não consegui descobrir a identidade própria do seu produto. Mas posso ser eu quem está a ver mal...

Terrível dilema


Faltam poucos dias para começar o terrível dilema diário: com creme ou sem creme?

A saúde de Biden

Os republicanos americanos avançam com um argumento com alguma lógica: se Biden aceitar desistir da candidatura, por razões médicas, então deverá ceder o seu lugar, de imediato, à vice-presidente. Se não está em condições para ser candidato, não as tem para exercer as funções de presidente até ao termo do mandato.

sábado, julho 20, 2024

(2) A Curva



Há algum tempo que ouvira falar do lugar e da qualidade da sua comida. Hoje, calhando ter de passar por perto, fiz uma visita ao restaurante "A Curva", em Laveiras (Avenida Conselheiro Ferreira Lobo, 28), ali ao pé de Caxias. É conveniente reservar (tlf. 214 419 334). 

Com a sua mulher Isabel na cozinha, o proprietário, Manuel Gato, oferece-nos um menu 100% alentejano, numa sala impecável, tudo com uma elegância asseada, na sua meia centena de lugares. O casal é oriundo de Cabeção, pelo que recordámos por ali "A Palmeira", um belo e clássico poiso de restauração. 

Vi expostos bons vinhos. Optámos por um jarro do simpático vinho da casa, com o preço final a ser muito razoável. O estacionamento não é fácil, mas, com alguma paciência, consegue-se. Um lugar a anotar.

A Ucrânia e Israel


Ver aqui.

Ainda o atentado a Trump


Ver aqui.

Eleições na Venezuela


Ver aqui.

sexta-feira, julho 19, 2024

A Última Campanha


A primeira vez que ouvi falar na hipótese de Mário Soares voltar a concorrer a umas eleições presidenciais foi pela boca de José Medeiros Ferreira, na tertúlia que o seu cunhado e meu amigo Nuno Brederode Santos, animava na Mesa Dois do bar Procópio. A conversa terá sido no início de 2005, um ano antes do sufrágio.

O Zé Medeiros era um homem de ideias ousadas, mas aquela parecia-me francamente excessiva. Lembro-me de ter colocado muitas dúvidas sobre a possibilidade de Mário Soares poder estar interessado em meter-se nessa nova aventura. O Nuno, confrontado com ela, foi dizendo, prudente, que "com o Soares, nunca se sabe...".

Talvez eu tivesse a obrigação de não ficar surpreendido com os acessos de vontade de Soares de regressar à política ativa, depois dos dois mandatos cumpridos em Belém. Anos antes, eu tinha sido confrontado com a sua inesperada disponibilidade para concorrer ao Parlamento Europeu. Aliás, tinha-me mesmo cabido a missão, de se provou impossível, de tentar "enquadrá-lo" na linha europeia do governo. Mais tarde, já depois de Soares eleito, fui também encarregado de fazer discretamente, junto fe instâncias europeias, o "damage controle" das consequências de uma sua inopinada, e falhada, tentativa de ser eleito presidente daquela instituição, rompendo imprudentemente com equilíbrios europeus consagrados. Mas isso são outras histórias.

Nesse ano de 2005, logo após essa conversa no Procópio, parti como embaixador para o Brasil. Um dia, Mário Soares telefonou a convidar-me a acompanhá-lo e a intervir num colóquio organizado no Recife, em que ia ser recordada a aventura do assalto ao paquete Santa Maria, que, em 1961, ali tinha aportado, capitaneado por Henrique Galvão, no mais ousado desafio que a oposição democrática fizera a Salazar.

Por todas as razões, mas acima de tudo pelo imenso respeito que tinha por Mário Soares, desloquei-me de Brasília ao Recife para o evento. Fui buscá-lo ao aeroporto do Recife e, na conversa até ao hotel onde ambos nos hospedávamos, contou-me que, na véspera, tinha tido um longo encontro com o primeiro-ministro José Sócrates, na residência oficial de São Bento. Não referiu o objeto desse encontro, mas o modo deliberadamente vago como mencionou o assunto intrigou-me. Confesso que, naquele momento, eu estava longe de ligar aquilo à candidatura presidencial. Mas, na realidade, esse tinha sido o motivo da conversa.

(Soares disse-me que, enquanto esperava para ser recebido por Sócrates, tinha surgido na sala um empregado da residência oficial, a oferecer-lhe um café. Era uma cara dele conhecida: já ali trabalhava quando Soares fora primeiro-ministro. Ficaram por uns minutos à conversa. Curioso, Soares perguntou-lhe se era verdade o que corria, à boca pequena, sobre a "agitação" das noites na residência oficial, ao tempo do anterior titular do cargo. "Contou-me umas histórias deliciosas", disse-me Soares. Mas, discreto, não entrou em pormenores sobre tais revelações.)

Tempos mais tarde, iria surgir a público o anúncio da recandidatura de Mário Soares à presidência da República. Do outro lado do espetro político, viria a aparecer Cavaco Silva, há muito pressentido como candidato, depois da clamorosa derrota que Jorge Sampaio lhe tinha infligido quase uma década antes. Mais tarde, emergiu Manuel Alegre, ficando o campo socialista dramaticamente dividido.

O PS oficial apoiou Soares. À minha medida, também o fiz, integrando a sua comissão de honra, embora, muitas vezes, no passado, tivesse estado bem distante do "soarismo". Entendi, contudo, não dever furtar-me a estar, naquele momento, ao lado da última luta de uma pessoa cujo nome se confundia com o nosso regime democrático. As possibilidades de sucesso da candidatura de Soares pareceram-me sempre muito escassas, mas para mim isso era o que menos importava.

Soares foi copiosamente derrotado nessa eleição, com Cavaco Silva a ser eleito logo à primeira volta e Manuel Alegre a obter um resultado bem mais simpático. Seria, aliás, a única derrota de Mário Soares, em eleições livres em Portugal. Na memória política portuguesa, essa campanha não deixou grande marca.

Há semanas, na Feira do Livro, a um preço quase simbólico, deparei com um volume assinado pelo jornalista (que falta nos faz ler o meu homónimo de sigla FSC, com regularidade!) Filipe Santos Costa, precisamente intitulado "A Última Campanha". Bem escrito, num tom ritmado, o livro é como que o "script" de um filme da campanha, com algumas revelações que nos ajudam a perceber melhor "os mundos de Mário Soares" (e aqui recupero o título de um livro de Hubert Védrine, "Les Mondes de François Mitterrand").

Estava eu longe de pensar que, quase duas décadas depois, iria passar umas horas a ler, com interesse, sobre a última e menos saliente aventura política de Mário Soares. 

Ainda Biden


Ver aqui

Belíssimo


Não sei se foi de propósito, mas lá que resultou bem é verdade. 
(Antes que os picuínhas de serviço avancem: sei bem que isto é já antigo)

TAP


Consta que, devido à avaria informática que hoje afetou os aeroportos de todo o mundo e provocou um caos nos horários, houve mesmo um avião da TAP que acabou por ter de sair à hora prevista.

Obama ... by Michelle

Continuo a achar extraordinária a ideia de Michelle Obama poder vir a integrar a lista presidencial americana. Alguém sabe se a senhora tem alguma ideia que a qualifique para dirigir a mais importante potência mundial?

O discurso de Trump


Ver aqui

Muita graça

Em política, o estado de graça, isto é, o tempo em que os governos ainda não pagam um preço pela asneira, deteta-se na linguagem mediática. O caos na saúde era disfarçado. Começa agora a surgir. Mas a culpa ainda não é do primeiro-ministro: ainda é da ministra...

Tour


Tenho pena de não conseguir acompanhar, com a atenção que desejaria, o "Tour de France", a mais interessante prova de ciclismo do mundo.

Biden de saída?


Pode ver aqui.

quinta-feira, julho 18, 2024

A regra é clara

Na política francesa, há uma constante que nunca falha: quando é para se opor à esquerda, centro, direita e extrema-direita encontram sempre um jeito de acabar por estar juntos.

Bye Biden?

Pensei que o tiro em Trump tinha segurado Biden. Afinal, com Obama a puxar-lhe o tapete, com os "grandees" do Congresso a afastarem-se, Biden pode aproveitar a Covid como pretexto para sair. Será sempre tarde e mal, recheado de elogios que soarão a necrologia política.

Vale tudo!

Afirmar-se abertamente a favor de Trump não é para todos. Ainda havia uma réstea de vergonha que levava ao recato de alguns. Mas a expetativa de que Trump, se ganhar, pode vir a deixar cair a Ucrânia começa a fazer "baixar a guarda" da decência. Trump? O Donbass vale bem isso!

António Leite


Foram muitos anos de sofrimento, de crescente alheamento do mundo, sob o apoio imensamente dedicado da família. Foi-se agora da vida, acabo de saber, o António Leite. Era um homem sereno, com um sorriso bondoso, amigo do seu amigo. Embora um pouco mais novo do que eu, conheço-o desde sempre, do liceu, das cadeiras da Gomes, da CDE de Vila Real (foi ele quem me transmitiu o convite para me juntar ao grupo), das noites da Granfina e do Montecarlo. Lembro-me de andarmos os dois à boleia, entre o norte e o sul, de noitadas em casa de amigos em Coimbra, de conversas na "comuna da António Ferro", como o Jaime Gama, seu primo, gostava de chamar ao andar coletivo de amigos que havia no Lumiar. A última vez em que falámos, pouco, foi no bar do hotel Miracorgo, num Natal, lá em Vila Real. Para agitar o torpor da sua cara, lembrei-lhe então uma história comum. A Glória notou que os olhos lhe sorriram, que reagiu com um comentário adequado ao estímulo que lhe lancei. Mas, claramente, o António já estava "noutra". E a sua vida já não era vida. Acabou agora. Um beijo à heróica Glória e à Laurinha. Um abraço solidário à Paula, ao Carlos e ao Zé.

British Bar


A empregada do balcão, uma brasileira carioca que ontem me serviu o gin tónico (tenho a impressão que nunca ali bebi outra coisa) não terá mais de 20 anos, que contrastam com os quase 60 da minha primeira visita ao British Bar, no Cais do Sodré. Comecei lá em 1965, com o Antoninho, um boémio primo da minha mãe que, um dia, me fez uma instrutiva volta de introdução à capital e sítios relevantes - incluindo o Bolero, o Galo, o Ginjal e um outro destino menos revelável, algures na Misericórdia. Nunca fui cliente do British, apenas um passante ocasional. À volta do 25 de Abril, outro primo, neste caso meu primo direito do lado do meu pai, Carlos Eurico da Costa, instituiu a efémera rotina de, uma vez por semana, irmos ao final da tarde ao British Bar - ele para o whisky, eu para o gin. Ali nos íamos encontrar com o José Cardoso Pires, "habitué" do local. Creio que a "rotina" não passou das três vezes. Na pandemia, calhou passar um dia pelo British Bar e notei que serviam "ao postigo". Pedi o gin tónico, claro. Veio em copo de papel! O de ontem, por distração minha, chegou naquela espécie de bolas de andebol em vidro com que agora há a detestável mania de servir os gin tónicos. E com palhinha! Apesar de tudo, na torreira da tarde de verão, soube-me muito bem parar por ali, sem a pressão do tempo, o qual, como é sabido, no British Bar nunca se perde, se o olharmos através do seu clássico relógio, com que deliberadamente nos iludimos, acreditando que as horas caminham para trás.

Isto

 


(1) ... by Sofia


Sala sem pretensões, ambiente um pouco barulhento, escassas mesas, necessidade de reserva (917 588 974), razoável carta de vinhos, serviço muito agradável e cordial. Honestidade nos preços.

É o "Solar do Peixe by Sofia", em Sacavém, no Largo José Joaquim Rodrigues. Excelente oferta de peixe e algum marisco, que se escolhe à entrada e é ali grelhado à vista. 

Fui lá hoje almoçar. E vou voltar. Recomendo.

quarta-feira, julho 17, 2024

Mais velho


Há uns anos, numa conversa de família, alguém me perguntou um dado qualquer sobre um nosso antepassado. Disse que não sabia. A pessoa em causa reagiu assim: "Se tu, que és o mais velho, não sabes, então ninguém sabe".

Nesse instante, interiorizei algo que era muito óbvio, uma evidência, mas que ainda não tinha explicitado perante mim mesmo: era, por ali, na minha família materna, "o mais velho", conceito que não tendo, entre nós, a simbologia social prestigiante que tem nas sociedades africanas, era uma realidade que, desde há uns anos, se me impunha, por muito que eu evitasse encará-la. Tinham partido os avós, tinham-se ido os pais e os tios, ficaram apenas os primos. E, de entre eles, eu era, definitivamente, o mais velho.

É um estatuto estranho. Não nos traz a menor autoridade, salvo, às vezes, uma cadeira mais simpática em alguns jantares ou um lugar cómodo num sofá, em reuniões de família. Ou ser dos primeiros a ser servido de café e de whisky. Pouco mais.

Ser velho, por muito que assobiemos para o ar, não é coisa agradável, ainda que persista uma narrativa social, artificialmente animada, que pretende edulcorar a coisa. Ser velho - deixemo-nos de tretas! - é uma chatice, é ter à nossa frente, essencialmente, um crescente passado. Ser "o mais velho" é tudo isso ao cubo. 

Por que razão me lembrei disto hoje? Porque acabo de saber do falecimento de uma senhora que, por muitos e bons anos, foi uma grande amiga de toda a nossa família - dos meus avós, do meus pais, dos meus tios, dos meus primos -, pessoa que, não tendo connosco um parentesco formal, sempre vimos como muito próxima, "one of us", como dizem os anglo-saxónicos. Vê-la desaparecer é como assistir ao fechar, agora de forma definitiva, de uma porta geracional que, através dela, ainda se mantinha entreaberta, pela memória, para quem nos antecedeu. A sua existência atenuava a minha condição de "mais velho". A sua saída de cena consagra isso, em definitivo.

G7


O G7 reuniu ontem, em rara sessão plenária, pré-vilegiatura. Na agenda, estiveram temáticas nacionais de extrema atualidade, dentre as quais se destacou o rácio preço/qualidade média das cerejas do Fundão, neste ano de 2024. Incidentalmente, vieram também a terreiro certas questões que estão agitar algumas opiniões públicas lá por fora. Não obstante ter havido um genérico consenso nos termos da abordagem destas matérias, o mesmo não se constatou no tocante à decisão da sua publicitação, por um especial cuidado em não provocar qualquer impacto no equilíbrio dos mercados, evitando agitar os "spreads". Em "any other business" não surgiu rigorosamente nada digno de nota.

terça-feira, julho 16, 2024

A extrema direita lusa e Trump

A avaliar pelas reações nas redes sociais, a extrema-direita portuguesa está exultante com a expetativa de vitória de Trump. Vai ter alguma graça assistir à sua reação se e quando Trump vier a favorecer um "land for peace" para resolver a guerra na Ucrânia.

segunda-feira, julho 15, 2024

Os espelhos

Há por aí uns sites, uns blogues e algumas páginas de Facebook, onde, desde há dois anos, dia após dia, sobre o tema da guerra na Ucrânia, algumas pessoas coletam argumentos que vão sempre no mesmo sentido, repetindo as mesmas ideias e perspetivas, somando opiniões sempre similares. São espaços onde são zurzidos e adjetivados, sem piedade, todos quantos pensam diferentemente - sejam eles "os sabujos seguidores do imperialismo americano, com os seus lacaios europeus" ou os "miseráveis traidores do ocidente, infiltrados pelo putinismo agressor". Imagino que deva ser bastante descansativo passar os dias só a ler gente que "concorda" connosco, que nos conforta as certezas radicais e nos faz ir dormir na segurança que não estamos sozinhos nos nossos preconceitos. Que lhes faça bom proveito! Deve ser como ver-se ao espelho, estranhamente gostando do que vêm.

Ucrânia

A crescente plausibilidade de uma administração Trump, que já deixou claro que "fechará a torneira" financeira que sustenta a ação militar ucraniana, pode ter um efeito potenciador de uma negociação, mesmo a montante da sua entrada em funções. Kiev e a UE não devem ficar felizes.

França

"La France Insoumise", de Mélenchon, abandonou as conversas para encontrar um nome dentro do "Nouveau Front Populaire" para primeiro-ministro, acusando os socialistas de intransigência. Este foi sempre um exercício de "geometria no espaço": Macron nunca aceitaria um nome do NFP.

Ñ

Caramba! Se há seleção que mereceu ganhar este europeu foi a Espanha! Parabéns! Além de tudo, um país amigo e magnífico! (Mas deixarei de assinar qualquer jornal que se atreva a repetir os medíocres bordões jornalísticos "Nuestros hermanos", "a vizinha Espanha" ou "país vizinho")

domingo, julho 14, 2024

Do Alfa

 


Para aligeirar o ambiente


Em 1971, teve lugar em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, uma "conferência", proferida pelo "sábio" belga "Alphonse Peyradon". 

A certo passo, saído do meio da assistência, sob um pretexto qualquer, alguém deu dois "tiros" no conferencista, que caiu redondo.

(Insiro aqui, graças à amabilidade do leitor Jaime Guilherme, a única imagem que existe do "horrível atentado.)

No dia seguinte, o jornalista Fernando Assis Pacheco reportou o "atentado" no "Diário de Lisboa", num texto em que insere esta deliciosa expressão: "O primeiro tiro matou-o logo. O outro feriu-o à superfície".

Tudo aquilo não passou de uma brincadeira, organizada por um divertido grupo em que preponderava o advogado Vasco Vieira de Almeida. ("Peyradon" era uma corruptela intelectualizada, de "Pai Adão" em francês).

A história teve algumas inesperadas sequelas, com a censura do regime à mistura (Leiam mais sobre o assunto no excelente livro "Parem as máquinas", de Gonçalo Pereira Rosa). 

Ontem, sei lá bem porquê, lembrei-me deste episódio.

Um futuro com Trump

1. Já começou o tempo glorioso para os maluquinhos das teorias da conspiração: "Atentado?! Aquilo foi tudo uma montagem! Não é por acaso que ..."

2. Só podemos desejar que o episódio de hoje não seja o primeiro de outros eventos de violência sectária nos EUA, dada a imensa crispação que atravessa a sociedade americana.

3. Há uma capital onde, a partir de hoje, vai ser necessário começar a fazer contas à vida: Kiev.

4. Um ponto a notar: agora, passa a ser praticamente irrelevante se Biden mantém ou não a sua candidatura.

5. É extraordinário pensar que, na vida política americana e do mundo em geral, há um antes e um depois deste atentado. Alguns equilíbrios que prevaleciam até há poucas horas foram ultrapassados por aqueles tiros na Pensilvânia.

6. A Europa precisa de entender que subiu fortemente a possibilidade, que já era elevada, de Donald Trump ser o próximo presidente dos EUA. O discurso europeu sobre segurança tem de incorporar este fator. Com todo o realismo e o que isso implica.

7. Espero que as lideranças europeias responsáveis, agora confrontadas com a quase inevitabilidade da vitória de Trump, não se deixem tentar por qualquer aventureirismo guerreiro, inspirado pelo leste do continente, para "apressar" a História antes das eleições americanas. Travar esta deriva é o último grande serviço que Biden pode prestar ao mundo.

"Les jeux sont faits!"

Qualquer dúvida que ainda houvesse sobre o resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos terminou hoje. Resta apenas contar os dias até ao início do segundo mandato de Donald Trump. 

Marinha Grande

Esquerda e direita no Brasil

Ver aqui .